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CAPÍTULO 1 - UM ENCONTRO INESPERADO

Já haviam se passado três dias desde que meu encontro com a Nanami-san tinha corrido sem problemas. Bem, talvez tivesse havido alguns contratempos, mas eu tinha certeza de que, mesmo assim, tinha corrido tudo bem.

Fui chamado à sala do diretor no dia seguinte, mas nada de muito grave aconteceu desde então. Considerando tudo isso, deveríamos estar aproveitando nossos dias de paz, mas não era assim que as coisas estavam se desenvolvendo.

Não que eu pudesse dizer honestamente que as coisas não estavam tranquilas. Nenhuma notícia era uma má notícia e as coisas estavam realmente bem calmas. Mas a pequena mudança que senti no dia seguinte ao nosso encontro não podia ser apenas imaginação minha.

Como posso explicar? Parecia que, bem... Nanami-san parecia muito mais assertiva, por assim dizer. Talvez eu estivesse apenas imaginando coisas, mas certamente parecia que o comportamento dela havia mudado desde o nosso encontro.

Primeiro, havia a maneira como segurávamos as mãos no caminho para a escola. Antes, nós apenas segurávamos as mãos normalmente, minha mão envolvendo a dela e vice-versa, mas depois do nosso encontro, começamos a segurar as mãos da maneira que os namorados fazem.

Você sabe… é aquela em que você entrelaça os dedos.

Eu sei que tinha feito isso quando fui à casa dela também, na frente dos pais dela.

Mas quem poderia imaginar que a própria Nanami-san começaria a fazer isso e o tempo todo? Ela certamente estava colocando a barra lá em cima para alguém como eu.

Só porque eu tinha feito isso uma vez, não significava que dar as mãos com ela assim se tornaria mais fácil. Mas mesmo com minha hesitação, Nanami-san inclinava a cabeça e continuava com outra pergunta.

— Você... não gosta disso?

— De jeito nenhum.


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Minha resposta foi imediata, sem hesitação. Claro que não tinha nada contra! Se tivesse algum motivo para hesitar, teria rejeitado a ideia de dar as mãos assim desde o início.

Só que... a barreira psicológica que se apresenta a mim era uma questão totalmente diferente.

O coração de um homem é complexo e delicado, de fato.

Não, talvez eu seja apenas um covarde.

No final, acabei segurando a mão dela apesar da minha confusão interior, mas ainda me perguntava se algum dia me acostumaria com isso. 

Eu sabia que Nanami-san havia mudado, mas também sentia que eu estava mudando também.

Toda essa mudança é uma coisa boa? Que tipo de resultados essas mudanças trarão? 

Não adiantava pensar nisso agora, mas o que estava acontecendo com a gente era assustador e surpreendentemente confortável. Quanto aos olhares dos outros alunos enquanto íamos para a escola, ouso dizer que eles não precisavam de explicação a essa altura. 

As mudanças não se limitavam apenas à maneira como dávamos as mãos. Meu bento agora incluía sobremesa. Não era comprada em loja, era feita à mão especialmente por Nanami-san. 

Quando eu disse a ela que me sentia mal por ela fazer meu almoço e uma sobremesa, ela me disse para não me preocupar, porque fazer sobremesas era algo que ela fazia com a mãe. 

Quando fiz uma cara de quem não tinha entendido muito bem, ela explicou que sua mãe não era muito boa em acordar tão cedo, então era tarefa de Nanami-san preparar o café da manhã e os lanches da família pela manhã. Aparentemente, essa costumava ser a tarefa de seu pai, mas hoje em dia ele, junto com sua irmã mais nova, basicamente apenas ajudava Nanami-san. Todas as outras tarefas domésticas eram feitas pela mãe de Nanami-san, que era dona de casa em tempo integral. 

E foi assim, explicou Nanami-san, que as tarefas domésticas eram divididas entre sua família. Era por isso que Nanami-san me disse para não me preocupar com a sobremesa, porque, aparentemente, Tomoko-san (mãe da Nanami-san) fazia os preparativos enquanto Nanami-san estava na escola e, quando ela chegava em casa, as duas faziam a sobremesa juntas. 

Embora ela tivesse me explicado como se não fosse grande coisa, eu não conseguia deixar de me preocupar. 

— Eu faço isso porque gosto — disse Nanami-san com um sorriso.

Cara, eu realmente preciso me esforçar mais para o nosso próximo encontro. Se ao menos eu pudesse decidir onde levá-la... 

Finalmente, a última mudança, talvez a maior de todas. Era um pouco embaraçoso pensar nisso, talvez porque tudo pudesse ser minha imaginação ou timidez, mas... 

Essa introdução está ficando um pouco longa demais, então vou ser direto ao ponto. Na verdade, ainda não tinha acontecido, mas Nanami-san... parece estar tentando me beijar na bochecha. 

Talvez fosse apenas minha imaginação, mas parecia que havia muito pouca distância física entre nós ultimamente e, sempre que o clima ficava um pouco romântico, ela me olhava com expectativa.

Lentamente, ela se inclinava para mais perto e eu não conseguia me mover, mas, no final, ela ficava toda vermelha e congelava. Então, ela ficava sentada ali, com os olhos fixos na minha bochecha. O fato de sua atenção não parecer estar focada nos meus lábios era muito típico da Nanami-san, mas isso não vem ao caso. 

Por favor, pare! Isso é muito constrangedor... Não, espere. Na verdade, eu não quero que ela pare. Mas se ela continuar assim…

Esse era o ciclo de emoções complicadas pelo qual eu estava passando ultimamente. Dada a mudança repentina no comportamento da Nanami-san, eu quase podia ouvi-la subindo de nível diante dos meus olhos, acompanhada pelos efeitos sonoros apropriados de uma certa obra tokusatsu. 

— Então é assim que as coisas têm estado ultimamente. O que você acha, Shibetsu-senpai?

— Você tem coragem de me perguntar isso, sabendo que Nanami-san me rejeitou categoricamente. É algo que deve ser respeitado, eu acho...

Era hora do almoço e, nessa rara ocasião, eu estava com Shibetsu-senpai. Como eu tinha vindo vê-lo, achei que era uma boa oportunidade para pedir seu conselho. Nanami-san estava com Otofuke-san e Kamoenai-san — provavelmente fofocando sobre qualquer desenvolvimento em nosso relacionamento. 

— Mas, como você me deu um presente tão maravilhoso, acho que não tenho escolha a não ser ajudar...

Shibetsu-senpai segurava, com muito cuidado devo acrescentar, um saco plástico transparente cheio de doces. Eram doces feitos à mão por Nanami-san, biscoitos para a sobremesa de hoje. Eu tinha vindo ver Shibetsu-senpai para compartilhar alguns com ele. 

Eu sei que não era bem o prato que eu tinha prometido a ele, mas mesmo sabendo que não tinha a generosidade necessária para corresponder à dele, eu ainda queria manter a culinária de Nanami-san como meu privilégio especial. Então, como um compromisso, sugeri dar doces a ele e ele concordou de bom grado. 

Quando mencionei a ideia para Nanami-san, ela não pareceu se importar nem um pouco. Na verdade, ela também aceitou de boa vontade. 

