PRÓLOGO - Não temos um relacionamento

Aquele dia, como qualquer outro, começou e terminou sem nenhum incidente específico… ou pelo menos era assim que deveria ter acontecido.

— Ei, quer ir ao karaokê? Estou com vontade de cantar uma música ou duas.

— O quê? Mas é só segunda-feira!

— Ah, vamos lá. Vou acabar com essa segunda-feira sombria com uma nota da minha linda voz!

Enquanto eu me preparava para ir para casa, as vozes dos meus colegas mais extrovertidos chamando seus amigos entraram em meus ouvidos. Eram os garotos populares, aqueles que estavam no topo da casta da escola.

— Ei, vocês venham também! Vamos ouvir algumas músicas de anime para variar.

Os extrovertidos se dirigiram ao grupo de otakus da turma, caras que não eram muito diferentes de mim. Os otakus reagiram de maneira positiva e aceitaram o convite de bom grado.

Felizmente, em minha classe, não havia nenhum tipo de bullying. Pelo menos, nada que eu soubesse. Cada aluno tinha seu próprio grupo, o que inevitavelmente determinava quem tinha voz ativa e quem tinha mais autoridade, mas, em um nível básico, os diferentes grupos tendiam a se dar bem.

Eu era provavelmente a única exceção. Eu não pertencia a nenhum grupo específico e, basicamente, só falava algumas palavras com meus colegas de classe de vez em quando, portanto, não tinha nenhum amigo próximo lá. Mesmo agora, ninguém prestava atenção em mim enquanto conversavam sobre seus planos para o karaokê.

No meio de tudo isso, aparentemente já decidido, um dos rapazes chamou um grupo de três garotas — três das garotas mais atraentes da classe. Sua voz se elevou trêmula, como se estivesse nervoso.

— Ei, Nanami, vocês também virão, certo? Não vai ser nada divertido se vocês três não estiverem lá.

Apesar da determinação do aluno, a resposta que ele recebeu não foi nada positiva. Foi então que uma garota de cabelos pretos se virou e acenou com a mão, recusando o convite imediatamente.

— Ah, acho que desta vez não vamos participar. Temos algo para resolver com a Nanami. Vocês se divirtam!

— Ah, vamos lá. Fazer karaokê com todo mundo é muito mais f-

— Se você não parar com isso… —  A garota de cabelos pretos deu um sorriso aterrorizante para o cara, que se retirou desanimado.

— Ah, tudo bem, tudo bem. Vocês três não virão desta vez… já entendi.

Com isso, a aluna acenou com a cabeça, satisfeita. Atrás dela, a garota que ele havia chamado Nanami, parecia um pouco aliviada… ou seria apenas minha imaginação?

Todas as três garotas eram o que você pensaria se imaginasse uma típica gyaru — ou seja, elas mostravam muita pele e pareciam ter bastante experiência com garotos — então talvez fosse minha imaginação. Seu nome era... Nanami, certo? Era um nome que eu achava que já tinha ouvido em algum lugar, mas não conseguia me lembrar onde.

“Bem, isso não tem nada a ver comigo”, pensei ao sair da sala de aula.

Mesmo fora dela, eu podia ouvi-los decidindo entre si sobre um bar de karaokê decente, mas minha mente já estava ocupada com pensamentos de jogar algum jogo online quando eu voltasse para casa.

Veja, essa era apenas uma diferença entre ter amigos na sala de aula e ter amigos fora dela. Simplesmente escolhi dar prioridade para os amigos que fiz online. Isso é tudo.

Com isso em mente, os pensamentos sobre meus colegas de classe que estavam indo para o karaokê e o grupo de gyaru que já tinha planos desapareceram rapidamente da minha mente. Eu não tinha nenhum relacionamento com essas pessoas, pessoas essas com as quais eu nunca teria nada a ver. Aquelas três gyaru atraentes, em particular, nunca se interessariam por mim.

Ou, pelo menos, era o que eu pensava até aquele dia.

Eu nem sequer imaginava isso. Nunca imaginei que aquelas garotas... Não, eu nunca imaginei que me envolveria profundamente com aquela garota, uma garota com quem eu não tinha nenhum relacionamento e que tantas coisas mudariam.

Se isso era bom ou ruim, o meu eu atual ainda não havia descoberto.

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