CAPÍTULO 2 - No meio dos estudos
- AKEMI FTL
- 29 de out.
- 16 min de leitura
No silêncio da minha sala, o barulho da minha lapiseira preenchia o ar. As provas finais estavam se aproximando e, com dez matérias para estudar, a pressão era grande. Ao contrário dos meus dias sem brilho no ensino médio, desta vez eu estava determinado a ter sucesso.
A viagem no tempo, assim como a visita à outra realidade, existe apenas no reino da fantasia. Entretanto, ao contrário dos protagonistas de light novels que recebem habilidades especiais quando reencarnam, eu tive que estudar muito.
Impulsionado por um profundo arrependimento pela minha vida passada e preparado com a resiliência mental, além da experiência que ganhei como um escravo corporativo, eu estava determinado a aproveitar ao máximo minha segunda chance no ensino médio.
Graças a essas qualidades reconhecidamente comuns, consegui me aproximar muito mais de Shijoin-san do que nunca, mas... e se um cara bonito como um príncipe se interessasse seriamente por Shijoin-san? A aparência é incondicionalmente poderosa…
Enquanto os relacionamentos entre adultos priorizam a personalidade, os estudantes são naturalmente atraídos por encantos óbvios, como um rosto bonito ou habilidades atléticas.
Mesmo Shijoin-san, com sua natureza doce e inocente, ficaria pelo menos um pouco influenciada se alguém tão bonito se declarasse sinceramente para ela, não é?
— Aff, eu queria que todos os caras bonitos simplesmente desaparecessem. — murmurei baixinho.
— Hã? Quê? O que te levou a dizer isso de repente, maninho?
Minha irmã mais nova, Kanako, com seu rabo de cavalo balançando, ergueu os olhos da revista que estava lendo no sofá ao lado, com uma expressão surpresa.
— Ah, ei, você chegou...
— Você tava estudando muito ultimamente pro meu gosto... Hehe, aconteceu alguma coisa de novo? Meu sensor de romance tá apitando aqui! — Kanako perguntou com um sorriso provocador.
Na minha vida passada, Kanako e eu nos afastamos, mas desta vez, graças às mudanças que fiz, nos aproximamos gradualmente. Fiquei feliz por ter essas conversas casuais, mas ela também ficou um pouco curiosa demais sobre meus assuntos desde que saí da minha concha, sempre perguntando com um sorriso malicioso se havia alguma fofoca interessante.
— Sim, um certo príncipe me desafiou para uma pequena competição... Parece que ele não suporta que ninguém roube seu protagonismo.
— Aaaaaaahhh... Quê? — ela respondeu, claramente confusa.
Kanako me lançou um olhar que praticamente exigia uma explicação, então contei a ela o que aconteceu entre mim e Mitsurugi. Contei tudo, desde suas especificações e popularidade com as garotas até meu plano para derrotá-lo.
— Hmm... Então esse cara é realmente tão bonito assim? — ela perguntou, intrigada.
— Sim, então estou um pouco preocupado... Mesmo que eu tire notas melhores, se um cara bonito se declarar para Shijoin-san, ela pode ficar encantada...
— Bem, sim, caras bonitos têm uma vantagem. — Kanako concordou — Assim como os caras são atraídos por garotas bonitas, as garotas são atraídas por caras bonitos.
Ouvir minha irmã extrovertida e popular dizer isso tão diretamente ainda doi. O mundo realmente gira em torno de caras bonitos?
— Então eu não tenho chance alguma, né?
— Só se eles forem bonitos por dentro também. O cara que você mencionou é supostamente um lixo, então não se preocupe com isso.
— S-sério?
— Só confia. Tire a boa aparência e a atitude de “príncipe encantado” dele seria constrangedora, não acha?
— Bem... se um cara normal agisse assim, as pessoas achariam que ele é estranho.
— As garotas que ficam loucas por esses tipos são aquelas que se interessam por qualquer um que tenha pulso, desde que seja bonito, ou aquelas que acham que ser idiota é algo masculino. Qualquer garota com um mínimo de bom senso ficaria longe.