— Você está certo. Temos que agradecer ao senpai por ajudar você a ficar tão legal. Sim, é importante agradecer às pessoas — disse ela, sorrindo e cerrando os punhos com determinação. 

Eu tinha tanta certeza de que ela resistiria à ideia que fiquei surpreso com sua resposta. Mas mesmo isso não me preparou para o que ela disse a seguir. 

— E... ser atenciosa com as pessoas ao meu redor é importante para quando eu me tornar uma esposa...

Eu tinha certeza de que ela havia dito isso apenas para si mesma, mas, por mais baixo que tenha sido o murmúrio, as palavras chegaram diretamente aos meus ouvidos.

Parece que eu não sou o protagonista que tem dificuldade para ouvir as coisas... 

Minhas bochechas ficaram vermelhas no momento em que a ouvi.

Não tenho ideia de como devo responder... Por favor, alguém me ajude... 

Como não podia fingir que não tinha ouvido, disse:

— Sou um cara de sorte por ter uma esposa tão atenciosa — ao que ela respondeu corando e me dando várias palmadas nas costas.

Eu queria acreditar que tinha feito a escolha certa, pelo menos. Até a dor nas costas, onde ela me deu as palmadas, parecia reconfortante.

Não, eu não sou masoquista…  

Com isso resolvido, Nanami-san assou alguns biscoitos extras para Shibetsu-senpai. Ela era realmente rápida quando se tratava de coisas assim. 

E lá estava eu, entregando os biscoitos para ele. 

No começo, Nanami-san se ofereceu para entregá-los pessoalmente ao nosso colega mais velho, mas foi então que um lado meu que nem eu conhecia veio à tona. Eu disse a ela que não queria que ela desse guloseimas caseiras para outro cara que não fosse eu.

Nunca pensei que poderia demonstrar um ciúme tão embaraçoso. 

Sei que deveria ser mais generoso, mas, considerando o meu outro lado, que não tinha interesse em compartilhar a culinária de Nanami-san, nunca imaginei que fosse tão ciumento. 

Eu estava com medo de que ela pudesse se afastar por causa do meu ciúme, mas Nanami-san apenas corou e concordou.

E então, aqui estamos nós.

Estreitando os olhos, Shibetsu-senpai suspirou e respondeu de maneira exasperada. 

— Você me perguntou o que eu acho, mas você está gostando de tudo isso, não é? Não vejo qual é o problema.

Na verdade, não foi que ele tenha feito isso de maneira exasperada, ele estava exasperado. 

— Estou meio que gostando, mas não sei como devo responder...

— Hmm... nem eu.

Bem, essa foi uma declaração e tanto. 

Senpai estava brincando com o saco de biscoitos que eu lhe dei, mas, em vez de comê-los, continuou falando. Mesmo com a introdução de que essa era apenas sua opinião pessoal, ele respondeu à minha pergunta com sinceridade.

— Com base no que você me contou, parece que você está começando a entrar em pânico porque Barato-san está acertando uma cesta atrás da outra. Ela está se distanciando cada vez mais, o que está deixando você ansioso e essa ansiedade está acabando com sua compostura.

Ele traduziu a situação para a linguagem do basquete, mas, em grande parte, ele estava certo. No momento, eu estava recebendo tanto de Nanami-san que não tinha certeza se seria capaz de retribuir. Não era um relacionamento em pé de igualdade. Eu estava recebendo tanto que meu coração estava começando a doer.

Shibetsu-senpai parecia ter percebido isso. Quando ele falou novamente, sua voz estava um pouco mais gentil.

— É especialmente em momentos como este que você precisa manter a calma e não se apressar na sua próxima jogada. Quanto mais ansioso você se sentir, mais posturado você deve tentar ser.

— Mais... posturado?

— Isso mesmo. É assim que você torna possível uma virada.

Então ainda estamos falando sobre basquete, né? 

Mas ele estava certo sobre o fato de que eu estava me comportando um pouco estranho ultimamente. Nanami-san e eu não estávamos jogando basquete. Na verdade, isso era apenas um desafio meu. Era o maior desafio da minha vida: fazer com que Nanami-san gostasse de mim. 

Apesar disso, eu sentia que estava apenas tirando proveito de Nanami-san e comecei a entrar em pânico com a ideia de que não havia como ela gostar de mim se eu continuasse assim. 

Sim, foi bom ter falado sobre isso com Shibetsu-senpai.

Conversar com ele me deixou um pouco mais calmo.

Até ele soltar uma bomba, é claro. 

— É por isso que você deve ser o único a beijá-la. Na bochecha está bom, mas nos lábios seria ainda melhor.

Senti uma risada seca e vazia escapar de mim.

Nossa, essa foi uma reação bem clássica.

Eu não sabia que as pessoas realmente fazem isso quando ficavam surpresas. 

— O que você está dizendo, senpai?!

— Achei que, se você quer fazer mais pontos, essa seria a única maneira de fazer isso.

Você fala como se não fosse grande coisa... É por isso que é tão difícil conversar com caras bonitos! Eu não estaria nesse dilema se pudesse fazer isso.

Eu estava completamente nervoso e inútil só de pensar em um beijo.

Fazer isso na vida real seria quase impossível. 

Foi então que percebi que Shibetsu-senpai ainda estava brincando com os biscoitos.

O que está acontecendo? Ele não vai comê-los?

— A propósito, Misumai-kun, posso te perguntar uma coisa?

— Hm? Claro, vá em frente. Se for algo que eu possa responder.

— O que devo fazer com esses biscoitos? Quero comê-los, mas também quero guardá-los como lembrança.

— Por favor, coma-os. Se você quer guardá-los, por que não tira uma foto?

Shibetsu-senpai olhou para mim como se eu tivesse surpreendido ele, e então começou a tirar fotos dos biscoitos em forma de estrela. Eu também tinha tirado fotos dos meus biscoitos antes de comê-los. 

Olhei para ele pelo canto do olho enquanto estava sentado ali, percorrendo as fotos. Os biscoitos que eu tinha recebido da Nanami-san tinham formato de coração. Nanami-san sempre faz coisas assim sem hesitar.

Nossa, isso me deixa tão feliz. 

Shibetsu-senpai logo terminou de tirar as fotos e começou a comer os biscoitos, ficando profundamente emocionado.

— Você não vai comer também, Misumai-kun? Quer metade do meu?

— Ah, não. Eu já comi alguns. Esses são todos para você.

— É mesmo? Então, não me importo em comer.

Sorri para meu colega mais velho por ser tão atencioso, mas então me lembrei de algo.

O que aconteceu com o senpai encontrar seu próximo amor? Ele está tão impressionado ao ver os biscoitos que Nanami-san fez para ele, isso significa que ele ainda não superou completamente ela? Não, não poderia ser isso. Mas... talvez eu devesse verificar, por via das dúvidas.  

— Então... como está indo sua busca pelo amor, senpai?

— Ah, amor. Sobre isso, eu desisti de procurar — disse ele sem rodeios, com a boca cheia de biscoitos. 

Hã? O que aconteceu? 

Vendo a suspeita em meu rosto, meu colega mais velho sorriu de forma tranquilizadora, com uma migalha de biscoito no canto da boca. Mesmo isso não diminuiu sua beleza impressionante. A vida era tão injusta.

