CAPÍTULO 1 - A missão de confessar
- AKEMI FTL
- 18 de ago.
- 24 min de leitura
Atualizado: 22 de ago.
As vozes das meninas ecoavam pela sala de aula, que estava quase vazia agora que o resto dos nossos colegas tinha ido para o karaokê.
— Nanami perdeu! Está decidido! Nanami vai ter que fazer o que a gente quiser!
— O-O-O-O que quiser?! Uhuuul! Que bom que não sou eu!
— Hã… mas por que eu?!
As gyarus são o tipo de garota no topo do sistema de castas da turma. Elas são a personificação da extroversão, beleza e fofura, portanto, as meninas que já pertenciam ao “time vencedor na vida” e estavam, por algum motivo, jogando cartas em nossa sala de aula depois da aula.
Elas não parecem estar apostando dinheiro.
Em vez disso, estavam montando algum tipo de jogo onde a perdedora teria que enfrentar um desafio. Fiquei impressionado que, apesar de suas aparências chamativas, elas jogassem cartas de forma tão saudável.
Eu, Yoshin Misumai, não tinha contato direto com elas, mas, por acaso, me deparei com a cena. Aconteceu de ter esquecido algo na sala de aula e as encontrei aqui sem intenção de bisbilhotar, é claro, mas como sou introvertido e não tenho muita presença, parecia que elas nem tinham notado minha presença.
Isso é irônico, na verdade.
Ou seja, ser um introvertido quando o “yo” no meu nome significava “extrovertido”.
Eu certamente não faço jus ao nome.
Não que eu realmente me importasse, mas, por enquanto, não pude deixar de me perguntar o que havia de tão importante no jogo delas que as impediu de se juntar às amigas para o karaokê.
Elas não poderiam simplesmente ter incluído isso no karaokê?
Bem, isso não tinha nada a ver comigo. Era hora de esquecer tudo e ir para casa. Não era nada demais e eu só tinha esquecido meu estojo.
Peguei o estojo da minha mesa, coloquei na mochila e comecei a sair da sala de aula. Como eu imaginava, as meninas continuaram conversando sem me notar.
Meu lugar era no fundo da sala e a porta estava aberta, então não fiz barulho ao entrar. Mas, considerando o quanto elas estavam falando alto, mesmo que a porta estivesse fechada, o som de quando fosse aberta provavelmente teria sido abafado de qualquer maneira.
— Quanto ao seu desafio... Vai ter que fazer uma confissão! Amanhã, depois da aula, desafio você a abrir seu coração para um cara com quem você normalmente não conversa!
— Oh, que bom! Confessar por desafio... Isso é clássico!
— Hã? Uma confissão?
A garota que foi condenada à essa punição... O nome dela era... Nanami, não era? Sim, eu tenho quase certeza de que era Nanami Barato-san.
Barato-san respondeu em um tom que demonstrava descontentamento e, apesar de usar uma saia curta demais, cruzou as pernas sobre a mesa em que estava sentada. De frente, seus segredos provavelmente estariam à mostra, mas eu suprimi meu desejo de dar a volta e ficar na frente dela.
Ei, mesmo os introvertidos têm desejo sexual, então não pude evitar querer fazer isso. Não que eu tivesse coragem de ficar lá parado olhando.
— Brincar com os sentimentos de alguém é muito pior! Você não pode convidar alguém para sair por desafio. Uma confissão tem que ser mais séria, como para alguém de quem você realmente gosta!
— Você fica dizendo isso, mas você é a única de nós três que não tem namorado, sabe?
Barato-san não tem namorado? Eu tinha certeza de que todas as três tinham namorados.
De qualquer forma, eu achava que, como ela era uma gyaru, ela adoraria ficar com alguém por desafio, mas na verdade ela tinha bom senso. O que ela estava dizendo era perfeitamente razoável.
— Certo, certo... mas qualé? Você é a mais bonita daqui e os caras te convidam direto para sair, mas você sempre recusa, né?
— Hmm... Isso é porque... eles são meio assustadores e... quando eles me convidam para sair enquanto ficam me olhando o tempo todo, é como se...
Então ela acha os homens assustadores, hein?
Mais uma vez, isso foi inesperado. Talvez aquela expressão de alívio que eu vislumbrei anteriormente não tenha sido apenas minha imaginação. Enquanto suas duas amigas, cujos nomes eu já havia esquecido, continuavam conversando com vozes cheias de preocupação e Barato-san permaneceu em silêncio.
Ei, espere, você precisa falar, Barato-san! Você está certa sobre isso. Não desista, persista!
Tendo formado uma opinião melhor sobre ela, torci por ela na minha mente. Apenas mentalmente, é claro, não em voz alta.
— Você não sabe nada sobre homens, Nanami. Então, por enquanto, tente convidar um cara que pareça inofensivo para sair e saia com ele por pelo menos um mês! Esse é seu desafio.
— O quê?! Por um mês?
— Não importa como você vai começar. Você só precisa se acostumar com os homens, certo? Estamos preocupadas com você. Se continuar assim, temos medo de que você seja atacada por algum esquisito.