— Como você consegue entender essas coisas tão facilmente?
— Heh, ao contrário de você, maninho, eu sou bem popular. — ela respondeu com um sorriso malicioso.
— Ei, não jogue seu “maninho” pra merda assim não! — protestei.
Ter uma irmã que se orgulhava de sua natureza extrovertida e popularidade era difícil. Mas, sem se intimidar, Kanako continuou sua explicação.
— Olha, até atores bonitos perdem seus fãs quando são pegos traindo ou sendo idiotas. Da mesma forma, nenhum cara quer namorar uma garota bonita com uma personalidade horrível.
— É verdade… — admiti.
A lembrança de uma mulher deslumbrante do meu passado veio à tona. Ela usava sua aparência para manipular as pessoas no escritório, bajulando seus superiores e menosprezando seus colegas. No começo, eu estava animado por trabalhar com uma mulher tão bonita, mas minha opinião mudou rapidamente, e fiquei aliviado quando ela foi transferida.
— Não importa o quanto alguém seja bonito, se for bilu tetéia das ideias, é simplesmente horrível. Esse tipo de coisa só funciona em animes. Você realmente acha que Shijoin-san se apaixonaria por um príncipe com uma personalidade terrível só porque ele é bonito?
— Não, agora que você mencionou isso, não consigo imaginá-la sendo influenciada de forma alguma.
Pensando bem, percebi que era um insulto supor que Shijoin-san seria conquistada apenas pela aparência. Eu tinha ficado desequilibrado ao enfrentar algo que sentia que me faltava.
— Viu? Não adianta perder a cabeça por causa de um cara bonito, maninho. Se você deixar isso te afetar, vai perder algo que poderia ter ganho. — Kanako riu e sorriu.
Finalmente percebi que toda essa conversa tinha o objetivo de acalmar minhas preocupações e me animar.
— É, você está certa. Obrigado, Kanako. Fico feliz por termos conversado.
— Hã? Ah, hm, sim, certo… Maninho, você ainda não entende nada de romance, né? Você ficaria perdido sem a mestre do amor Kanako-chan!
Ser agradecido inesperadamente pareceu deixá-la um pouco nervosa e um leve desespero se espalhou por seu rosto, mesmo enquanto ela mantinha sua expressão presunçosa. Era cativante, de uma forma típica de uma garota do ensino fundamental.
Mas absolutamente adorável.
— É impressão minha ou você realmente parece entender a Shijoin-san?
Eu só mostrei uma foto dela uma vez, então como ela conseguiu descobrir tanto sobre a personalidade dela?
No momento em que fiz minha pergunta, minha irmã, que estava tão alegre, de repente arregalou os olhos.
— Hã?! De quem você acha que é a culpa? Desde que você se apaixonou por Shijoin-san, você não para de falar sobre como ela é fofa e incrível!
— O quê? Eu tenho falado tanto assim sobre Shijoin-san?
É verdade que, desde que percebi meus sentimentos por Shijoin-san, meus pensamentos estavam cada vez mais focados naquela garota angelical, mas...
— Com certeza! Posso ter sido eu quem tentou descobrir sua história de amor durante o festival cultural, mas depois que você confessou, foi como se uma barragem tivesse se rompido. Você não parou de falar sobre Shijoin-san! Graças a isso, eu até sei quantos livros ela lê por mês e até mesmo a marca favorita de suco dela! Você nem estava ciente de que estava fazendo isso?
— E-Eu fiz isso? D-Desculpe, eu não tinha percebido...
Parecia que meu hábito otaku de falar sem parar sobre o que eu gostava ainda estava em pleno vigor e meus sentimentos por Shijoin-san estavam transbordando.
— Ahhh, bem... pelo menos é muito melhor do que nunca perceber seus sentimentos. Eu nunca teria imaginado que meu irmão sombrio despertaria para o romance dessa forma. — Kanako suspirou e riu de mim drasticamente transformada.
