CAPÍTULO 11 - Pesadelos e almofadas
- AKEMI FTL
- 11 de set.
- 13 min de leitura
Atualizado: 15 de set.
Com uma consciência confusa, levantei a cabeça da mesa.
— Hã? O que eu estava fazendo?
Ah, verdade... Eu tava conversando com o pessoal na festa depois do festival.
— Eu dormi? Quando foi que isso aconteceu? — pisquei os olhos, tentando entender as formas borradas ao meu redor — Hm?
Foi, então, que eu finalmente percebi.
Não era uma mesa de sala de aula em que eu tinha adormecido. Era uma mesa de escritório elegante e metálica, com um computador zumbindo baixinho ao meu lado.
— Por que isso está aqui?
Tem algo de errado aqui.
Tudo parecia completamente fora do lugar, embora tudo parecesse familiar de alguma forma. Olhei para baixo e vi que não estava com meu uniforme escolar. Eu estava vestindo um terno, completo com camisa, calça e gravata.
— Ah... Eh?
Olhei ao redor e meu estômago revirou com inquietação. Aquela não era minha escola. Nem de longe.
Um teto manchado de nicotina pairava acima de mim, lançando tudo em um tom amarelado doentio. As paredes estavam descascadas, manchadas de sujeira. Um armário próximo transbordava de papéis amassados, praticamente vomitando-os sobre o carpete manchado. Mesas idênticas se estendiam na escuridão, cada uma com uma tela de computador brilhante.
Tudo era muito familiar. Tudo era muito específico e isso me causou um arrepio na espinha.
Não pode ser... não pode ser...
— Que desperdício de átomos. Cochilando em uma hora dessas, seu lixo?
Essa voz...
O gelo tomou conta das minhas veias quando uma onda de terror me atingiu. Um homem gordo na casa dos cinquenta anos estava na minha frente, com olhos sem calor ou consciência, a boca torcida em um sorriso sarcástico.
— O quê? O que é isso? Eu estava na sala de aula. Todos estavam lá.
— Sala de aula? Não tente me fazer rir. Foi só um sonho patético.
— Um sonho? Não, isso não pode ser!
Do que ele estava falando? Aquilo não foi um sonho. Eu voltei para consertar tudo, para recuperar o que perdi.
— Seja qual for a fantasia que você teve, tá na hora de acordar para sua realidade que está bem aqui.
O chefe de seção se aproximou e jogou uma montanha de arquivos na minha mesa. A pilha quase tombou. Mesmo que eu trabalhasse sem parar, dia e noite, nunca terminaria.
— Não há descanso permitido. Não há desistência. Você vai trabalhar como um cavalo hoje, amanhã e todos os dias, enquanto puder. Essa é toda a sua vida.
Não... Isso não está certo. Esse não pode ser o meu futuro. Eu mudei tudo para escapar disso.
— Sonho bom, né, princesinha soninho?
Para! Não diga isso!
— Mas você está acordado agora. Você não viu?
Não! Não! Não! Não! Não!
— Isso não passou de uma fantasia conveniente — disse uma voz, suave e pesada como concreto, envolvendo-me como se quisesse sufocar o ar dos meus pulmões.
A desordem familiar ao meu redor, das mesas gastas às telas piscando, parecia sussurrar que era ali que eu pertencia.
— Você realmente acreditou que poderia reescrever seu passado?
Dentro da minha cabeça, uma voz que não era a do gerente Shinohama deslizou pelos meus pensamentos. Era desconhecida, mas ressoava com uma familiaridade arrepiante. Ah, essa era a minha própria voz.
Você achou que poderia se tornar amiga de Shijoin-san? Que poderia mudar o futuro dela? Você achou que poderia se reunir com sua mãe morta? Você achou que poderia se aproximar de sua irmã, compartilhando risadas e sorrisos? Você achou que poderia organizar com sucesso o festival cultural e receber a gratidão de seus colegas de classe? Tudo isso, cada pedacinho, não passava de uma ilusão. O sonho final de um homem patético, agarrando-se aos restos de uma vida desperdiçada.
A voz na minha cabeça se multiplicava, como um coral que cantava zombaria e desprezo, ecoando incansavelmente. Suas risadas eram como uma lâmina cortando meu coração. Meus pensamentos ficaram lentos, meu coração se tornou um deserto árido incapaz de nutrir esperança.
Tudo isso era realmente uma mentira? Os desejos que eu almejava não passavam de sonhos fugazes? O que eu testemunhei era apenas uma ilusão conveniente?
