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CAPÍTULO 2 - CORAGEM E AS PALAVRAS CERTAS

Atualizado: 2 de nov.

— Ah, eu acho que isso não vai dar certo.

Ao voltarmos das compras, nos deparamos com a mãe de Nanami-san e suas palavras de desaprovação.

Quer dizer, essa era a resposta esperada, né?

Eu não fiquei nem um pouco surpreso, mas Nanami-san estava fazendo beicinho em sinal de discordância. Até meus pais expressaram relutância em relação ao pedido de Nanami-san. 

Os pais de ambos chegaram à conclusão de que, embora já tivesse acontecido uma vez, não seria apropriado que dois estudantes do ensino médio continuassem se encontrando em casa todas as noites por tanto tempo. Quanto à única vez que isso já havia acontecido, eu ia levar uma bronca dos meus pais, mas isso era outra história. 

Mesmo assim, Nanami-san insistiu e conseguiu até mesmo levar a conversa para o fato de que tudo bem, desde que nossos pais dessem permissão. Nanami-san era uma ótima negociadora.

Eu não teria sido capaz de fazer isso.

Mas, como você já ouviu, Tomoko-san não deu permissão. Essa era a história até agora. 

— Mas, mãe, você disse que ia apoiar a gente!

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — disse Tomoko-san.

Ela estava sorrindo, mas de uma forma que deixava claro que não mudaria de ideia. Provavelmente não era uma boa ideia discutir.

— Eu disse que apoiaria vocês, mas é claro que não vou deixar dois jovens nessa idade ficarem sozinhos juntos todas as noites.

Nanami-san ainda estava fazendo beicinho de insatisfação, mas eu tinha que admitir que também concordava com Tomoko-san. Mas, para ser claro, não era porque eu não queria passar tempo com Nanami-san. 

Embora eu seja grato pela sugestão de Nanami-san… 

Não só eu poderia passar todas as noites com ela, como também poderia apreciar sua culinária. Não conseguia pensar em nada que me deixasse mais feliz. O problema era que seria todas as noites. Eu tinha certeza de que não conseguiria lidar com o fato ficar sozinho com ela todas as noites, principalmente em termos de manter minha sanidade. 

Mesmo durante aquela única noite que passamos juntos, quase acabei abraçando-a por trás, mas isso seria todas as noites. Eu sabia que acabaria cometendo um grave erro em algum momento. Não havia como eu estar disposto a arriscar isso. Eu simplesmente não poderia ser aquele que magoaria Nanami-san. 

Eu estava começando a sentir que Nanami-san estava se acostumando a estar perto de mim. Além disso, até mesmo minha professora havia dito que ela era uma influência positiva para mim. Eu não iria deixar que minhas ações manchassem a reputação dela. 

No início, meus pais pareciam um pouco surpresos com Genichiro-san, mas agora os três estavam conversando e rindo, então parecia que meus pais também eram bastante adaptáveis quando se tratava de situações inesperadas. Isso significava que apenas Tomoko-san era o alvo da persuasão. Talvez essa dinâmica de poder fosse comum em muitos lares. 

— Fico feliz em apoiá-los, desde que mantenham os limites adequados de um relacionamento apropriado para o ensino médio. Mas você está certa, talvez devêssemos esclarecer as coisas primeiro. — Tomoko-san inclinou a cabeça e olhou para meus pais. — Vocês mencionaram que estarão fora da cidade por causa de uma viagem de negócios. Um mês, né?

— Isso mesmo. Minha esposa e eu trabalharemos em locais diferentes por cerca de um mês e só poderemos voltar para casa quando tivermos uma folga. — respondeu meu pai. 

— É a primeira vez em muito tempo que temos que ficar fora por tanto tempo — acrescentou minha mãe — No passado, meu marido e eu nunca tivemos que viajar ao mesmo tempo, mas mesmo assim, tenho certeza de que deixamos Yoshin bastante solitário com um de nós fora.

Ela realmente não precisava levar isso tão a sério. É claro que, no início, houve momentos em que me senti solitário, mas, no geral, eu ficava em casa jogando videogame mesmo. Agora que estava no ensino médio, até mesmo essa solidão tinha praticamente desaparecido, então não havia nada para me sentir tão mal. Eles estavam trabalhando para me sustentar, então eu só tinha gratidão pelos meus pais, embora eu não tivesse a audácia de dizer isso diretamente a eles. 

Em seguida, Tomoko-san desviou o olhar para Nanami-san. Parecia que ela estava sorrindo um pouco mais do que há pouco.

— E você quer preparar o jantar para Yoshin-kun. É isso mesmo, Nanami?

— Sim, porque Yoshin não sabe cozinhar... Quer dizer, eu não deveria estar inventando isso. — Nanami-san balançou a cabeça uma vez e então levou as mãos ao peito, voltando uma expressão séria para sua mãe. — Eu só quero cozinhar para Yoshin. Quero que ele coma mais e mais da comida que eu preparo. É assim que me sinto.

Nanami-san!? Você tem pensado nisso? 

Todos os adultos na sala soltaram um suspiro de admiração. Eu não aguentava o olhar que meus pais estavam me lançando, então disse a mim mesmo para esquecer esse olhar por enquanto. Ainda assim, eu realmente apreciava a generosidade de Nanami-san e me senti hesitante sobre o assunto. 

Com minha hesitação e minha gratidão em conflito, eu estava prestes a dar algum apoio a Nanami-san quando Tomoko-san finalmente voltou seu olhar para mim.

— E você gostaria de aproveitar esta oportunidade para aprender a cozinhar. É isso mesmo, Yoshin-kun?

Sua pergunta ecoou o que eu havia dito ao meu pai anteriormente, então respondi instintivamente.

— Sim, eu gostaria de aprender a cozinhar e gostaria de poder cozinhar para Nanami-san também, então, hm...

Foi então que me lembrei dos olhares que havia recebido anteriormente. 

Minha percepção veio tarde demais. Eu havia esquecido que meus pais estavam lá e acidentalmente deixei escapar a verdade. Os sorrisos da minha mãe e do meu pai estavam ainda mais largos do que antes e eles não estavam olhando para mim.

Espere um minuto... 

Eles estavam olhando para mim, profundamente comovidos, com lágrimas nos olhos. Esses olhares eram diferentes dos olhares provocadores que eles estavam me lançando antes. 