Bem, a razão pela qual eu me tornei assim foi por causa de um fenômeno sobrenatural genuíno chamado salto no tempo. Ninguém poderia ter previsto isso.
— Ei, tenha um pouco de auto-estima, maninho! Você é muito mais legal do que aquele cara. Esqueça ele. Só concentre-se nos estudos e você vai arrasar!
— Ah! Depois da prova, eu conto como aquele cara bonito ficou quando perdeu!
— É isso aí! Use seu amor como combustível e dê o seu melhor, maninho!
As palavras de uma irmã com quem eu tinha um relacionamento tenso na minha vida passada tocaram meu coração. Eu não me sentia mais ofuscado pelo tipo universalmente reconhecido como “forte e bonito”. Em resposta ao seu sorriso genuíno, prometi a mim mesmo mais uma vez que venceria, não importa o que acontecesse.
*
— Então você insere essa fórmula aqui...
— Ah, entendi... é assim que se resolve.
Minhas sessões de estudo depois da escola com Shijoin-san se tornaram uma rotina confortável. No início, eu estava preocupado em ser o professor, mas graças à natureza diligente de Shijoin-san, nossa preparação para os testes tinha sido tranquila até agora.
— Ainda assim, estudar é tão difícil... Se agora é assim, nem quero imaginar como serão os exames de admissão quando estivermos no terceiro ano. — Shijoin-san suspirou, olhando para a mesa cheia de livros didáticos e cadernos.
Talvez devido ao estresse das provas finais, um toque de cansaço podia ser visto em sua expressão e ouvido em sua voz.
— Mas você mencionou que gosta de história mundial e literatura clássica, certo?
— Eu realmente gosto de aprender sobre história e ler literatura. Mas... mas... eu simplesmente não consigo lidar com matemática!
Shijoin-san murmurou vogais enquanto segurava a cabeça. Parecia que o estresse dos estudos havia amplificado um pouco suas emoções.
— Ah, Shijoin-san, ciências não são realmente o seu forte, não é?
— Exatamente! Eu entendo a ciência por trás da química ou da biologia, mas vetores planos e funções trigonométricas... Sério, quando é que vamos usar essas coisas na vida real? É o suficiente para me dar vontade de chorar!
Ela estava claramente sobrecarregada. Ela tinha se esforçado muito para evitar a proibição das light novels, mas agora que o fim estava próximo, o cansaço estava tomando conta dela.
— Bem, se você entrar em uma área especializada como engenharia, talvez você as use, mas para a maioria dos empregos, provavelmente não.
Talvez fosse apenas minha experiência limitada, mas durante meu tempo como funcionário de escritório comum, eu nunca precisei usar fórmulas ou equações químicas.
— É verdade… — os olhos de Shijoin-san se arregalaram como se tivessem sido atingidos por uma revelação. — Então por que precisamos aprender tudo isso se nunca vamos usar no mundo real?
— Todo mundo se pergunta isso em algum momento, especialmente com matérias como matemática e literatura clássica. Os clássicos chineses parecem decifrar algum código antigo.
— Para ser totalmente honesta, é principalmente por causa da educação e dos exames de admissão... mas acho que também é para nos descobrirmos. Ao aprender uma variedade de matérias, podemos descobrir em quais áreas somos mais adequados, o que nos ajuda a decidir nosso rumo futuro.
— Isso é... verdade. Eu nunca poderia ser matemático ou programador. — Shijoin-san assentiu pensativamente ao meu raciocínio bastante prático.
Ela é agradavelmente sincera.
Aliás, apesar das minhas palavras grandiosas, eu tinha dificuldade em estudar na minha vida anterior e não conseguia identificar nenhuma aptidão em particular. Olhando para trás, percebi que tinha desperdiçado as mensalidades que minha mãe tinha trabalhado tanto para pagar. Na época, eu não compreendia de forma alguma os sacrifícios que ela fazia.