Considerando tudo, parecia que as duas amigas estavam preocupadas com Barato-san à sua maneira, mesmo que estivessem agindo da maneira errada.
Pensando bem, eu estou agindo como um esquisito… mas não tenho como sair daqui agora.
Estava curioso para ouvir a resposta da Barato-san. Felizmente, ainda não tinha sido notado.
O que um cara poderia fazer?
— Vamos ver... Devemos escolher um tipo sem libido ou celibatário, que não tentaria se aproveitar de você quando estivesse sozinha.
— É só um desafio, então não tem necessidade de se forçar a continuar saindo com ele, mas é claro que não há problema se você quiser! E, de qualquer forma, mesmo que vocês dois terminem, se ele não souber que foi um desafio, não vai ficar tão magoado, certo? Tipo, se você se declarar para ele e ele puder sair com você por um mês inteiro, ele ficará totalmente feliz! E nós nunca contaremos que te desafiamos a fazer isso!
As duas amigas adoraram a ideia e continuaram incentivando Barato-san a fazer isso. É verdade que, se eles namorassem por um mês e o cara não descobrisse, ele não ficaria magoado. Na verdade, aquele mês poderia até parecer uma recompensa, exceto...
Será que essas garotas perceberam? Será que elas tinham ideia de como um cara que fosse confessado pela Barato-san seria visto pelos outros caras? Mas… Nanami Barato…
Achando o nome familiar, vasculhei minhas memórias e me lembrei de algo sobre ela. Era o nome da garota que se tornou lendária por ter atacado, explodido e afundado os barcos do amor de vários caras bonitos.
Era um boato tão conhecido que até eu sabia sobre ela e sair com essa garota lendária certamente significaria ser visto pelos referidos caras bonitos com olhos cheios de ciúme e inveja.
Se eu fosse aquele cara, o cara que ela escolheu para sair, acho que não conseguiria suportar. Meu estômago ficaria cheio de buracos e, em vez de suor, fluidos digestivos jorrariam do meu corpo. No final, eu me dissolveria no esquecimento.
Parece piada, mas era assim que o obstáculo era alto.
Eu não sabia quem era o cara que iria provar o céu e o inferno simultaneamente, o cara que seria invejado, mas isso não era da minha conta. Desejei-lhe o melhor nessa situação que não era da minha conta. Eu tinha ouvido os detalhes sobre a confissão e o namoro de um mês, mas guardaria tudo para mim.
Tendo tomado minha decisão, eu estava prestes a parar de escutar e sair sem ser notado quando as próximas palavras delas me paralisaram no lugar.
— Então, amanhã, vá confessar ao cara mais quieto da turma: Yoshin Misumai!
Era minha imaginação ou eu tinha ouvido um nome familiar?
— Misumai, hein? Acho que se for ele... Sim, tudo bem. Eu vou fazer isso!
Ah… Então o nome do cara que seria invejado e atormentado era Yoshin Misumai.
Isso certamente soava familiar. Sim, parecia um nome muito próximo e querido. Aposto que nos daríamos bem.
Não, espere.
Havia alguém mais em nossa turma, ou mesmo em nossa escola, com esse mesmo nome? Não, não havia. Não era hora de fugir da realidade.
Ei, espere. Vou receber uma confissão amanhã!? Da Barato-san!? Devo me preparar para isso?
— Mas como vou confessar?
— Hã? É só você simplesmente pedir para se encontrarem atrás da escola e dizer que gosta dele, é só isso.
— É como em um mangá Shōjo! Boa sorte, Nanami!
— Por falar nisso, como vocês confessaram aos seus namorados?
Depois de ouvir o suficiente, fui para casa, sem ser notado pelas três garotas que começaram a tagarelar sobre suas próprias confissões. Com a cabeça girando com os planos que acabara de testemunhar, senti-me incomumente perturbado.
Felizmente, ninguém tinha chegado em casa ainda, então meu estado de choque passou despercebido.
♢♢♢
Canyon: E foi isso que aconteceu, Baron-san. O que devo fazer?
Baron: kkkkkkkk confessando por desafio? Só vocês mesmo, hein. Ah, a juventude...
De volta para casa, eu estava discutindo os acontecimentos do dia com Baron-san, que pertencia ao mesmo time que eu em um dos nossos jogos online. Eu não me sentia confortável com o chat de voz, então tomei a liberdade de jogar de uma maneira que fosse confortável para mim: usando meu celular para conversar e meu computador para jogar.
Um torneio por equipes estava começando hoje e, apesar de estar no meio das eliminatórias, eu estava perguntando a ele sobre meus problemas pessoais. Eu me senti mal por isso, mas ele aceitou muito gentilmente meu pedido de ajuda.
Embora eu não tivesse amigos na escola, havia muitas pessoas com quem eu podia conversar online. Hoje em dia, não importa onde seus amigos estão. Mesmo amigos online são amigos.
Só que eu não procurei nenhum na escola.
Canyon: Não é para rir, Baron-san. Por favor, tente se colocar no meu lugar...
