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CAPÍTULO 5 - A apresentação do funcionário corporativo

Atualizado: 2 de set.

— Eu não vejo a hora de começar o festival cultural. Já dá para sentir a emoção no ar, né?

Embora os exames ainda estivessem longe, nossas sessões de estudo depois da aula estavam a todo vapor. Durante um intervalo, Shijoin-san mencionou o festival, com os olhos brilhando.

— É, vai ser incrível! A vibe daqui é contagiante.

O festival cultural…

Essas palavras despertaram sentimentos familiares, mas não exatamente felizes. Meus festivais anteriores foram passados acompanhando Ginji, comendo e observando grupos de amigos e casais se divertindo, então não é exatamente minha ideia de diversão.

— Você tá toda animada, não é, Shijoin-san?

— Sim! Adoro festivais, não importa qual seja!

Seu entusiasmo é cativante e quase infantil. Eu diria… surpreendentemente doce.

— Quando eu era mais nova, não participava de muitos, então era sempre uma experiência rara para mim.

— Sério?

Sua origem familiar poderia sugerir uma vida privilegiada, mas Shijoin-san deu a entender uma realidade diferente. Talvez não fossem regras rígidas, mas sim a agenda exigente de seus pais que limitavam suas experiências.

— Isso é tão diferente de como eu cresci. O festival cultural faz com que toda a escola se sinta conectada, com todos trabalhando juntos para criar algo incrível. Isso não parece emocionante pra você?

Sua energia alegre era contagiante. Eventos escolares nunca me empolgavam, o dia de esportes era uma tortura e até mesmo viagens, ou competições, eram apenas algo a ser suportado. O festival cultural não era tão ruim, mas a empolgação que eu sentia ainda estava muito longe da empolgação que Shijoin-san sentia.

A ideia de aproveitar um evento escolar... esse era o tipo de experiência normal do ensino médio que eu havia perdido.

— Sabe, acho que estou começando a ficar animado para o festival. De repente, sinto vontade de me esforçar de verdade.

— É isso aí! Vai saber o que nossa turma vai criar, mas vamos dar o nosso melhor juntos!

E assim, fui contagiado pelo espírito do festival cultural, pronto para dar o meu melhor desta vez. Mal sabia eu que o festival logo exigiria minha atenção de maneiras que eu nem imaginava.

***

— Vamos dar tudo de nós! Temos que tornar isso chamativo e divertido. Vamos tornar isso algo inesquecível!

— Já chega! Como eu venho dizendo, vamos deixar isso para lá e seguir em frente!

— Por que você sempre tem que bagunçar tudo?!

Vozes se chocavam na sala de aula enquanto o debate sobre o estande do festival cultural continuava acalorado. Podia parecer uma discussão animada, mas a realidade era puro caos.

Por quanto tempo vamos debater isso?! Já faz quase uma semana.

No início, todos estavam otimistas. Escolheríamos um estande e definiríamos os detalhes. 

Isso é tão fácil… 

Mas não, as discussões se arrastaram sem fim. A raiz do problema? Dois dos meus colegas estavam gritando um com o outro.

— Vamos lá! Qualquer coisa está bom, mas tem que ser algo que realmente se destaque!

Akasaki, o tagarela que adorava espetáculos, mas odiava planejar, só estava aumentando a confusão.

— Já passamos por isso! Nada de barracas de comida, nada de casa mal-assombrada! Vamos fazer uma exposição, algo simples. Quem quer se dar ao trabalho de fazer todo esse preparativo?

Noroda, sempre a favor do caminho mais fácil, resistia a qualquer coisa que parecesse exigir esforço.

— Vamos respeitar as opiniões de todos! Este é um esforço da turma, então vamos discutir abertamente e ver o ponto de vista de cada um.

Kazamihara-san, nossa representante de turma bem-intencionada, mas nervosa, buscava a harmonia, mas não conseguia nos levar a uma decisão. Nós havíamos reduzido algumas ideias para estandes, mas a discussão ia e voltava em círculos intermináveis. É como diz o ditado: “Quem não anda para a frente, anda para trás”.