— Ah, não tenho mais sentimentos pela Barato-san, então não se preocupe — disse ele — Decidi me concentrar no basquete por enquanto.

— Hã? O que aconteceu?

— Percebi, quando perdi aquela partida para você, que não estou pronto para pensar em coisas como amor e relacionamentos.

Ele jogou outro pedaço de biscoito na boca e olhou para o céu com um olhar distante. 

Hm, não, não podemos dizer que você realmente perdeu aquele jogo. O resultado foi principalmente porque eu usei truques simples. 

— Meu sonho é me tornar um jogador profissional de basquete — disse ele.

Tenho certeza de que o fogo em seus olhos não é uma ilusão.

— Mas, ao jogar contra você, percebi que ainda me faltava a dedicação e a diligência necessárias para alcançar isso. Então... o amor está em espera, por enquanto.

Enquanto o observava falar com tanta paixão, tive uma súbita percepção. 

Ah, então é por isso que as meninas da turma dele me lançaram olhares furiosos quando fui lhe dar os biscoitos… Aquilo foi realmente assustador! Senpai, eu só ganhei porque quase trapaceei. Não há necessidade de você ser tão estoico sobre isso. 

Mas vê-lo assim também me deixou um pouco invejoso. O coração e a alma desse cara pertenciam exclusivamente ao basquete. Não havia nada pelo qual eu me sentisse tão apaixonada, então senti um respeito genuíno por ele. 

As coisas estavam um pouco diferentes agora, porém. Eu tinha conseguido encontrar algo pelo qual me apaixonar. Mas se as meninas mais velhas ficassem chateadas comigo por fazer com que Shibetsu-senpai perdesse o interesse em namorar, isso poderia causar problemas para Nanami-san também. Shibetsu-senpai era muito popular e eu não sabia que tipo de vingança elas poderiam inventar, então achei melhor tentar remediar um pouco a situação.

— Não pense assim, senpai! — eu disse bruscamente.

Shibetsu-senpai respondeu ao meu comentário com um olhar desconfiado, o biscoito em sua mão parado a poucos centímetros de sua boca. Havia muitos biscoitos, mas ele estava preparado para comer todos eles. Ele permaneceu imóvel, aguardando minhas próximas palavras. 

Respirei profundamente e abri a boca com uma expressão séria no rosto.

— Nós nos tornamos mais fortes quando temos algo a proteger. É por isso que acredito que você deve se esforçar tanto pelo amor quanto pelo basquete.

— O que você quer dizer, Misumai-kun? Continue.

Tudo bem, ele mordeu a isca. Talvez eu consiga fazer isso.

— Vamos imaginar que é o último quarto do jogo. Você está exausto, mas basta mais uma cesta para virar o jogo.

Shibetsu-senpai fechou os olhos, imaginando a cena.

Uau, ele está realmente começando a suar? Sua mente deve estar completamente absorvida no jogo.

— Nesse momento, se você ouvisse sua namorada torcendo por você nas arquibancadas, você não acha que isso lhe daria a força necessária, ali mesmo?

Shibetsu-senpai estava murmurando algo enquanto mexia as mãos. Seu corpo assumiu a mesma postura do dia em que ele me mostrou todos aqueles lances livres. E, depois de demonstrar uma forma absolutamente esplêndida, ele lentamente abriu os olhos.

— Hmm... Entendo. Talvez você esteja certo...

Shibetsu-senpai permaneceu imóvel, como se estivesse refletindo sobre a situação que havia imaginado. Eu dei um último empurrãozinho nele. 

— É claro que não há necessidade de se forçar a ficar com alguém, mas também não vejo razão para você não ficar com ninguém. Se você gosta de alguém, não perca a oportunidade.

Meu senpai ouviu minhas palavras com seriedade. Sua expressão me fez sentir um pouco culpado, mas era realmente assim que eu me sentia. 

— Você está certo — ele finalmente disse, acenando com a cabeça algumas vezes — Senti que aquela situação realmente me deu força. Nesse caso, não há necessidade de me forçar a encontrar alguém, mas se eu encontrar alguém de quem goste... espero que você me deixe vir até você para pedir conselhos.

Para o bem ou para o mal, ele é muito ingênuo… 

Pelo menos com isso, tanto Nanami-san quanto eu não estaríamos sujeitos a nenhuma retaliação de nossas colegas mais velhas.

Mas isso não era tudo. Senpai e eu nos conhecemos em circunstâncias estranhas, mas ele era realmente uma pessoa muito boa. Eu realmente queria que ele fosse feliz. Era por isso que não queria que ele ficasse obcecado com a derrota para mim e perdesse a chance de se apaixonar por alguém. 

Eu sabia que o que eu tinha dito tinha sido muito egocêntrico, já que, de certa forma, eu tinha tirado Nanami-san dele. Mas receber um pedido de conselho do próprio senpai parece uma tarefa muito difícil para mim. Mesmo assim, farei o meu melhor para oferecer apoio.  

— É engraçado, — disse Shibetsu-senpai pensativo — você disse exatamente a mesma coisa que a gerente da nossa equipe. Talvez eu esteja fazendo outras pessoas se preocuparem comigo.

— Sua gerente? Ela é uma garota, por acaso?

— Sim. Ela é uma garota alta, quieta e legal que cuida da gente. Espero que ela também encontre alguém legal.

Hm, como devo colocar isso? Digamos apenas que me senti aliviado por ele poder encontrar seu próximo amor mais cedo do que pensávamos.

Depois disso, me despedi do meu colega mais velho e voltei para encontrar Nanami-san. Ela já estava de volta à sala de aula, conversando com Otofuke-san e Kamoenai-san.

— Nanami-san, dei os biscoitos para o senpai. Ele pareceu muito feliz. Obrigado novamente por fazer isso.

— A-Ah, é mesmo? Que bom. Sim, realmente, isso é ótimo.

Quando ela olhou para mim, notei que seu rosto estava vermelho, e Otofuke-san e Kamoenai-san estavam sorrindo.

— Vocês duas disseram algo estranho para Nanami-san, por acaso?

— Hã? Acho que não dissemos nada estranho, dissemos? Embora tenhamos perguntado uma ou duas coisas à ela — disse Otofuke-san. 

— Ah, sim, perguntamos! Aproveite sua caminhada depois da escola, tá bom? — acrescentou Kamoenai-san. 

Kamoenai-san, você definitivamente disse algo para Nanami-san, não foi? 

Nosso intervalo para o almoço acabou bem quando eu estava tentando perguntar mais detalhes, então eu teria que esperar outra hora para interrogá-la. No final, porém, a escola acabou antes que eu pudesse descobrir sobre o que eles conversaram, mas quando estávamos saindo, Nanami-san falou.

— Ei, Yoshin, você poderia... vir fazer compras comigo hoje? Minha mãe me pediu para comprar algumas coisas para o jantar...

— Ah, claro, com certeza. Vamos ao shopping que fomos outro dia?

Eu tinha ouvido dizer que a mãe de Nanami-san costumava comprar os ingredientes para o jantar durante o horário escolar, mas talvez ela estivesse ocupada hoje.

