CAPÍTULO 3 - DERRADEIRO TESTE
- AKEMI FTL
- 8 de nov.
- 21 min de leitura
Atualizado: 24 de nov.
O céu cristalino acima serviu de cenário para as provas finais, um desafio assustador para muitos alunos.
— Podem começar!
A instrução severa do professor foi seguida pelo barulho de papéis. O rosto de todos ficou sério enquanto o som dos lápis preenchia o ar.
Ok... Eu consigo.
Apesar da atmosfera tensa, mantive um ritmo constante de escrita. Meu trabalho árduo nesta vida estava valendo a pena.
Provas são uma coisa, mas o ato de estudar até o fim não é justo…
Esse pensamento passou pela minha cabeça enquanto eu respondia a cada pergunta. Todos têm capacidades e limites diferentes quando se trata de aprender, mas, como em um RPG, quanto mais esforço você dedica, melhores são suas recompensas.
E é esse esforço que abria caminho para o sucesso futuro, assim como eu sonhava nos meus dias de funcionário corporativo em alcançar aquele objetivo distante: trabalhar para uma lendária “white company”.
Além disso, resolver essas questões uma após a outra é incrivelmente satisfatório.
Superar esses problemas com meu conhecimento acumulado era emocionante. O que antes era uma tarefa temida na minha vida anterior, agora não passava de algo agradável. Em meio ao estresse e à luta, compartilhados por muitos alunos, mantive uma compostura relaxada, sem vacilar uma única vez.
— Ah, que alívio! É tão boa quando a gente entrega a prova, né?
Era hora do almoço. Fudehashi Mai, conhecida por sua personalidade alegre, estava radiante no centro da sala de aula. Sua natureza alegre e um tanto boba era cativante, tornando-a bastante popular entre os meninos.
Na minha vida passada, eu mal interagia com essa garota de grande habilidades sociais, mas desde o festival cultural, ela se tornou uma presença regular na minha vida e na de Shijoin-san. Agora éramos próximos o suficiente para nos considerarmos amigos.
— Ei, Fudehashi-san, quantas vezes você vai dizer isso? As provas foram semana passada.
Fudehashi-san riu.
— Não tem como não falar! Agora que acabou, eu posso finalmente me concentrar no clube sem ter que me preocupar com o que estudar!
Sim, os exames finais haviam terminado sem grandes problemas na semana passada. Todos os alunos do segundo ano estavam agora livres do fardo dos estudos e uma atmosfera alegre tomava conta da escola.
— Você parece estar de bom humor. Você se saiu bem nos exames?
Como se fosse combinado, Shijoin-san, com seu comportamento calmo característico e presença elegante, entrou na conversa. Seus longos cabelos sedosos balançavam suavemente enquanto ela caminhava e seus olhos sérios tinham um toque de curiosidade.
— Ah! Eae Shijoin-san! — Fudehashi-san respondeu com um sorriso alegre — Eu não diria que fui muito bem, mas também não diria que fui muito mal!
— Entendi. Fico feliz em saber disso. — Shijoin-san respondeu, com um leve sorriso se formando em seus lábios — E você, Niihama-kun? Tudo correu bem para você?
— Sim, acho que me saí bem. — respondi, tentando parecer tranquilo — Foi uma boa oportunidade para ver o quanto eu melhorei.
— Exato! O trabalho árduo sempre compensa. — Shijoin-san assentiu com aprovação.
À medida que o intervalo do almoço avançava, a sala de aula fervilhava com conversas animadas e risadas. O peso das provas havia passado e todos pareciam estar em uma onda de alívio.
Foi nesses momentos comuns, cercado por amigos e risadas, que uma verdade simples me ocorreu. O suor que derramamos nos estudos, os laços que criamos, os sonhos que perseguimos, tudo isso fazia parte da jornada em direção ao nosso futuro.
Olhando para os meus amigos, senti uma determinação renovada de continuar avançando, um passo de cada vez, em direção ao horizonte brilhante que todos ansiávamos.
— Hmm! Não me subestime, Niihama-kun! Só porque sou atlética não significa que eu seja burra. Isso é só um estereótipo bobo!
— Haha, nem eu pensaria nisso...
Fudehashi cruzou os braços e suspirou.
— Mas, bem... eu meio que fui mal.
— Então talvez estereótipo certo...
Agora que eu penso nisso, ela estava sempre dormindo na aula.
— Mas o que importa é que eu não preciso mais fazer prova! Então, é hora de uma pausa nos estudos!