Baron: Mas eu não sou você e isso é hilário. De qualquer forma, como elas não notaram você? Eles te destacaram como alguém quieto, então sua presença não pode passar tão despercebida. Se bem que isso é um alívio, na verdade.
Isso foi uma surpresa para mim também.
Na verdade, fiquei mais surpreso com o fato das três saberem meu nome do que com toda a história do desafio. Até então, eu simplesmente presumia que elas não conheciam meu rosto e nem meu nome. Talvez a razão pela qual eu consegui sair da sala de aula sem ser notado foi porque as três nem perceberam que eu estava lá.
E talvez eu tenha que enfrentar essa confissão amanhã.
Canyon: Mas o que devo fazer? É tudo apenas um desafio.
Baron: Bem, não é tão ruim assim, é? Você deveria simplesmente sair com ela. Você não tem namorada, certo? Você pode pensar nisso como uma situação win-win, onde ela se acostuma com garotos e você se acostuma com garotas.
Não pude deixar de suspirar com a resposta do Baron-san, que parecia estar levando tudo isso muito na brincadeira.
Como teria sido fácil se eu pudesse fazer essa escolha?
Peach: Eu sou contra! Brincar com os sentimentos de alguém assim... Você tem que rejeitá-la, Canyon-san!
Canyon: Agradeço que você esteja ficando com raiva por mim, mas você não pode dizer isso tão facilmente, Peach-san.
Canyon era o nome do meu personagem no jogo e quem havia se manifestado com preocupação era Peach-san, uma garota da mesma equipe com quem eu me dava muito bem. Dito isso, eu nunca tinha conhecido Baron-san ou Peach-san na vida real, então não sabia realmente seus gêneros, mas Peach-san provavelmente era mulher.
Peach: Por que não? Você só está recebendo uma confissão, então deveria simplesmente rejeitá-la.
Baron: Ora, ora. Respira fundo, Peach-chan.
Baron-san estava fazendo o possível para acalmar Peach-san por mim. Éramos apenas nós três no chat, pois os outros estavam ocupados demais lutando nas eliminatórias para participar da conversa.
Este é o chat de toda a equipe, então aposto que todos vão ver isso mais tarde. Fiquei ansioso só de pensar nisso, mas pelo menos tínhamos o chat só para nós por enquanto.
Peach-san diz para rejeitar a confissão, mas não é tão simples assim. Se um introvertido como eu rejeitasse Barato-san, quantas pessoas vão me ver como inimigo?
É claro que ela seria a culpada por fazer isso, porque foi desafiada, mas essa informação só era conhecida pelas partes envolvidas. Barato-san estaria em vantagem em todos os outros aspectos.
Em termos de posição social, quero dizer.
Estaria condenado se dissesse sim, condenado se dissesse não... Era por isso que precisava do conselho de Baron-san.
Baron: Então, você acha que está condenado de qualquer maneira?
Meu coração disparou quando Baron-san pareceu ler minha mente. Como esse cara poderia saber exatamente o que eu estava pensando, apenas com base em uma conversa por chat? Foi exatamente por isso que decidi pedir conselhos a ele.
Baron: Então diga sim. Será mais benéfico para vocês dois.
Canyon: E por benéfico você quer dizer…
Baron: Quero dizer que você receberá muitos olhares curiosos e de desaprovação, não importa o que diga. Ela é popular, certo?
Canyon: Sim, foi o que ouvi dizer.
Agora que pensava nisso, a Barato-san era bastante procurada pelos rapazes. Com a sua personalidade doce e alegre, além da sua tendência para não discriminar os colegas de turma, os rapazes da escola pareciam apaixonar-se por ela todos os dias, cada um agarrado a uma ideia errada e otimista de que talvez ela gostasse deles.
Era seu estilo que a identificava como uma gyaru. Eu só a tinha visto usando o uniforme escolar, mas ela o usava de forma a maximizar sua fofura sem infringir as regras da escola. Sua saia curta, por exemplo, mantinha o equilíbrio entre cobrir o corpo e mostrar o corpo.
Ela também deixava a blusa desabotoada na parte de cima, revelando uma generosa porção do decote entre os seios, que pareciam anormal para uma estudante do ensino médio. Isso era parte do motivo pelo qual eu tinha a impressão de que ela gostava de brincar com os meninos, mas...
Eu não esperava que ela fosse tão inexperiente.
Acho que é por isso que ela recusou todos os caras bonitos que se declararam para ela, fossem eles capitães de times esportivos, bad boys ou apenas caras bonitos, sérios e estudiosos.
Eu havia pensado erroneamente que ela estava em posição de escolher qualquer um que quisesse, mas como ela era tão inexperiente com homens, nenhum deles tinha chance de namorá-la.
As pessoas nem sempre são o que parecem... É melhor eu lembrar disso.
É verdade que eu era tão idiota quanto qualquer um daqueles caras, mas receber uma declaração de uma garota como aquela era algo totalmente inesperado, mesmo que ela tivesse sido desafiada a fazê-lo.
Baron: Você causará uma impressão melhor como o cara que recebeu uma declaração da garota popular e foi rejeitado um mês depois do que como o cara que a rejeitou abertamente. Além disso, você deve pensar nisso como uma oportunidade.