As opiniões divergentes eram uma coisa, mas quanto mais o debate se prolongava, mais ele se transformava em um conflito. Isso me trouxe lembranças das reuniões da empresa na minha vida anterior, onde as discussões muitas vezes se transformavam em uma imposição obstinada de agendas pessoais, em vez de ouvir as perspectivas dos outros.

Quando as pessoas pensam que compromisso é sinônimo de derrota, é aí que as boas discussões se tornam desagradáveis.

Normalmente, era necessário um intermediador nessas situações, mas, infelizmente, os apelos de Kazamihara-san por uma “discussão adequada” não foram suficientes para realmente controlar o debate.

— Isso é ridículo. Estou começando a me importar menos com o estande e mais com o fim dessa bobagem.

***

Ginji, encostado ao meu lado, resmungou sobre o debate interminável. Claramente, nossos colegas de classe estavam tão exaustos quanto nós, com a atenção dispersa e o entusiasmo esgotado.

— Ginji, alguém mais não pode falar? Vamos perder todo o nosso tempo de preparação se isso continuar — arrisquei.

— Sim, talvez... mas quem quer se meter nessa confusão? Qualquer um que falar agora será alvo daqueles tagarelas.

— Faz sentido...

Estou começando a me lembrar... É… acabamos montando uma exposição de arte sem entusiasmo, exatamente como Noroda queria.

Nossa exposição montada às pressas foi um desastre, nossa sala de aula estava deserta. Naquela época, eu disse a mim mesmo que era a saída mais fácil... Meus olhos se voltaram para Shijoin-san. Seu sorriso habitual estava ausente, seus ombros caídos refletiam a desarmonia da reunião, em vez do senso de união de que precisávamos.

Essa decepção era uma nuvem pesada sobre algo que deveria ser divertido. Se continuássemos assim, nosso estande ficaria sem vida, muito longe da celebração vibrante que Shijoin-san queria.

Mas como posso mudar isso?

Deve haver uma maneira, mas seria necessário um grande esforço. Eu poderia superar essa confusão, mas isso significava estar realmente comprometido. Significava fazer coisas que eu nunca imaginei na minha antiga vida no ensino médio.

Tudo bem, se vamos fazer isso, vamos nos dedicar totalmente.

A ideia do sorriso radiante de Shijoin-san se transformando em decepção era insuportável. Uma onda de determinação tomou conta de mim e eu não deixaria que aquilo acontecesse de novo.

Pode parecer estranho, mas, no fundo, um introvertido de verdade tem força para levar as coisas adiante.

***

— O que você está fazendo, maninho?

Kanako espiou por cima do meu ombro, atraída pelos deliciosos sons chiando vindos da sala de estar.

— Só preparando um takoyaki — respondi.

Minha máquina de takoyaki, um prêmio surpresa em uma rifa local, estava à minha frente. Podia ser barata, mas funcionava muito bem, deixando a massa crocante na medida certa quando eu a virava.

— Tá, isso eu sei, mas por quê? Você está planejando uma festa de takoyaki?

Recentemente, desde o incidente, Kanako abandonou sua atitude distante e começou a falar comigo novamente. Isso me encheu de calor humano e eu respondi com um sorriso.

— Algo assim. É para Shijoin-san. Quero ajudá-la de alguma forma.

— Hã? Você acha que takoyaki é uma cura para a tristeza dela? Essa é nova... Por acaso ela fica animada depois de comer comida frita?

— Não tire sarro dela!

— Você é quem está evitando a pergunta! E você não acha que perde alguns neurônios sempre que Shijoin-san está por perto?

Do que ela está falando? Isso não parece certo. Ainda assim... talvez eu realmente não pense com clareza quando Shijoin-san está envolvida.

