PRÓLOGO - UMA PEQUENA MUDANÇA EM NÓS
- AKEMI FTL
- 19 de set.
- 11 min de leitura
Era o dia seguinte ao meu primeiro encontro bem-sucedido com Nanami-san e ao meu encontro inesperado com os pais dela, além de ser o dia que marcava uma semana inteira de namoro. Foi nesse dia, depois da escola, que fui chamado à sala dos professores.
Não fui chamado por causa de notas ruins ou mau comportamento. Eu fui chamado por causa do meu relacionamento com Nanami-san.
É claro que fiquei um pouco surpreso no início, já que era a primeira vez que eu era chamado assim, mas fiquei ainda mais surpreso com o fato de que um aluno pudesse ser chamado por causa de sua vida amorosa.
Será que até os professores andam acompanhando as fofocas dos alunos?
Não, não podia ser isso. O rosto do meu professor estava sério. Quando ficamos a sós, ele hesitou por um momento e então se inclinou para falar comigo.
— Misumai, só queria conversar com você rapidinho. Você não está... sendo intimidado pela Barato, está?
— Como assim?
Não consegui evitar minha resposta perplexa. O que ele havia dito era simplesmente inacreditável. Como ele poderia ter pensado que eu estava sendo intimidado por Nanami-san?
Não, espere…
Acho que para as pessoas ao nosso redor, especialmente para os adultos, o fato de Nanami-san e eu estarmos passando tempo juntos só poderia significar que ela estava me intimidando de alguma forma. Para os outros, era estranho que nós fossemos vistos juntos.
O fato não era realmente novidade para mim, mas doeu um pouco ter isso jogado na minha cara dessa forma, no entanto, mantive a compostura enquanto negava a possibilidade.
— Nanami-san e eu temos um relacionamento romântico muito saudável, sem nenhum tipo de intimidação. Namorar não é contra as regras da escola, é?
Bem, eu estava tentando manter a compostura, mas minhas palavras saíram meio descontroladas, fazendo parecer que eu estava tentando discutir.
Espere, namorar é contra as regras da escola!? Ah, droga, eu disse isso com toda a confiança, sem nem mesmo saber quais eram as regras. Mas… espera, quem é que procura esse tipo de coisas?
Achei que o máximo que poderiam fazer era proibir conduta sexual imprópria. A minha relação com a Nanami-san não era imprópria e certamente também não era sexual. Por outro lado, talvez fosse imprópria de certa forma, mas não podia partilhar isso com o professor.
— É mesmo? — perguntou o meu professor, incapaz de esconder a sua suspeita.
Parecia que, não importava o que eu dissesse, ele simplesmente não conseguia acreditar que ela e eu estávamos realmente namorando. Eu não podia culpá-lo por isso, mas insisti que não havia absolutamente nenhum bullying envolvido.
Na verdade, na segunda metade da nossa conversa, gastei mais energia tentando convencê-lo de que Nanami-san e eu estávamos realmente namorando do que tentando negar qualquer acusação de bullying. Era mais do que embaraçoso ter que ficar ali sentado contando a ele todas as coisas que ela e eu fazíamos como casal.
Por que diabos estou tendo um momento tão íntimo com meu professor?
Eu me perguntava, mas apesar das minhas dúvidas sobre compartilhar todos aqueles detalhes amorosos, eu estava desesperado para não aceitar tal calúnia contra nós dois. Depois de todos os meus esforços, o professor suspirou aliviado.
— Entendo, então era isso. Peço desculpas pela pergunta ofensiva — com isso, ele se curvou profundamente para mim.
Eu não estava acostumado a ter um adulto se desculpando comigo, então acabei ficando ainda mais nervoso. Ao mesmo tempo, não pude deixar de me sentir insatisfeito, quer dizer, se minhas palavras foram suficientes para convencê-lo de que Nanami-san não estava me intimidando, então eu gostaria que ele não tivesse suspeitado dela em primeiro lugar.
Parecia que o professor havia percebido minha expressão de leve frustração, porque ele sorriu ironicamente e parou um momento para explicar.
— Veja bem, alguns professores ficaram bastante preocupados depois do seu episódio na enfermaria. Eles acharam que talvez você estivesse fingindo namorar para esconder algo.
— Oh... É mesmo?
— Eu sei que era apenas um boato, mas como alguém levantou essa possibilidade, não tive escolha a não ser investigar.
Como as circunstâncias eram um tanto peculiares, boatos como esse eram de se esperar. Pelo menos eu finalmente entendi por que ele me chamou aqui para perguntar sobre bullying.
— E sabe, talvez eu não devesse dizer isso, mas… — o professor hesitou ainda mais desta vez, mas falou comigo sinceramente — Vocês dois são, hmm... tipos de pessoas bem diferentes, sabe? E vocês não pareciam interagir muito antes de tudo isso, então acho que fiquei preocupado que vocês tivessem começado a namorar por um motivo desagradável.