Canyon: Uma oportunidade?
Comecei a me perguntar se Baron-san estava falando sobre o que ele havia dito anteriormente sobre eu me acostumar com as mulheres, mas, no fim das contas, não era isso que ele queria dizer.
Baron: Se você aceitasse a confissão dela, ficaria com ela por pelo menos um mês, certo? Então, durante esse mês, que tal tentar fazer com que ela fique xonada por você?
Peach: Baron-san?! O que você está dizendo?!
Canyon: Hã?
Peach-san ficou chocada com a sugestão de Baron-san, enquanto minha resposta foi totalmente idiota.
Baron: Ah, talvez “xonada” seja um pouco antiquado. Eu pareci velho?
Não é por isso que estamos tão surpresos, Baron-san.
Minhas mãos pararam diante da sugestão inesperada. Peach-san parecia igualmente sem palavras.
Baron: Olha, você tem uma grande vantagem: o fato de já saber que ela foi desafiada a fazer isso.
Canyon: Certo... Ok, eu sei disso, mas isso é realmente uma vantagem?
Baron: Claro que é. Pense nisso: O que aconteceria se você não soubesse? Você ficaria eufórico, pensando que ela tinha uma queda por você, não é?
Isso era certamente verdade. Mesmo sendo introvertido... Não, especialmente por ser introvertido, o sentimento de superioridade que viria com o fato de ser “escolhido” por uma das garotas populares teria causado uma mudança considerável em mim.
Canyon: Bem, eu definitivamente ficaria feliz. Eu poderia ficar arrogante por ter sido escolhido por ela e me deixar levar.
Ficar tão cheio de mim mesmo quando eu nem tinha amigos seria ridículo.
Baron: Se fosse esse o caso, você passaria por tudo isso apenas para ela terminar com você um mês depois. Mas como sabe que isso é um desafio, você será capaz de aceitar a situação com calma.
Com calma? Eu pareço calmo para você!? Estou falando com você precisamente porque não estou calmo!
Baron-san continuou explicando, sem dar a mínima para os meus pensamentos.
Baron: Você deveria se esforçar durante um mês para que ela goste de você e, então, você mesmo pode terminar com ela. Se não, você pode continuar namorando com ela. A escolha é sua, mas... se dependesse de mim, eu diria que sua vida seria muito mais divertida se você continuasse namorando com ela.
Canyon: Baron-san, por acaso você está gostando disso?
Baron: Claro que estou. E me mantenha informado, ok? Ouvir sobre os casos amorosos de um estudante do ensino médio de verdade é um passatempo divertido.
Eu me arrependi um pouco de ter consultado o Baron sobre isso, mas quanto mais eu ouvia sua lógica, mais eu achava que fazia sentido. Pode ser que meus pensamentos estivessem sendo convenientemente manipulados, mas foi o conselho dele que me ajudou a tomar uma decisão: eu aceitaria a confissão da Barato-san.
Baron: Ah, mas aja como um bom estudante do ensino médio. Ela não se sente à vontade perto de homens, então não comece a ficar todo carinhoso logo de cara.
Canyon: Eu nunca faria isso!
Um introvertido não tem coragem para isso!
Além disso, fui escolhido exatamente por esse motivo. Se eu fizesse algo assim, toda a premissa iria por água abaixo. Depois disso, voltei ao jogo, mantendo um olho no conselho do Baron-san. A Peach-san ainda era contra a ideia, mas talvez ela tenha desistido no final, porque parou de responder.
Será que a deixei zangada? Ela parecia preocupada comigo, então devo pedir desculpas da próxima vez que ela responder.
Como nota adicional, conseguimos passar nas eliminatórias, mas depois fui provocado pelos meus colegas de equipe... mas isso é assunto para outro dia.
♢♢♢
Naquela noite, talvez por causa do nervosismo de saber que em breve receberia uma confissão, tive dificuldade para dormir. Mesmo na escola, na manhã seguinte, eu estava meio distraído e, com a sala de aula quase vazia e tão silenciosa, estava quase cochilando na minha mesa.
Foi nessa sala de aula quase vazia, comigo em meu estado distraído, que alguém me chamou.
Virei-me na direção da voz e meu olhar fixou-se em um par de coxas visíveis sob uma saia e...
Não, não, eu preciso olhar para o rosto dela.
— Ei, Misumai, você tem tempo para conversar depois da aula hoje?
Como era de se esperar, a voz pertencia a Barato-san. Seu longo cabelo castanho parecia macio enquanto balançava e sua voz tremia levemente.
— Ah, sim. Sem problema, Barato-san.
— Obrigada. Então vejo você depois da aula — naquela sala de aula quase vazia nas primeiras horas da manhã, foi tudo o que Barato-san me disse.
Ela parecia um pouco brusca e nervosa ou era só impressão minha por conhecer as circunstâncias?
Após sua breve conversa comigo, ela rapidamente voltou para suas duas amigas. Eu não gostava de chegar atrasado, então geralmente chegava cedo à sala de aula, mas hoje as meninas chegaram tão cedo quanto eu. Talvez elas tivessem escolhido chegar mais cedo para não causar confusão.