Mas... E quanto ao futuro? Que tipo de relação as famílias Mitsurugi e Shijoin têm?
A família Shijoin era significativamente maior. Os Mitsurugis eram apenas empresários locais, enquanto os Shijoins administravam várias empresas nacionais, praticamente a realeza moderna. Ambas as famílias tinham raízes profundas na região. Não só Mitsurugi e Shijoin-san eram amigos de infância, como também havia a possibilidade de já estarem noivos.
Inúmeros cenários passaram pela minha cabeça, mas a única maneira de obter respostas era perguntar à garota bem na minha frente. Seria preciso coragem, mas, independentemente da resposta dela, eu poderia ajustar minha abordagem de acordo. Eu me preparei e me arrisquei.
— Uh... Shijoin-san, posso te perguntar uma coisa?
— Claro, o que é? — Shijoin-san respondeu, com seu sorriso radiante de sempre.
Sua alegria aumentou minha ansiedade, mas eu lentamente fiz minha pergunta.
— Bem, não é nada demais... mas você conhece um cara da nossa escola chamado Mitsurugi?
— Hã? Ah... sim, você está falando do Mitsurugi-kun. O que tem ele?
Só de ouvir o nome dele na boca de Shijoin-san, meu peito apertou. Lutei para manter a calma enquanto continuava.
— Bem, tive a oportunidade de conversar com Mitsurugi recentemente... Vocês dois são amigos de infância?
— Uh, sim, nós nos conhecemos quando éramos crianças.
Sua resposta, contrária às minhas expectativas, deixou minhas emoções à flor da pele.
A simples menção de outro cara fez meu coração bater forte e minha compostura desaparecer, deixando-me à beira das lágrimas. Eu queria que ela dissesse que não o conhecia. Mesmo que o conhecessem, eu queria que fosse no máximo um conhecido superficial da escola.
Minhas emoções estavam fervilhando, ameaçando me afogar em sua intensidade.
É assim que se sente o ciúme? Esse sentimento sombrio e sufocante apertando meu coração...
Não é à toa que as pessoas perdem o controle nessas novelas. Eu nunca tinha experimentado isso na minha vida anterior, mas amar verdadeiramente alguém significava abrigar emoções tão intensas.
— Mas nos chamar de amigos de infância é bem exagerado. — esclareceu Shijoin-san.
— Hã?
— Nós nos conhecemos uma vez em uma festa de família quando éramos crianças, mas não nos vimos novamente até o ensino médio.
Meu coração turbulento deu um salto com as palavras de Shijoin-san. Se fosse esse o caso, então estava longe da amizade de infância profundamente enraizada que eu havia imaginado.
— Ah, sério? Mas, hm, vocês conversaram muito desde que se reencontraram no ensino médio?
— Bem, na verdade...
Quando toquei no ponto que mais me intrigava, Shijoin-san pareceu preocupada. Para alguém tão direta como ela, era raro vê-la sem palavras.
— Bem, desde que começamos o ensino médio, Mitsurugi-kun tem tentado chamar minha atenção... mas ele é meio intenso e fala sobre coisas que vão além da minha compreensão, então não me sinto muito à vontade perto dele. Eu tenho tentado manter distância.
Ela confessou abertamente seu desconforto com Mitsurugi. Eu podia facilmente imaginar as cenas que ela descreveu.
Mitsurugi provavelmente se aproximou dela várias vezes, dizendo com confiança coisas como “destino” e “você deveria estar ao meu lado”.
Para alguém tão pé no chão como Shijoin-san, isso seria compreensivelmente opressivo.
— Entendo... desculpe por fazer todas essas perguntas estranhas, mas sua família é próxima da família de Mitsurugi?
— Hmm... Não tenho certeza sobre as conexões da minha família, mas não me lembro da família de Mitsurugi-kun ter sido convidada para nossas festas. Acho que meu pai teve uma briga com eles quando eu era pequena...