Ele pode ter escolhido suas palavras com cuidado, mas eu realmente senti que ele estava dizendo tudo isso de boa fé. Afinal, nós éramos “a Gyaru” e “o Introvertido”, que realmente não tínhamos nem mesmo conversado uma com a outra antes de tudo isso acontecer. Era natural que os professores achassem isso estranho, mas isso também significava que não podíamos deixar que eles descobrissem a verdade.
Na verdade, só estamos namorando por causa de um desafio.
Era triste que eles estivessem mais propensos a acreditar nessa verdade do que no fato de que estávamos namorando de verdade, mas não podíamos deixar que descobrissem.
Não tem pra quê contar a eles, então é melhor ficar de boca fechada.
Afinal, o silêncio é ouro. Mesmo assim, o fato de alguém considerar que Nanami-san estava me intimidando parecia um insulto a ela.
— Nanami-san é realmente gentil e doce. Tenho sorte de estar namorando com ela — os olhos do professor se arregalaram com meu comentário repentino — Eu até conheci os pais dela depois do nosso encontro ontem. Não há nada de suspeito acontecendo entre nós, então, por favor, não se preocupe.
Meu tom foi muito mais enfático do que eu pretendia. O professor piscou algumas vezes, surpreso. Sim, definitivamente não havia necessidade de continuar falando sobre como nosso relacionamento era ótimo, mas não consegui me controlar. Talvez por nunca ter me visto agir assim, o professor sorriu um pouco.
— Parece que ela tem sido uma boa influência para você — disse ele, finalmente tranquilo sobre as circunstâncias por trás do nosso relacionamento — Apesar da maneira como ela se veste, a atitude de Barato em sala de aula é excelente e suas notas são ainda melhores do que as suas. Sei que ela não é do tipo que se envolve em coisas desagradáveis como bullying, mas, como seu professor, eu precisava perguntar. Mais uma vez, peço desculpas.
Ele se curvou para mim pela segunda vez.
Acho que ser professor é mais difícil do que parece…
Ainda assim, suas desculpas incessantes me deixaram um pouco nervoso, fazendo-me sentir um pouco culpado, então pedi desculpas por ter sido tão direto. Com nossa troca de desculpas, minha conversa com meu professor chegou ao fim, no entanto, quando eu estava saindo, o professor me chamou uma última vez.
— Quem diria que você passaria de tão reservado a falar o que pensa com tanta facilidade. Provavelmente não faria mal ter a Barato como tutora nas tarefas da aula também. As notas dela são excelentes,sabe.
Eu realmente mudei tanto assim? Não me sinto diferente.
Ainda assim, não fazia ideia de que as notas da Nanami-san eram tão boas. Talvez eu realmente devesse pedir para que ela fosse minha tutora.
Curvei-me para o professor ao sair de sua sala e voltei para a sala de aula.
Nanami-san ainda está lá?
Eu disse a ela para ir sem mim, mas ela disse que esperaria para que pudéssemos ir para casa juntos. Minha “breve” distração demorou mais do que eu esperava, então acelerei o passo para não deixá-la esperando mais do que o necessário.
Quando finalmente cheguei à sala de aula, parei um momento para recuperar o fôlego e alcancei a maçaneta da porta. Mas, quando estava prestes a abrir a porta, ouvi vozes vindas de dentro. Congelei, tomado por uma leve sensação de déjà vu. A única diferença era que a porta estava aberta da última vez, enquanto desta vez estava fechada.
— Eu não esperava que você fosse atrás de um introvertido total como Misumai. Quero dizer, sério, você simplesmente escolheu o nome dele ao acaso ou algo assim?
— Você sabia que os caras que Nanami rejeitou antes agora estão nessa onda estranha de “introvertidos” porque acham que isso é mais popular entre as garotas? Sério, os caras são tão idiotas.
— Mas os caras que sempre foram introvertidos não parecem muito mais bonitos? Mas, vamos lá, por que você está namorando Misumai? Ele tem dinheiro para gastar ou algo assim?
As vozes que ouvi eram todas femininas, mas nenhuma delas pertencia a Otofuke-san ou Kamoenai-san. Seriam mais amigas gyaru de Nanami-san? Eu não reconhecia nenhuma delas, mas todas as garotas pareciam me conhecer. Seus comentários provocadores vinham um após o outro, incluindo muitos que zombavam de Nanami-san.
Acho que é assim que as coisas funcionam. Quer dizer, ela está namorando comigo, então é claro que elas diriam coisas assim.