— Hm, Fudehashi-san, hoje é o dia em que os resultados são fixados no corredor.
— Hã? — com as palavras inesperadas da garota ao seu lado, Fudehashi-san congelou.
Kazamihara Mitsuki, a garota que me envolveu no caos do festival cultural. Ela pode parecer uma beldade estudiosa com seus óculos e cabelo médio, mas sua personalidade era tudo… menos previsível.
— Ka-Kazamihara-san! Por que você tinha que dizer isso agora?! Eu tava finalmente começando a esquecer isso!
— Não precisa ficar tão chateada. A verdade acabaria vindo à tona uma hora ou outra, mesmo que eu não tivesse falado nada.
— Não presuma que será desastroso! Pode ser uma surpresa agradável!
— Como você se saiu nos exames? Você ouviu as trombetas da vitória?
— Aff...
O comentário impiedoso de Kazamihara-san deixou Fudehashi-san sem palavras e derrotada.
— Isso é cruel...
— Kazamihara-san, dá um tempo pra ela.
Fudehashi-san, completamente arrasada pelo comentário cruel, ficou sem palavras, com as palavras morrendo na ponta da língua.
As reações dramáticas de Fudehashi-san, como uma cena saída diretamente de um mangá, eram claramente uma fonte de diversão para Kazamihara-san. Seu rosto permaneceu livre de qualquer ansiedade ou preocupação com os resultados iminentes.
— Kazamihara-san, como você se saiu? Você parece bastante confiante.
Quando perguntei, Kazamihara-san, surpreendentemente, exibiu um sorriso desafiador.
— Hehe... A ideia de que todas as garotas de óculos são prodígios acadêmicos é apenas um estereótipo bobo, você não acha? Para mim, mesmo uma nota média seria algo para comemorar!
— Sério? Então por que essa cara de satisfação?
— Aham… Além de que o inglês é mesmo necessário pra gente? A gente deveria se isolar de novo. Melhor! A gente devia transformar o mundo inteiro no Império Japonês e obrigar todo mundo a falar japonês. Que saco… Por que é que os turistas estrangeiros vem pedir informações em inglês aqui em um país onde as pessoas falam japonês!?
— Não fale essas bobagens com essa cara séria! É assustador!

Apesar de toda a sua compostura fria, ela guardava um rancor bastante intenso. Por outro lado, o inglês era provavelmente a matéria mais prática que tínhamos em termos de perspectivas futuras.
— Hã?
Percebendo um par de olhos fixos em mim, virei-me e encontrei Ginji olhando intensamente.
O que é esse olhar? Algo como “Se divertindo com seu harém, hein?”
— Ei! Como foi seu encontro, Yamahira-kun? — Fudehashi-san se intrometeu.
— O-O-O quê? — Ginji gaguejou, pego de surpresa pela franqueza de Fudehashi-san.
Ah, a clássica reação nervosa de um garoto tímido do ensino médio abordado por uma garota confiante. Não pude deixar de rir por dentro, lembrando-me da minha vida anterior também.
— Relaxe, Ginji. — sussurrei tranquilizando — Fudehashi-san é amigável, não tem pra quê ficar nervoso.
— E-eu não tô… nervoso! — Ginji murmurou baixinho, respondendo ao meu incentivo sussurrado, com o rosto ficando vermelho enquanto suas palavras se atrapalhavam.
A cena era inegavelmente cativante.
— É. — eu ri — Isso é clássico para alguém que não está acostumado a falar com garotas.
— B-Bem, acho que... eu não me saí muito bem... Na verdade, me saí muito mal… — Ginji confessou.
— Tudo bem! Isso faz de você meu companheiro! — Fudehashi-san declarou com alegria, dando um tapinha no ombro de Ginji.
Ele soltou outro som estranho:
— Ueaaah!
Era a reação típica de alguém completamente perdido com garotas. Não que eu pudesse julgar, considerando minha própria falta de experiência...
— E Niihama-kun… — Fudehashi-san se virou para mim — E a Shijoin-san?
— Hã? O que tem de errado com ela?
Virando-me para a Shijoin, encontrei a bela garota de cabelos longos nervosamente juntando as mãos em oração, com todo o corpo tremendo de ansiedade.
— Ah... Niihama-kun… pessoal... é que... eh... Não consigo me acalmar sabendo que receberemos os resultados em breve... Estou muito, ma muito nervosa…
O quadro não exibia apenas as cem melhores classificações, mas também as notas médias de cada série. Mesmo que seu nome não aparecesse entre os cem primeiros, Shijoin-san poderia avaliar rapidamente seu sucesso comparando sua nota autoavaliada com a média geral, sabendo instantaneamente se havia alcançado seu objetivo.
