CAPÍTULO 4 - UM RESULTADO INEVITÁVEL
- AKEMI FTL
- 24 de nov.
- 15 min de leitura
Atualizado: 26 de nov.
Ao sair para o corredor, não conseguia me livrar da sensação de estar sendo observado pela minhas costas. Sussurros me seguiam como uma sombra.
— É o cara que ficou em primeiro lugar...
— É, aquele que humilhou o Mitsurugi...
— Ouvi dizer que ele mal estudou e só deu uma olhada no livro...
— Ele planejou tudo só para provocar e humilhar Mitsurugi...
— Ele é meio assustador...
Esses rumores eram ultrajantes. Claro, eu me esforcei, mas Mitsurugi foi o arquiteto de sua própria derrota.
Mas mesmo assim... Os constantes parabéns e olhares invejosos fazem me sentir como se tivesse conquistado um país de primeiro mundo.
A única coisa que me motivava era o desejo de corresponder às expectativas da Shijoin-san e compensar meus arrependimentos do passado. Eu não era mais inteligente do que era no ensino médio na minha vida anterior, mas, às vezes, com a mentalidade certa, você pode superar o que antes achava impossível.
Hã? É isso...
Voltei para onde os resultados dos exames estavam afixados, mas a multidão já se tinha dispersado. Mitsurugi não estava em lado nenhum. Em vez disso, havia uma garota com cabelo comprido olhando para os resultados em choque, com a mão a cobrir a boca.
— Shijoin-san!
— Ah! Niihama-kun! — Ela virou-se, com a voz cheia de entusiasmo.
— Acabei de ver os resultados dos seus exames, Niihama-kun… — Shijoin-san fez uma pausa, sua voz embargada por uma mistura de descrença e euforia — Estou tão surpresa e tão feliz! Primeiro lugar em toda a série! Incrível! Incrível, incrível!
Sinto que meu coração vai explodir de felicidade!
— Ei, também estou feliz, mas acalme-se um pouco. Você parece uma fã saindo de um show da celebridade favorita. — eu ri.
Embora a multidão tivesse diminuído, a visão da Shijoin-san, uma beleza impressionante, tão animada ainda atraía muita atenção. Ciente dos olhares curiosos sobre nós, eu a levei para um local mais tranquilo perto da escada.
— D-desculpe, eu me empolguei... Mas eu estava tão feliz. — ela disse, seu rosto ficando vermelho ao se lembrar de sua própria explosão — Eu sabia que você tinha se esforçado muito para as finais ultimamente, Niihama-kun. Quando vi seus esforços serem recompensados da melhor maneira possível, não pude deixar de me sentir muito feliz!
— Shijoin-san...
A linda garota de cabelos castanhos comemorou o meu sucesso com palavras sinceras e um sorriso radiante. Seu coração puro e imaculado desabrochou como uma flor.
Cativado por sua presença, esqueci momentaneamente o que dizer.
— Obrigado. Eu… Ouvir isso de você, Shijoin-san, me deixa... feliz...
A garota que eu amava reconheceu meus esforços e compartilhou minha alegria como se fosse dela. Às vezes, as palavras pareciam insuficientes. Eu não conseguia encontrar as palavras certas para expressar o calor que florescia dentro de mim.
— Hm... E… Pa-parabéns pra você também, Shi-shi-shijoin-san — gaguejei, mal conseguindo encontrar seu olhar — O 58º lugar é um grande salto em relação à última vez, né?
— Sim! Eu estava tão nervosa que pra conseguir olhar os resultados precisei de algumas xícaras de café para ganhar coragem... Mas, de alguma forma, me saí muito melhor do que da última vez!
— É, estou muito feliz por você também. E, agora que você tirou uma nota acima da média, a proibição das light novels foi oficialmente suspensa, certo?
— Ah... sim — sua voz foi sumindo, um suspiro suave escapando de seus lábios — Você está certo. Eu não estou mais proibida de ler light novels.
Espere, ela estava realmente tão nervosa por causa da proibição de ler romances leves? Era por isso que ela estava tão tensa, né? Afinal, ela ime pediu para ajudá-la a estudar exatamente por isso. Não pode ter outro motivo para ela estar tão nervosa, pode?