— Ah, sim, e... você quer tomar “boba” também?

— “Boba”? Você está falando daquelas... bolinhas doces?

— Sim. Você nunca provou antes, certo? Tem uma loja de boba no shopping. O hype em torno dela já diminuiu, então provavelmente não teremos que esperar muito na fila.

Então era por isso que aquelas duas estavam sorrindo... 

Havia um contraste tão grande entre a aparência de Nanami-san e a maneira como ela ficava me lançando olhares furtivos enquanto se mexia timidamente, que não pude deixar de me sentir impressionado com o quanto ela era adorável. Era um pedido tão fofo e modesto que não havia como eu não atendê-lo.

— Claro, vamos lá. Se é algo que você quer fazer, fico feliz em fazer qualquer coisa.

Ela sorriu para mim radiantemente, parecendo uma mistura de feliz e aliviada.

Nossa, eu ficaria feliz em atender pedidos como esse a qualquer momento… Nanami-san é realmente a mais fofa. Tudo bem, vou levá-la para tomar boba. Isso é algo que um namorado deve fazer.

Mas, enquanto eu pensava em coisas tão grandiosas... 

— E vamos, hm, pedir sabores diferentes e, hm... Vamos trocar um pouco, ok?

Por um momento, não entendi muito bem o que ela tinha dito, mas quando finalmente entendi, meu rosto ficou vermelho como um tomate.

♢♢♢ 

Depois da escola, fomos ao shopping, o mesmo que visitamos no nosso encontro para assistir ao filme e compramos os ingredientes para o nosso jantar de gyoza. Desta vez, estávamos em um lugar completamente desconhecido dentro do shopping, embora, para ser mais específico, eu fosse o novato entre nós dois.

A loja à nossa frente estava claramente apostando tudo na sua estética, com fileiras e mais fileiras de pequenas descrições coloridas dos seus produtos da moda. 

— Pensando bem, eu nunca provei nada com boba antes. — eu disse para Nanami-san.

— Sério? Bem, eu imaginei que fosse assim.

— É. Eu não tive vontade de ficar na fila quando estava na moda e não tinha ninguém com quem ir.

— Então é sua primeira vez! Estou muito feliz por ser a primeira.

— Nanami-san, isso soa um pouco...

Questionável… 

Eu não tinha certeza se ela sabia o que realmente estava dizendo, mas como ela estava corando, parecia ainda mais estranho.

Você provavelmente deveria pensar bem antes de falar, Nanami-san.

Mas, pensando bem, talvez eu esteja pensando demais. Nanami-san estava me olhando com curiosidade. Não, ela não estava pensando no que estava dizendo. Foi um acidente total. Bem, então, eu deveria simplesmente deixar pra lá. 

Depois de pegar os ingredientes para o jantar, nós dois estávamos em frente a uma loja de boba, ou seja lá como você chama isso. 

As filas eram imperdoáveis quando o boba estava na moda, mas agora você só precisava esperar um pouco para fazer o pedido. Mesmo assim, o fato de ainda ter que esperar sugeria que, embora não fosse mais a última novidade, o boba havia se tornado parte da cultura cotidiana.

Ainda assim, há pouco tempo, eu nem imaginava que viria beber isso. 

Mais cedo, eu disse à Nanami-san que não tinha vontade de ficar nas longas filas, mas, para ser sincero, eu não estava com vontade de beber mesmo que não precisasse ficar na fila.

O que eu teria feito se Nanami-san e eu estivéssemos namorando quando o boba estava super popular?

Provavelmente não teria sido uma tarefa árdua para mim, para ser sincero. Na verdade, eu poderia até me imaginar gostando de ficar na fila com Nanami-san.  Ainda assim, tenho certeza de que alguns casais realmente gostavam do tempo que passavam esperando na fila juntos. 

Nesse sentido, eu sou grato por a loja de boba ainda existir mesmo depois do boom. O simples fato de eu ser capaz de pensar assim é uma mudança surpreendente. 

Como eu nunca tinha tomado boba antes, optei pela versão padrão com chá com leite. Eu não sabia muito bem como pedir, então Nanami-san me ajudou. Eu me sentia um pouco deslocado ali, mas Nanami-san parecia estar se divertindo. 

A própria Nanami-san pediu algo chamado chá de laranja. Sua cor laranja viva era realmente impressionante de se ver. Até mesmo o boba dentro era laranja escuro em vez de preto, flutuando como pequenas jóias no fundo do copo. Realmente parecia algo que atrairia as meninas. 

Como observação, paguei pelas bebidas de nós dois. Nanami-san não ficou feliz com a ideia, mas quando eu disse que já tinha pago, ela não teve escolha a não ser aceitar. Considerando que ela fazia bento e sobremesas para mim todos os dias, eu queria que ela pelo menos me deixasse retribuir o favor.

Até mesmo sua relutância era parte do charme dela. 

Olhei novamente para Nanami-san segurando seu chá de laranja. Sua bela cor laranja transparente combinava perfeitamente com Nanami-san. Eu tinha que admitir que era diferente da ideia que eu tinha do boba, mas a imagem diante de mim parecia tão bonita quanto uma pintura. Só posso me culpar por não conseguir encontrar as palavras certas, mas não acho exagero dizer que a imagem merecia ser capturada e preservada para sempre. 

— Nanami-san, posso tirar uma foto?

— Hã? Ah, sim. Claro, vá em frente. — ela aproximou a bebida boba de mim. 

Apontei meu celular para Nanami-san e tirei uma foto de corpo inteiro, capturando a bebida boba em sua mão e o belo sorriso em seu rosto. Era uma ótima foto, o fundo perfeito para o meu celular. 

— Hã? — ela disse de repente. 

— Hm? — respondi. 

Nanami-san, que parecia atordoada por um momento, aproximou-se para olhar a foto e então soltou um grito de surpresa.

— O que?! Pensei que você estivesse apenas tirando uma foto do boba! Por que você me colocou nela?! Eu não sabia. Eu nem posei e nem nada! Não estou nada bonita!

Hm, eu realmente queria tirar uma foto dela, mas…

Talvez, como eu sempre tirava fotos do bento dela, ela tenha presumido que eu queria tirar uma foto assim também desta vez. Nesse caso, talvez eu tenha acabado enganando-a de alguma forma, mesmo sem querer. 

Parecia que Nanami-san não tinha gostado da foto que eu tinha tirado. Olhei para o meu celular, fazendo um pouco de beicinho. Eu gostava muito dessa foto porque ela parecia tão natural, sem qualquer tipo de expressão ou gesto forçado.

— Mas olha, — eu disse — a cor laranja combina muito com você. Linda, não?

— L-Linda? Você está falando das bolinhas, né?

— Estou falando de você.

As bochechas de Nanami-san ficaram vermelhas com as palavras que saíram da minha boca. Senti minhas bochechas esquentando também. Sério, o que estou dizendo? 

— Pensei em colocar isso como plano de fundo do meu celular, sabe? — disse, nervoso com minhas próprias palavras — Percebi que, mesmo saindo juntos, não tenho nenhuma foto sua. Não se preocupe, você está muito bonita e natural.

Nanami-san ficou em silêncio e olhou para o chão. 

