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CAPÍTULO 5 - CONVITE PARA A RESIDÊNCIA SHIJOIN

Meu nome é Tokimune Shijoin, um homem que construiu uma vida confortável para si mesmo e sua família. Enquanto relaxava na sala de estar com minha esposa, Akiko, e minha filha, Haruka, não pude deixar de sentir uma sensação de satisfação.

— 58º colocada… — Eu sorri para Haruka, segurando seu boletim escolar — Você se saiu incrivelmente bem! Suas notas melhoraram muito desde a última prova.

Examinando o boletim que Haruka trouxe para casa, não pude deixar de sorrir com orgulho. Os números na página eram uma prova de sua dedicação e trabalho árduo. 

— Sim, eu estudei muito! — os olhos de Haruka brilhavam de empolgação — Então, hm... isso significa que a proibição da leitura foi...

— Ah, claro, foi suspensa. — eu disse com uma risada — Mas não se envolva tanto a ponto de afetar seus estudos no futuro, está bem?

— Sim, vou tomar cuidado!

A resposta encantada de Haruka confirma seu amor por romances ilustrados.

Minha filha era uma aluna dedicada, mas sua natureza inocente muitas vezes a levava a perder a noção do tempo enquanto lia ou assistia a vídeos. Embora eu tivesse que estabelecer alguns limites dessa vez, fiquei orgulhoso de como ela lidou com a situação.

Eu certamente não quero desencorajar seus hobbies, mas o equilíbrio é importante.

Akiko concordou com a cabeça.

— Suas notas melhoraram notavelmente, não é? Mas você tem chegado tarde em casa com frequência ultimamente… você estava ficando depois da aula para estudar? — perguntou ela, com a curiosidade despertada. 

— Sim, exatamente! Tem uma pessoa que é excelente nos estudos e tem me ajudado depois da aula. É incrível ensinando e realmente sabe como me manter motivada. Sou muito grata!

— Uau, essa pessoa está dedicando tanto tempo assim para te ajudar? Você encontrou alguém muito bom.

— Sim, realmente incrível! — os olhos de Haruka brilharam de orgulho — Mesmo me ajudando a estudar, ainda assim conseguiu tirar a maior nota em todas as provas da turma!

Oh... Isso é realmente impressionante. É notável dedicar tanto tempo a uma amiga e ainda manter as melhores notas. Ela deve ser incrivelmente motivada. 

— Mas Haruka, suas notas melhoraram significativamente em todas as disciplinas. É bastante impressionante. Em quais disciplinas te ajudaram?

— Bem, inicialmente, Niihama-kun se concentrou nas disciplinas em que eu estava com dificuldade, mas antes que eu percebesse, ele estava me ajudando em todas...

— Em todas? Não é muito? Vocês devem ter passado muito tempo estudando...

— Eu também achei isso e mencionei várias vezes, mas toda hora ficava insistindo “Isso ajuda nos meus próprios estudos e é divertido”, então continuou me ajudando muito. Tentei mostrar minha gratidão levando lanches e bebidas.

— É realmente... ou algum tipo de santa ou incrivelmente leal… — refleti em voz alta, incapaz de compreender totalmente tal dedicação. 

— E não é só isso! — Haruka continuou, com a voz cheia de admiração — Também sabia exatamente o que cairia nas provas. Minhas notas melhoraram muito por causa deles.

Akiko ergueu as sobrancelhas, surpresa.

— Nossa, que pessoa extraordinária... Espere um minuto, seria a mesma pessoa que planejou sozinho todo o festival cultural e até dirigiu o evento?

Parecia que minha esposa estava mais por dentro do que eu. Embora eu estivesse satisfeito com o relato entusiasmado de Haruka sobre o sucesso do festival, não tinha percebido o grau de envolvimento de sua amiga. 

— Sim, isso mesmo! — confirmou Haruka, animada — Era um plano meticulosamente elaborado e davam instruções incrivelmente claras, essencialmente assumindo o papel de líderes e ficando incrivelmente ocupados. Mas, mesmo com tudo isso, ainda arranjou tempo para as nossas sessões de estudo, embora com menos frequência.

— Espere um minuto — interrompeu Akiko, franzindo a testa com preocupação — Que tipo de pessoa é? Parece que estão a assumir uma carga de trabalho impossível.