— Não — ela disse, sua voz quase um sussurro, como se estivesse compartilhando um segredo — Eu não esqueci disso, é claro. Mas o verdadeiro motivo pelo qual eu estava tão nervosa... era você, Niihama-kun.
— Hã? Eu?
A menção inesperada do meu nome me pegou completamente de surpresa e eu não pude deixar de piscar, surpreso.
— Sim. — ela continuou, com um toque de timidez colorindo suas bochechas — Tudo começou com o meu pedido de ajuda, mas você... você foi além.
Com um sorriso gentil, Shijoin-san relembrou nossas sessões de estudo compartilhadas antes do festival cultural, sua voz tingida de calor enquanto continuava.
— Você resumiu aqueles livros complicados, recriou aulas inteiras com suas anotações e até mesmo elaborou exercícios práticos do zero... Foi muito mais do que apenas “ajuda”.
Uma onda de vergonha tomou conta de mim.
— Mas eu disse várias vezes que isso me ajudou a estudar também, então você não precisa se preocupar com isso. Além disso, você sempre ofereceu alguns lanches.
A verdade era que aquelas sessões de estudo com Shijoin-san tinham sido pura felicidade para mim, mas eu não conseguia admitir isso, então ela parecia perpetuamente preocupada em abusar do meu tempo sem oferecer nada em troca. Eu aceitava seus lanches durante nossas sessões de estudo, na esperança de que isso a deixasse mais tranquila, mesmo que fosse apenas um pequeno gesto.
— Eu sei… — ela deixou a frase no ar, com um tom de autodepreciação na voz — Mas até eu consigo ver que os lanches não eram nem de longe suficientes para retribuir seus esforços.
Um riso suave escapou de seus lábios enquanto ela continuava:
— Então, à medida que nossas sessões de estudo continuavam, a proibição das light novels foi ficando em segundo plano. O que realmente começou a me preocupar foi a ideia de não estar à altura de todo o esforço que você estava dedicando... Esse era o meu maior medo.
Então, Shijoin-san fixou o olhar em mim, seus olhos brilhando com profunda gratidão e uma clara sensação de realização.
— Graças a você, Niihama-kun, consegui alcançar isso. — ela declarou, sua voz cheia de orgulho — Eu queria poder dizer isso a você com absoluta certeza.
Um sorriso radiante se abriu em seu rosto, a personificação da alegria pura, como se o sucesso dela fosse um reflexo direto do esforço que eu havia dedicado.
— Shijoin-san, você tem um sorriso realmente incrível. — eu disse.
Suas bochechas ficaram delicadamente rosadas, mas ela não desviou o olhar.
— Obrigada, — ela respondeu suavemente — mas Niihama-kun, você também tem um sorriso muito bonito.
— Mas sim… — concordei, sentindo um calor se espalhar pelo meu peito — nós dois mandamos bem na prova.
Nós dois trabalhamos duro, motivados pelo desejo de ver o sucesso um do outro. Uma sensação compartilhada de realização tomou conta de nós e não conseguimos evitar rir, mas a atmosfera feliz foi destruída por uma voz que eu preferia nunca ter ouvido.
— Ei, Haruka! Eu ouvi tudo!
Nosso momento agradável foi destruído e eu fui trazido de volta à realidade. Ao me virar, vi o rosto do cara que eu desprezava: O idiota bonito que acabara de passar vergonha ao perder para mim no exame, Mitsurugi Hayato.
O que diabos ele está fazendo aqui?
Eu me perguntei, observando Mitsurugi se aproximar da Shijoin-san. Seus olhos se arregalaram em confusão:
— Mi-Mitsurugi-kun!? Você precisa de alguma coisa? — ela gaguejou, claramente surpresa com o aparecimento repentino dele.
— Sim, isso mesmo! — declarou Mitsurugi — Eu ouvi sua conversa mais cedo. Você estava procurando um tutor para ajudar com suas notas antes, não era?
— É verdade, mas… — Shijoin-san parou, sem saber ao certo quais eram as intenções dele.
— Então comemore! — proclamou Mitsurugi — De agora em diante, serei eu quem vai te dar aulas particulares.
— De que merda ele tá falando? — murmurei baixinho.