Sinceramente, achei que a foto capturou todas as melhores características de Nanami-san. Não estou elogiando minhas habilidades como fotógrafo nem nada, estou apenas falando da modelo em si. Não pude colocá-la como tela de bloqueio, porque meus pais veriam, então tive que colocá-la como papel de parede. 

— Nossa... Então vou tirar uma foto sua também e colocá-la como plano de fundo! Mas você está certo. Por que eu não tirei nenhuma foto antes? Eu nem pensei nisso... Enfim, faça uma pose, Yoshin! — Nanami-san ordenou, embora confusa. 

Eu não conseguia fazer nenhuma pose que valesse a pena. No final, decidi segurar o boba com uma mão e ficar parado ali como uma pessoa normal. Nanami-san piscou para mim, totalmente inconvicta. 

Sim, isso não vai dar certo. 

— Yoshin, você pode…hm… fazer algo um pouco mais interessante? Aqui, faça um pequeno sinal de paz!

— Hã? Um sinal de paz? D-Desse jeito?

Eu sorri desconfortavelmente, levantando dois dedos da minha mão que não segurava o copo.

Eu tenho certeza de que pareço um completo idiota. 

Sim, Nanami-san também estava sorrindo dolorosamente. Eu devia estar parecendo muito estranho. Sair tanto da minha zona de conforto assim não era para mim, mas então a expressão dela se transformou no sorriso de alguém que tinha pensado em alguma brincadeira maliciosa. 

Enquanto eu ficava ali questionando a expressão dela, Nanami-san se aproximou de mim e parou ao meu lado. 

Hã? O que aconteceu com a foto? 

Nanami-san não me deu atenção e, em vez disso, virou-se para olhar na mesma direção que eu. Ela então aproximou o rosto do meu, perto o suficiente para que nossas bochechas se tocassem. Na verdade, nossas bochechas se tocaram e eu pude sentir a suavidade da pele dela na minha. Não tive tempo de reagir quando ela estendeu a mão. Ela se posicionou e ouvi o clique da câmera. 

— Hã?!

— Tudo bem, consegui! Tirei uma foto de nós dois!

Vendo Nanami-san toda animada com sua foto, finalmente consegui me mover. O movimento foi repentino, como um personagem em um jogo se movendo bruscamente após ficar parado por muito tempo. Sem querer, virei meu rosto para a animada Nanami-san, esquecendo completamente o fato de que o rosto dela estava bem ao lado do meu. 

Eu pretendia virar todo o meu rosto e corpo em direção a ela para olhá-la, mas nem pensei no que aconteceria se eu fizesse isso. E, como resultado…

Hmm… é difícil admitir, mas meus lábios tocaram levemente a bochecha de Nanami-san, apenas um pouco, mas eles definitivamente entraram em contato com a bochecha dela.

ree

Achei ter ouvido o som dos meus lábios tocando algo muito macio. Eu imediatamente me afastei, mas a sensação suave da bochecha dela permaneceu ali.

— Hã?

Nanami-san olhou para mim, sem saber o que tinha acontecido. Então, lentamente, ela levantou a mão para pressioná-la contra a bochecha.

— Hm... Eh… — ela murmurou, olhando para mim com a mão no lugar. 

Eu olhei para ela, sem conseguir dizer nada também. Estranhamente, naquele momento, percebi que tinha acabado beijando-a na bochecha. Era exatamente como Shibetsu-senpai tinha dito. 

Senpai, como eu poderia saber que suas palavras eram um sinal de alerta para o que poderia realmente acontecer entre mim e Nanami-san? Não, espere. Talvez eu devesse agradecer a você. Obrigado por plantar em mim a semente desse maravilhoso acidente. Brincadeiras à parte… o que eu deveria fazer agora?!

O ar ao nosso redor parecia estranho e quente ao mesmo tempo. Nenhum de nós falou nada e, por um tempo, ficamos apenas olhando um para o outro em silêncio. 

Com o barulho do shopping ao fundo, Nanami-san me olhou sugestivamente. Ela deu um passo à frente, apenas um passo, quando uma voz familiar cortou o barulho. 

— Yoshin? Que coincidência. E quem é esta garota?

Um arrepio percorreu meu corpo.

A voz foi tão inesperada que fez minha mente voltar à realidade, mas eu conhecia aquela voz. Era a voz de uma mulher, uma voz que eu ouvia quase todos os dias e, além de Nanami-san, havia apenas duas pessoas que me chamavam pelo meu primeiro nome. Essa era a voz de uma delas. 

Sim, era a voz da minha mãe. 

— Mãe? Pai também está aqui?

— Hã? Seus pais?!

Quando virei a cabeça em câmera lenta, que muitas vezes seria acompanhada pelo rangido de um brinquedo enferrujado, vi meus pais ali: minha mãe, Shinobu Misumai, e meu pai, Akira Misumai. Eles estavam de mãos dadas e carregavam sacolas de compras. 

Espere um minuto... Mãe, pai, o que vocês estão fazendo? 

Minha mãe deve ter percebido a direção do meu olhar, porque ela levantou a mão que estava entrelaçada com a do meu pai e fez um gesto para me mostrar.

— O quê é isso?

Como devo reagir a isso, mãe? 

— Por acaso saímos do trabalho mais ou menos na mesma hora, então decidimos fazer um pequeno passeio para fazer compras. Fazemos isso de vez em quando. Você não sabia?

Eu não fazia ideia. Nunca tinha ouvido falar disso e, mesmo que tivessem me contado, não saberia como reagir. 

— Não é natural dar as mãos para a pessoa de quem você gosta? Ah, e a propósito, vamos comer porco com gengibre no jantar.

— Querida, não sei se devemos dizer coisas assim para o nosso filho.

Como sempre, minha mãe mantinha seu olhar direto enquanto expressava sem hesitação seu amor pelo marido. Meu pai, por outro lado, segurava a cabeça com a mão que ainda segurava a sacola de compras. 

Minha mãe era uma “kudere”. O tipo de pessoa que parece fria por fora, mas é muito generosa em suas demonstrações de afeto com as pessoas de quem gosta.

Não que eu queira categorizar minha mãe em, mas se tivesse que fazê-lo, ela seria isso. 

Ela sempre parecia calma por fora enquanto dizia ao meu pai o quanto o amava. Os dois também eram muito carinhosos em casa. Meu pai sempre recebia de coração aberto os gestos românticos da minha mãe, mas parecia que hoje, por estarem em público, ele estava um pouco envergonhado.

Isso também pode ter sido porque eu os vi de mãos dadas. Essa também era a razão pela qual eu não saía muito do meu quarto. Quando os dois estavam em casa, geralmente ficavam juntos. Eu não queria atrapalhar. 

— Então, Yoshin, — ainda mantendo seu olhar penetrante, minha mãe levantou a mão com a sacola de compras e apontou diretamente para mim —quem é essa jovem que você beijou na bochecha? Se você a beijou sem a permissão dela, receio que terei que lhe dar uma lição.

Droga, você viu isso? Como vou superar isso? 