— Mas você disse que seus exames foram bem, não foi? Não tem necessidade de ficar tão ansiosa. — eu a tranquilizei.
— S-Sim, mas... eu simplesmente não consigo confiar em mim mesma. E se eu cometi um monte de erros por descuido ou marquei as respostas erradas!? — ela se preocupou.
— Ah, eu entendo. Aquele pânico quando você percebe que há um espaço a menos do que o necessário para a última resposta é como ter a calcinha pegando fogo. — brincou Kazamihara-san.
— Ei, Kazamihara-san. — repreendi — Você tem um rosto bem bonito, então não diga coisas como “calcinha pegando fogo” tão casualmente! Não destrua as ilusões dos meninos sobre as meninas!
— Sim, eu entendo! E se for logo antes do tempo acabar, é puro pânico! É uma sensação de desespero total! — exclamou Fudehashi-san.
— Então, se você conhece esse desespero, significa que... Fudehashi-san, você também já passou por isso? — murmurou Ginji.
— Sim… — admitiu Fudehashi-san, com uma expressão de dor no rosto, como se uma velha ferida tivesse sido reaberta.
Parece que, desta vez, de alguma forma, atraí mais pessoas para a minha vida... e sabe de uma coisa? Não é tão ruim assim.
O ar vibrava com a conversa animada dos alunos comparando os resultados dos exames. “Como você se saiu?” e “Eu estraguei tudo desta vez!” ecoavam pela sala, criando uma atmosfera surpreendentemente agradável. Era muito diferente da minha vida anterior, onde era apenas Ginji e eu. As reações variadas dos meus novos colegas de classe eram surpreendentemente divertidas.
Se não fosse por aquele idiota do Mitsurugi, as coisas seriam realmente tranquilas...
— Hm... Vou pegar uma bebida para acalmar um pouco os nervos. Esperar pelo anúncio dos resultados é muito ruim pro meu coração… — disse Shijoin-san, levantando-se e saindo da sala de aula com uma expressão preocupada.
Hmm... Pelo que eu vi, Shijoin-san se preparou muito bem para as provas, então não acho que ela precise se preocupar tanto assim...
— Mas Niihama-kun, você tem um confronto chegando e ainda assim está bem relaxado. — murmurou Ginji baixinho, fora do alcance dos ouvidos das garotas.
— Ah, foi como eu disse no outro dia, o Mitsurugi só decidiu por esse confronto. Não tem porquê eu ficar nervoso. — respondi.
Eu não tinha intenção de aceitar qualquer penalidade que me impedisse de me aproximar de Shijoin-san só por causa de uma suposta derrota em uma partida que eu nunca concordei em participar.
Bem, Mitsurugi definitivamente virá comparar pontuações em breve, então essa parte vai ser um pouco chata...
— Embora eu tenha estudado bastante para a prova em si. Minha prova foi… — Shijoin-san começou, mas foi interrompido por um grito repentino vindo do corredor.
— Ei! Acabaram de colocar os resultados no corredor!
De repente, o corredor explodiu em barulho quando os alunos saíram das salas de aula, enchendo o corredor com uma cacofonia de conversas animadas.
— Bem, então, é hora da guilhotina, Fudehashi-san. Quer ir primeiro para o local da execução? — brincou Kazamihara-san.
— P-Pera! Deixe-me me preparar mentalmente primeiro! — implorou Fudehashi-san, ainda não totalmente pronto para encarar os resultados.
Parecia que elas iriam verificar juntos, mas Fudehashi-san estava ganhando tempo.
Agora então...
— Bem, eu vou lá ver os resultados. E você, Ginji? — perguntei.
— Também vou! Definitivamente não estou entre os cem melhores, mas ainda preciso verificar a média das notas. — declarou Ginji, levantando-se da cadeira com uma determinação surpreendente — Além disso, se eu estiver lá com você, eu te ajudo a lidar com aquele idiota do Mitsurugi! Vai ser 2 contra 1!
Sabendo muito bem que haveria um confronto com o topo da hierarquia da escola, Ginji estava disposto a me acompanhar por minha causa. Para nós, otakus, os tipos arrogantes eram as últimas pessoas com quem queríamos lidar, mas lá estava ele, se esforçando por mim.
— Ginji, você realmente é um cara legal. Adoraria tomar um drinque com você novamente algum dia.
— Hã... drinque? De novo?