— Espere, recebi uma ligação — uma olhada na tela me disse quem era — Alô, aqui é Niihama — Kanako observava, com uma expressão perplexa no rosto.

— O que é que tá acontecendo aqui? — os olhos de Kanako se arregalaram de surpresa quando eu atendi a ligação.

— Obrigado por isso! Sobre o preço... Ah, sim, sim. Se for assim, talvez tenhamos que procurar outra pessoa. Sim, sem problemas!

Ah, havia algo estranhamente nostálgico nas negociações comerciais...

— Bem, então, se você puder ajustar um pouco o preço, acho que podemos fechar o negócio. Você pode? Ótimo. Entrarei em contato em breve para finalizar as coisas. Obrigada novamente. Tchau.

Encerrei a ligação e fechei meu celular flip. Mesmo que seja um pouco antiquado, há algo satisfatório naquele clique à moda antiga. Voltando-me para Kanako, acenei com a cabeça.

— Ok, está resolvido. Então, o que você estava...

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Kanako me encarou com os olhos arregalados.

— É isso que eu quero perguntar a você! De onde veio essa conversa super constrangedora de funcionário de escritório?

— Ah...

Eu nem tinha percebido, mas tinha entrado completamente no meu antigo modo corporativo durante a ligação.

Acho que velhos hábitos realmente são difíceis de perder...

Aquela maneira franca e ritmada de falar pode ter sido “chata”, mas definitivamente torna as negociações mais fáceis.

— Bem, eu estava conversando com um fornecedor. Eles vieram com todo aquele discurso corporativo, então pensei em tentar.

— Hmm... Bem, acho que você estar estranho ultimamente não é exatamente uma novidade.

Estranho? Eu? Ela não está errada, mas ouvir isso em voz alta... dói um pouco.

— De qualquer forma, o que vem a seguir na agenda, maninho? Você está tramando algo para Shijoin-san, certo?

Os olhos de Kanako de repente brilharam de empolgação. Parecia que ela estava gostando muito das minhas travessuras.

— Escuta, eu não sou sua fonte pessoal de entretenimento, tá ligada?

— Ahahaha! Mas qualé? Assustando aquele delinquente, dando um apavoro naquelas garotas gyaru que estavam incomodando Shijoin-san. Como eu poderia não ficar animada? Eu me tornei sua maior fã!

Ver Kanako rindo com tanta alegria me fez suspirar. Como irmão mais velho, acho que eu tinha que aceitar isso.

— Bem, não é como se eu estivesse tentando manter isso em segredo. Eis o que estou pensando...

Enquanto eu explicava meu plano, Kanako começou a rir novamente.

— Ahahaha! Sério? Isso é incrível! E você já tem tudo preparado? Você é tão determinado que chega a ser hilário! Dessa vez, você se superou! Sou oficialmente a presidente do seu fã-clube!

— Ei! Para de rir! Estou falando sério.

— Ahaha, tudo bem, tudo bem! Mas mesmo assim, você tem que admitir… — Kanako olhou para mim e, por um momento, sua felicidade parecia refletir a minha — O antigo você nunca teria feito algo assim. Eu já ouvi falar da sua “paixão” antes... mas para passar por todo esse trabalho, deve ser por causa de alguém especial, certo? Alguém que realmente mudou você.

Suas palavras tocaram meu coração.

Essa mudança... é tudo por causa dela.

Não foi apenas um grande gesto, foi sobre como Shijoin-san mudou a maneira como eu vivia e como eu expressava o que sentia.

— Sabe — disse minha irmã, com uma expressão pensativa — mesmo sendo popular e os rapazes sempre me paquerando, nunca senti realmente aquela coisa de “quero ficar com essa pessoa para sempre”. Encontrar alguém que realmente te entenda, seja um amigo ou algo mais, é bem raro.

— Sei que você é popular e tudo mais, mas como já é tão sábia sobre o amor no ensino fundamental? Você está me deixando perplexo agora.