Na verdade, agora que pensava nisso, não havia necessidade de mentir para eles sobre nada. Eu só estava um pouco envergonhado porque nunca tinha saído com uma garota antes e eles sabiam disso. Agora que estávamos todos aqui, achei que não tinha escolha a não ser engolir meu orgulho e contar a eles que estava namorando Nanami-san. Dane-se a vergonha. 

— Na verdade...

— Não é isso! — Nanami-san gritou de repente, ainda segurando seu boba enquanto se curvava para meus pais — Ele não me beijou sem permissão, eu juro! Eu sou, hm... Eu sou Nanami Barato e estou namorando Yoshin-kun!

Minha mãe inclinou a cabeça. Ela inclinou tanto que achei que seu pescoço fosse quebrar. 

— Entendo. Você é uma daquelas namoradas de aluguel? Achei que era só depois de entrar para a faculdade que pudessem se inscrever.

Por que diabos você sabe sobre essas coisas, mãe?! 

De qualquer forma, minha mãe não parecia entender o que Nanami-san estava dizendo, pois estava incomumente perplexa. Isso não era surpreendente, considerando que eu, entre todas as pessoas, tinha conseguido uma namorada, sem mencionar que ela parecia uma gyaru total. Se eu estivesse na posição dela, provavelmente também não teria acreditado. Era quase tão inacreditável quanto ouvir que minha mãe ou meu pai tinham tido um caso. 

— É verdade! Eu sou a namorada do Yoshin-kun!

Desesperada para que minha mãe acreditasse nela, Nanami-san imitou minha mãe e segurou minha mão, entrelaçando os dedos, para mostrá-la a ela. Quando minha mãe viu isso, ela deixou cair suas sacolas de compras com um baque alto. Ela deve ter ficado realmente chocada. Eu não via minha mãe agir assim com frequência. 

Meu pai, por outro lado, estava olhando para as mãos de Nanami-san e minhas e acenando com a cabeça, como se estivesse impressionado. 

— Hm, de verdade? —  disse minha mãe — A namorada de Yoshin? Nós, hm... Não devemos ficar aqui parados assim. Talvez haja um café em algum lugar. Ah, mas vocês dois já têm bebidas, então talvez não possamos levá-las para dentro. O que devemos fazer? Hm, bem, uh... Vamos ver...

Minha mãe, que normalmente é tão calma, estava, nessa rara ocasião, visivelmente perplexa. Suas frases estavam quase incoerentes. Eu não esperava que o fato de eu ter uma namorada fosse um choque tão grande. Acho que nunca tinha visto minha mãe tão abalada. Bem, acho que eu sabia como ela se sentia. Não era como se eu já tivesse tido algum envolvimento com garotas. 

— Calma, querida. — disse meu pai — Acho que há uma praça de alimentação por perto, então vamos conversar lá. Vocês dois concordam?

Em total contraste com minha mãe, meu pai estava surpreendentemente calmo, apesar das mãos trêmulas. Talvez ele só conseguisse ficar assim porque minha mãe estava tão fora de si. 

— Você está certo. Eu me empolguei um pouco. Desculpe. Vocês dois concordam? — perguntou minha mãe, que parecia ter recuperado um pouco da compostura após a intervenção do meu pai. 

Nanami-san e eu assentimos em silêncio. Não tínhamos motivos para recusar e, mesmo que recusássemos, eu seria interrogado quando chegasse em casa de qualquer maneira. Ter Nanami-san aqui faria as coisas correrem muito mais suavemente, ou assim eu esperava. 

Nanami-san e eu estávamos apenas tentando aproveitar nosso boba juntos, mas agora veja o que aconteceu. Eu me senti mal por Nanami-san, que me convidou. 

— Nanami-san, você está bem? Tudo bem se você quiser dizer não. Eu posso explicar as coisas para eles quando chegarmos em casa.

Para ser sincero, eu realmente gostaria que ela estivesse lá quando eu contasse a eles, mas se ela não quisesse, eu não poderia forçá-la. Mas Nanami-san balançou a cabeça para minha sugestão, seus olhos cheios de determinação. 

— Não, eu vou com você. — disse ela — De qualquer forma, foi o momento perfeito.

— Momento perfeito para o quê?

Nanami-san hesitou por um momento e então se virou para mim com uma expressão séria.

— O que eu queria perguntar hoje era se você me deixaria me apresentar aos seus pais no próximo fim de semana.

A determinação em seus olhos havia se tornado ainda mais ousada. 

Espere um minuto... O que você acabou de dizer!? Se apresentar?! Nanami-san, você estava pensando em algo assim?

Admito que fiquei surpreso ao ouvir isso. Ao mesmo tempo, algo clicou na minha cabeça, então era por isso que Otofuke-san e Kamoenai-san estavam sorrindo. Eles provavelmente já tinham ouvido da Nanami-san que ela queria conhecer meus pais.

Droga, sinto como se tivesse sido enganado.

— Na verdade, eu queria me vestir um pouco melhor para causar uma boa impressão. Não esperava encontrá-los aqui hoje.

Nanami-san olhou para o uniforme e sorriu sem jeito. Ele tinha sido alterado para se adequar ao seu estilo gyaru típico, com a saia enrolada e mostrando mais pele do que o código de vestimenta realmente permitia. Ela parecia preocupada que sua roupa tivesse causado uma má impressão nos meus pais, mas o que ela disse a seguir acabou me preocupando mais. 

— Acho que não tem jeito... Deve ser o karma.

Ela disse isso em um sussurro suave, talvez sem a intenção de que eu ouvisse. Mesmo assim, minha audição era muito boa. Eu ouvi claramente o que ela disse. Suas palavras expressavam tanto arrependimento quanto remorso, enquanto sua expressão estava tingida de tristeza. 

Karma... Ela provavelmente estava falando sobre o desafio. 

Eu só podia fingir que não tinha ouvido e ajudá-la a se acalmar. Apertei sua mão para tranquilizá-la e sorri suavemente.

— Tudo bem. Eles vão ver como você é legal, independentemente do que estiver vestindo. Eles são meus pais, então você não tem nada com que se preocupar.

— Yoshin...

— Além disso, mesmo que eles digam algo por sermos muito novos, provavelmente não vão nos impedir de namorar.

— É... obrigada.

Nanami-san era uma boa pessoa, independentemente do que vestisse, e eu confiava que meus pais eram o tipo de pessoa que não julgaria alguém por algo tão superficial.

Tudo ficaria bem, certo? Eles ficaram chocados e tudo mais, mas… Eu confio em vocês, mãe… pai... 

♢♢♢ 

Depois que nós quatro chegamos à praça de alimentação, escolhemos uma mesa na extremidade, onde havia poucas pessoas sentadas. Nanami-san e eu ainda tínhamos nossas bebidas, enquanto minha mãe e meu pai compraram chás engarrafados. 

Como se para se acalmarem, os dois beberam metade das garrafas e então soltaram suspiros simultâneos. Então, com os nervos um pouco mais calmos, eles olharam para nós, ou melhor, olharam para Nanami-san. 

— Por favor, deixe-me me apresentar adequadamente. Sou a mãe do Yoshin, Shinobu Misumai. Prazer em conhecê-lo, Barato-san.

— E eu sou o pai dele, Akira Misumai. É um prazer, Barato-san.

— O prazer é todo meu. Por favor, me chamem só de Nanami!