Um desespero obscuro como breu e espesso como neve acumulada, me envolveu. O calor no meu coração evaporou-se, deixando para trás um vazio gelado. Um vazio abriu-se no meu peito, consumindo tudo no seu caminho. Quando toda a esperança parecia extinta...
De repente, algo quente me tocou.
— O quê?
Um calor incrivelmente suave penetrou em meu coração congelado, derretendo o gelo do desespero. A escuridão dentro de mim se dissipou como sombras sob o sol do meio dia. Uma voz, uma voz familiar, me chamou. Um som refrescante e melodioso chegou aos meus ouvidos, reacendendo as brasas da esperança.
Um calor alegre surgiu em mim, revitalizando meu corpo e meu espírito. Reconheci esse calor, essa voz gentil. Era uma fonte de inspiração, a força motriz por trás de cada batida do meu coração. Aquela que sempre iluminava meu coração com calor e luz, era sempre ela.
— Shijoin-san...
Como se o desespero não passasse de um pesadelo passageiro, pronunciei seu nome, na minha voz clara e cheia de uma nova esperança.
「Visão da Shijoin Haruka」
Na tranquilidade da sala de aula, observei Niihama-kun enquanto ele dormia profundamente.
A comemoração após o festival havia terminado e, enquanto eu arrumava as embalagens de doces e os detritos espalhados, encontrei Niihama-kun dormindo profundamente nos assentos do café takoyaki.
Sabendo o quanto ele devia estar exausto por conta de tudo que havia acontecido hoje, eu não tive a coragem de acordá-lo. Em vez disso, enquanto todos iam para casa, peguei as chaves da sala de aula com Kazamihara-san e fiquei para cuidar dele na sala de aula, agora mais tranquila do que antes. Foi meu momento de apreciar os momentos de silêncio antes do último sinal da escola.
Além de que o Niihama-kun merece descansar um pouco mais.
— Foi um festival cultural maravilhoso, não foi, Niihama-kun? — eu sussurrei, cercada pelos restos do café takoyaki que havíamos administrado juntos — Foi realmente encantador.
O garoto que trouxe tanta felicidade para mim e nossos colegas de classe, agora dormia pacificamente diante de mim. Na festa, quando todos expressaram sua sincera gratidão a Niihama-kun, meu coração se encheu de orgulho.
Ver como a gratidão deles aquecia o coração de Niihama-kun me encheu de alegria também.
Embora nunca tenha admitido isso a ninguém, havia momentos em que sentia uma pontada de inquietação. Por exemplo, com Kazamihara-san e Fudehashi-san.
Fui eu quem inicialmente conectou Niihama-kun ao festival cultural, mas vê-los sorrindo para ele despertou um sentimento estranho dentro de mim. Fiquei feliz em vê-lo ganhando a confiança de todos, mas me senti um pouco solitária ao ver a atenção do meu melhor amigo ser desviada para outras pessoas.
— Hmm... especialmente Kazamihara-san — murmurei para mim mesma.
Como membros do comitê e orientadores, eles passaram inúmeras horas juntos durante o festival. Kazamihara-san era sempre difícil de entender, fazendo as coisas no seu próprio ritmo, mas ela sempre demonstrou uma atitude positiva em relação a Niihama-kun, frequentemente elogiando suas habilidades. Era natural, considerando o quão confiável ele era.
— E Niihama-kun parece bastante à vontade com Kazamihara-san e Fudehashi-san.
Com Kazamihara-san era sempre “Você está me colocando demais no centro das atenções haha” e com Fudehashi-san era “Ah, fica de boa! Eu cuido disso!”. No entanto, comigo, era sempre o cavalheirismo excessivo: “Se eu puder ajudar em alguma coisa, estou sempre a sua disposição.”
Eu não me importaria se ele fosse mais casual comigo... Hã?
De repente, meus olhos foram atraídos para o rosto de Niihama-kun. Gotas de suor escorriam de sua testa. Sua expressão estava contorcida de dor e ele soltava gemidos abafados.
— Niihama-kun? O que há de errado?
— Ugh, ah, aaah… — seu sofrimento era palpável.
Ele está claramente tendo um pesadelo.
— Niihama-kun… — sem pensar, estendi a mão e toquei suavemente sua bochecha.
Se eu estivesse pensando melhor, sacudi-lo para acordá-lo teria sido a opção mais sensata, mas naquele momento, o instinto tomou conta de mim. Assim como minha mãe me confortava durante a infância quando eu tinha pesadelos, eu queria acalmar o sono perturbado de Niihama-kun com o calor do toque humano. Niihama-kun não deveria ser atormentado por pesadelos. Alguém que se dedicava de corpo e alma a tudo merecia felicidade, mesmo nos sonhos.