As duas amigas evitavam olhar para mim de uma forma quase antinatural e davam tapinhas nas costas de Barato-san enquanto a encorajavam.
— Bom trabalho, Nanami. Bom trabalho!
Se eu não soubesse das circunstâncias, poderia ter interpretado mal. Era como se ela tivesse precisado de muita coragem apenas para falar comigo. Na verdade, como ela não estava acostumada com homens, provavelmente ficaria nervosa independentemente de com quem estivesse falando.
A partir daquele momento, ela e eu não tivemos nenhum contato até depois da aula.
Eu costumava sentar sozinho, falando apenas algumas palavras aqui e ali com alguns dos meus colegas de classe. Ela, por outro lado, ficava com seus amigos ou com os extrovertidos da turma.
Nós não tínhamos nos encontrado depois da aula, mas, ainda assim, era impossível para mim tirar isso da cabeça, então eu olhava para ela de vez em quando. Talvez ela sentisse o mesmo, porque houve algumas vezes em que nossos olhos se encontraram e a cada vez que ela se virava, aparentava estar mais nervosa e corando. Se eu já não estivesse por dentro da situação, poderia facilmente ter interpretado mal suas reações.
Ela deve estar nervosa. Eu também estou nervoso, mas talvez, graças a todos os conselhos do Baron-san ontem, eu consiga manter a calma.
E assim, as aulas acabaram e o momento decisivo chegou.
— Obrigada por esperar, Misumai. Então, hmm… você poderia vir comigo?
Todos os outros haviam saído da sala de aula, então éramos apenas eu e Barato-san. Nem mesmo suas amigas estavam lá. Como era apenas um desafio, eu pensei que ela iria se declarar para mim ali mesmo na sala de aula, mas parecia que ela queria fazer isso em outro lugar.
Nenhum de nós falou enquanto eu a seguia.
Isso não parecia nada bom. Eu tinha tanta certeza de que estava calmo, mas a cada passo que dava, meu nervosismo aumentava. Além disso, os quadris de Barato-san balançavam enquanto ela caminhava, fazendo sua saia curta balançar e meu olhar se desviar para...
Oh, droga, isso não é bom! Lembre-se do que Baron-san lhe disse ontem.
Baron: Agora escute, as mulheres são mais sensíveis ao contato visual do que os homens pensam. Quando ela estiver se declarando, certifique-se de olhar diretamente nos olhos dela. Não importa o que aconteça, não olhe para o decote, as pernas ou qualquer outro lugar que você não deva olhar.
Certo, fique calmo. Fique calmo. Olhe diretamente.
Ao lembrar do conselho de Baron-san, senti minha compostura retornar.
Finalmente chegamos aos fundos do prédio da escola, onde o muro ao redor impedia os alunos de saírem do campus. O lugar estava vazio, então não havia perigo de sermos vistos. Em vez disso, era perigoso no sentido de que não havia ninguém lá para ficar de olho em você e os detritos espalhados pelo chão faziam o lugar parecer um risco à segurança.
— Ok... Isso deve servir.
Barato-san murmurou para si mesma enquanto parava e se virava para mim. Sua saia esvoaçou quando ela girou, tornando impossível para mim não olhar.
Mesmo esse pequeno gesto fez meu coração disparar, mas eu precisava manter a calma.
É apenas um desafio. Não a interprete errada.
Só que mesmo sabendo disso, não pude evitar sentir meu coração acelerar. Barato-san começou a falar depois de colocar uma distância considerável entre nós. Eu não sabia se essa distância existia porque ela estava desconfiada de mim ou porque ela era desconfiada com os homens em geral, mas esperei em silêncio até que ela terminasse antes de responder.
— Obrigada por ter vindo, Misumai. Eu, hmm tinha algo que queria dizer. Você... sabe o que poderia ser?
— Desculpe, eu... nunca conversei com você antes, Barato-san, então não sei por que você queria me ver. Se é dinheiro que você quer, eu não tenho muito.
Eu disse fingindo ingenuidade.
— Não estou tentando tirar dinheiro de você e nem nada parecido!
Embora eu não tivesse certeza se tinha conseguido enganá-la, as coisas pareciam estar indo bem.
— Hmm... Bem, eu... hmm... eu...
Ela continuou procurando as palavras certas, sem conseguir chegar ao ponto. Ela era o exemplo perfeito de uma garota reunindo coragem para se declarar a alguém. Não parecia nada um desafio.
Mesmo estando nervoso, apesar de saber que era uma mentira, olhei diretamente para o rosto dela, com medo de tirar os olhos dela por um momento sequer. Dito isso, quanto mais eu fazia isso conscientemente, mais meu olhar vacilava.
Lembre-se, Baron-san disse para olhar um pouco para cima, não para baixo em momentos como esse.
Se eu olhasse para baixo, pareceria que estava olhando para o corpo dela, mas se olhasse para cima, isso poderia ser evitado.
Para cima... Para cima...
Seguindo seu conselho, levantei os olhos e foi graças a esse conselho, além da pura coincidência, que consegui ver.