— Ah, não, só jeito de falar. Mas, tipo, gostaria de sairmos pra comer juntos algum dia.
Memórias de tomar drinques com ele na minha vida anterior vieram à tona e eu acidentalmente deixei escapar. Beber com superiores era horrível, mas beber com ele era sempre agradável.
— Tudo bem, então... vamos?
Sem nenhuma ansiedade ou tensão em particular, entrei no corredor movimentado com Ginji, onde a verdade inegável dos resultados dos nossos exames nos aguardava.
O corredor onde os resultados finais dos exames estavam fixados estava fervilhando de pessoas. Alguns alunos gritavam de alegria ao ver seus nomes entre os cem melhores, enquanto outros se afastavam desanimados.
— Mas Mitsurugi não chegou ainda... Achei que pelo menos haveria alguma provocação do tipo “Não importa o quanto você se esforce, é inútil, hahaha”. — Ginji falou enquanto abríamos caminho entre a multidão.
Eu não tinha contado a Ginji, mas eu realmente tinha encontrado Mitsurugi depos, no entanto, ele não parecia interessado em me desmoralizar.
Não por qualquer consideração cavalheiresca, é claro.
A julgar pelo fato de que ele mal se lembrava do meu nome, ele nem mesmo me via como uma “ameaça”.
— Para Mitsurugi, essa “partida” provavelmente é apenas mais uma tarefa para espantar uma pessoa da Shijoin-san. Ele provavelmente me vê como nada mais do que um NPC de tutorial que não vale o esforço de se gabar. — expliquei.
— Sério? Não consigo entender a mentalidade de alguém que considera a vitória garantida — resmungou Ginji.
— Eu também não. Especialmente porque aquele príncipe realmente acredita que é algum tipo de nobre... Oh, parece que finalmente podemos ver a borda da folha de resultados.
Finalmente, abrimos caminho entre a multidão de alunos e a folha de resultados ficou à vista. A pontuação de cada matéria e a média geral estavam exibidas em letras grandes, atraindo muitos alunos.
— Quero ser atropelado pelo caminhão-kun e reencarnar em outro mundo agora mesmo pra ter meu próprio isekai. — murmurou Ginji.
— Ei, o que foi isso de repente, Ginji?
— Eu nunca espero estar entre os cem melhores e a nota média era tudo o que importava para mim... mas é a média é muito mais alta do que nota da minha prova… — ele lamentou.
— Bem... sim… — concordei, sem saber o que dizer para consolá-lo.
Se eu tivesse tempo, talvez devesse verificar as respostas dele da próxima vez...
— Ei, você. Olhe para cá.
— Mitsurugi?
Virei-me na direção da voz e vi uma figura alta e bonita parada ali, com os braços cruzados. Mitsurugi Hayato, o chamado “Príncipe”, exalava seu ar habitual de privilégio aristocrático.
— Você está pronto para desaparecer daqui? A ideia de finalmente removê-lo da presença de Haruka é revigorante.
O olhar de Mitsurugi para mim estava cheio de irritação evidente, resultado de nossas interações anteriores. Parecia que, da perspectiva dele, eu havia sido promovido de um mero inseto a um incômodo digno de reconhecimento.
— Eu já disse antes, nunca concordei com esse desafio ou com qualquer penalidade. Isso tudo é coisa da sua cabeça. — retruquei.
— Você nunca aprende? Como eu disse antes, você não tem o direito de recusar o que eu decido. O perdedor desta prova nunca mais poderá se aproximar de Haruka... Essa é a regra que eu estabeleci e não importa o que você pensa.
Mitsurugi falou como se estivesse recitando um fato bem conhecido, sua lógica parecendo um balbucio infantil. Era dolorosamente óbvio que a realidade que ele percebia era muito diferente da nossa.
Esse garoto bonito mimado... ele é inacreditável. Mesmo com toda a minha experiência em lidar com pessoas irracionais, ele ainda assim é único no que faz.
— Ei, eu ouvi falar dele, mas... esse cara é real mesmo? Isso vai além de absurdo… — Ginji murmurou ao meu lado, perplexo.
— Sim, Ginji, sua reação é perfeitamente normal. Infelizmente, o mundo está cheio de caras como ele, que pensam que são o centro do universo. É melhor ficar longe, já que é impossível ter uma conversa real com eles.
— Hm, estou honrando você com minha atenção. Você pelo menos fez algum esforço fútil, não foi? — Mitsurugi zombou.
— Você tá bem confiante, hein. Andou estudando muito? — perguntei.