— Ter uma namorada realmente mudou você. — disse minha mãe suavemente. 

— Nunca imaginei que Yoshin pudesse se tornar tão maduro. — acrescentou meu pai. 

Isso é muito embaraçoso!

Nunca pensei que eles ficariam tão emocionados com algo tão insignificante como eu querer aprender a cozinhar. Seus sorrisos provocadores eram mais fáceis de lidar do que esses. Quando olhei para cima, vi que até Nanami-san estava me olhando com profunda emoção nos olhos. 

Sim, eu teria ficado muito mais feliz se tivéssemos tido essa conversa quando estávamos apenas nós dois. Da forma como as coisas estão, só está sendo mais constrangedor e a culpa é minha também. 

Tomoko-san assentiu com satisfação, depois bateu palmas uma vez, como se quisesse mudar o clima ao nosso redor. O som refrescante ecoou pela sala, e os olhos de todos se voltaram para ela. 

— Então, por que não fazemos isso? — Tomoko-san sorriu, apontando o dedo indicador — Enquanto vocês dois estiverem fora, por que não convidamos Yoshin-kun para jantar na nossa casa? Ele pode cozinhar com Nanami quando estiver aqui.

A ideia de Tomoko-san incorporava os pedidos de Nanami-san e meus. Ela satisfazia o desejo de Nanami-san de que eu comesse mais de sua comida e meu desejo de aprender a cozinhar. Os olhos de Nanami-san brilharam com a sugestão de sua mãe, mas…

Isso é realmente aceitável? 

Embora eu não pudesse deixar de ficar preocupado, vi que meus pais também tinham expressões de preocupação em seus rostos. 

— Acho que não devemos incomodá-los tanto assim. — disse meu pai.

— Concordo, isso já é demais. — acrescentou minha mãe.

A reação dos meus pais foi completamente natural. Mesmo que Nanami-san fosse minha namorada, pedir a ela e à sua família que fizessem tanto por mim parecia errado. Eu estava pensando exatamente a mesma coisa, mas então Tomoko-san nos surpreendeu. 

— Ah, tudo bem! Além disso, não seria um bom treino para a vida futura deles como recém-casados?

Meus pais olharam para Tomoko-san com uma expressão de puro espanto.

— Como assim? Recém-casados?

— Oh… talvez vocês ainda não tenham ouvido falar disso do Yoshin-kun.

Tomoko-san sorria como se estivesse se divertindo muito. Ela parecia uma criança que mal conseguia conter a alegria com a notícia feliz que estava prestes a compartilhar. 

Quando vi aquele sorriso inocente dela, senti um arrepio na espinha. Mas antes que eu pudesse impedi-la, Tomoko-san estava contando aos meus pais tudo sobre meu aparente pedido de casamento. Ela até acrescentou gestos e começou a encenar aquele momento com Genichiro-san. Mesmo que eu pedisse, não havia como ela parar. 

Genichiro-san, tenho certeza de que minha voz não era nem um pouco sedutora assim! Por favor, não exagere no que eu disse. E por que você é tão bom em atuar, afinal!? Você definitivamente não é um funcionário de escritório comum, não é?! Meu Deus, pelo menos não faça isso quando as pessoas em questão estiverem na sala! Até Nanami-san está ficando vermelha. 

Eu queria fugir para bem longe, mas não havia como escapar e, assim, a encenação ridícula continuou. Quando a apresentação finalmente terminou, meus pais, especialmente meu pai, estavam sorrindo como loucos. Minha mãe parecia calma como um pepino, mas seus olhos traíam sua diversão. 

Tirem-me daqui! 

— Se for esse o caso, ficaríamos muito gratos se você cuidasse dele. É claro que pagaremos pelos custos adicionais com sua alimentação.

Parecia que meus pais agora estavam aliados a Tomoko-san, pois estavam se curvando para os pais de Nanami-san. Os pais de Nanami-san também se curvaram em resposta. 

Atordoado, eu só conseguia observar a cena. Eu me sentia como se minha alma tivesse deixado meu corpo. 

— Você não deve se preocupar, já que todos nós seremos uma família eventualmente. No entanto, acho que se eu estivesse na sua posição, sentiria que deveria pagar também, então aceitarei sua oferta com gratidão.

Fiquei aliviado por finalmente podermos encerrar esse desastre, mas, ao que parecia, ainda não tinha acabado. Genichiro-san simplesmente não deixava o assunto morrer. 

— Quando você voltar da viagem de negócios, vamos marcar de comer algo preparado pelo jovem casal feliz! — disse ele aos meus pais. 

De quem você está falando, Genichiro-san?! 

Eu podia sentir minha alma voltando ao meu corpo. Eu sabia que precisava dizer alguma coisa, mas não sabia o quê. Se eu negasse o pedido de casamento, abriríamos uma caixa de Pandora sobre eu não querer me casar com Nanami-san. Mas se eu não negasse, eles começariam a planejar nossa vida de casados. 

Considerando tudo isso, acho melhor ficar em silêncio.

A partir daí, nossos pais começaram a discutir as coisas entre si. Eles começaram falando sobre os custos dos alimentos e depois passaram a falar sobre o trabalho que todos faziam. Neste momento, as conversas se dividiram em duas: Uma entre as duas mães e outra entre os dois pais. Era um território em que Nanami-san e eu não podíamos entrar. Como resultado, ela e eu acabamos ficando sentados ali. 

Enquanto eu pensava no que fazer, Nanami-san teve uma ideia chocante.

— Vamos para o meu quarto, Yoshin? — ela perguntou.

— Hã?

— Mãe, pai, vamos para o meu quarto. Avisem quando terminarem de conversar!

Enquanto eu ficava sem palavras de choque, Nanami-san pegou minha mão e me levou para o quarto dela. Tomoko-san e Genichiro-san nos deram permissão e acenaram para nós. 

Como vocês dois podem aceitar isso?! Sua filha está levando um cara para o quarto! Se eles estão permitindo isso, qual foi o sentido daquilo sobre estudantes do ensino médio ficarem sozinhos juntos? Eles estão apenas me mostrando que confiavam que eu não faria nada engraçado? Tipo, não que eu pudesse fazer algo assim. Meus pais estão aqui também...