— Ah, tendi. Obrigado, isso esclarece as coisas.
Ao ouvir a explicação ponderada de Shijoin-san, acenei com a cabeça, com a mente a mil. Estava ficando claro que as alegações de Mitsurugi estavam longe da verdade.
Sim, que alívio! Haha, era o que eu pensava, mas mesmo assim… Graças a Deus!
Externamente, mantive a compostura, mas internamente, estava muito feliz. O alívio foi avassalador depois de ter imaginado o pior. Shijoin-san e Mitsurugi não eram nada próximos, além de que suas famílias também não eram exatamente amigas.
Além de tagarela, aquele cara é arrogante e mentiroso!
A escuridão em meu coração se dissipou e um sorriso se espalhou pelo meu rosto. A preocupação com conexões familiares influentes tinha sido um grande peso e saber a verdade foi um grande alívio.
Mas não posso baixar a guarda completamente, afinal, minha crescente proximidade com Shijoin-san incomodou Mitsurugi.
Embora eu tivesse me aproximado muito mais de Shijoin-san do que na minha vida anterior, ainda não era seu namorado, então Mitsurugi e eu ainda estávamos em pé de igualdade nesse aspecto. Um confronto com o principe Mitsurugi após os testes era inevitável.
Eu preciso dar o meu melhor.
— Hm, por que você está tão interessado em Mitsurugi-kun? — perguntou Shijoin-san, com a curiosidade despertada.
— Oh, bem... é só que...
Quando eu estava prestes a explicar, minha visão ficou embaçada inesperadamente. Talvez o alívio tivesse me atingido de repente, fazendo minha cabeça girar e minha consciência vacilar.
— Niihama-kun, você está bem? Você parece muito pálido.
— Ah, não, estou bem! Sério!
Shijoin-san olhou para mim com preocupação, mas eu lhe dei um sorriso tranquilizador. Apesar dos meus melhores esforços para descansar o suficiente, conciliar meus estudos com as aulas particulares para ela tinha sido cansativo, e o cansaço estava me afetando, mas essa fadiga não era devido a nenhuma tendência remanescente da minha vida passada.
Não, é porque eu queria desesperadamente impressionar a garota de quem gostava.
— Mas... você realmente parece estar exagerando ultimamente...
— Uh, bem, isso é...
Eu estava me esforçando para vencer a competição de notas que Mitsurugi havia me desafiado, mas ainda não tinha contado isso a Shijoin-san.
Originalmente, ela estava estudando diligentemente para evitar a proibição de seu pai em relação a light novels. Contar à ela agora que “Mitsurugi está apaixonado por você e me desafiou para um duelo de notas, ameaçando que, se eu perder, nunca mais poderei me aproximar de você” só iria adicionar estresse desnecessário.
É claro que, se eu perdesse o duelo e Mitsurugi fizesse barulho, eu explicaria tudo. Mas, por enquanto, pelo menos até o fim das provas finais, eu queria manter isso em segredo.
— Bem, estamos na reta final agora. Se dar aulas particulares para mim for demais para você, Niihama-kun, podemos parar nossas sessões de estudo...
— Não, está tudo bem! Por favor, vamos continuar nossas sessões!
Vendo a preocupação nos olhos de Shijoin-san, não pude deixar de implorar à ela. Essas sessões de estudo, que começaram como uma forma de ajudá-la nas provas finais, se tornaram um tempo precioso que eu passava com a garota que eu admirava. Agora que eu estava ciente dos meus sentimentos por ela, o valor dela tinha aumentado dez vezes.
Longe de ser um fardo, SÃO momentos preciosos que eu guardaria com carinho. E... a razão pela qual eu queria continuar essas sessões de estudo não É apenas por isso.
— Eu... uh...
Talvez eu realmente precise de uma pausa…
Minha visão estava ficando embaçada e eu podia sentir que estava desmaiando.
— Por favor... deixe-me continuar, Shijoin-san...
— Hã?