— É uma carga de trabalho incrível para qualquer pessoa, quanto mais para uma estudante do ensino secundário — comentei, com a minha preocupação a aumentar — Na minha empresa, esse nível de responsabilidade provocaria uma revisão imediata do bem-estar dos funcionários. Bem, eles sempre dizem “Se eu não dormir o suficiente, vou simplesmente cair morto um dia”. Então, eles se certificam de descansar bastante, não importa o quão ocupados estejam. Eles são incrivelmente eficientes e rápidos em fazer as coisas.

— Quanto mais ouço, menos eles parecem estudantes típicos do ensino médio… — Akiko refletiu, com um tom de suspeita na voz.

Especialmente aquele comentário sobre o sono chamou minha atenção. Parecia ter vindo de uma experiência pessoal, talvez até mesmo da perda de um ente querido devido ao excesso de trabalho.

— Então… — Haruka continuou, com os olhos brilhando de determinação — para agradecer por tudo o que fizeram, quero convidar para vir aqui neste sábado!

— Ah, para nossa casa? — Akiko esclareceu.

— Sim — Haruka assentiu com entusiasmo — Pensei em comprar um presente, mas achei que preparar tudo sozinha e oferecer um almoço seria uma maneira melhor de mostrar minha gratidão...

Ao ouvir as palavras de Haruka, uma onda de orgulho parental tomou conta de mim. Era emocionante vê-la desenvolvendo uma atitude tão atenciosa e considerada, sem ser influenciada pela riqueza da nossa família. Seu desejo de expressar gratidão por meio de esforço pessoal dizia muito sobre seu caráter.

— Que ideia maravilhosa, Haruka! — eu disse, sorrindo — Eu adoraria ajudar, mas se você quiser assumir o comando, vá em frente. Certo, querida?

Virei-me para Akiko, buscando sua aprovação. 

— Com certeza! — ela respondeu com um sorriso caloroso — Apenas certifique-se de dar as boas-vindas adequadas.

A melhora acadêmica de Haruka foi notável. Se isso realmente se devia a esse amigo, então suas habilidades de ensino não eram apenas impressionantes, mas dignas do salário de um tutor profissional. Certamente precisávamos retribuir sua gentileza e garantir que eles se sentissem apreciados. 

— Considerando o quanto fez pela Haruka — comecei, com uma expressão pensativa no rosto — devemos oferecer algo em troca. Infelizmente, tenho um compromisso nesse dia e não poderei encontrá-la. É uma pena, pois adoraria agradecer pessoalmente e ver que tipo de alunos extraordinários eles são, mas não há como evitar.

— Isso é maravilhoso! Obrigada, pai! — Haruka sorriu, com sua gratidão evidente.

— Haha, não sou o tipo de homem que se oporia a minha filha convidar uma amiga para vir à nossa casa — respondi com uma risada calorosa. 

Hoje estava se tornando um dia verdadeiramente maravilhoso. Aqueceram meu coração ao ouvir os sinceros agradecimentos de Haruka e ver a alegria irradiando dela.

— Hmm? Ah? A criança que brilhou no festival cultural, não foi, hm…

— O que há de errado, Akiko? — perguntei, um pouco perplexo com sua repentina mudança de comportamento. 

— Hehe... Não, não é nada, Tokimune. — ela respondeu com um sorriso enigmático.

Sua resposta enigmática me deixou curioso.

O que poderia ter causado essa reação?

— Tudo bem, vou avisar sobre o sábado então! — exclamou Haruka, com a voz cheia de entusiasmo — Agora, vou pensar no cardápio do almoço e do lanche para esse dia!

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Assim que as palavras saíram da boca de Haruka, ela correu para o quarto, cheia de entusiasmo.

— Haha, a amizade entre meninas é uma coisa maravilhosa — ri, observando-a partir — Até agora, parecia que ela não tinha ninguém a quem pudesse chamar de amiga íntima... mas parece que elas formaram um vínculo profundo.

— Hehe... Sim, é realmente comovente — concordou Akiko, com um sorriso se transformando em um largo sorriso. 

— Hmm? O que há de tão engraçado? — perguntei, levantando uma sobrancelha para sua diversão — Por que você está me olhando assim?

Akiko estava agindo de forma suspeita há algum tempo, reprimindo risadas e trocando olhares enigmáticos com Haruka. 

— Não, não é nada, Tokimune. — ela respondeu, com um brilho divertido nos olhos — Estou apenas ansiosa para conhecer essa amiga da Haruka! Mal posso esperar pelo sábado!

— Ah, entendo… — eu disse, com um tom de suspeita na voz — Como não poderei conhecê-los, por favor, transmita minha gratidão e peça que continuem cuidando da Haruka. Lembre-a de que ela pode ser um pouco esquecida e espero que continuem a apoiá-la.