— Não. Um falcão não precisa praticar voar para lidar com criaturas terrestres. Um exame desse nível é algo que posso conquistar com minhas habilidades inatas. Não sou tão ocioso a ponto de perder tempo desnecessariamente. — ele respondeu com desdém.
Mitsurugi não estava tentando me provocar. Ele realmente acreditava em sua vitória inevitável. Sua expressão era a de alguém que nunca conheceu a derrota, o oposto completo do meu antigo eu.
— Bem, então, vamos acabar com isso. Pessoas! Afastem-se da folha de resultados! — ele ordenou.
— Hã? Quem você pensa que é... Mitsurugi? Oh, ah, desculpe! Não queria atrapalhar!
— Desculpe, Mitsurugi-kun! Pessoal, afastem-se! Mitsurugi-kun quer ver os resultados!
Ao comando da voz autoritária de Mitsurugi, tanto os meninos quanto as meninas abriram caminho. Ninguém podia ignorar suas palavras. Ele era uma figura que ninguém podia ignorar, com um rosto bonito, destreza atlética, inteligência e a influência social de seus pais.
Uma combinação que o torna um príncipe aos olhos de seus colegas de classe.
Embora o mundo adulto possa ser tão superficial quanto, na escola, essas características opcionais muitas vezes se tornam uma medida distorcida do valor de uma pessoa. É fácil esquecer que a beleza ou o atletismo não tornam alguém inerentemente melhor do que os outros. Só porque alguém é bonito, popular ou bom em esportes não significa que seja superior.
E assim, Mitsurugi e eu caminhamos pela multidão, que se abriu diante de nós como o Mar Vermelho, até ficarmos lado a lado diante do quadro de resultados que continha nossos destinos.
— Bem, então, Niihama, vamos ter dar uma lição! — declarou Mitsurugi em voz alta, causando agitação entre os espectadores — Saboreie sua própria mediocridade ao máximo!
— Vencer?
— O que está acontecendo?
— Mitsurugi e aquele cara, Niihama, estão competindo pelas notas dos exames?
Entendo... Suas palavras sobre “humilhação” e “dar uma lição” levantaram algumas suspeitas, mas tornar isso um desafio público... Ele está claramente tentando ampliar minha derrota, transformando-a em um espetáculo.
Isso é como chefes que abusam do poder... Repreender subordinados na frente de todos para humilhá-los, destruindo sua autoestima para manter a hierarquia. É essencialmente a mesma coisa.
— Normalmente, eu te desprezaria, mas vamos ver até onde você consegue chegar. Se o seu nome estiver entre os cinquenta primeiros, eu vou te elogiar — Mitsurugi zombou, começando a traçar a classificação da centésima posição para cima com o dedo indicador.
Essa performance provavelmente atrairia ainda mais atenção, preparando o terreno para me atormentar ainda mais.
— Nossa, não consigo encontrar o seu nome... Ou será que você conseguiu se classificar um pouco melhor?
O exame final abrangia dez disciplinas e a classificação exibida aqui refletia a pontuação total. Em outras palavras, a pontuação máxima alcançável era mil pontos e a competição proposta por Mitsurugi era para ver quem conseguiria chegar mais perto dessa pontuação perfeita. Sendo assim, o dedo de Mitsurugi continuou a se mover.
Os alunos ao redor observavam com grande interesse enquanto Mitsurugi traçava os nomes na lista de notas, com os olhos grudados neste corredor estreito.
— Finalmente, estamos entre os dez primeiros, hein? Nono... Oitavo... Sétimo... Sexto... Hahahahaha! O quê? Você nem está na lista!
A risada de Mitsurugi ficou mais alta à medida que seu dedo subia, seu tom zombeteiro ecoando pelo corredor.
— Então, no final das contas, você nem vale a pena competir... Mas o quê?! — seu dedo parou abruptamente, detido pelo nome escrito ali.
SEGUNDO LUGAR - Mitsurugi Hayato [959 pts] |
Uau, uma média de mais de noventa e cinco pontos sem realmente estudar... Ele é realmente um gênio.
— Impossível! Estou em segundo lugar? Então… quem está em primeiro?
Mitsurugi ergueu a cabeça rapidamente, seus olhos procurando o topo da lista de notas. Os alunos ao redor seguiram seu olhar, com a atenção concentrada naquele único ponto. E lá, o nome escrito era...
PRIMEIRO LUGAR - Niihama Shinichiro [971 pts] |
— Sim! Você conseguiu, Niihamaaaaaa! Olha só, você realmente ficou em primeiro lugar! Hahahaha! Incrível... Você realmente conseguiu, seu bastardo!