Droga, isso não é bom... Deve ser os lanches que comi enquanto estudava.
Meu nível de açúcar no sangue provavelmente está subindo, me deixando sonolento e atrapalhando minha capacidade de pensar direito.
— Eu... Eu costumava achar que era um caso perdido nos estudos... Depois de entrar no ensino médio, não me esforcei...
Sim, isso mesmo... Essa negligência levou a um futuro terrível...
— Tentei mudar e comecei a me esforçar... Quando você me elogiou por isso, Shijoin-san, significou muito para mim...
Sim... é isso... Shijoin-san sempre foi a primeira a reconhecer e apreciar meus esforços e mudanças.
— E então você me pediu para ser seu tutor... Você confiou em alguém como eu... Isso me deixou incrivelmente feliz... É por isso que quero corresponder a essa confiança até o fim...
— Niihama-kun...
Não consigo... Estou tão cansado. Minha mente está vagando.
— E... eu quero que esses momentos estudando com você, Shijoin-san... continuem pelo maior tempo possível...
Hã? Não... Eu só cochilei por um segundo! Droga, cochilar logo depois de dizer que estou bem é tão embaraçoso! Agora Shijoin-san vai se preocupar ainda mais comigo!
— Desculpe, desculpe, eu me distraí! Vamos voltar a estudar…
Tentei rapidamente levar a conversa de volta ao normal, mas Shijoin-san permaneceu paralisada no lugar, com uma expressão de choque estampada no rosto.
O-O quê? Minha memória logo antes de cochilar está confusa, mas será que meu cérebro privado de sono deixou escapar algo estranho?
— Uh, Shijoin-san?
— Ah, sim...
Quando eu a chamei com cautela, Shijoin-san respondeu, ainda parecendo um pouco fora de si.
— Você está se sentindo bem? Seu rosto parece um pouco corado...
— Hum... sim... Não estou me sentindo mal, mas meu rosto está um pouco quente. O que será que está acontecendo?
Shijoin-san perguntou em voz alta, levando a mão à testa. Um delicado rubor tingia sua pele normalmente pálida.
— Ainda assim, fico feliz em saber que você valoriza essas sessões de estudo, mesmo que elas tenham começado por causa do meu pedido egoísta. — acrescentou ela com uma risada suave.
Seja lá o que eu tenha murmurado antes de cochilar parece ter deixado ela muito feliz.
— Fico feliz por não ser a única que deseja que isso dure para sempre.
— Hã?
Shijoin-san, com seus cabelos negros cascateantes, falou sem esforço, com seu sorriso brilhante de sempre. A sinceridade em suas palavras me deixou momentaneamente sem palavras.
— Bem, então, vamos continuar, sensei? — ela perguntou, com os olhos brilhando de entusiasmo.
— Ah, s-sim! Vamos dar o nosso melhor!
Retribuí seu sorriso radiante, incapaz de não sorrir de volta. Eu também gostaria que isso pudesse durar para sempre.
***
Ugh... Droga! Pegar aquele suco durante o almoço foi um erro total.
Assim que virei a esquina no corredor a caminho da sala de aula, esbarrei na última pessoa que eu queria ver. O irritantemente bonito Mitsurugi Hiyato, com seu apelido ridículo de “príncipe”, que você só ouviria em um jogo de beisebol de Koshien.
Embora ele estivesse apenas caminhando em silêncio, sua expressão exalava uma vibração arrogante que menosprezava todos ao seu redor, e isso ficou óbvio na maneira como ele reagiu a mim.
— Você... ah, você é aquele perdedor que anda com Haruka. Niumama, não é?
— Ei! Meu nome não é Niumama, é Niihama!
— Tanto faz. Não vale a pena lembrar o nome de um perdedor.
Esse cara… Depois de fazer alarde sobre nosso desafio, ele nem se deu ao trabalho de lembrar meu nome direito?