Éramos o casal mais incompatível que poderia existir. Eu já sabia disso, mas ouvir isso dessa forma tornou tudo ainda mais óbvio. Por isso, senti um pouco de pena da Nanami-san, mas... não ouvi ela se opor. As garotas continuaram, falando o que pensavam sem interrupção.
Elas não estavam insultando nenhum de nós, mas estavam bastante ansiosas para me comparar com os caras que Nanami-san havia rejeitado no passado. E, durante todo esse tempo, eu fiquei parado ali, congelado do lado de fora da porta, ouvindo. Tudo o que elas diziam era verdade.
Eu não era alto. Eu não era bonito. Eu não era rico e não era particularmente bom em esportes ou estudos. Eu só podia ser descrito por todas as coisas que me faltavam.
As meninas não estavam tentando me insultar, elas estavam apenas curiosas para saber por que ela tinha me escolhido, mas, mesmo assim, não pude deixar de me sentir um pouco chateado.
Além disso, o que Nanami-san acha de tudo isso?
Rapidamente desisti de tentar adivinhar e resolvi entrar na sala de aula quando ouvi Nanami-san falar pela primeira vez.
— Bem, tudo o que posso dizer é que, comparado a todos os caras que me convidaram para sair, Yoshin é sem dúvida o melhor.
Senti um arrepio percorrer minha espinha.
Todas as meninas riram, alheias à leve transformação de Nanami-san, mas ela simplesmente as ignorou e continuou.
— É por isso que me declarei para ele. Acho que, comparados a Yoshin, aqueles caras são todos tão... comuns.
Ao ouvir a afirmação de Nanami-san, que não deixava margem para discussão, as outras garotas ficaram em silêncio por um momento... e então caíram na gargalhada. O riso delas por si só já demonstrava o quão ridículo era pensar que eu era melhor do que os outros caras. Sim, até eu queria dizer a Nanami-san que isso era um pouco exagerado...
— E além disso...
Nanami-san continuou conversando com as meninas, com um tom de voz completamente diferente do anterior. Antes, sua voz também parecia mais grave e serena do que eu me lembrava, mas agora era como se fosse a voz de uma pessoa totalmente diferente.
Suas palavras carregavam um certo charme e sensualidade que fizeram com que todos na sala ficassem em silêncio. Não era o mesmo silêncio que precedeu as risadas anteriores. Não, este era um silêncio que vinha do fato de elas estarem completamente cativadas por Nanami-san.
Não resisti e abri a porta para espiar lá dentro. A abertura era tal que eu conseguia apenas vislumbrar o rosto de Nanami-san que exibia uma expressão que eu nunca tinha visto antes.
Recruzando as pernas, Nanami-san começou a explicar.
— Quando Yoshin tira a camisa... ele tem um corpo incrível.
Nanami-san?!
Eu quase engasguei com o ar, mas Nanami-san não parou por aí. Ninguém poderia detê-la.
— Tanto que, depois de ser abraçada por ele, você não consegue pensar em mais ninguém te abraçando. Você não acha que caras assim são gostosos?
Sua expressão era tão sensual quanto sua voz. Com aquele sorriso encantador no rosto, ela parecia tão irresistível que eu não conseguia tirar os olhos dela.
As meninas ao redor dela provavelmente também nunca tinham visto Nanami-san assim antes. Elas ficaram sentadas em silêncio, com a respiração suspensa. Algumas delas, engolindo em seco e corando, pareciam tão impressionadas com ela quanto eu. Ela estava tão bonita naquele momento que palavras não poderiam descrevê-la.
Sim, ela era inegavelmente sedutora, mas… Nanami-san, por que você está contando uma mentira tão descarada para elas?
Eu só tinha mostrado um pouco da parte de cima do meu corpo e, mesmo assim, tinha sido completamente sem intenção. Além disso, eu só a abracei para confortá-la, não para fazer nada mais, como ela estava insinuando.
E mesmo assim você ficou toda vermelha e envergonhada com isso, Nanami-san! Quer dizer, você não foi a única...
Naquele momento, senti como se tivesse vislumbrado um lado muito assustador das mulheres. Mas talvez eu também pudesse interpretar isso como uma resposta irritada às outras garotas que estavam falando todas aquelas coisas sobre mim. A essa altura, a sala estava bem silenciosa, então aproveitei a oportunidade para entrar.
Fiz um barulho extra ao abrir a porta da sala de aula, chamando Nanami-san ao entrar.
— Desculpe pela espera, Nanami-san. Já terminamos, então podemos ir?
— Yoshin! — Nanami-san exclamou, cumprimentando-me como sempre, com sua alegria habitual — Nossa, você demorou bastante. Esperei por você por tanto tempo, você vai me pagar um sorvete como recompensa? Acho que quero um monaka.