— É por isso que você tem que ir em frente, maninho! Alguém de quem você gosta tanto pode não aparecer novamente!

— Sim, você está certa.

Ela estava certa. Seja amizade ou algo mais, conexões significativas como essa não aparecem com frequência. Talvez eu nunca mais encontre algo tão precioso assim.

Para mim, Shijoin Haruka parece... um milagre. Mas, mesmo agora, ainda não sei exatamente o que ela é para mim.

A garota dos meus sonhos, minha ídola, a joia da minha juventude... Todas essas descrições se encaixam, mas nenhuma delas parece totalmente certa. Há algo em Shijoin-san, algo mais profundo que ainda não consigo definir.

— Ei, maninho. Terra para Shinichiro! Você vai queimar esses takoyaki!

— Oh, desculpe, eu estava perdido em pensamentos — voltei à realidade, virando os takoyaki perfeitamente dourados — Certo, seja o que for, pode esperar. Amanhã, vou dar tudo de mim. É hora de fazer isso acontecer.

— É isso aí! Eu fiquei um pouco assustada com o seu plano intenso, mas sei que você vai conseguir!

— Com certeza! Tenho tudo sob controle!

Naquela noite, fizemos uma festa surpresa de takoyaki em casa. Quando minha mãe voltou do trabalho, ela ficou chocada ao ver Kanako e eu nos dando tão bem.

Quando anunciei: “Vamos comer muito takoyaki hoje à noite!”, ela quase chorou de alegria. Sendo assim, a família Niihama compartilhou uma noite calorosa e cheia de risadas, um momento de conexão que parecia tão precioso...

***

No dia seguinte, as discussões sobre o festival cultural continuavam num impasse sem saída.

— Aff, eu não aguento mais isso! Se estão tão decididos a abandonar a exposição, tudo bem, mas não contem com o resto de nós para ajudar nessa nova ideia.

— Não é assim que devemos abordar isto! O festival cultural é um projeto em grupo. Por favor, vamos trabalhar juntos para resolver isto!

— É isso aí! Vamos abandonar as coisas previsíveis e fazer algo que impressione o público!

Noroda estava tentando evitar o conflito, Kazamihara-san implorava por algum tipo de meio-termo e Akasaki falava alto sem nunca dizer nada específico. Praticamente o de sempre.

Um silêncio tomou conta da sala quando me levantei, todos os olhos estavam voltados para mim. Isso era diferente, um movimento ousado que se afastava da minha existência habitual de ficar em segundo plano. Sussurros ecoavam, mas eu os ignorei, caminhando até a frente da sala, segurando a caixa que continha meu plano meticulosamente elaborado.

— Niihama, o que você está fazendo?

A voz normalmente alta de Akasaki soava genuinamente confusa.

— Niihama-kun?

A voz de Shijoin-san seguiu, mais suave, com um traço de preocupação. O peso da caixa em minhas mãos me deu algo sólido em que me apoiar.

Enquanto estava diante dos meus colegas de classe, o significado daquela decisão se tornou claro. Não se tratava apenas de mudar um projeto. Tratava-se de sair do canto silencioso em que eu me mantinha há muito tempo.

— Ouçam todos! — minha voz soou clara, cortando a confusão restante — Estamos girando que nem uma barata tonta. Eu também senti isso, mas é hora de mudar, hora de fazer algo de que nos orgulharemos, não apenas algo fácil.

Fiz uma pausa, observando uma centelha de interesse brilhar até mesmo nos rostos mais indiferentes.

— Vamos fazer algo diferente, algo que esta escola nunca viu antes. Tenho um plano, uma maneira de tornar nosso estande inesquecível.

Uma onda de expectativa tomou conta da sala quando revelei o que havia dentro da caixa. O choque inicial deu lugar à curiosidade, depois à empolgação. Enquanto eu explicava minha ideia, como poderíamos trabalhar juntos para criar algo que valesse a pena ser lembrado, a dúvida em seus olhos lentamente deu lugar a um interesse real.