Agora que eu pensava sobre isso com mais calma, a situação parecia muito diferente. Talvez eu estivesse mais nervoso do que imaginava. A porta do quarto de Nanami-san tinha uma pequena placa com o nome “Nanami” escrito em hiragana. Era uma placa de madeira em forma de coração que parecia ter sido feita à mão. 

— Ah, eu fiz isso na aula de artes quando estava no ensino fundamental. Eu ia tirar, mas minha mãe disse que é fofo e pediu para eu deixar.

Parecendo um pouco tímida, Nanami-san me convidou para entrar. 

Pela primeira vez na vida, eu estou prestes a entrar no quarto de uma garota. Como eu deveria entrar? 

Com o coração batendo forte, entrei. 

Havia uma narração na minha cabeça, contando esse passo histórico. A música de fundo que acompanhava parecia excessivamente grandiosa. E o primeiro quarto de garota em que entrei, o quarto da Nanami-san, era muito bonito. Era realmente muito bonito, como a noite e o dia em comparação com o meu próprio quarto. Eu pensei que poderia ser um quarto bagunçado, do tipo gyaru, mas eu não tinha ideia de como era um quarto do tipo gyaru. 

O quarto de Nanami-san, com sua paleta de cores brancas, evocava uma atmosfera muito relaxante. Eu não olhei muito ao redor porque achei que seria rude, mas o quarto estava organizado e tinha um cheiro agradável.

Todos os quartos de meninas tem um cheiro tão bom assim?

Era minha primeira vez, então eu não tinha ideia. Enquanto eu ficava ali, sem saber o que fazer nessa terra desconhecida, Nanami-san me chamou. 

— Venha sentar aqui, Yoshin. — ela disse, puxando uma almofada rosa fina para o chão. 

Não, espere. Essa não era uma almofada comum. Era rosa claro, rendada e muito fofa. Ou seja, era totalmente diferente das almofadas finas que eu estava acostumado a usar no meu quarto. 

Sentei-me na almofada que ela havia colocado, mas Nanami-san não pegou uma para ela. 

Ela VAI se sentar na cadeira da mesa?

Isso nos daria uma grande diferença de altura, colocando a saia dela bem na minha linha de visão, tornando difícil para mim saber para onde olhar. Mas, naquele momento, Nanami-san sentou-se silenciosamente um pouco afastada de mim e... 

— Uhuuu!

— Nanami-san?!

Eu normalmente me sentava de pernas cruzadas no chão, mas dessa vez estava sentado sobre os calcanhares porque estava nervoso. Aproveitando-se disso, Nanami-san colocou a cabeça em uma das minhas coxas. 

Espere, ela colocou a cabeça no meu colo?! Eu nunca imaginei que chegaria o dia em que uma garota colocaria a cabeça no meu colo. Normalmente não é o cara que coloca a cabeça no colo da garota?

ree

Tomado pela ansiedade, comecei a sentir o calor de Nanami-san se espalhando pelas minhas pernas.

— Nossa, você realmente malha. Sua coxa é bem firme, parecida com um travesseiro de espuma com memória.

De repente, Nanami-san passou a mão pelo meu joelho e pela minha coxa, sorrindo para mim como se estivesse gostando da sensação.

O que você está fazendo, Nanami-san?! 

Com minha coxa sendo apalpada tão livremente, uma sensação estranha começou a subir pela minha espinha. Não era uma sensação desconfortável. Na verdade, era bastante agradável, mas...

Hmm… Nanami-san, todo esse toque está me deixando estranho. Aguente firme, Yoshin! Você tem que aguentar! Pense em outra coisa! 

Sem saber ou não do dilema que eu estava enfrentando, Nanami-san sorria suavemente para mim. Então, tirando a mão da minha coxa, ela estendeu a mão em direção ao meu rosto. O calor da palma da mão dela percorreu minha bochecha. 

Enquanto eu a encarava, sem saber como reagir, ela sussurrou para mim com uma voz suave e bonita. 

— Ei, Yoshin, sei que você vai se sentir solitário com seus pais fora a partir de amanhã. Mas se você e eu pudermos passar mais tempo juntos e se você for jantar na minha casa, você não vai se sentir tão triste, certo?

Foi então que finalmente entendi. Nanami-san estava agindo dessa maneira porque queria me confortar. Os olhos que me olhavam eram incrivelmente gentis e senti os cantos da minha boca se curvarem para cima. 

Ah… ela provavelmente se sentiu muito tímida para me deixar colocar minha cabeça em seu colo, então acabou fazendo isso. Não é embaraçoso de todo jeito!?

Senti que ela não tinha resolvido completamente a questão do constrangimento, mas ainda assim fiquei muito grato por sua consideração. Só o fato de ela ter pensado em mim me fez sentir todo aquecido por dentro. 

— No passado, eu poderia ter me sentido solitário, mas agora estou bem. Gosto de jogar jogos no meu quarto.

O sorriso de Nanami-san se iluminou. Talvez ela pensasse que eu estava apenas tentando parecer durão ou talvez ela pensasse outra coisa. De qualquer forma, o calor de sua mão era incrivelmente bom. 

— Ah, é? Acho que me sentiria meio solitária. Ei, que tipo de jogos você está jogando agora, a propósito?

— No momento, jogo principalmente os coorperativo online. Faço isso no meu computador enquanto converso no meu celular. Faço parte de uma equipe, então geralmente jogamos em grupo.

— Eu nem sabia que dava para jogar assim no computador. Hmm, entendo. Nunca joguei antes. Gostaria de experimentar algum dia. Você acha que poderíamos jogar juntos?

Jogar um jogo juntos, hein? Peach-san está começando a se abrir, então talvez dê certo. Devo perguntar ao time quando chegar em casa. Baron-san disse que seria legal se pudéssemos jogar todos juntos, então ele provavelmente não se importaria, mas devo perguntar a todos os outros, por via das dúvidas. 

— Tenho certeza de que temos uma vaga na nossa equipe. Vou perguntar à todos na próxima vez.

— Obrigada. Isso seria ótimo.