O grito animado de Ginji ecoou pelo corredor e todos os alunos ao redor, agora me reconhecendo como o maior pontuador, me encaravam com espanto.
— Isso é... impossível... Isso não pode estar acontecendo…
Mitsurugi encarava os resultados com total descrença. Para alguém que considerava Niihama um “inseto insignificante”, perceber que esse mesmo inseto havia superado o “príncipe” foi um choque que abalou sua própria identidade.
Mas... eu realmente venci. Derrotei o burguês safado. Sim! Sim! Eu venci! Eu venci! Toma essa, seu vagabundo idiota imbecil! Quem é lixo agora, hein? Hein? Fala que eu quero escutar! Toma essa!
Embora mantivesse uma aparência calma, por dentro eu estava fazendo uma dança da vitória. Para ser honesto, esse príncipe presunçoso me irritava profundamente e a sensação de triunfo era emocionante.
— Mas... como isso aconteceu? Como eu pude perder para... para um perdedor como esse?
Mitsurugi ainda estava lutando para aceitar a realidade, mas havia muitas razões para esse resultado.
Em primeiro lugar, eu percebi que o desempenho acadêmico era essencial para evitar acabar em uma empresa terrível como na minha vida anterior, então eu estava estudando diligentemente. O que era uma tarefa dolorosa na minha vida anterior tornou-se valioso e agradável nesta, então eu já havia alcançado uma classificação entre os dez primeiros nas provas intermediárias.
No entanto, minha principal razão é a Shijoin-san.
Para evitar a proibição de ler light novels, Shijoin-san me pediu para ser seu tutor para as provas finais, e eu busquei a perfeição com uma nova alegria e senso de propósito.
Não querendo dizer “não sei” à Shijoin-san quando ela me fazia uma pergunta, eu memorizei quase todos os livros didáticos, acompanhei meticulosamente o conteúdo das aulas e os padrões de perguntas de cada professor e criei um “Caderno Perfeito Verdadeiro”. Cheguei até a preparar possíveis perguntas.
Embora as sessões de estudo fossem apenas algumas vezes por semana, usei meu tempo livre para me preparar continuamente. Essa rotina de estudos intensivos continuou desde logo após as provas intermediárias, passando pelo festival cultural, até agora. Quanto mais eu me esforçava, mais atendia às expectativas de Shijoin-san e, como bônus, minhas habilidades acadêmicas melhoravam.
Tá sendo uma experiência incrivelmente gratificante.
Além disso, ter feito os mesmos exames na minha vida anterior me deu uma vantagem. Embora eu tivesse esquecido o conteúdo exato dos exames que fiz há quatorze anos, assistir às aulas despertou minhas memórias do que havia aparecido neles.
Com todos esses fatores combinados, dominei o material do exame a ponto de ter total confiança de ter cobrido toda a matéria.
Duvido que alguém tenha se preparado mais do que eu para essas provas finais.
Aliás, se este tivesse sido um exame de puro talento, provavelmente eu não teria saído vitorioso. Foi porque o escopo se limitava a exames periódicos que eu tive uma chance de lutar.
— Eu já disse antes, nunca aceitei seu desafio — disse a Mitsurugi, que estava abalado por ter perdido seu senso de superioridade — Mas se você insiste em comparar pontuações, vou lhe dizer uma coisa.
Então, pronunciei as palavras que nunca pude usar na minha vida anterior de derrotas contínuas.
— Eu venci, Mitsurugi. — declarando o fim dessa confusão, afirmei minha vitória.
Uma onda de murmúrios e suspiros percorreu a multidão de alunos que testemunhou essa reviravolta inesperada.
— Não acredito... Niihama-kun ficou em primeiro lugar?
— Ele é realmente tão inteligente assim?
— Espere, isso significa que Niihama venceu Mitsurugi na classificação do exame? Mitsurugi perdeu?
— Ei, olhe para Mitsurugi, ele está totalmente atordoado. É o que ele merece por agir de forma tão superior o tempo todo.
— Pfft, haha... Desculpe, não consigo evitar rir! Mitsurugi estava tão confiante, contando as classificações... Agora ele parece que vai desmaiar!
Ao ouvir minha declaração de vitória, os alunos ao redor explodiram de empolgação. Mitsurugi tinha a intenção de me humilhar publicamente, mas o tiro saiu pela culatra de forma espetacular.
— Você... Você deve ter colado! Não tem como eu ter perdido! Não tem!