Sua expressão se transformou em seu sorriso brilhante de sempre, como se eu tivesse apenas imaginado sua sensualidade um momento atrás. Ela se levantou e pulou para o meu lado, fazendo um biquinho enquanto pegava minha mão.
Nanami-san, você está provocando demais as meninas. Agora elas também estão me olhando de forma estranha...
— Vejo vocês mais tarde, meninas. Tchau!
— Ah, hmm… obrigada por fazerem companhia à Nanami-san enquanto ela esperava por mim. Até mais, pessoal.
Nanami-san e eu demos as mãos e nos despedimos, deixando as meninas para trás. Nossos dedos se entrelaçaram imediatamente, como se estivéssemos exibindo o quanto éramos íntimos. Nanami-san tinha começado isso de forma tão inesperada que eu tive dificuldade em manter a calma.
— Até amanhã, pessoal… — as meninas murmuraram atordoadas, acenando para nós enquanto nos viam partir.
Depois de nos afastarmos um pouco da sala de aula, virei-me para Nanami-san e sussurrei:
— Então, por que você estava dizendo coisas tão legais sobre mim há pouco?
— Oh, você estava ouvindo?
Nanami-san mostrou a língua para mim e sorriu como uma menina que havia sido pega no meio de uma travessura. Não havia nenhum traço do charme que ela exalava momentos antes, ela realmente parecia uma criança inocente.
Onde diabos ela aprendeu a parecer assim?
— É que ninguém mais parece entender o quanto você é incrível! Por isso, pensei em dar a elas uma pequena dica dos seus vários encantos. Você realmente deveria me elogiar um pouco mais por ter me dado ao trabalho.
Ela girou nossas mãos entrelaçadas em um grande semicírculo, olhando para mim de soslaio.
— Tudo bem, eu entendo. Obrigado, mas eu realmente não sei quais “encantos” você poderia ter compartilhado. Além disso, eu só preciso que você saiba dessas coisas.
Era verdade que ela havia me defendido, e eu sentia que era importante agradecer a ela por isso. Mesmo assim, seus esforços valentes provavelmente não mudariam a opinião das outras pessoas sobre mim. Mais importante ainda, não haveria rumores estranhos circulando agora, certo? Embora eu achasse que a única coisa que importava era poder ficar com Nanami-san.
De repente, percebi que nosso entorno havia ficado silencioso. Espere, por que Nanami-san não estava dizendo nada? Ela estava olhando para os próprios pés, com as bochechas coradas.
— Sério, por que você é sempre assim? Como você pode dizer algo assim tão casualmente?
Tive que parar e pensar por um momento para entender a que ela se referia. Ah, certo. Entendi. Não tinha pensado muito nisso, mas acho que foi uma coisa boba de se dizer. Parecia que eu era mais facilmente influenciado pelos outros do que pensava.
Ficamos em silêncio quando nossos olhos se encontraram, mas logo estávamos rindo. Nanami-san apertou minha mão. Fez um pouco de cócegas, mas o calor da mão dela era reconfortante.
Quando olhei para nossas mãos, entrelaçadas como as de namorados, não pude deixar de lembrar do nosso encontro de ontem. Eu tinha pegado a mão dela e, hoje, ela pegou a minha.
Agora que penso nisso, estou bastante impressionado por ter sido capaz de fazer isso.
Nanami-san parecia estar de ótimo humor enquanto cantarolava uma musiquinha sobre sorvete. Ela realmente parecia uma criança inocente.
Depois daquele primeiro encontro, nosso relacionamento parecia o mesmo de sempre, mas também havia mudado um pouco. Eu não conseguia decidir se essa mudança era para melhor ou para pior. Na verdade, poderia ser para pior, considerando o quanto meu coração estava batendo forte, mas eu queria mais do que tudo acreditar que era para melhor.
— Por falar nisso, onde você aprendeu a agir de forma tão sexy como fez há pouco? Fiquei realmente surpreso — eu disse.
— Ah, isso? Não é nada demais. Eu só estava imitando minha mãe.
— Você já a viu assim antes?
— Bem, você sabe, de vez em quando. Na verdade, eu esperava que você voltasse mais cedo, porque eu estava ficando meio envergonhada.
Nanami-san corou e sorriu timidamente. Era verdade, todas as meninas estavam admiradas com ela.
— Nesse caso, vou lhe dar um sorvete como recompensa.
— Que legal! Vamos dividir!
Ver ela tão animada com o sorvete me fez sorrir. A alegria dela realmente fez meu pequeno gesto valer a pena.
Claro, eu não achava que um sorvete seria suficiente para agradecer tudo o que ela estava fazendo por mim, mas mesmo que fosse apenas uma gota no oceano, eu queria fazer algo para mostrar o que sentia. Eu queria aproveitar todas as oportunidades que tivesse para fazer isso.
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