Minha conversa com Nanami-san, que continuava com a cabeça apoiada no meu colo, transcorreu pacificamente. De vez em quando, ela movia as pernas para mudar de posição, e eu não conseguia evitar olhar naquela direção. Quando pensei nisso, lembrei-me de que ainda estávamos com nossos uniformes escolares, o que significava que a saia dela ainda estava enrolada, super curta. Cada vez que ela se movia, Nanami-san olhava para mim e sorria, como se dissesse: “Algo chamou sua atenção?” Meu coração não parava de bater forte. 

Nossa conversa foi ficando mais lenta e, quando o silêncio finalmente se instalou entre nós, Nanami-san murmurou algo. 

— Minha bochecha...

— Hã?

— Você me beijou na bochecha. Seus pais devem ter visto também.

Ela estava falando sobre o incidente na loja de boba. Lembrei-me do que tinha acontecido e corei. 

— Desculpe, devo ter te assustado. Foi um acidente, juro.

Nanami-san balançou a cabeça, o movimento fazendo cócegas suavemente em minhas coxas. 

— Fiquei surpresa, mas fiquei feliz, já que foi você quem me beijou.

Nanami-san olhou para mim com um olhar sonhador nos olhos. Ela colocou a mão na bochecha onde meus lábios a tocaram e então estendeu a mão novamente em direção à minha bochecha 

— Mas, na verdade, eu queria ter sido a primeira a fazer isso.

E com isso, senti como se alguém tivesse me batido na cabeça com um objeto contundente. 

Mantenha a calma, Yoshin... 

Não importava o que ela dissesse de adorável para mim, nossos pais estavam lá embaixo. Se eu tentasse fazer algo estranho, seria retirado do jogo imediatamente e eles perderiam toda a confiança que eu havia construído neles. Isso não significava que eu tentaria algo se os pais não estivessem por perto, mas... eu tinha permissão para acariciar o cabelo dela, pelo menos.

Certo? 

Lentamente, estendi a mão para o cabelo dela, perguntando com o olhar se poderia tocá-lo. Nanami-san assentiu sem dizer nada e, naquele mesmo momento, coloquei a mão na cabeça dela. Seu cabelo macio e sedoso deslizou entre meus dedos. Parecia seda, e a sensação era viciante. 

Sentindo meus dedos passando por seus cabelos, Nanami-san olhou para mim com os olhos semicerrados. Ela e eu nos olhamos em silêncio, mas, naquele momento, ouvimos Tomoko-san nos chamando.

— Nanami, acabamos de conversar! É hora de dar boa noite, então por que vocês dois não saem?

Ah, sim, é assim que funciona, não é? Momentos como esse são sempre interrompidos. 

O timing foi tão impecável que parecia que eles estavam nos observando, mas eu não fiquei desapontado. Nanami-san parecia igualmente pouco surpresa. Ela sorriu com pesar e se levantou do meu colo. Fiquei um pouco triste com o peso confortável de sua cabeça agora ausente. O que restou foi a sensação que senti ao acariciar seu cabelo.

Fomos até a porta da frente, onde nossos pais estavam esperando, e a família Barato se despediu de nós.

— Vejo você amanhã, Yoshin. Vou te ensinar a cozinhar.

— Sim, estou ansioso por isso também.

Nanami-san sorriu alegremente, sem revelar nada da atmosfera anterior entre nós dois. Eu sorri de volta. Se alguém descobrisse, eu não sabia o que diriam para nós, mas…

É isso mesmo, a partir de amanhã, eu vou voltar para casa de Nanami-san depois da escola. Isso parece... 

— É como um casamento à distância, não é?

Tomoko-san expressou exatamente o que eu estava pensando, mas não conseguia dizer. Nanami-san e eu ficamos vermelhos. E assim, naquele dia, os Misumais e os Baratos começaram um relacionamento entre as famílias. 

♢♢♢

A primeira coisa que fiz depois de chegar em casa da nossa reunião “familiar” foi contar para meus colegas de equipe. Eu esperava pedir conselhos para Baron-san e companhia sobre o que fazer daqui para frente, mas... 

BARON: Hm, Canyon-kun, o que mais você poderia me perguntar? Eu já ensinei tudo o que tinha para ensinar. Além disso, tenho certeza de que você já é um namorado certificado.

Talvez fosse apenas minha imaginação, mas senti como se pudesse ver Baron-san segurando a cabeça com as mãos.

PEACH: O que eu quero saber é como você consegue fazer com que as duas famílias se deem tão bem em tão pouco tempo.

Peach-san parecia tão exasperada quanto eu. 

Eu nunca tinha conhecido nenhum dos dois na vida real, mas só pelas mensagens de texto, eu podia sentir surpresa, consternação e outras emoções semelhantes, mas não sabia como responder. 

CANYON: Mas sinto que estou ainda mais perdido do que antes... 

Essa era a verdade sincera, afinal, as coisas entre Nanami-san e eu tinham avançado tão rápido que agora era um assunto que envolvia toda a família. 

CANYON: Baron-san, você é casado, certo? Você não pode me dar algumas dicas sobre o que devo dizer aos pais dela? Isso é demais para um estudante do ensino médio lidar. 

BARON: Sério, estudantes do ensino médio normalmente não têm esse tipo de preocupação. Não sei o que poderia dizer a você. 

Senti que tinha chegado a um beco sem saída. 

PEACH: Ah, a propósito, Canyon-san, você não se meteu em encrenca? 

CANYON: Em muitas. 

Era verdade que depois de chegarmos em casa e jantamos, meus pais me repreenderam por um bom tempo. Eles me repreenderam mais e com mais severidade do que nunca, tanto que achei que não teria fim. 

Era de se esperar, na verdade. 

Para falar a verdade, os dois tinham a sensação de que algo estava acontecendo comigo, mas achavam que eu tinha feito um novo amigo ou algo assim. A ideia de eu ter uma namorada os deixou chocados. 

Até então, tudo estava bem. Eles não ficaram bravos comigo por ter escondido o fato de ter uma namorada. Isso também não foi surpresa. Eles ficaram bravos comigo porque eu não contei nada sobre o uso alternativo do meu dinheiro do lanche e por ter causado problemas para a família da Nanami-san.

É claro que eles ficariam bravos. Eu não podia discutir isso. 

Eu simplesmente aceitei o fato de que seria repreendido. Meus pais, porém, estavam meio zangados e meio extasiados, então não pude deixar de me sentir um pouco confuso. Assim que fui liberado da bronca dos meus pais, fui direto para o meu quarto para conversar com Baron-san. 