Mitsurugi, que estava paralisado de choque, de repente explodiu de raiva, seu corpo tremendo de fúria.
Eu podia imaginar o que se passava em sua mente. Como líder, vencer era algo natural para ele e esse orgulho distorcido formava a base de sua identidade. Reconhecer a derrota para mim significaria o colapso de todo o seu ser.
— Eu não fiz nada de errado. Eu apenas me esforcei, só isso.
Se você considera minha nova perspectiva, adquirida ao reviver minha vida e minha renovada dedicação aos estudos, como trapaça, então que seja, mas esse resultado foi, sem dúvida, fruto do meu trabalho árduo.
— Não seja ridículo! Não há como um mero esforço permitir que um zé-ninguém como você me vença! Os perdedores são inúteis porque, não importa o que façam, não conseguem se equiparar a mim!
Entendo, é por isso que você constantemente menospreza os outros. Você acha que aqueles que você pode pisotear facilmente nem sequer são dignos de serem considerados iguais, reforçando sua mentalidade de “um eu nobre contra o povão”.
— Pense o que quiser, mas o fato é que eu te venci na pontuação total do exame. Agora, o que você disse antes?
Lembrei Mitsurugi de sua lógica absurda de antes, sabendo que seria crucial agora.
— Você declarou que “o perdedor deste desafio do exame nunca mais deve se aproximar de Haruka”, independentemente dos desejos deles, não foi?
Mitsurugi estremeceu quando sussurrei o nome de Shijoin-san, uma lembrança sutil de suas próprias palavras.
— Então isso significa que, independentemente da minha insistência em não aceitar esse desafio, de acordo com suas regras, o perdedor, ou seja, você, nunca mais deve se aproximar de Shijoin-san.
— Você... Como ousa me chamar de perdedor!? — Mitsurugi balbuciou, com o rosto contorcido de raiva.
— Você é o perdedor, não é? Olhe ao seu redor. — com minhas palavras, Mitsurugi finalmente pareceu perceber a situação ao seu redor.
Os rostos dos alunos reunidos não demonstravam nenhum traço de simpatia. Alguns olhavam para ele com decepção, outros com zombaria,e alguns mal conseguiam conter o riso diante do príncipe que havia proclamado um desafio com tanta confiança em voz alta, apenas para perder.
Mesmo entre esses alunos, eles não reagiriam tão friamente apenas porque um cara excessivamente confiante havia falhado. Isso era claramente o resultado do comportamento habitual de Mitsurugi. Ninguém ali estava disposto a apoiá-lo.
— Você não declarou que sua decisão era definitiva? Então, por mais que doa, você precisa cumprir suas próprias regras, Mitsurugi.
— O quê?! Lixo... Seu lixo! — Mitsurugi cuspiu, sua voz cheia de veneno.
— Me chame do que quiser, — respondi calmamente — mas já que você perdeu para esse “lixo”, isso não faz de você um lixo também? Não, talvez seja até pior.
O corpo inteiro de Mitsurugi tremia de raiva e humilhação, seus dentes cerrados e seus olhos queimando de ódio.
Mas eu não tenho vontade de continuar discutindo.
Virando as costas para ele, sinalizei silenciosamente o fim da nossa conversa e fui embora com Ginji, deixando Mitsurugi fervendo em sua própria fúria.
*
— Parabéns pelo primeiro lugar, cara! Você é incrível!
— Bem-vindo de volta, Niihama-kun!
— O décimo lugar da última vez já era impressionante e agora tu me mete o primeiro lugar? Isso é loucura! Você estudou muito?
— Tem alguma dica? Por favor, me ensine tudo!
— Hã, espere... o quê?
No momento em que entrei na sala de aula, fui recebido por uma salva de aplausos dos meus colegas, liderados por Akasaki, o cara de cabelo espetado, e um enxame de outros alunos. Fui completamente pego de surpresa pela atenção repentina.
Uau, as fofocas ainda correm rápido.
— É, você provavelmente não percebeu, mas toda aquela disputa no exame foi bem barulhenta. Um monte de alunos da nossa turma foi assistir de longe quando Mitsurugi começou a marcar as pontuações com o dedo, até ele se humilhar na frente de todo mundo. — Ginji explicou.
— Eu não fazia ideia… — respondi, ainda processando a reviravolta inesperada dos acontecimentos.
Bem, com toda aquela comoção, não era de se admirar que as turmas vizinhas ficassem curiosas.
— Mas por que você está fechando os olhos, Fudehashi-san? — perguntei, percebendo seu comportamento estranho.