Niihama-kun deveria ter apenas sonhos felizes!
Na esperança de compartilhar mais do meu calor, envolvi as mãos de Niihama-kun com as minhas. Talvez isso aliviasse seu sofrimento, mesmo que apenas um pouco.
「Visão do Niihama Shinichiro」
Eu podia ouvir a voz da Shijoin-san e sentir seu calor.
Ah, se ela está do meu lado do meu corpo agora, então essa situação é bem clara... Isso definitivamente não pode ser realidade.
— Ah... É só um pesadelo. Entrei em pânico à toa — suspirei, zombando de mim mesmo por ter ficado tão nervoso.
E assim, a ansiedade desapareceu. Agora que percebi que era um sonho, tudo parecia estranho. O escritório estava embaçado e os detalhes já escapavam da minha memória.
— Niihama. Pare de murmurar e volte ao trabalho!
— Só os detalhes sobre o chefe estão bem claros. Acho que é isso que o trauma faz com você — respondi secamente.
O lógico seria acordar, mas antes disso...
— Ei, você está ouvindo, seu preguiçoso? Estou te dando esse trabalho também, para o seu próprio bem, então mãos à obra! Se você relaxar, vou cortar seu salário de novo.
— Cale a boca, seu velho babaca! — gritei, finalmente liberando toda a minha frustração reprimida contra o chefe de seção, cuja expressão presunçosa congelou em choque.
Mais valia dizer tudo o que eu queria dizer a ele na minha vida passada.
— Seu gerente gordo e inútil! Seu hálito fede a cigarro! Você está sempre criticando os outros quando nem consegue fazer seu próprio trabalho direito, o ápice da incompetência. Você fica fazendo exigências irracionais a todo momento enquanto age como se fosse algum tipo de rei. Se você é tão poderoso, por que não tenta trabalhar cem dias seguidos, seu bastardo inútil!
Enquanto eu desabafava minhas queixas, o chefe de seção começou a tremer.
— Haha, mesmo em um sonho — ele reage adequadamente à raiva — Você! Como ousa falar assim comigo! Não pense nem por um segundo que vai se safar!
Estalei os dedos e avancei, a voz do chefe ia diminuindo até se tornar um choramingo patético. Dessa perspectiva, isso não era um pesadelo, mas sim um sonho deliciosamente satisfatório.
— Como é um sonho, não existe agressão. Azar o seu aparecer no meu sonho — eu disse com um sorriso alegre, quase jovial, enquanto me aproximava do chefe de seção aterrorizado.
Hehe. Tarde demais para recuar agora.
— Espere, espere! Pare!
— Por todos os anos de tormento que você causou... Morra logo!
Com meu punho cerrado, fui em direção do homem que costumava me deixar exausto.
「Visão da Shijoin Haruka」
— Ainda bem que funcionou.
Não havia nenhum plano concreto quando agarrei impulsivamente as mãos do Niihama-kun. Não esperava que fosse tão eficaz, mas, de alguma forma, isso o acalmou e, em pouco tempo, ele estava dormindo tranquilamente novamente.
Quando pensei que ele finalmente poderia descansar, a tensão desapareceu de seu rosto. Então, com um murmúrio baixo, “morra logo”, seu corpo começou a se contorcer e se retorcer.
Ele escorregou da cadeira e caiu no chão, me assustando.
— Niihama-kun, você está bem? — quando ele não respondeu, eu me inclinei um pouco — Ainda está dormindo, hein...
Ele estava deitado no chão, com a respiração lenta e constante. Ele devia estar completamente exausto para não acordar com uma queda daquelas.
Não posso deixá-lo assim.
— Tudo bem, só por um momento.
Coloquei uma almofada de couro no chão e gentilmente levantei sua cabeça para o meu colo, esperando que fosse mais confortável do que o chão duro.
Uau, não achei que seria grande coisa, mas ter o rosto de Niihama-kun tão perto da minha barriga me dá uma sensação estranhamente íntima.
— Hum… hein?
— Ah, você acordou, Niihama-kun.
— Ah, então era só um sonho. É verdade. Estou na sala de aula.
Tentei falar com ele, mas sua voz estava sonolenta e ele ainda estava claramente atordoado.
— Ei, sou eu, Haruka. Você acabou cochilando na aula.
— Ah, Shijoin-san — Niihama-kun murmurou, sua voz baixa e sem foco.