— Hm, não se preocupe. Eu me lembro do nosso desafio do teste, mas, francamente, é um saco. Se você jurar aqui e agora que nunca mais vai se aproximar da Haruka, eu vou poupá-lo da humilhação de perder.
Então ele está procurando uma desculpa para “me dar uma lição”, hein? Acho que ele não quer resolver isso apenas com um confronto de notas...
Eu tinha uma boa ideia de como esse cara planejava lidar com as coisas, mas não estava mais com medo. Eu já tinha decidido parar de ser pisoteado.
— A resposta ainda é não. Não tenho motivos para ouvir você.
— Nunca conheci um idiota tão ignorante. — Mitsurugi suspirou, olhando para mim com total desdém — Você não entende o quão insignificante você é? Você é um perdedor sem talento, sem dinheiro. É senso comum básico que alguém como você deve se curvar a alguém “superior” como eu e ser grato por ter permissão para existir. Por que outros perdedores conseguem fazer isso e você não? Quão patético você é por nem mesmo conhecer as regras básicas da sociedade na sua idade?
Com as mãos enfiadas nos bolsos, Mitsurugi cuspiu essas palavras em mim como se eu fosse lixo derramado de um saco de lixo. Achei que a atitude dele em si era lixo, mas não podia negar que havia alguma verdade em sua lógica. Na sociedade, seja na escola ou em outro lugar, é comum deferir àqueles que são mais fortes ou estão acima de você.
Na minha vida anterior, passei cada momento curvando a cabeça para aqueles que estavam “acima” de mim. O mundo funciona assim, até certo ponto. Porém, não havia motivo para eu me curvar diante de alguém do mesmo nível que eu.
— Você pode ter muitas qualidades, mas isso não o torna especial. Por que eu deveria me curvar para você?
— Você... como ousa, perdedor… — com seu orgulho ferido, o rosto de Mitsurugi se contorceu de raiva.
Que piada... Regras básicas da sociedade? Você precisa aprender boas maneiras.
Então, uma suspeita passou pela minha cabeça. Era quase ridículo demais para considerar, mas, dada a nossa conversa até então, não era totalmente impossível.
— Você realmente acha que Shijoin-san fará o que você quer se eu ficar longe? Por que você está tão obcecado por ela?
— Que pergunta idiota... Tudo vai correr como planejado. Eu sou “superior”, assim como Haruka. Nossas origens familiares são impecáveis. Nascemos para trilhar o mesmo caminho juntos.
Suas palavras ficaram mais apaixonadas, continuando mesmo que eu não tivesse perguntado.
— No dia em que a vi pela primeira vez, quando era criança, fiquei encantado. Soube instantaneamente que ela era a pessoa certa para mim. A herdeira direta da família Shijoin, da mesma idade que eu e absolutamente deslumbrante. Ela é a mulher perfeita, digna de alguém da minha estatura.
Mitsurugi sorriu com satisfação presunçosa, seu rosto contorcido em uma expressão perturbadoramente alegre. Em contraste, uma fria percepção tomou conta de mim. Por mais ridículo que parecesse, meu instinto provavelmente estava certo.
Sua insistência em chamá-la de Haruka ainda era irritante, mas mais do que raiva, eu sentia agora uma profunda descrença em relação a ele.
— Bem, entendo seu ponto de vista. Mas deixe-me dizer uma coisa... Também não posso deixar você se aproximar de Shijoin-san.
— Cale a boca, perdedor! — o rosto de Mitsurugi contorceu de raiva enquanto ele gritava.
Se eu simplesmente ignorasse sua tagarelice arrogante, ele só ficaria ainda mais convencido. Era irritante ver alguém tão inferior a mim tentando me provocar, mas me recusei a dar mais poder às palavras de Mitsurugi. Não havia sentido em continuar essa conversa. Estávamos falando línguas completamente diferentes.
— Bem, então vou me preparar bem para o teste. — afirmei, encerrando a interação nos meus termos.
Deixando Mitsurugi furioso atrás de mim, me virei e fui embora com essas palavras de despedida.
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