— Não consigo olhar para você agora, Niihama-kun! Se eu abrir os olhos, o brilho do aluno mais bem classificado vai me cegar! Mas quero aproveitar a sua boa sorte, então estou rezando!
— Haha. Por favor, não reze para mim como se eu fosse um Buda. — falei enquanto ria.
— Obrigado, Niihama! Você realmente fez um ótimo trabalho! — Tsukamoto, o belo jogador de beisebol, acrescentou com entusiasmo.
Por alguma razão, ele parece extremamente animado.
— Aquele idiota do Mitsurugi chamou minha namorada de “mocreia” só porque ela estava andando na frente dele outro dia. Eu quase quis dar um soco nele ali mesmo, mas minha namorada me impediu, dizendo que isso causaria problemas para o time de beisebol. Estou furioso com ele desde aquele dia! Obrigado por lavar a alma por mim!
— Cara, isso é difícil. — eu simpatizei.
Parece que Mitsurugi não tinha feito nada de bom desde que entrou nessa escola.
— Sim, meu amigo de outra turma esbarrou nele no corredor e Mitsurugi gritou “Ei, não me toque, lixo!”. Ele estava furioso. Deve ter tido assim com você também, certo? Obrigado por se vingar dele. É uma sensação ótima!— acrescentou Akasaki.
— Esse cara é realmente o pior! Quando eu estava andando com uma lata de café, ele disse “Estou com sede, me dê isso” e arrancou da minha mão antes de sair andando como se fosse o dono do lugar. — outro colega de classe acrescentou.
Parecia que o príncipe não estava causando problemas apenas para mim; todos reconheciam que Mitsurugi era sempre o instigador. E eles estavam certos. Apesar de todos esses conflitos, ninguém o desafiou abertamente até agora, provavelmente devido à hierarquia da escola e à influência de sua poderosa família na região.
— Parabéns por ficar em primeiro lugar, Niihama-kun. Como colega de classe, agora vou me referir a você como o dono de nossas vidas, Mestre Niihama. — disse Kazamihara-san com entusiasmo.
— Isso é para ser uma piada? — perguntei, confuso com seu humor estranho.
— Bem, além disso, eu não sabia que você estava lidando com Mitsurugi Hayato. Quando espreitei para fora da sala de aula depois de ouvir a comoção, vi o rosto presunçoso daquele príncipe se contorcer enquanto ele contava as classificações. Foi hilário.
— Ei, você e muitas das meninas parecem muito felizes com a derrota dele. Eu achava que ele era popular entre as meninas. — questionei, já que tinha derrotado o príncipe bonito, imaginei que poderia haver algum ressentimento em relação a mim.
— Ah, definitivamente deve ter umas dez ou vinte meninas que amam a boa aparência e comportamento arrogante dele. Então, sim, ele tem alta popularidade entre algumas garotas. — admitiu Kazamihara-san, acrescentando que a maioria dessas garotas apenas gostava de observá-lo à distância — Mas, pelo menos para mim, é impossível. Um cara que chama as pessoas de “lixo” por padrão é demais na vida real.
— Entendo… — concordei.
Outras garotas concordaram com Kazamihara-san.
— Ele chama as garotas de lixo ou feias sem pensar duas vezes.
— Conversar com ele te deixa enjoada em três segundos.
— Até mesmo a boa aparência tem seus limites.
Ficou claro que o comportamento habitual de uma pessoa era muito importante.
— A propósito, Kazamihara-san, você viu Shijoin-san? Não a vi por aqui. — perguntei, mudando de assunto.
— Oh, Niihama-kun, está claro que Shijoin-san é muito mais importante para você do que ser o primeiro da turma ou o príncipe, não é? — Os óculos de Kazamihara-san brilharam quando ela me deu um sorriso cúmplice.
Ugh, é difícil lidar com alguém que consegue me ler tão facilmente.
— Ela foi comprar uma bebida na máquina de venda automática em frente ao refeitório. Ela deve voltar logo, mas se você for até lá, provavelmente vai encontrá-la sozinha.
— Entendi. Obrigado, vou indo então.
— Não se esqueça de compartilhar os resultados das suas sessões de estudo particulares com ela, ok? — Kazamihara-san brincou, ampliando seu sorriso.
Corando com o sorriso provocador de Kazamihara-san, pedi licença ao grupo e saí da sala de aula. Honestamente, a derrota de Mitsurugi e minha classificação no topo não importavam muito para mim. O que enchia meu coração agora era o fruto do trabalho árduo que compartilhei com a garota de quem gostava.
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