Ele ainda não está totalmente acordado… Hehe, ele parece quase uma criança agora, é meio fofo.
— Que sensação suave é essa? É... um travesseiro de colo?
— I-i-isso é só por-porque você estava escorregando da cadeira — eu disse, gaguejando enquanto minhas bochechas ficavam vermelhas.
— Hmm, isso é muito bom... e tem um cheiro bom também.
Suas palavras me pegaram de surpresa e meu rosto ficou vermelho. Eu tinha suado durante meu turno no café takoyaki e a ideia de que Niihama-kun pudesse sentir o cheiro era humilhante.
— Shijoin-san é realmente linda.
— Hã? O que você está dizendo, Niihama-kun?
Embora Niihama-kun ainda estivesse meio adormecido, suas palavras de alguma forma conseguiram me deixar inquieta, assim como naquela vez em que voltamos para casa juntos.
— Isso não é um sonho, é? Você está realmente aqui? — ele sussurrou.
Eu não sabia o porquê dele parecia tão inseguro. Alguém como ele não deveria se sentir assim.
— Sim, estou aqui — eu disse suavemente, repetindo as palavras que eu havia dito a ele anteriormente.
Coloquei a mão em seu ombro, esperando que isso lhe trouxesse um pouco de paz depois de tudo o que ele havia passado hoje.
— Estou bem aqui com você, Niihama-kun.
「Visão do Niihama Shinichiro」
Ah, estou deitado em um traves
seiro macio.
— Espere, um travesseiro?
As palavras “travesseiro” me acordaram com um sobressalto. A névoa em minha cabeça se dissipou e a terrível realidade me atingiu como água fria.
O sol já havia se posto. Lá fora, estava escuro. Na sala de aula mal iluminada, com apenas nós dois restantes, acabei descansando no colo de Shijoin-san, com os últimos traços de algo que eu murmurei ainda pairando no ar.
Por que estou nessa situação?!
Normalmente, eu teria me levantado imediatamente, mas o absurdo da situação, muito além de qualquer coisa para a qual minha limitada experiência com garotas me tivesse preparado, me deixou paralisado no lugar. O calor subiu às minhas bochechas enquanto eu permanecia ali no colo dela.
A mão de Shijoin-san moveu-se suavemente sobre minha testa. Ela não parecia perceber que eu estava acordado, mas seu toque era tão carinhoso, quase como o de uma mãe. A rigidez do meu corpo desapareceu. Cercado por seu calor e seu leve perfume, senti que estava tudo bem ficar assim.
Senti como se tivesse permissão para ficar ali. Shijoin-san olhou para mim com um sorriso radiante. Ver seu sorriso fez meu peito apertar, e eu não conseguia desviar o olhar.
Ela é realmente linda.
De onde eu estava deitado em seu colo, Shijoin-san parecia tão linda que quase doía olhar para ela. Seu cabelo caía suavemente ao redor de seu rosto e, quando seus dedos roçaram minha testa, foi difícil pensar em qualquer outra coisa. Seu sorriso era tão deslumbrante que eu não conseguia tirar os olhos dela. Eu só queria ficar assim, observando-a.
Ah, certo, é isso...
E então, tudo voltou à minha mente.
Minha vida anterior, meus dias de colégio. A primeira vez que falei com Shijoin-san foi na biblioteca. Foi um momento inesquecível, uma lembrança onírica gravada em minha mente. Assim como agora, eu tinha ficado completamente encantado com o sorriso dela.
Agora, finalmente entendi a verdadeira natureza dos sentimentos que nutria desde então… No final, eu estou apaixonado por Shijoin-san.
A simples verdade, a constatação que eu vinha evitando, me atingiu com toda a força. O que eu sempre descartei como admiração era, na verdade, amor. Da minha vida passada até o presente, mesmo com o passar dos anos e o cinismo se instalando, Shijoin Haruka, a garota por quem eu ansiava, permaneceu uma constante nos meus sonhos.
Por que demorei tanto para perceber meus próprios sentimentos? Seria porque meus sentimentos começaram como simples admiração e lentamente se transformaram em algo mais?
Não, foi o contrário.
Meus sentimentos por Shijoin-san eram avassaladores. No momento em que vi seu sorriso pela primeira vez naquela biblioteca, fiquei irremediavelmente apaixonado. O amor que floresceu em meu coração era intenso demais para ser classificado como uma mera paixão de colegial.