BARON: Se tivesse que te dizer alguma coisa, talvez seja para você cair nas graças do pai dela. Ele já gosta de você, então…. Não, não é como se vocês pudessem tomar bebida alcoólica, na sua idade... 

Baron-san estava quebrando a cabeça para dar sugestões. Eu quase chorei, de tão grata que fiquei, mas no final, não conseguimos pensar em nada que parecesse certo. 

BARON: Acho que você só precisa conquistar a confiança deles aos poucos. Tipo, você é apenas um estudante do ensino médio, então não precisa se preocupar, se é que você me entende. 

CANYON: Devagar e sempre é melhor, né? Certo. Vou tentar. 

Com isso, estava decidido: Eu teria que construir meu relacionamento com a família dela aos poucos. 

Ainda assim, eu me perguntava o que Baron-san tinha feito para obter a aprovação de seus sogros. Mesmo que eu ainda não pudesse tentar, eu guardaria isso em mente para o futuro. 

CANYON: O que você fez para que seu sogro gostasse de você, Baron-san? 

BARON: No meu caso, o pai dela gosta muito de beber, então eu fazia o possível para acompanhá-lo sempre que podia. Não aguento muito álcool, mas queria me casar com minha esposa, então me esforcei para aumentar minha tolerância. Para ser sincero, é uma abordagem um pouco antiquada. 

Beber, hein?

Essa foi realmente uma estratégia que só pude tentar mais tarde. Eu me perguntava se Genichiro-san gostava de beber, mas a atitude de querer dar o meu melhor por desejar casar com minha parceira era algo que eu sentia que deveria tentar imitar.

Talvez, no final das contas, o quanto você estava disposto a se esforçar dependesse do quanto você se importava com seu parceiro. Além disso, era muito cedo para falar em casamento.

O importante era que eu fizesse o meu melhor, certo? Então, para quem estou inventando desculpas?

Eu me perguntei, mas sim, eu deveria me esforçar ao máximo, a partir de amanhã. Isso não pode ser uma coisa ruim. 

De repente, recebi outra mensagem da Peach-san. 

PEACH: A propósito, Canyon-san, você diz à sua namorada que gosta dela? Todos os dias, quero dizer. 

Desde o dia em que Nanami-san e eu saímos para o nosso encontro, Peach-san parou com todos os comentários negativos sobre Nanami-san. Na verdade, ela parecia até estar nos incentivando.

As pessoas mudam de ideia, eu acho. 

CANYON: Se eu digo que gosto dela? É meio constrangedor, então não digo isso com frequência. Espera, talvez eu nunca tenha dito isso agora que penso nisso. 

Eu sabia que, depois do nosso primeiro encontro, acabei murmurando para mim mesmo que gostava muito dela, mas agora que alguém apontou isso, percebi que nunca tinha dito isso diretamente para Nanami-san. Por mais que eu pensasse nos últimos dias, não tinha nenhuma lembrança de ter dito isso.

Não, espere. Talvez eu tenha dito uma vez, mas com certeza não estou dizendo isso à ela todos os dias… Isso é mais do que certo. 

Com o passar do tempo, fui me acostumando cada vez mais a dizer a ela que ela era bonita ou que ficava bem com aquela roupa, mas dizer em voz alta que gostava dela era muito embaraçoso para pensar. Honestamente, eu simplesmente não conseguia dizer isso. Mesmo hoje, quando o clima estava todo romântico, eu não conseguia dizer a ela. Além disso, acho que esse pensamento nem passou pela minha cabeça. 

Quando viu minha resposta, Peach-san explodiu em uma onda de desaprovação.  

PEACH: Isso não é nada bom! Os homens sempre acham que suas parceiras sabem o que eles sentem, mesmo que não digam nada, mas as mulheres não têm ideia, a menos que você diga! Você tem que dizer a ela que gosta dela! 

Não, espere. Eu não sou como todos aqueles outros caras que acham que a garota vai saber que eles gostam dela. Eu sou tão covarde!? Desculpe. 

BARON: Uau, Peach-chan, você está sendo muito prestativa, né? Estou surpreso, mas não posso dizer que não estou feliz. 

O que está acontecendo com você, Peach-san? Você está sendo super assertiva.

Ela realmente parecia estar me ajudando…

Ou será que está ajudando Nanami-san?

Eu me perguntava o que havia motivado sua mudança de opinião. Não era de se admirar que Baron-san estivesse tão surpreso. Eu me sentia da mesma forma. É claro que era bom que Peach-san agora apoiasse meu relacionamento, mas eu estava curioso para saber por que ela havia mudado de ideia.  

CANYON: É bom ver pela perspectiva de uma mulher. Por curiosidade, isso é por experiência pessoal? 

PEACH: Não, mas é assim que funciona nos mangás shoujo. Além disso, eu gostaria que a pessoa de quem gosto me dissesse que gosta de mim. 

Baron-san estava tirando seus conselhos para mim da internet, enquanto Peach-san parecia estar tirando os dela dos mangás shoujo, embora eu ache que isso incluísse suas próprias ideias também. Talvez eu tivesse ganhado outra aliada confiável. 

PEACH: Você vê isso o tempo todo nos mangás, tipo, o personagem masculino age de forma fria com a protagonista feminina e, enquanto a garota tenta descobrir o que está acontecendo, um rival bonito tenta se aproximar e roubá-la. Tipo, as duas partes não conseguem ser honestas uma com a outra e tals. 

BARON: Ah, acho que já ouvi algo assim antes. Algo sobre homens e mulheres expressam seu amor de maneiras diferentes ou algo assim. 

Existem histórias assim?

Mesmo quando pegava uma história de amor ocasionalmente, na maioria das vezes os protagonistas eram homens. Nessas histórias, os protagonistas masculinos frequentemente eram influenciados por várias personagens femininas, então foi revelador ouvir coisas da perspectiva feminina.

Talvez eu deva tentar ler um mangá shoujo da próxima vez. 

Eu me abstive de participar da conversa e, em vez disso, observei a troca de ideias entre meus dois amigos. Peach-san era a mais falante dos dois. 