Quando terminei, a sala de aula estava eletrizada, não com resignação, mas com possibilidades. Ideias surgiram, não focadas na minha proposta em si, mas em como torná-la ainda melhor.

Ao observar essa transformação, uma onda de orgulho surgiu dentro de mim. Eu não era mais o observador invisível, pois eu era parte disso, verdadeiramente parte disso. O futuro pode ser incerto, mas pela primeira vez em muito tempo, senti uma vontade ardente de enfrentá-lo de frente.

Minha decisão naquele dia, de superar meus medos, não mudou apenas o festival, mas mudou a mim. Provou que mesmo os hábitos mais arraigados podem ser quebrados, que nunca é tarde demais para assumir o controle da sua narrativa e talvez até mesmo dar aos outros a coragem de reescrever a deles.

Ignorei as zombarias de alguns dos meus colegas de classe. Da caixa que eu havia trazido, tirei uma folha do tamanho de um pôster, impressa na impressora de grande formato da escola, e a colei no quadro-negro.

Toda a minha proposta para o festival cultural estava em exibição, um conceito detalhado e inovador, projetado não apenas para se destacar em nossa escola, mas também para se tornar um assunto de conversa muito além dela. À medida que a surpresa causada pela minha explosão diminuía, a curiosidade começou a atrair meus colegas de classe para mais perto do quadro-negro.

— Espere, você está falando sério, Niihama?

— Uau... isso realmente parece legal.

Minha proposta foi meticulosamente planejada, visualmente clara e descrita em pontos concisos. Ela capturava a essência do que eu acreditava que poderia transformar nossa turma desanimada no destaque do festival.

Claro que sou ambicioso, mas com cooperação, isso é possível.

Os olhos se moveram pelo quadro e a sala começou a se agitar. Até mesmo os céticos mais barulhentos ficaram quietos, suas dúvidas lentamente se transformando em curiosidade. Eu dei um passo à frente e falei.

— Olhem, eu sei que isso parece muito. E sim, estamos um pouco em um impasse agora. Mas será que realmente queremos outro festival que ninguém vai lembrar ou queremos fazer algo que valha a pena ser comentado? — a turma ficou em silêncio, as reclamações  de antes pararam momentaneamente enquanto eles consideravam minhas palavras — É um risco, claro. Vai exigir esforço, criatividade e compromisso. Mas a recompensa pode ser enorme. Não apenas para o festival, mas para nós como turma. Temos a chance de fazer algo incrível juntos.

Os grupos antes divididos se misturaram enquanto meus colegas consideravam as possibilidades. Até mesmo Akasaki, Noroda e Kazamihara, que inicialmente estavam entre os críticos mais veementes, começaram a discutir partes da proposta em voz baixa. O envolvimento deles me motivou.

— Não se trata da minha ideia. Trata-se de quebrar esse impasse. Vamos votar, mas não na minha proposta em si e sim se estamos dispostos a explorá-la. Se for um “não”, eu desistirei, mas se for um “sim”, então vamos fazer isso funcionar. Juntos.

Eu dei um passo para trás, dando a eles espaço para decidir.

A sala fervilhava com uma nova energia, focada não em conversas fiadas, mas no potencial da proposta. À medida que a discussão continuava, ficou evidente que, embora o caminho à frente apresentasse desafios, uma força poderosa nos impulsionava: o desejo de uma experiência de festival cultural que deixasse uma marca positiva e duradoura em nossa turma.

Quando colocamos a proposta em votação, o resultado foi esmagadoramente a favor de explorá-la mais a fundo. Até mesmo os céticos viram a centelha de algo especial. Quando meus colegas de classe se uniram à ideia, senti uma mudança interna. Eu havia saído da minha zona de conforto, lutado por mudanças e despertado um desejo coletivo por mais.