— Eu não estava com pressa, — continuou Mitsurugi — já que isso estava destinado a acontecer de qualquer maneira. Mas é hora de deixar clara a natureza do nosso relacionamento e tornar-me seu tutor parece uma excelente maneira de fazer isso. Passaremos tempo juntos e eu o ajudarei a estudar.
— Do-do que você está falando? — exclamou Shijoin-san, com sua confusão e desconforto evidentes.
As palavras de Mitsurugi eram como um sonho bizarro para ela. Como ela não sabia nada sobre nossa aposta, sua súbita declaração de uma conexão de infância era totalmente desconcertante.
Sem se intimidar, Mitsurugi continuou, alheio à reação dela.
— Não precisa ficar tímida! Nós nos conhecemos desde a infância! Ainda me lembro vividamente da emoção que senti quando nos conhecemos... Com certeza você sente o mesmo.
Mitsurugi, aparentemente alheio à confusão dela, continuou a falar como se estivesse perdido em sua própria fantasia.
— Desde a infância? Hm, desculpe, mas eu realmente não me lembro…
Shijoin-san respondeu hesitante, sua confusão evidente. Suas palavras foram como um balde de água fria jogado sobre as declarações fervorosas de Mitsurugi.
— O quê? — ele balbuciou, surpreso.
— Para ser sincera… — Shijoin-san começou hesitante — não me lembro de ter te conhecido em nenhuma festa quando éramos pequenos. Só fiquei sabendo disso quando você mencionou 2 anos atrás.
— O-O quê!? — Mitsurugi gaguejou, sua confiança abalada.
Para ele, o suposto encontro na infância tinha sido claramente um evento significativo, mas para Shijoin-san, não tinha nenhum significado. A constatação de que ela o havia esquecido completamente o atingiu como um raio. Ele nunca havia considerado a possibilidade de ser tão facilmente descartado.
— Bem, não importa. — ele tentou se recuperar, mas sua voz vacilou — Vamos passar muito tempo juntos estudando a partir de agora. Você logo verá como eu sou incrível!
Apesar de ter ficado momentaneamente desconcertado com a resposta honesta da Shijoin-san, Mitsurugi rapidamente recuperou a compostura.
— Fique tranquila, Haruka! — declarou ele, com a voz cheia de arrogância — Sou muito superior àquele merda ali! Vou fazer com que suas notas fiquem entre no Top-5 em pouco tempo!
Como ele consegue usar linguagem tão vulgar na frente dela?
— “Merda”? — Shijoin-san olhou para Mitsurugi, sua confusão misturada com repulsa.
— Você realmente tá querendo se aproximar da Shijoin-san depois de perder o desafio? — retruquei — Você mesmo criou a regra de que o perdedor ficaria longe dela.
— Cale a boca, seu inseto irritante! — ele cuspiu — A regra é que eu consigo o que quero, e agora eu quero falar com Haruka. Então dê o fora e não nos interrompa!
O que diabos ele quer dizer com “nossa conversa”? É impossível ter diálogo com ele!
Eu sabia que ele não desistiria facilmente, mas seu comportamento superou minhas piores expectativas. Se ele era tão descarado assim, regras e promessas não significavam nada para ele.
— Haruka, — Mitsurugi declarou — você não precisa mais depender desse perdedor. Minhas habilidades de ensino são incomparáveis! Vou até convidá-la para ir à residência Mitsurugi para aulas particulares!
Isso tinha que parar. Eu não podia deixá-lo continuar com essa farsa.
— Eu recuso. — declarou Shijoin-san, com sua voz quebrando a tensão com uma convicção surpreendente — Não tenho nada à aprender com você.
Minha mente ficou em branco. Eu congelei, com a boca entreaberta, pronto para confrontar Mitsurugi. As palavras morreram em meus lábios quando a voz da Shijoin-san rompeu o silêncio tenso, transbordando um desdém que eu nunca tinha ouvido dela antes. Era como se uma víbora tivesse surgido repentinamente de um buquê de flores, com seu veneno potente e inesperado.
— O-O quê? — gaguejou Mitsurugi, claramente surpreso — Você está rejeitando minha oferta de lhe ensinar?