PEACH: Canyon-san, se você não consegue dizer isso, pode começar mandando uma mensagem para ela. Não precisa de textão. Por favor, fala o que você sente por ela. Caso contrário, as meninas começam a se sentir inseguras. Se vocês dois terminarem por uma coisa tão besta assim, eu vou ficar muito chateada. 

Não sabia dizer se o que Peach-san estava dizendo era uma prática comum, mas ela parecia sincera e genuinamente preocupada com Nanami-san. Eram apenas palavras em uma tela, mas foi essa a sensação que tive. 

Embora ainda não soubesse o que a fez mudar de ideia, decidi levar suas palavras a sério. 

BARON: Desculpe, Canyon-kun. Vou me afastar um pouco. De repente, senti uma necessidade urgente de contar algo à minha esposa. Não é nada demais, volto já. Não está acontecendo nada aqui. 

Com isso, as mensagens de Baron-san cessaram.

Será que a mensagem de Peach-san o deixou inquieto? Ele disse coisas como “não é nada demais” e “não está acontecendo nada”, mas provavelmente foi lembrar à esposa o que sentia por ela. Uau, Peach-san é tão formidável que consegue influenciar até mesmo adultos. Mas será que Baron-san realmente não tem dito à sua esposa o quanto gosta dela? Tipo... sério mesmo? 

O relacionamento entre Nanami-san e eu começou por causa de um desafio, mas agora eu gostava tanto dela que isso nem importava mais. Essa era a verdade. Até eu estava ciente disso.

Mas e ela? 

Hoje, Nanami-san havia descansado a cabeça no meu colo e, embora eu ainda não tivesse contado ao Baron-san sobre isso, meus lábios tocaram sua bochecha. Ela não demonstrou nenhum desconforto com isso, pelo menos. 

Ela ainda achava que esse relacionamento era tudo por causa de um desafio? Ela só estava saindo comigo porque não tinha escolha? De alguma forma, eu não achava mais que fosse esse o caso. Pelo menos, era nisso que eu queria acreditar. 

Depois de ver suas interações com meus pais e, em seguida, ver suas interações com seus próprios pais, achei que era hora de ficar mais atento às coisas. Eu não poderia continuar sendo burro para sempre. Já tínhamos passado do ponto em que eu ainda podia usar isso como desculpa. 

Acho que está tudo bem pensar que gosto dela e talvez esteja tudo bem pensar que ela também gosta de mim. 

Não conseguia dizer isso com convicção. Talvez estivesse sendo muito convencido. Essa dúvida era um ciclo sem fim. Mas se não agisse com isso em mente, sentia que poderia cometer algum erro crucial. Era assim que me sentia, pelo menos. 

Então, a partir de agora, tenho que agir como se Nanami-san também gostasse um pouco de mim de maneira sincera. 

É claro que isso não mudava o fato de que eu continuaria me esforçando para que ela gostasse de mim. Quero dizer, se eu decidisse que ela gostava de mim e parasse de tentar, isso seria muito rude. Na verdade, eu tinha que me esforçar ainda mais para mostrar isso a ela através das minhas ações. 

No entanto, conversar sobre essas coisas realmente me ajudou a avaliar a situação com mais calma. Ouvir os outros foi muito importante; suas avaliações objetivas me ajudaram a olhar para mim mesmo, e por isso eu era grato.  

CANYON: Obrigado, Peach-san. Eu...

Apertei a mão com força e, como que para mostrar minha determinação e para me encorajar, levantei-a até o peito. 

CANYON: Ainda é muito difícil para mim contar a ela por telefone, então vou começar por uma mensagem de texto.  

PEACH: É típico de você não escolher a opção do telefone, mas boa sorte mesmo assim. 

Para ser sincero, assim que tomei minha decisão, hesitei por um momento. Pelo menos Peach-san parecia estar me apoiando.  

CANYON: Mas o que fez você mudar de ideia, Peach-san? Você estava tão negativa sobre tudo isso antes. 

Peach-san ficou em silêncio por um momento, mas foi apenas por um momento. 

PEACH: É um segredo de mulher. Mas acho que, se tivesse que dizer, ouvir sobre vocês dois me fez perceber que eu também preciso seguir em frente. 

Essa foi uma resposta muito madura. Peach-san era incrível. Ela devia ser bem mais nova do que eu, mas parecia que já estava fazendo um ótimo trabalho em seguir em frente. 

Na verdade, tenho quase certeza de que ela era uma estudante do ensino fundamental. Talvez ela já tivesse sido intimidada por gyaru ou algo assim. Se, ao ouvir sobre mim e Nanami-san, ela conseguiu perceber que nem todas as gyaru eram como as que ela conhecia, então tivemos sucesso, mesmo que eu não tivesse ideia de como eram as outras gyaru. 

Agradeci a Peach-san e saí do chat. Baron-san ainda não tinha voltado, mas se ele visse o registro do chat, ficaria por dentro de tudo. Agora e daqui em diante, era hora de eu colocar a mão na massa. Abri meu aplicativo de mensagens para enviar uma para Nanami-san antes que minha determinação se esvaísse. 

Pelo que parecia, eu não tinha recebido nenhuma mensagem de Nanami-san. Talvez ela já estivesse dormindo ou conversando com a família novamente. Por um momento, um pensamento passou pela minha cabeça:

Se ela estiver dormindo, talvez eu não deveria incomodá-la.

Mas eu afastei esse pensamento. Na pior das hipóteses, ela veria a mensagem amanhã. Eu balancei a cabeça, afastando minhas desculpas.

Bem, então, vamos começar fazendo um rascunho... Mas o que eu deveria dizer?  

YOSHIN: Eu me diverti hoje. Então, estarei deveras ansioso para te ver amanhã, afinal, eu gosto muito de você. 

Por que isso soa tão formal?! E a parte “gosto muito de você” não soa como uma ideia infantil? Como consertar isso?!

Não sendo particularmente bom em escrever, não pude deixar de me sentir perdido.  Eu conseguia digitar no chat do jogo sem problemas, mas quando se tratava de enviar mensagens para Nanami-san, eu me sentia instantaneamente perdido. 

Enquanto ficava ali digitando, apagando e reescrevendo, cometi um erro fatal. 

— Ah, droga!

Quando percebi, já era tarde demais. 