Meus pais se curvaram e Nanami-san, que parecia um pouco nervosa, fez o mesmo. Sem saber o que dizer, eu apenas fiquei sentado ali, observando-os em silêncio. No entanto, quando vi meus pais, abri bem os olhos, chocado. Tanto minha mãe quanto meu pai tinham lágrimas nos olhos. 

— O que há de errado?! Por que vocês dois estão chorando?!

Apesar do meu choque, meus pais nem se preocuparam em esconder as lágrimas antes de falar novamente. 

— Quero dizer, sempre pensamos que nosso filho não tinha interesse em namorar, mas aqui está ele, namorando uma jovem tão adorável. É como um sonho. — disse minha mãe. 

— É, nunca conversamos sobre isso, mas nunca pensei que veria uma cena como essa. É o auge da felicidade para um pai. — acrescentou meu pai. 

Parecia que, apesar de nossas preocupações, meus pais aceitaram Nanami-san no momento em que ela se apresentou. Isso era ótimo, mas eu gostaria que eles parassem de mencionar minha falta de histórico de namoro. Dito isso, percebi que essa era realmente a primeira vez que eles me viam com uma garota.

— De qualquer forma, vocês não foram um pouco rápidos demais em acreditar que estávamos namorando? Quero dizer, é muito melhor do que duvidarem de nós, mas...

Mesmo que eles tivessem acreditado em nós, a reação deles tinha sido exagerada demais. O que eles pensavam de mim para ficarem tão felizes por eu ter uma namorada? 

— Do que você está falando? — perguntou minha mãe — Ela não ficou brava quando você a beijou na bochecha. Vocês dois estavam de mãos dadas como namorados e, mesmo agora, você está segurando a mão dela em segredo, tentando tranquilizá-la. Como vocês dois não poderiam estar namorando?

Nanami-san e eu nos assustamos.

Como diabos minha mãe sabe que estamos de mãos dadas debaixo da mesa?

Ela provavelmente tinha visto através do espaço entre as mesas quando se curvou para Nanami-san mais cedo.

Minha mãe é realmente perspicaz. 

Mas ela estava certa. Acho que era improvável que alguém não acreditasse que estávamos namorando, considerando o que tinham visto. Quero dizer, o beijo foi apenas um acidente, então eu gostaria que eles não tocassem no assunto. Eu especialmente não precisava ouvir isso dos meus pais. 

Quer soubessem ou não como eu me sentia, a atenção dos meus pais parecia estar focada apenas em Nanami-san. 

— Barato-san... Não, Nanami-san, sei que nosso filho tem muitos defeitos, mas espero que você cuide bem dele. — disse minha mãe para ela. 

— Sei que sou parcial como pai, mas acho que nosso filho é incomparável quando se trata de gentileza e sinceridade. Por favor, continue sendo boa amiga dele — acrescentou meu pai. 

Mais uma vez, minha mãe e meu pai se curvaram em uníssono para Nanami-san. Nanami-san parecia confusa, sem saber como responder, mas depois de respirar fundo, ela sorriu. Era aquele mesmo sorriso gentil que eu amava. 

— Claro. Yoshin-kun é uma pessoa maravilhosa.

Eu me virei para olhar para ela. Mesmo agora, eu simplesmente não conseguia me acostumar a ser elogiado de maneira tão direta. Fiquei um pouco envergonhado. 

— Ele é muito gentil e sempre come os almoços que preparo para ele e me diz que estão deliciosos. Mesmo sem tudo isso, ele passa muito tempo comigo. Só isso já me deixa feliz e realizada.

— Almoços?

Ah, droga.

Eu mantinha em segredo o meu relacionamento com Nanami-san, então é claro que também mantinha em segredo a história do bentô. 

O olhar da minha mãe está me perfurando.

Era o olhar que ela dava quando tinha um alvo em vista. Era um olhar de raiva. 

Bem, é claro que ela ficaria com raiva. Eu mesmo causei isso.

Eu cedi instantaneamente e decidi contar tudo para eles. 

Que Nanami-san fazia bento para mim todos os dias. Que eu usava o dinheiro do almoço que meus pais me davam para nossos encontros. Que nossos encontros eram uma forma de agradecer a Nanami-san por cozinhar para mim. Que eu conheci os pais de Nanami-san após nosso primeiro encontro. 

— Espero que você esteja preparado para uma bronca quando chegarmos em casa, Yoshin. — disse minha mãe. 

Ao ouvir a voz trovejante da minha mãe, Nanami-san se prontificou a me defender.

— Foi tudo ideia minha, juro! Eu quis fazer isso, então, por favor, não fiquem bravos com o Yoshin-kun.

Enquanto eu ficava sentado ali, comovido com sua bondade angelical, percebi que minha mãe parecia ainda mais comovida do que eu. 

— Nanami-san, você é uma garota tão legal. Você é quase boa demais para o nosso filho. Yoshin, é melhor você não deixar a Nanami-san ir por nada neste mundo. Se você a deixar triste ou a trair, eu ficarei do lado dela, seja você meu filho ou não.

— Eu nunca faria isso. Eu até prometi aos pais dela que a protegeria e nunca a machucaria. Nanami-san é a garota mais atraente que existe, então é claro que eu nunca a trairia ou a trairia.

— Ótimo. Contanto que você esteja comprometido, você tem o apoio da sua mãe — disse minha mãe. 

Fiquei feliz que ela já aprovasse Nanami-san. Na verdade, parecia que ela estava mais interessada em apoiar minha namorada do que em me apoiar. Aliviado, olhei para Nanami-san e vi que ela estava corando. Além disso, meu pai estava sussurrando algo para ela. 

— Shinobu... Uh, minha esposa e Yoshin têm personalidades muito semelhantes. Quando decidem algo, elas se comprometem mais do que qualquer outra pessoa. Elas têm uma maneira muito direta de expressar suas emoções. — meu pai disse a Nanami. 

— Eu... acho que entendo o que você quer dizer.

Hã? Eu sou como minha mãe? Eu não fazia ideia. E como Nanami-san sabia disso? 

— Não se preocupe, você vai se acostumar mais cedo ou mais tarde. — ele disse. 

— Você acha mesmo? Ele sempre faz meu coração acelerar...

— Bem, admito que também não estou totalmente acostumado com isso. Na maioria das vezes, Shinobu leva vantagem.

— Eu conheço essa sensação.

— Acho que não é uma sensação ruim, no entanto. Ah, e é claro, como pai, estou torcendo por vocês dois.

Meu pai e Nanami-san estavam transmitindo uma estranha sensação de solidariedade, rindo juntos como se tivessem encontrado um companheiro em circunstâncias semelhantes. Fiquei feliz que os dois estavam se dando tão bem, mas…

Eu realmente sou que nem minha mãe? Eu digo coisas embaraçosas como ela? Eu tenho que tomar cuidado daqui em diante… 

De qualquer forma, eu não tinha percebido que meu pai não estava acostumado com a maneira como minha mãe demonstrava afeto. Embora eu sempre o veja parecendo que está sendo derrubado pelos pés da minha mãe e eles sempre foram tão amorosos juntos. 