— Eu... go-go-gosto... de você, então, hmm… você... quer... sair... comigo?
Antes mesmo que ela terminasse de falar, eu comecei a correr em direção a ela.
Em um dia normal em casa, eu costumava jogar videogame ou levantar pesos enquanto assistia a vídeos. Eu nunca tinha ouvido falar que levantar pesos fazia você correr mais rápido e, honestamente, eu nunca tinha corrido antes, mas... se a distância fosse tão curta, eu conseguiria!
Acredite em si mesmo, mesmo que não tenha nenhuma base para essa crença! Chegue a tempo!
O que eu vi por pura coincidência foi um grande balde aparecendo em uma janela aberta. Era um balde usado para limpeza no campus, aparecendo na janela aberta.
No momento em que o vi, lembrei-me de que aquele era exatamente o local onde os alunos costumavam jogar a água suja quando estavam com preguiça de levá-la para fora. E, naquele mesmo momento, Barato-san estava debaixo daquele balde.
A esse ritmo, ela vai ficar encharcada de água suja.
No momento em que pensei isso, meu corpo se moveu sem que eu pensasse. Não era como se você fosse se machucar por ser molhado com água suja, mas com certeza ficaria encharcado de sujeira.
Alguns diriam que era um castigo merecido por ter se declarado para mim por causa de um desafio, mas eu não conseguia pensar assim. Mesmo que fosse um desafio, vê-la ali parada com aquele rubor nas bochechas, tentando juntar as palavras...
Talvez fosse tudo encenação, mas Barato-san ficar encharcada de água quando estava reunindo coragem para falar com um cara... De alguma forma, eu simplesmente não queria isso.
— Hã? Eeeeeeeeek?!
Barato-san gritou quando percebeu que eu estava me aproximando com tanta velocidade, mas eu a protegi com meu corpo sem hesitar.
Ufa... Eu consegui!
Assim que respirei aliviado, a água fria atingiu minhas costas.
Nossa, é mais doloroso do que eu pensava! É fria, suja e dói!
A água fria encharcando meu uniforme baixou minha temperatura corporal imediatamente, me transformando em um tremor incontrolável.
Droga! Não limpe com água tão fria! Use água mais quente! Não, espere, não jogue pela janela, para começar!
— Hã? O quê? O quê?! O que é isso?! Água?! Por quê?!
Abrindo os olhos, Barato-san olhou ao redor, debaixo de mim, como se finalmente tivesse compreendido a situação. Olhando para ela, tudo o que eu conseguia pensar eram coisas fora de lugar, como se perguntar se a camisa dela tinha ficado suja porque o chão não era pavimentado ou se suas roupas desarrumadas eram tentadoras demais para os olhos.
E então, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, recebi um golpe na nuca. Ao mesmo tempo, vi o balde no canto do meu olho. Aparentemente, a pessoa que jogou a água pela janela se assustou com o grito de Barato-san e deixou o balde cair.
Pelo menos segure ele, tá?
Havia um pouco de água dentro dele, que se espalhou pelo chão. Que bom, se tivesse acertado nela, ela poderia ter se machucado, pensei. Olhei para o rosto da Barato-san e franzi a testa quando vi uma mancha vermelha em sua bochecha.
Oh, espere. Ela se machucou?
— Você está bem, Barato-san? Você se machucou?
— Eu estou... bem. Calma, você está bem, Misumai?!
— Estou bem, só estou com frio e molhado. Não tenho ferimentos.
— Você está ferido! Sua cabeça está sangrando!
Foi então que percebi que realmente tinha um pequeno corte na cabeça, onde o balde havia me atingido, e que a mancha vermelha na bochecha do Barato-san era, na verdade, meu sangue.
— Oh, desculpe... Não devia ter sangrado em cima de você. Vou-me afastar. Não se molhou, né, Barato-san?
— Quem se importa comigo?! É você que está...
Essas foram as últimas palavras que chegaram aos meus ouvidos.
No momento em que me levantei, afastando-me do Barato-san, meu corpo balançou. Parecia que o impacto daquele balde tinha sido maior do que eu pensava. De repente, fui tomado por aquela sensação de tontura que vem quando se levanta muito rápido e, de uma vez, toda a força saiu do meu corpo.
— Misumai! Misumai?!
A última coisa que ouvi antes de perder a consciência foi a voz preocupada da Barato-san gritando meu nome.
♢♢♢
— Hã? Isso é… enfermaria?
Quando recuperei a consciência, o teto acima de mim parecia familiar. Era o teto da enfermaria. Era reconfortante saber onde eu estava, mas...
Por que eu estou na enfermaria?
Se bem me lembro, tenho certeza de que estava conversando com a Barato-san e... ela tinha acabado de se declarar para mim...
Ah, é verdade. Um balde caiu na minha cabeça, não foi?
Nesse momento, meus pensamentos foram interrompidos por uma voz chamando meu nome.
— Misumai?! Graças a Deus! Você acordou!
Era a voz de uma garota, a voz de Barato-san, e vinha de perto de mim. Foi ela quem me trouxe para cá?