De todas as coisas que eu poderia ter feito, de alguma forma consegui enviar uma mensagem sem preâmbulo, sem corpo, sem conclusão.

Era apenas uma frase simples:

[EU TE AMO ❤️]


Eu estava usando a frase como base para adicionar e excluir várias outras frases e, de alguma forma, meus dedos desajeitados escorregaram. 

Enviar uma mensagem assim, sem nenhum contexto, não é a pior coisa que eu poderia fazer? Ela não vai ficar assustada ou incomodada? 

Não, isso não poderia ser verdade, mas, em meu estado de pânico, eu não conseguia nem pensar direito. Perdi instantaneamente toda a minha compostura. 

Acalme-se. Ainda temos tempo antes que ela veja. Eu só preciso apagar a mensagem antes que... 

Ela viu. A mensagem foi marcada como lida. 

Você é muito rápida, Nanami-san! Justo hoje... Mas acho que você sempre é rápida para verificar suas mensagens. 

Mas algo parecia diferente. Normalmente, ela respondia imediatamente, mas hoje não respondeu logo.

Não, ela está demorando. 

Enquanto eu estava sentado ali, ansioso, meu celular fez algo muito estranho. Ele tocou. Nanami-san estava me ligando. 

Estou em apuros? 

Quando atendi o telefone, a primeira coisa que ouvi foi ela gaguejando loucamente, acompanhada por um baque alto. A mensagem não a deixou desconcertada; na verdade, pareceu tê-la deixado em pânico. 

— De onde veio isso, Yoshin?! Aconteceu alguma coisa?!

Mas talvez porque Nanami-san parecia muito mais nervosa do que eu, acabei me sentindo muito mais calmo. Pelo menos eu conseguiria falar normalmente. 

— Muito obrigado por antes, Nanami-san.

— Ah, de nada... Ei, esse não é o problema aqui! O que diabos é isso, Yoshin?! Por que você de repente me enviou algo assim do nada?! Eu me assustei tanto que caí da cama!

— O quê? Você está bem?

— Estou bem, já que tenho certeza de que entrei em choque! De onde veio isso de repente?

Isso explica o barulho. Fico feliz que você não tenha se machucado, mas sinto muito por ter te assustado. 

Em contraste com meu desejo de pedir desculpas, Nanami-san insistiu em ouvir uma explicação. Acho que isso era de se esperar. 

— Você, hm, não gostou? — perguntei. 

— Não é que eu não tenha gostado, mas isso me assustou pra caramba!

Nanami-san parecia um pouco irritada, mas isso parecia ter menos a ver com o que eu tinha dito e mais com o fato de tê-la surpreendida. Quanto a mim, fiquei aliviado ao saber que ela não tinha detestado.

Acho que ela realmente ficou apenas chocada.

— É uma história um pouco longa... Bem, acho que não é tão longa assim.

— O que não é uma história tão longa?

— Quero dizer, eu nunca disse diretamente que gosto de você, certo? Então, achei que deveria pelo menos dizer isso em uma mensagem de texto ou algo assim.

— Isso me deixa muito, muito feliz. De verdade, mas o que te fez decidir fazer isso de repente?

É claro que ela perguntaria isso. Ela é tão perspicaz, essa Nanami-san. Eu, hum... O que devo fazer? 

Acho que dizer a ela que eu mesmo cheguei a essa conclusão não foi convincente. Talvez fosse o momento certo para contar a ela que meus companheiros de equipe do jogo — principalmente Baron-san e Peach-san — estavam me dando conselhos sobre namoro o tempo todo. Eu me senti um pouco culpado por não contar a ela que minha total incompetência se devia a esses conselhos. 

Continuar a enganá-la ou mentir para ela seria fácil, mas provavelmente não era a coisa certa a fazer. Até mesmo Genichiro-san me disse que mentir não era bom. Como todo o nosso relacionamento era baseado em uma mentira, acho que agora era tarde demais, mas mesmo assim decidi ser sincero com Nanami-san e contar toda a história para ela. 

— Na verdade, como eu nunca tinha saído com uma garota antes, tenho recebido muita ajuda dos colegas de equipe do jogo de que te falei.

— Ajuda?

Eu não podia contar os detalhes. Não podia contar que tinha perguntado a eles como responder à confissão de Nanami-san depois de descobrir secretamente que era um desafio. 

Mentir era errado, mas como não podia contar toda a verdade, optei por evitar essa pergunta. Sim, sei que isso soa contraditório. 

Sentindo-me culpado, contei a conversa que me levou a enviar a mensagem para ela. Talvez um dia chegasse a hora em que eu pudesse contar tudo para ela, para que pudéssemos rir juntos disso. 

— E então hoje, eles me disseram que era muito importante que eu dissesse regularmente que gosto de você. Isso me fez perceber que eu nunca tinha dito isso antes.

— Foi uma garota que te disse isso? — perguntou Nanami-san. 

— A parte de dizer que gosto de você veio de uma garota, mas a maior parte do conselho veio de um cara casado.

— Ah, entendo. Então era isso. Talvez seja por isso que você parecia tão acostumado a fazer essas coisas.

Por um momento, ela pareceu preocupada, mas isso rapidamente passou, dando lugar à compreensão.

Eu realmente parecia saber o que estava fazendo? Será que a decepcionei por não ter tido essas ideias sozinho?

— Desculpe por ter escondido isso de você. Achei que era difícil falar sobre isso. Você está brava comigo? 

— Hmm... Não, acho que é o contrário. Quero dizer, tenho recebido muitas dicas e coisas da Hatsumi e da Ayumi. Para ser sincera, fico aliviada em saber que toda essa experiência não veio de namoradas anteriores e também fico feliz que você tenha se esforçado tanto por mim.

Ao ouvir as palavras gentis de Nanami-san, senti meu coração ficar mais leve.

Estou feliz por ter contado a ela. 

Mesmo pelo telefone, senti o clima entre nós relaxar. Houve um silêncio momentâneo entre nós, e então Nanami-san sussurrou algo. 

— Ei, você pode… hm… dizer isso para mim agora?

— Hã?

Desculpe? O quê? Ela quer que eu diga agora? Não posso fingir que não ouvi nada?

Como se quisesse impedir que eu me esquivasse da situação, Nanami-san insistiu no assunto.