— Pfft! — Akiko começou a rir, incapaz de se conter por mais tempo.

— O que foi? — perguntei, completamente perplexo com sua súbita explosão.

***

— Afff! O que devo fazer? O que devo fazer? — disse, andando de um lado para o outro na sala de estar com a cabeça entre as mãos.

A causa da minha angústia? O convite da família Shijoin, é claro.

Parecia que Shijoin-san tinha conseguido defender seu caso e agora eu estava oficialmente convidado para ir à casa deles.

Eu, indo para a residência Shijoin!? Nunca imaginei tal cenário...

Não era que fosse um problema, propriamente dito. Era só que a ideia de entrar na casa dos Shijoin era incrivelmente estressante.

O que devo fazer?

Isto não era um problema real, mas eu precisava me preparar mentalmente...

— Hmm? O que te deixa tão nervoso, maninho?

Minha irmã mais nova, Kanako, apareceu na sala de estar, sua presença me tirando do meu monólogo interno. Ela tem passado muito tempo aqui ultimamente. 

— Ah! Não me diga... você perdeu a competição contra aquele tal príncipe? — ela perguntou, com os olhos arregalados de preocupação. 

— Não, eu o esmaguei ficando em primeiro lugar na série inteira. Além disso, ele tentou dar em cima da Shijoin-san, apesar das regras de perdedor que ele mesmo estabeleceu, mas ela disse a ele: “Nunca mais fale comigo” e isso meio que quebrou o ânimo dele.

— Uau! Isso é uma vitória absoluta! Então, o que está te deixando tão preocupado?

— Bem, é que…

Comecei, explicando a situação. Até Kanako ficou surpresa ao ouvir sobre o convite para a residência Shijoin.

— Para a casa deles? Uau, isso é muito mais do que apenas uma chance! Ela está totalmente apaixonada por você! —  ela gritou, batendo palmas animadamente.

— Não seja ridícula, Kanako. — eu disse, tentando moderar seu entusiasmo — Como eu disse antes, Shijoin-san é uma garota gentil e um pouco ingênua. Não é nada romântico, ela só quer me agradecer por ajudá-la nos estudos.

Eu sabia que Shijoin-san sempre se preocupava se as sessões de estudo que ela solicitava fossem um fardo para mim. Se eu estivesse no lugar dela, também gostaria de expressar minha gratidão da melhor maneira possível. 

— Mas mesmo assim... O fato de ela estar te convidando significa que ela realmente confia em você! Isso é muito importante! — insistiu Kanako, com seu entusiasmo inabalável. 

— Sim, eu entendo… — suspirei, passando a mão pelo cabelo — Mas estou nervoso por querer causar uma boa impressão. Preciso planejar tudo cuidadosamente.

Kanako me deu um sorriso caloroso e encorajador.

— Não se preocupe. — disse ela — Você vai ficar bem. Apenas seja você mesma e mostre a eles a pessoa gentil e atenciosa que você é.

— Obrigada, Kanako. — respondi, sentindo-me um pouco mais à vontade — Agradeço seu apoio.

Suas palavras me tranquilizaram. Eu sabia que precisava me preparar, mas também tinha que me lembrar de ser genuína e aproveitar essa experiência. Afinal, era um convite de uma amiga que claramente valorizava minha companhia e queria expressar sua gratidão.

— Isso não  tá mais como se ela tivesse te convidado dizendo “Ei... meus pais não estarão em casa”? — Kanako provocou, com um sorriso malicioso se espalhando por seu rosto. 

— Não invente um cenário picante com Shijoin-san! — retruquei, com as bochechas corando só de pensar nisso — Ela me convidou com um sorriso puro e inocente, dizendo: “Por favor, deixe-me convidá-lo para minha casa!”

Apesar dos meus protestos, não pude deixar de imaginar Shijoin-san sussurrando essas palavras com uma expressão tímida e terna...

— Então, qual é o problema, maninho? — perguntou Kanako, inclinando a cabeça em confusão — Se a sua paixão te convida para ir à casa dela, isso não é uma coisa boa? Você deveria estar feliz!

— Não tenho roupas adequadas. — deixei escapar, com um tom de desespero na voz. 

— Hã?

— Não tenho nada para vestir hoje! Mesmo que tentasse comprar algo agora, não tenho ideia do que seria apropriado! — disse, com minha ansiedade voltando com força total. 