A descrença se contorceu em meu estômago.
Como ele pode ser tão cego para a realidade da situação?
— Eu já tentei falar com você algumas vezes desde que começamos o ensino médio, Mitsurugi-kun, — a voz da Shijoin-san era uma lâmina fria, cortando a tensão — mas você nunca muda.
Suas palavras eram tão frias, tão diferentes do calor e da alegria que ela normalmente irradiava, que quase questionei se era realmente Shijoin-san falando. A transformação de uma garota alegre para uma rainha do gelo foi chocante, deixando-me completamente sem palavras.
— É sempre sobre o que você quer, nunca uma consideração pelos sentimentos dos outros. É exatamente por isso que sempre evitei você.
Suas palavras transbordavam condenação, mas Mitsurugi continuava sem entender nada. Suas percepções do mundo eram tão diferentes que suas palavras poderiam muito bem ter sido em uma língua estrangeira.
— Do que você está falando? — ele zombou — O que há de errado em saber o que eu quero? Só os fracos se preocupam com os sentimentos dos outros. Eu sou Mitsurugi Hayato, superior em todos os aspectos e o par perfeito para você.
— Superior? Desculpe, não entendo o que você está dizendo. — a voz da Shijoin-san permaneceu fria, mas um toque de espanto tingia suas palavras.
— Significa que sou melhor do que todos os outros! — Mitsurugi inflou o peito, sua arrogância irradiando em ondas — Seu sobrenome e sua aparência colocam você em uma categoria à parte. É lógico que você esteja com alguém como eu e não com aquele perdedor ali!
Ele apontou para mim com desdém. Shijoin-san olhou para ele, sua expressão uma mistura de descrença e exasperação. As palavras e ações de Mitsurugi eram tão delirantes que desafiavam qualquer tentativa de compreensão racional.
— Você está ouvindo as bobagens que saem da sua boca?
— Chega! — a voz da Shijoin-san soou firme e autoritária.
Uau... Essa voz intimidadora me causou arrepios... Isso veio mesmo da Shijoin?
— Você não fez nada além de vomitar insultos! — suas palavras estavam carregadas de fúria, sua voz elevada de uma forma que eu nunca tinha visto antes — Você chamou Niihama-kun de “perdedor”, “merda” e “inseto”! Você não consegue entender o quanto isso é desrespeitoso?
Shijoin-san, normalmente o epítome da compostura, agora estava em chamas de raiva.

— Niihama-kun está se esforçando nos estudos, mas ainda assim reservou um tempo para criar materiais personalizados e exercícios práticos para mim, indo além do que qualquer professor faria! — sua voz tremia com uma fúria mal contida — E você ousa menosprezar os esforços dele... Quem você pensa que é?
— Hã... Haruka? O que deu em você? Quem se importa com esse perdedor? Alguém como você deveria estar com alguém como eu… — Mitsurugi balbuciou, seu tom refletindo seu orgulho ferido.
— Da minha perspectiva, não entendo nada do que você está dizendo! — Shijoin-san retrucou, elevando o tom de voz — A única coisa que eu entendo é que você é incrivelmente rude e desagradável!
Um fogo raro acendeu nos olhos da Shijoin-san, substituindo sua expressão gentil habitual por pura indignação.
— Eu te odeio! — ela declarou, sua voz tremendo com raiva mal contida — Nunca mais fale comigo!
Com essas palavras finais, Mitsurugi congelou, os olhos arregalados de choque. A força de sua rejeição e desdém destruiu sua fachada cuidadosamente construída, deixando-o como uma casca vazia de seu antigo eu.
— Niihama-kun, não consigo falar calmamente agora, então vejo você mais tarde! Não consigo mais ficar perto dessa pessoa!
Shijoin-san girou nos calcanhares e fugiu, incapaz de conter a torrente de emoções dentro dela. E o que ficou para trás foi...
— E-espere... Haruka...
Mitsurugi, com sua bravata agora evaporada, estendeu a mão fracamente na direção em que Shijoin-san havia desaparecido. Sua voz e sua mão estendida encontraram apenas o ar vazio, deixando-o balançando precariamente. Ele parecia totalmente perdido, seu mundo virado de cabeça para baixo pela dura rejeição.