— Agora mesmo, diga-me ao telefone. Por favor… Por favorzinho… 

Ela disse isso quase como se estivesse pedindo para ser mimada, com uma voz sedutora, como se estivesse tentando me fazer acariciá-la. Uma onda de tontura tomou conta de mim e eu quase deixei meu celular cair, mas mantive minha posição. Nanami-san era realmente astuta. 

Não, não, não. O objetivo de eu enviar aquela mensagem era para não ter que dizer isso em voz alta. 

Eu não esperava que ela me pedisse para dizer, mas provavelmente era um pedido que eu não poderia recusar. Se eu não dissesse, estragaria tudo, não é? Tudo bem, então.

— Você pode me dar um minuto? — perguntei.

— Claro. Posso te dar todo o tempo que você precisar.

Com Nanami-san ainda na linha, saí correndo do meu quarto, sem prestar atenção aos meus pais, que ficaram surpresos com minha aparição repentina. Corri até a geladeira, peguei uma garrafa de água de um litro e bebi metade do conteúdo de um só gole. Minha garganta, que estava seca de nervosismo, começou a se umedecer. 

Então, correndo de volta para o meu quarto com todo o meu ímpeto, respirei fundo. Manter esse ímpeto era fundamental.

ree

Bati com a mão na mesa e peguei meu celular com tanta força que acabei batendo com ele na minha orelha.

Não perca esse ímpeto!

— Nanami-san, hm, eh... Ah, céus…

Não tô conseguindo.

Nem mesmo meu ímpeto foi suficiente para me levar adiante, mas Nanami-san ainda estava esperando ansiosamente por mim do outro lado da linha.

Seja corajoso, Yoshin. Você consegue. 

— Eu... eu gosto muito de você.

Não restava nenhum traço do meu ímpeto anterior. Minha voz estava suave e tremia tanto que soava quase patética. 

— Sim, eu também gosto muito de você. — ela respondeu. 

Nanami-san aceitou alegremente minhas palavras e, ao ouvir sua resposta, eu também fiquei feliz. Fiquei feliz, mas... 

O que é essa coceira se espalhando pelas minhas costas?! Todos os caras legais e bonitos deste mundo dizem coisas assim com tanta naturalidade?! Caras bonitos são tão impressionantes.

Eu tinha certeza de que nunca me acostumaria com isso. 

— Tudo bem, Yoshin! Vou dormir. Boa noite! — disse Nanami-san, soltando as palavras em pânico. 

— Ah, sim... Boa noite.

Com isso, ela desligou o telefone.

Bebi mais água, pois minha garganta estava seca novamente. Mas, em vez de me sentir calmo, senti exatamente o oposto. Meu coração batia mais rápido e meus olhos estavam arregalados de choque. Minha mente estava acelerada e eu simplesmente não conseguia ficar parado. O motivo era claro: o inesperado havia acontecido.

Nunca pensei que Nanami-san me diria que também gostava de mim. Será que vou conseguir dormir esta noite? 

— Ah, provavelmente devo contar ao grupo como foi.

A essa altura, todos já deviam estar dormindo, mas eu iniciei meu jogo e verifiquei o histórico de bate-papo mesmo assim. Para minha surpresa, todos pareciam estar lá e estavam até fazendo apostas sobre se eu teria conseguido enviar a mensagem para ela. A maioria aposta que eu não conseguiria dizer. Droga. 

CANYON: Obrigado, Peach-san. Eu consegui dizer para ela de alguma forma. Não esperava que ela me ligasse, mas consegui dizer para ela ao telefone também. 

Com essa mensagem, a maioria perdeu a aposta. Ha ha ha, tomem essa, idiotas! 

PEACH: Fico feliz em saber. Ou melhor, você é rápido como sempre. Não achei que você fosse contar a ela tão cedo. 

CANYON: Acho que me empolguei no momento... 

PEACH: Que tipo de momento foi esse? 

Não consegui encontrar palavras para responder. 

Baron-san ainda não tinha voltado, mas eu agradeci a Peach-san e decidi ir para a cama. 

Quando eu estava pensando nisso, Peach-san soltou outra bomba. 

PEACH: Acho que a próxima coisa que você terá que fazer é dizer a ela que a ama, certo? Sua namorada vai ficar emocionada! 

Será que Peach-san era ainda mais exigente do que Baron-san? 

CANYON: Espere, isso é pedir demais! Não estou pronto! 

PEACH: Calma, Canyon-san. Não estou dizendo que você tem que fazer isso imediatamente. Além disso, imagino que você vai querer dizer a ela em algum momento, não é? 

Tive que fazer uma pausa para imaginar a cena. Só de dizer a ela que gostava dela já tinha esgotado toda a minha energia. Mas dizer que a amo? Como isso seria? Só de pensar nisso, comecei a suar frio. Mas... 

CANYON: Você está certa. Eu quero contar para ela algum dia. 

PEACH: Você é tão proativo. Que fofo! Mas, por favor, vá no seu próprio ritmo e não exagere. Estou torcendo por você! 

Embora eu estivesse muito feliz por Peach-san estar me incentivando assim, as expectativas dela me assustavam. Ela não iria elevar o nível para algo mais drástico no futuro, iria? 

BARON: Estou de volta. Nossa, você realmente não deve fazer nada que não seja capaz de fazer. Minha esposa me entendeu perfeitamente. 

Enquanto eu estava sentado ali, tremendo com as possíveis exigências futuras de Peach-san, Baron-san entrou no chat com um ar bastante triste. 

CANYON: O que aconteceu, Baron-san? 

BARON: Mandei uma mensagem para minha esposa dizendo que a amava, mas ela respondeu: “Ah, eu sei. Também te amo, querido. Aconteceu alguma coisa? Você não costuma ser tão carinhoso. De repente, sentiu minha falta? Não se preocupe, vou te consolar quando chegar em casa.” Que contra-ataque. 

E, com um timing perfeito, um exemplo real de “eu te amo” se apresentou. Peach-san e eu enviamos mensagens a ele agradecendo pelo presente açucarado.

Pelo que parecia, Baron-san e sua esposa formavam um casal perfeito. Meus pais e os pais de Nanami-san eram assim também. Eu esperava que, um dia, Nanami-san e eu pudéssemos ser assim também.



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