— Ah... Foi você que me trouxe para a enfermaria, Barato-san? Se for isso, muito obrigado... Eu sei que não sou exatamente muito leve…
— Graças a Deus, você acordou! Graças a Deus! Ugh...
Sem responder à minha pergunta, Barato-san começou a chorar, aparentemente dominada pela alegria e pelo alívio. Embora me sentisse mal por tê-la deixado preocupada, também me senti lisonjeado por ela se preocupar com um cara como eu.
Mas, vamos lá, o que importa agora? Eu só estava feliz que Barato-san estava bem. De qualquer forma, ela não parecia ter trocado seu uniforme escolar habitual.
— Hum, suas roupas não ficaram sujas e você não se machucou?
— Ah, não. Graças a você, estou bem. Espere, isso não é sobre mim! Você está bem?! Você estava sangrando muito! Você pegou alguma doença daquela água suja? Você não está se sentindo mal, está?
Realmente havia tanto sangue assim? Eu tinha sido tratado, então não sentia tanta dor. Bem, talvez o galo na minha cabeça doía um pouco, mas não é uma dor forte, e não estou com náuseas. Parece que consigo até me levantar.
— Estou bem, mas fico feliz que você não esteja ferida.
Sentei-me na cama e sorri para ela, mas ela desviou o olhar.
Hã? Eu a deixei brava? Não me lembro de ter dito nada que a incomodasse.
Barato-san parecia um pouco nervosa e começou a falar ainda de costas para mim.
— Hum, Misumai, você pode deitar de novo? Assim fica... sabe… um pouco mais fácil para mim.
Ela estava corando e me lançando olhares. Achando sua reação um pouco estranha, olhei para mim mesmo e descobri... que não estava vestindo camisa.
Nu. Eu estou completamente nu! Não, espere, eu ainda estou vestindo algo lá embaixo, mas ainda assim…
Mesmo que apenas a parte superior do meu corpo estivesse exposta, meu rosto ficou quente ao pensar que uma garota estava me vendo nu.
— Eu... me desculpe! Que vergonha!
Corri para cobrir meu corpo com o cobertor e me deitei novamente.
— N-Não... Mas, hum... você é mais musculoso do que parece, hein? Magro, mas ainda assim sarado. Oh, quero dizer, não é como se eu estivesse olhando ou algo assim!
Como eu não saía muito com os amigos, passava a maior parte do meu tempo livre em casa. Isso me dava muitas oportunidades para malhar. Eu não achava que meu físico fosse tão útil, mas, pela primeira vez, pude dizer que ele tinha sido útil.
Barato-san e eu ficamos em silêncio. Eu por causa do constrangimento de ter sido visto assim por uma garota e ela por causa do constrangimento de ter confessado que viu um garoto seminu. Esse silêncio continuou por um tempo, preenchendo o ar entre nós, até que foi finalmente quebrado pela chegada da enfermeira da escola.
— Olha só o que temos aqui… Dois pombinhos com o rosto vermelho. Não me digam que estavam usando meu consultório para um encontro?
Barato-san e eu ficamos ainda mais vermelhos, mas a enfermeira continuou antes que pudéssemos negar sua sugestão.
— Aqui está, jovem — disse ela, entregando-me uma muda de roupa — Guardei seu uniforme sujo para você levar à lavanderia ou você pode lavá-lo você mesmo.
Eu tinha coisas que queria dizer, mas, aliviado por o silêncio ter sido quebrado, aceitei a pilha de roupas. Ao fazer isso, vi Barato-san saindo momentaneamente da sala.
A enfermeira me entregou um uniforme escolar extra. Quando perguntei, ela disse que eles sempre tinham conjuntos extras à mão para momentos como esse. Fiquei aliviado por não ter que voltar para a sala de aula ou ir para casa com minha roupa da educação física.
Enquanto eu passava o braço pela manga, a enfermeira resumiu o que havia acontecido. Parece que, depois que desmaiei, fui carregado para a enfermaria por um professor que a Barato-san chamou ao local.
Como ela não queria me mover depois do ferimento na cabeça e sabia que não poderia me carregar sozinha, ela correu para a sala dos professores para pedir ajuda e correu para dentro para dizer que um menino havia se ferido.
Você é muito sensata, Barato-san. Se fosse eu, provavelmente teria entrado em pânico e tentado carregar a pessoa sozinha.
Acontece que ninguém parecia saber quem havia jogado a água suja pela janela. Não havia câmeras instaladas no campus, então seria impossível determinar o culpado. No máximo, cada turma provavelmente receberia uma advertência severa e isso seria o fim da história.
Bem, não era como se isso importasse muito.
— Não se esqueça de agradecer à aquela garota. Ela tem feito companhia a você desde que você foi trazido para cá. Ah, ser jovem é tão bom.
Ao ouvir isso, senti minhas bochechas esquentarem. Por enquanto, porém, optei por não entrar na brincadeira e continuei me trocando em silêncio.
— Ah, seu ferimento na cabeça não foi nada grave, mas eu cuidei desse corte. Você está se sentindo bem? Se a dor persistir ou se você começar a sentir tonturas, recomendo que vá ao hospital imediatamente.