Nesta vida, usei a força mental e o conhecimento que adquiri na minha vida anterior para enfrentar vários desafios, mas quando se tratava de moda, eu era um caso perdido.

Naquela época, eu estava tão consumido pelo meu trabalho corporativo e nunca tive uma namorada, então meu guarda-roupa consistia apenas em roupas de negócios: ternos, camisas e gravatas.

Eu nunca precisei me preocupar com uma roupa para um encontro com uma garota…

— Ser convidado para ir à casa de alguém é ainda mais significativo do que um encontro! Não tem como eu só aparecer com minhas roupas comuns! Droga, preciso ir a uma loja de departamentos ou um brechó masculino agora mesmo… — comecei a entrar em pânico.

— Pare aí. — Kanako interrompeu com firmeza.

— Eh? — virei-me para ela, assustado. 

Quando eu estava prestes a sair correndo pela porta, o punho de Kanako acertou meu estômago com um soco surpreendentemente forte.

— P-por que você fez isso?! — eu ofeguei, segurando meu abdômen — Violência doméstica?

— Relaxe, Onii-chan. — ela disse, com uma voz surpreendentemente calma — Se você não está acostumado a comprar roupas, correr para uma loja de departamentos só vai acabar em desastre. Você provavelmente vai acabar comprando algo ridículo e gastando todas as suas economias.

Ugh... Ela havia pintado um quadro dolorosamente preciso do meu futuro potencial. 

— Você não precisa exagerar. — ela continuou, suavizando o tom de voz. 

— Mas mesmo assim, eu… — protestei fracamente. 

— Você é um estudante do ensino médio, então é perfeitamente normal usar roupas acessíveis. Se você aparecer com algo excessivamente caro, vai parecer fora do lugar e fazer você se destacar de forma estranha.

— Sério?

Eu me vi sentando novamente, prestando atenção em cada palavra de Kanako. 

Foi uma constatação humilhante perceber que eu, um suposto adulto maduro na minha vida passada, agora estava buscando conselhos de moda com minha irmã do ensino fundamental. 

— Sim, até mesmo algumas meninas do ensino fundamental tentam usar roupas ou bolsas de marca, — comentou Kanako, revirando os olhos — mas como elas as usam sem nenhum estilo, acabam parecendo cafonas e ainda mais jovens do que são.

Meninas do ensino fundamental com bolsas de grife? Será que os pais delas são todos profissionais ricos? 

— Então, mesmo que você use roupas baratas, certifique-se de ter uma aparência apresentável — continuou Kanako, mudando o tom de voz para um mais autoritário — Tome banho, escove os dentes, apare os pelos do nariz. E, obviamente, use roupas limpas. Ah, mas pelo menos preste atenção à cor da sua roupa.

— C-cor? Por que isso importa? — perguntei, sentindo-me um pouco perdido. 

— Não é nada de mais, mas para uma primeira visita à casa de alguém, é melhor evitar o preto e optar por cores mais claras. Entre as roupas que você tem... talvez uma camiseta listrada ou azul com uma camisa branca lisa por baixo? Para calças, mesmo cores um pouco mais escuras estão bem, mas se você estiver usando uma blusa branca, calças de algodão marrons podem ser melhores, certo?

Quem diria que minha irmã mais nova era tão fashionista? 

— Você está perspicaz como sempre. — comentei, balançando a cabeça com um sorriso irônico — Mas como você sabia que tipo de roupa eu tenho?

— Bem, ora pois… — Kanako retrucou com um sorriso malicioso — Você sempre foi péssimo em combinar suas roupas casuais. Eu costumava observar você e pensar “se ele fizesse isso ou aquilo, ficaria melhor”... Maninho, você é tão sem graça.

— Lá vem você, me insultando de novo… — suspirei, mas então me ocorreu uma ideia. — Espere um minuto, Kanako. Isso significa que... mesmo quando eu era aquele cara sombrio murmurando sozinho, você ainda prestava atenção suficiente em mim para saber quais roupas eu tenho?

— Bem, não é como se alguém já tivesse sido convidado para ir à casa da pessoa por quem está apaixonado antes de um encontro, certo? — ela brincou — Você terá que descobrir o que fazer por conta própria quando estiver lá! Mas, ei, é um grande passo, então vá e conquiste o coração da princesa!

— Tudo bem, tudo bem! Vou dar o meu melhor! — respondi, com uma onda de determinação percorrendo meu corpo. 

Era realmente um grande passo. Era a primeira vez que eu interagia com Shijoin-san fora das atividades escolares, e ser convidado para ir à casa dela era um passo significativo para alguém que nutria sentimentos por ela. 