Nanami-san, você parece totalmente convencida pelo que meu pai está dizendo, mas sinto que é você quem sempre faz meu coração acelerar. Por que você concorda tanto com ele? Acho que vamos ter que conversar sobre isso em algum momento.

— Por falar nisso, Yoshin, se você realmente gosta da Nanami-san, então com certeza pode nos dizer o que você gosta tanto nela, não é? Eu posso listar dezenas de coisas que gosto no seu pai.

— Vou te contar tudo o que gosto na Nanami-san, sem problema, mas por favor, não faça isso aqui, mãe. Estamos em público. Há outras pessoas por perto. — disse eu, tentando controlar minha mãe.

— Hmm, você está certo. Eu me empolguei um pouco. Peço desculpas.

Com ela finalmente sob controle, decidimos encerrar o assunto por ali. 

Uau, estou tão feliz que tudo tenha acabado bem.

Tínhamos vindo apenas para comprar boba, mas as coisas tomaram um rumo inesperado. Disse a mim mesmo que teria que compensar Nanami-san em algum momento.

— Bem, então, vamos dar uma carona para Nanami-san até em casa? Adoraríamos conhecer seus pais também, Nanami-san — disse meu pai. 

— Ah, não, por favor, não se preocupe com isso — respondeu Nanami-san. 

— Não podemos deixar isso assim. Mesmo que não soubéssemos, foi muito rude da nossa parte não agradecer a eles por tudo.

Meu pai se levantou e pegou as chaves do carro. Ele provavelmente disse tudo isso com o objetivo oculto de me repreender. Ele olhou para mim e sorriu. Eu nunca tinha pensado nisso, mas acho que meus pais achavam que eu não tinha sido atencioso o suficiente. Acho que ele estava certo, de certa forma.

Enquanto me levantava, ainda refletindo sobre minhas ações, olhei para Nanami-san e minha mãe e vi que elas estavam trocando informações de contato. Eu sei que também troquei informações de contato com Genichiro-san, mas isso era normal? Era algo normal de se fazer? Eu estava com medo de perguntar quem tinha pedido para fazer isso primeiro. Era uma cultura totalmente diferente da minha. 

Minha mãe, alheia aos meus pensamentos, olhava para Nanami-san com um olhar gentil. 

— Nanami-san, sei que é pedir muito, mas espero que cuide bem do nosso filho. Se acontecer alguma coisa, não hesite em nos avisar. Estaremos à sua disposição.

— Obrigada, Shinobu-san. Também estarei à sua disposição. E, por favor, deixe os almoços do Yoshin-kun comigo!

Nanami-san endireitou a postura e bateu com o punho no centro do peito. Parecia que ela estava animada com todos os bentôs que viriam. 

— Se você quiser, — acrescentou minha mãe — vou enviar algumas fotos do Yoshin quando ele era pequeno. Se tiver algum pedido, é só me avisar.

— Eu adoraria!

Que tipo de acordo assustador essas duas estão fazendo?! Droga, devo pedir ao Genichiro-san fotos antigas da Nanami-san? Não, acho que não tenho coragem. Além disso, nem sei como pedir. Ele pode até ficar chateado. 

Sem saber da minha frustração, minha mãe e Nanami-san estavam se abraçando como se tivessem chegado a algum tipo de entendimento.

Sério, eu mal tirei os olhos delas e agora elas estavam se abraçando!

Meu pai e eu observamos e sorrimos, depois saímos da mesa para jogar o lixo fora. Acho que era bom que eles estivessem se dando bem. Talvez eu estivesse em negação, mas deveria deixar as coisas como estavam. 

— Mas Yoshin, — disse meu pai enquanto lidava com o lixo — mesmo que Nanami-san esteja preparando o almoço para você, o que você vai fazer a partir de amanhã à noite?

Amanhã à noite? O que ele quer dizer? Ele está falando sobre o jantar?

— O que você quer dizer? Está acontecendo alguma coisa? — perguntei.

— Íamos conversar com você sobre isso quando chegássemos em casa, mas tanto sua mãe quanto eu vamos viajar a trabalho por um período bastante longo a partir de amanhã.

De vez em quando, meus pais viajavam a trabalho por períodos consideravelmente longos.

Deve ser difícil ser adulto.

— Uau, isso é muito repentino. Quanto tempo vocês vão ficar fora? — perguntei. 

— Mais ou menos um mês. Você ficará sozinho em casa durante esse tempo. Talvez seja uma boa oportunidade para você aprender a cozinhar.

Era raro meu pai dizer algo assim. Não muito tempo atrás, eu provavelmente teria ignorado isso como algo muito trabalhoso, mas agora... 

— Você está certo. Não posso comer torradas e macarrão instantâneo todos os dias. Talvez eu tente.

Quando Nanami-san e eu cozinhamos juntas naquela vez em que ela veio à minha casa, foi surpreendentemente divertido, embora isso provavelmente tenha sido porque eu estava cozinhando com Nanami-san. Mas meu pai estava certo ao dizer que a viagem deles era uma boa oportunidade para aprender uma ou duas coisas. Assim, no futuro, eu poderia retribuir o favor à Nanami-san. Talvez trocar pratos para o almoço fosse até divertido, apesar da dificuldade. 

Sim, é uma boa ideia.

Meu próximo objetivo deve ser aprender a cozinhar. Eu já tinha conseguido cumprir o objetivo do beijo da Shibetsu-senpai, mesmo que tivesse sido por mero acaso. 

Nesse momento, percebi que Nanami-san estava atrás de mim. Meu pai e eu nos viramos, surpresos. Minha mãe ficou igualmente alarmada com a aproximação rápida de Nanami-san. 

— Desculpem, mas eu ouvi... Vocês disseram que não estarão em casa a partir de amanhã? — perguntou Nanami-san. 

Meu pai pareceu um pouco surpreso com a pergunta direta de Nanami-san, mas mesmo assim conseguiu responder.

— Ah, sim. Minha esposa e eu vamos viajar por um tempo, então receio que Yoshin terá que cuidar de si mesmo durante esse período.

— É mesmo?

Nanami-san levou a mão aos lábios, parecendo refletir sobre a resposta do meu pai. De vez em quando, ela olhava para mim de soslaio, mas permanecia em silêncio, absorta em pensamentos. Ela parecia ter dificuldade em colocar seus pensamentos em palavras, porque várias vezes ela começava a falar e imediatamente fechava a boca. 

Meu pai e eu, assim como minha mãe, que havia se aproximado, observávamos pacientemente. 

Depois de mais um minuto, Nanami-san cerrou o punho e, como se para se encorajar, murmurou um pequeno “tudo bem!”. Ela então se virou para meus pais para se dirigir a eles. 

— Hm, enquanto vocês dois estiverem fora…

Nanami-san fez uma pausa, respirando fundo. Então, como se para expressar o ar que havia inspirado, ela disse suas próximas palavras com muita clareza.

— Enquanto vocês dois estiverem fora, tudo bem se eu visitar Yoshin-kun na sua casa e preparar o jantar para ele?

Hã? Era isso que você estava pensando?

Tanto minha mãe quanto meu pai ficaram igualmente rígidos, surpresos com a sugestão dela. Parecia que Nanami-san estava ficando um pouco fora de controle.



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