Quando terminei de me trocar, encontrei um pequeno quadrado de gaze colado na minha cabeça. Fora isso, me sentia normal, sem dor ou náusea. Também me sentia bastante alerta, então provavelmente não precisava ir ao hospital. Só precisava contar aos meus pais sobre o acidente.
— Mocinha, já pode voltar. Seu namorado terminou de se trocar. É fofo, realmente. Ficar todo vermelho ao ver seu namorado semi nu.
A enfermeira riu calorosamente ao sair da sala. Quando Barato-san voltou, seu rosto ainda estava um pouco corado.
Não, eu não sou namorado dela. Ei, espere, ela se declarou para mim antes de tudo isso, então é isso que eu sou agora?
— Misumai, você está bem?
— Ah, sim. Estou bem. Você chamou o professor para mim, né? Obrigado. Isso foi uma grande ajuda.
— Na verdade, eu que deveria agradecer a você por me proteger.
Proteger você? Eu só tentei protegê-la de um pouco de água suja, então não foi grande coisa. Ok, agora estou envergonhado.
Um silêncio estranho se instalou entre nós.
Hã... o que devo dizer em momentos como este? Vamos, pense. O que Baron-san disse?
Espere um minuto. Baron-san não me deu conselhos sobre o que dizer se eu me machucasse durante a confissão.
Não tem alguma maneira de puxar conversa?!
Enquanto tentava lembrar das dicas de ontem, Barato-san murmurou algo.
— Sua resposta...
— Hã?
Minha resposta?
— Eu me declarei para você, sabia? E eu estava pensando que... gostaria de ouvir sua resposta, mas... você se lembra de alguma coisa?
Barato-san desviou o olhar de mim levemente e inclinou a cabeça, enrolando o cabelo castanho no dedo. Suas bochechas estavam levemente coradas. Parecia que tanto ela quanto eu ficaríamos vermelhos o dia inteiro.
Ah, é verdade.
Eu corri em direção a ela antes de poder responder, então não tinha realmente dado uma resposta. Para mim, só havia uma resposta certa, então esqueci completamente de dizer a ela. Acho que devo ter ficado momentaneamente confuso porque levei uma pancada na cabeça.
Barato-san estava nervosa.
Antes disso, ela sempre parecia chamativa e confiante, mas a garota diante de mim era inocente e preocupada. Seria esse o seu verdadeiro eu?
Hm... Baron-san disse para olhar diretamente nos olhos dela ao responder. Os olhos dela, Yoshin. Olhe nos olhos dela. Ok, isso é um pouco embaraçoso. Seja corajoso, eu.
— Ah, certo. Olha, eu não sei o porquê de você gostar de mim, mas se estiver de acordo, então estou ansioso para sair com você, Barato-san.
Com isso, sua expressão ansiosa se transformou em um sorriso. Deve ser isso que significa sorrir como uma flor. Não, esta flor está em plena floração. Talvez seja apenas uma encenação, mas sou um sortudo por poder ver este sorriso.
Se ela continuar sorrindo para mim assim, vou ficar com a ideia errada. Isto é um desafio, não baixe a guarda.
Ela sorriu radiantemente por um bom tempo antes que o sorriso se tornasse sombrio. Então, com um pequeno beicinho, ela murmurou: “Nanami...”
— Como?
Esse era o nome dela. Eu já sabia, mas por que ela murmurou o próprio nome? Sem me dar tempo para pensar, a resposta chegou para me esclarecer.
— Estamos namorando agora, então me chame de Nanami. Eu também vou te chamar pelo seu nome, Yoshin.
Dizer coisas assim com aqueles olhos de cachorrinho faria qualquer cara se ajoelhar para obedecê-la. Era uma jogada astuta, com certeza, ou melhor, um ato tão fofo que era quase ilegal.
Para ser sincero, eu estava um pouco hesitante em chamar uma garota pelo primeiro nome. Sempre achei que os extrovertidos que conseguiam fazer coisas assim com tanta facilidade eram criaturas muito diferentes de mim, no entanto, eu estava prestes a dizer o nome dela. Minha única preocupação era se conseguiria dizê-lo bem.
— Tudo bem. Sim, certo. É um prazer, Na-Nanami-san.
Eu consegui dizer.
Foi preciso toda a minha força, mas de alguma forma eu disse. E agora que eu tinha dito, me senti extremamente envergonhado. Eu estava coçando da cabeça aos pés.
Nossa, será que eu realmente conseguirei me acostumar com isso?
Barato-san me lançou outro sorriso lindo.
— Sim. É um prazer, Yoshin.
Nossa, quando ela me olha assim, me dá vontade de me esforçar mais. Vou tentar chamá-la pelo nome.
Estendi minha mão direita. Isso não fazia parte dos conselhos que Baron-san me deu, mas era algo que eu mesmo decidi fazer. Eu estava oferecendo um aperto de mão.
Barato-san hesitou por um momento, mas então pegou minha mão e a apertou. Era a primeira vez na vida que eu tocava a mão de uma garota. Era macia, quente e... muito pequena.
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