— Por que... por que... por que... por que isso aconteceu? — ele murmurou repetidamente, sua voz cheia de desespero.
Eu sabia a resposta e era tão óbvio quanto o dia para qualquer pessoa com um pingo de empatia. De uma perspectiva de bom senso, uma pessoa que desconsiderava os outros era o tipo que Shijoin-san mais detestava. No entanto, além dessa razão óbvia, havia outra coisa que ele precisava entender.
— Você gostaria que eu lhe dissesse o porquê? Toda a sua premissa estava errada desde o início.
— O quê? — Mitsurugi se virou para mim, sua arrogância habitual substituída por perplexidade.
— Você fica tagarelando sobre destino e coisas do tipo, mas na verdade você não está apaixonado por Shijoin-san, está?
Mitsurugi ficou paralisado, com os olhos arregalados e em silêncio atordoado.
— Eu sabia que havia algo errado quando você falava sobre ela. Você só mencionava a aparência ou o status da família dela, nunca nada sobre a personalidade dela. Era como se você estivesse falando sobre um objeto e não sobre uma pessoa.
Meus próprios sentimentos por Shijoin-san deixavam isso dolorosamente claro. Para um adolescente, especialmente alguém tão direto como Mitsurugi, os sentimentos genuínos por uma garota seriam cheios de paixão e calor. Mas ele falava da Shijoin-san como se estivesse analisando um bem precioso, sem qualquer conexão emocional real.
— Você está obcecado demais com essa bobagem de classe “alta” e “baixa”. É como se nada fora dessa visão rígida existisse para você.
Mitsurugi sempre foi assim e sua visão de mundo era distorcida por uma crença rígida na hierarquia social.
— A simples ideia de que alguém como você poderia ficar com Haruka é absurda. — suas palavras ecoaram em minha mente, um lembrete constante de sua perspectiva distorcida — Alguém das classes baixas deveria se curvar diante de alguém como eu, das classes altas, e ser grato por ter permissão para existir. Isso é senso comum, não é?
A voz de Mitsurugi transbordava desdém.
— Mesmo para um estudante do ensino médio, sua ignorância das normas sociais básicas é impressionante. Quão ignorante você é?
Suas palavras nunca refletiam seus verdadeiros pensamentos ou desejos, mas estavam rigidamente ligadas a regras imaginárias e à suposta vergonha de quebrá-las. Apesar de afirmar ter liberdade absoluta, Mitsurugi estava acorrentado à ilusão de ser da “classe alta”.
Ironicamente, seu comportamento refletia as leis tácitas do sistema de castas da escola: a camada superior é superior, a camada superior socializa exclusivamente com a camada superior, as camadas inferiores se agrupam e as camadas inferiores nunca devem desafiar a camada superior. Suas ações eram ditadas por regras que ninguém jamais havia concordado.
— Você ficou obcecado nela só por causa da origem familiar e beleza. Você achou que tê-la elevaria seu próprio status. Estou errado? — eu o desafiei.
O que ele via em Shijoin-san não era seu verdadeiro eu, mas apenas suas qualidades “de primeira linha” superficiais. Era como valorizar uma pessoa com base na marca de suas roupas, ignorando completamente sua essência.
— E você presumiu que, como alguém do “nível superior”, seria naturalmente aceito por Shijoin-san. Mas, infelizmente para você, Shijoin-san não compartilha dessa visão distorcida do mundo. É por isso que você foi rejeitado.
De certa forma, ele era o epítome do sistema de castas da escola. Ele se agarrava à noção de que ser da “classe alta” era uma verdade absoluta e universal.
— O que diabos você está dizendo? Haruka é da família Shijoin, não é uma pessoa qualquer de classe baixa. É por isso que, se eu ficar com ela, alcançarei patamares ainda mais altos! E, para ela, estar com um homem de classe alta como eu traria felicidade! Como você não consegue enxergar essa verdade óbvia?
Mitsurugi balbuciou, com uma expressão de perplexidade no rosto. O conceito de que outras pessoas pudessem ter valores diferentes parecia totalmente estranho para ele.
— Bem, isso é você quem tem que descobrir. — retruquei — Mas você não tem o direito de ficar com raiva.