— Mas lembre-se, — Kanako advertiu, seu tom ficando sério — não importa o quanto você fique animado, você não pode fazer nada impróprio na casa de outra pessoa, ok?

— Eu sei, eu sei! — retruquei, fingindo exasperação — O que você pensa que eu sou?

— Um virgem cuja mente é consumida por pensamentos sobre uma certa garota, certo? — ela provocou, cutucando minhas costelas.

Não é porque você não tá errada que você tá certa! Mas ela não precisava ser tão direta...

Apesar de suas provocações, eu era grato pelo apoio de Kanako. O tempo voou enquanto brincávamos e discutíamos, e antes que eu percebesse, o dia da minha visita à residência Shijoin havia chegado. 

*** 

A mansão da família Shijoin ficava afastada das ruas principais e, mesmo quando eu já tinha acompanhado Shijoin-san até sua casa antes, era uma caminhada bastante longa. 

Desta vez, ela insistiu em me buscar, afirmando com firmeza que eu era um convidado e que era o mais adequado. Então, lá estava eu, caminhando em direção ao nosso ponto de encontro combinado. 

Mas ainda assim… Só o fato de eu estar me encontrando com Shijoin-san no fim de semana, sem falar no convite para ir à casa da família dela…

Era difícil acreditar que isso está realmente acontecendo. 

Quanto mais eu interagia com Shijoin-san nesta vida, mais percebia o alcance de seu charme natural e sua graciosidade. A maioria das pessoas, mesmo que fosse grata pela ajuda, não chegaria ao ponto de convidar um colega de classe do sexo oposto, que nem mesmo é seu namorado, para sua casa. 

Ugh... Meu coração está batendo forte.

Eu poderia ter a mentalidade de um homem velho, mas meu coração ainda batia com a intensidade de um adolescente de dezesseis anos. A mistura de emoção e nervosismo era quase insuportável.

Apenas respire, Shinichiro... Você consegue fazer isso!

A emoção de ser convidado pela garota de quem eu gostava com as palavras “Quero agradecer pela sessão de estudos, então deixe-me convidá-lo para minha casa!” era quase suficiente para me fazer explodir de felicidade, no entanto, a ideia de entrar na estimada casa dos Shijoin me enchia de apreensão. 

Não, não, eu não deveria pensar demais nisso. Vamos apenas aproveitar o dia de hoje. Shijoin-san me convidou porque quer que eu me divirta. 

Perdido em meus pensamentos, cheguei ao local do encontro mais cedo do que o esperado. Eu não tinha a intenção de chegar cedo, mas os hábitos arraigados dos meus dias de escravo corporativo aparentemente tomaram conta de mim, e eu me vi quinze minutos adiantado sem nem perceber. 

— Tudo bem, primeiro vou entrar em contato com ela... Ah.

Instintivamente, procurei meu celular flip antes que uma onda de percepção me invadisse. 

Na minha vida passada, as reuniões eram praticamente a única ocasião em que eu saía do escritório. Então, quando cheguei ao local do encontro, minha mão automaticamente procurou meu celular, como eu costumava fazer, para enviar mensagens ao meu chefe ou colegas, mas então, percebi com um choque que nem sequer tinha o número da Shijoin salvo. 

É verdade... Eu nem sei o endereço de e-mail dela... 

Nessa época, smartphones e aplicativos de bate-papo não eram comuns, então o e-mail era a principal forma de comunicação. Trocar informações de contato era o primeiro passo para construir um relacionamento mais próximo, assim como seria no futuro. 

Eu achava que estava me aproximando da Shijoin-san, mas se nem sabemos os endereços de e-mail um do outro... realisticamente, ainda somos apenas colegas de classe... Quando se trata de romance, eu nem cheguei à linha de partida ainda. 

Além disso, a primavera estava chegando ao fim e o verão se aproximava. Sem informações de contato, não teríamos quase nenhuma maneira de entrar em contato um com o outro durante as férias de verão. 

Vai acabar sendo igual ao verão da minha vida anterior… Um verão sem Shijoin-san…

O pensamento me deu arrepios. Fiquei surpreso com a intensidade da minha própria reação. Parecia que meus sentimentos por ela eram mais profundos do que eu havia admitido, até mesmo para mim mesmo.

Perdido nesses pensamentos, fui trazido de volta à realidade por uma voz atrás de mim. 

— Bom dia, Niihama-kun!

— Hã... Shijoin-san?