Era como se uma brisa primaveril soprasse em minha alma, despertando cada célula do meu corpo com meu amor por Shijoin-san. Seu sorriso angelical era um feitiço, lançando uma onda de felicidade sobre mim. Todo o meu ser gritava o nome dela, ressoando com os ecos de um amor que transcendia vidas.
Mas esse amor avassalador, nascido no coração de um otaku introvertido, também era um veneno que corroía meu coração.
Eu amo Shijoin-san, quero estar ao lado dela e quero caminhar ao lado dela para sempre. Mas a realidade esmagadora era que isso nunca poderia acontecer.
Naquela época, eu não tinha nada do que era necessário para cultivar um relacionamento. Eu não tinha autoconfiança, coragem para me declarar, espírito de luta para competir com rivais, nem o comportamento e as habilidades para ficar ao lado de Shijoin-san como um igual. Minha lista de deficiências era interminável.
Vivendo apenas para evitar a dor como um otaku recluso, eu possuía a energia emocional do amor, mas não a força de coração para transformá-la em ação.
Era por isso que eu sofria intensamente com as contradições que surgiam. Apesar de amar Shijoin-san até as lágrimas, o eu daquela época, que era uma mera sombra do meu eu atual, não tinha coragem de manifestar esse amor. Eu não tinha nem mesmo a determinação de confessar, negando a mim mesmo o encerramento do meu coração partido. Minha angústia se agitava dentro de mim, esmagando meu coração dia e noite em um ciclo implacável de tormento.
E assim, em um ato final de autopreservação, meu subconsciente se enganou. Convenci-me de que meus sentimentos por Shijoin-san eram apenas admiração, do tipo que se tem por um ídolo, e não amor romântico.
Esses sentimentos reprimidos permaneceram inalterados, mesmo quando me formei e entrei na idade adulta, esquecendo tudo o que levou ao salto no tempo da minha vida passada.
Mentindo para mim mesmo sobre meus sentimentos apenas para evitar a dor. Eu sou a definição de covarde, não sou?
A paixão ardente que brilhou intensamente apenas uma vez na vida nunca deveria ter sido deixada para arder lentamente. Independentemente do resultado ser bom ou ruim, mesmo como estudante do ensino médio, eu sabia no fundo que, sem expressar meus sentimentos, nunca poderia realmente seguir em frente.
Mas, no final, incapaz de suportar o medo e a dor, escolhi o esquecimento. Esse foi o “erro fatal” que finalmente reconheci no fim da minha vida anterior.
Não se tratava apenas de ter enterrado meu amor por Shijoin-san nas profundezas da minha consciência. Era a dolorosa constatação de que, apesar de nutrir sentimentos tão intensos, não consegui me libertar das minhas inseguranças para agir de acordo com eles.
A incapacidade de reunir coragem naquele momento crucial foi o meu maior arrependimento na juventude.
Toda aquela conversa sobre recuperar a minha juventude, e eu perdi o mais importante.
Sou realmente um idiota.
Eu tinha disfarçado isso com um senso de dever de proteger o futuro de Shijoin-san, mas o que eu realmente ansiava era confessar o meu amor à garota por quem me apaixonei. A juventude que eu mais queria recuperar era aquela que passei com ela.
E agora, depois de compartilhar tantas palavras com Shijoin-san, depois de abrirmos nossos corações um para o outro, cheguei a um ponto em que meu amor não pode mais ser contido.
Agora vejo isso claramente.
Então, em um futuro não muito distante...
Definitivamente direi a essa garota angelical que a amo!
Desta vez, não haverá fuga, nem autoengano. Vou falar sobre esses sentimentos que carrego há tanto tempo. Então, até lá...
— Por favor, espere por mim...
O sono tomou conta de mim mais uma vez, minha mente sucumbindo ao calor reconfortante da garota que eu amava. Sua presença acalmou meu corpo exausto, levando minha consciência para longe.
— Sim, estarei aqui — ela sussurrou suavemente, assim que eu adormeci.
— Até que chegue a hora, vou esperar por você, Niihama-kun.
Sua mão gentil continuou acariciando minha cabeça, seu sorriso tão terno e sereno como sempre.
— Por enquanto, descanse um pouco mais.
Sim, isso mesmo. Por enquanto, vou descansar e, quando acordar, vou dar o meu melhor novamente.
Vou reescrever o futuro de Shijoin-san e, passo a passo, vingar-me dos meus próprios fracassos passados. Para me tornar um homem digno do anjo que cativa o coração de todos, vou aprimorar e refinar esta segunda vida. Neste mundo além do tempo, tudo para confessar meu amor por você.
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