— O quê?
— Não é óbvio? A família Shijoin supera em muito a família Mitsurugi tanto em linhagem quanto em riqueza. Pela sua própria lógica distorcida de “superior” e “inferior”, você deveria aceitar essa rejeição em silêncio, não importa o quanto seu ego esteja ferido.
— Ugh!
Mitsurugi parecia pronto para atacar instintivamente, mas minhas palavras o prenderam em sua própria lógica distorcida. Ele não podia refutar meu argumento sem contradizer suas próprias crenças.
— Adeus, Mitsurugi. — eu disse, virando-me para sair — No começo, achei que você fosse apenas um idiota egocêntrico, mas agora vejo que você é muito mais patético, preso em uma ilusão de ‘posição social’ e perseguindo garotas pelas quais você nem se importa.
Eu não esperava que Mitsurugi tivesse qualquer tipo de epifania com a nossa conversa. Mas se abalar sua visão distorcida do mundo pudesse reduzir um pouco as chances de ele buscar vingança ou recorrer ao assédio, valeria a pena tentar. Na esperança de nunca mais cruzar com ele, saí rapidamente do local.
***
— Sinto muito por ter deixado você sozinha lá atrás. — disse Shijoin-san quando me aproximei dela no pátio, onde ela respirava fundo para se acalmar — Fiquei tão nervosa que senti que ia explodir. Só precisava de um momento sozinha para me acalmar, mas ainda não estou totalmente calma…
— Não, tudo bem. — eu a tranquilizei — Na verdade, a culpa é minha. Eu deveria ter enfrentado Mitsurugi quando ele estava me insultando...
No final, foi Shijoin-san quem deu o golpe final, deixando Mitsurugi atordoado. O fato de eu ter que contar com ela para silenciar um idiota tão insuportável me fez sentir totalmente patético.
— Niihama-kun, você não fez nada de errado! Eu simplesmente não conseguia mais conter minha raiva! Eu estava me divertindo tanto conversando com você, e então... aff! Nunca fiquei tão zangada na minha vida! — disse Shijoin-san, ainda fumegando de raiva.
Lidar com aquele príncipe idiota do início ao fim foi uma experiência terrível, mas ver esse lado desconhecido da pessoa de quem eu gostava foi revigorante e precioso.
— É... incomum ver você tão zangada, Shijoin-san. — admiti.
Costuma-se dizer que águas calmas correm profundas, e a raiva demonstrada pela normalmente serena e angelical Shijoin-san era uma prova disso. Suas palavras, embora mais calmas agora, ainda crepitavam com um ressentimento persistente.
— Eu não esperava que ele fosse tão rude… — ela suspirou, com um tom de nojo na voz — Bem, não vou mais lidar com ele, então não importa.
Sua rejeição direta, tão diferente de sua natureza gentil habitual, foi surpreendente. Era como se ela já tivesse apagado Mitsurugi de sua mente, reduzindo-o a um mero aborrecimento. O puro desdém em seu tom revelava a profundidade de sua raiva pelo comportamento desrespeitoso dele.
Fiz uma nota mental para contar a Shijoin-san sobre o desafio ridículo de Mitsurugi mais tarde. Agora não parecia ser o momento certo para mencionar o nome daquele idiota.
— De qualquer forma, — Shijoin-san exalou, um leve sorriso voltando ao seu rosto — vamos esquecê-lo por enquanto. Niihama-kun, como agradecimento por toda ajuda que você deu nas sessões de estudo, eu queria perguntar: Tem alguma comida que você não gosta?
— Comida que eu não gosto? Bem, desde que não seja muito estranha, eu não sou exigente...
Presumi que ela estivesse planejando me comprar alguns lanches sofisticados como um gesto de agradecimento. Embora não fosse necessário, senti que deveria aceitar se ela quisesse me agradecer pela minha ajuda.
Mas as próximas palavras da Shijoin-san me pegaram completamente de surpresa.
— Que bom saber disso! — exclamou ela, com os olhos brilhando de empolgação — Preciso conversar com meus pais sobre isso, mas... quero convidá-lo para ir à minha casa, Niihama-kun! Vou preparar um almoço e fazer alguns doces para você!
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