Eu me virei e a encontrei ali, transformada por uma roupa desconhecida. 

Uau... Como posso dizer... Ela está absolutamente deslumbrante! 

As roupas casuais de Shijoin-san fora da escola eram surpreendentemente impressionantes. A blusa branca com um delicado babado acentuava suas curvas, enquanto a saia preta esvoaçante revelava vislumbres de suas pernas esguias. Ela parecia uma nobre cativante de uma época passada.

— Hehe, eu sabia que você chegaria cedo, Niihama-kun. — Shijoin-san me cumprimentou com um sorriso caloroso — Obrigada por aceitar meu convite hoje!

Vê-la em roupas casuais, fora dos limites de nossos uniformes escolares, foi uma alegria refrescante e inesperada. Seu sorriso estava radiante como sempre, enchendo-me de uma sensação tranquila de alegria. 

Ah… só de estar aqui com ela já é o suficiente para tornar este um bom dia.

— Ah, hm... Eu é que deveria agradecer por me convidar para sua casa e preparar uma refeição… — eu gaguejei, sentindo um calor se espalhar pelas minhas bochechas — E também...

— Hm?

Shijoin-san inclinou a cabeça, sua curiosidade despertada pela minha pausa constrangida. As palavras da minha irmã Kanako ecoaram na minha cabeça.

“Você precisa dizer isso! Ter vergonha não é desculpa!”

Respirando fundo, reuni coragem e falei. 

— E-essa roupa... Combina muito com você. É, hm... elegante e... linda.

Meu rosto ficou vermelho de calor enquanto eu gaguejava meus sentimentos sinceros.

Eu realmente disse isso!?

Foi incrivelmente constrangedor, mas consegui expressar meus sentimentos sinceros.

— Hehe... Fico feliz em ouvir isso. — Shijoin-san riu, com um brilho divertido nos olhos — Valeu a pena dedicar tempo para escolher minha roupa com cuidado.

Ela colocou a mão sobre o peito, um gesto que me divertiu e me encantou. 

— Graças a Deus…

Eu dei um suspiro de alívio. Parece que o conselho da minha irmã de elogiar a roupa dela funcionou até mesmo com a naturalmente charmosa Shijoin-san. 

— Nós poderíamos conversar aqui o dia todo. — disse Shijoin-san com um sorriso gentil — mas... está na hora de irmos para minha casa. Por favor, entre.

— Tudo bem... espere, isso é um Rolls-Royce?!

O carro para o qual Shijoin-san apontou era um símbolo icônico de luxo. Era adequado para uma família com a riqueza dos Shijoins, mas, como ex-funcionário corporativo, eu nunca imaginei que me encontraria em um veículo tão prestigioso. 

— O-Obrigado por me buscar — gaguejei, um pouco impressionado com o luxo inesperado. 

Eu tinha acabado de decidir relaxar e aproveitar o dia, mas a visão do interior do Rolls-Royce, algo saído diretamente de um filme, instantaneamente me fez sentir deslocado. 

Será que está tudo bem eu entrar com os sapatos calçados?

— Prazer em conhecê-lo, Niihama-sama. Sou o motorista, Natsukizaki.

O motorista, um homem robusto na casa dos quarenta, virou-se para me cumprimentar. Não era surpreendente que uma família como os Shijoins tivesse um motorista, mas para alguém como eu, parecia algo saído de um sonho. 

— Ah, prazer em conhecê-lo também. Sou da Makkuro Corporation... não, espere!

Minha mão instintivamente procurou um cartão de visita inexistente, um reflexo da minha vida passada.

Ah, o que estou fazendo? 

— D-desculpe. Fiquei nervoso e disse algo estranho. Permita-me me apresentar novamente. Sou Niihama Shinichiro, colega de classe de Shijoin-san. Obrigado por me receber hoje.

— É um prazer conhecê-lo, Senhor Niihama. — Natsukizaki respondeu com um sorriso educado — Fiquei surpreso quando a dona da casa me informou que o “amigo” de Haruka-sama era um menino... mas você é muito bem-educado.

Alguma coisa soou estranha? 

— Não se preocupe com isso. — Natsukizaki riu com desdém. 

Mas meus instintos, aprimorados por anos navegando pela política corporativa, gritavam para que eu não ignorasse isso. 

— Tudo bem, vamos lá! Natsukizaki-san, por favor!

A voz de Shijoin-san interrompeu meus pensamentos e o motor ronronou ao dar a partida, enquanto começávamos nossa jornada para a propriedade Shijoin.



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