Percebi que o verdadeiro poder não estava apenas no festival em si. Estava na coragem que encontramos, desafiando a nós mesmos e uns aos outros a nos libertarmos da complacência e buscarmos algo que realmente significasse algo. Começamos a planejar imediatamente e senti uma onda de otimismo. Os desafios eram certos, mas as possíveis recompensas para o festival e a coesão da nossa turma os tornavam insignificantes.

Este não era mais apenas o meu projeto, pois havia se tornado o “nosso projeto”. Juntos, estávamos prontos para torná-lo verdadeiramente inesquecível. Ignorando os vários comentários como “O que é esse documento enorme?” e “Você está planejando uma palestra ou algo assim?”, concentrei-me exclusivamente na minha tarefa.

— Este gráfico — disse eu, com voz forte e clara — descreve tudo o que precisamos saber: quanto tempo nos resta para o festival, a estimativa de montagem dos estandes e quaisquer desafios que possamos enfrentar ao longo do caminho.

Sempre que se faz uma apresentação em reuniões difíceis, a confiança é tudo. Um plano brilhante não vale nada se for afogado por um mar de críticas.

— Perdemos um tempo precioso, por isso algumas ideias estão fora de questão! Vamos descartá-las — com um toque decisivo do meu apontador, concentrei a atenção no gráfico afixado — A casa mal-assombrada está fora de questão! A menos que comecemos agora, não vamos terminar a tempo! O mesmo vale para o jardim japonês! E o departamento de saúde não vai permitir nagashi somen!

Marquei as opções inviáveis no gráfico com X em negrito, usando dados e recursos visuais para reforçar meus argumentos. Afinal, os recursos visuais tornavam os fatos mais fáceis de compreender e aceitar.

— Sendo realista, podemos trabalhar em uma Cafeteria estilo japonês ou uma barraca de takoyaki! Só que não temos tempo pra debater! Por isso, proponho o melhor dos dois mundos: uma Cafe ao estilo japonês com Takoyaki como prato principal!

Apresentei um plano detalhado com o layout, o cardápio e as bebidas todos mapeados.

— Quatro sabores de takoyaki. Uma variedade completa de sucos. Tudo a preços baixos. Somos o único grupo a oferecer comida à base de farinha, então o público está praticamente garantido. A maioria dos outros cafés está focada em doces e café, mas vamos nos destacar com os sucos. E, vamos lá, fazer takoyaki é muito mais fácil do que construir uma casa mal-assombrada.

Enquanto eu listava as vantagens, a sala começou a se agitar. Ouvia coisas como “Nada mal...” e “Isso pode realmente funcionar...” se espalhando pela multidão.

— Parece um pouco simples — Akasaki comentou.

Ele sempre tinha que dar sua opinião, oferecendo críticas com base em seu talento pessoal, mesmo sem querer ofender. Felizmente, eu estava preparado para isso. Um pouco de talento extra era definitivamente necessário.

— Para tornar as coisas mais interessantes, que tal alguns itens especiais no menu? Vamos oferecer uma Roleta Takoyaki! É como a versão normal, mas com uma surpresa picante escondida dentro. Um cliente azarado terá uma experiência garantidamente emocionante!

— Isso é mesmo interessante! Parece divertido.

— E para os funcionários que anotam os pedidos, usaremos roupas tradicionais japonesas, como yukatas. Isso ajudará a criar o clima de festival. A equipe de takoyaki pode usar capa happi e faixas na cabeça para completar o visual.

— Ei, isso é perfeito! Afinal, é um festival, vamos nos esforçar ao máximo!

— Espere, por favor! Nosso orçamento não aguenta...

— Relaxe, já fiz um acordo com uma loja de aluguel. Cabe perfeitamente no nosso orçamento. Ah, e veja essas fotos das fantasias. Kazamihara-san, você pode colocá-las no quadro?

— Espere, eu? Desde quando sou sua assistente?

A mistura de tradição, diversão e um toque único deixou todos animados. Nossa discussão paralisada de repente se transformou em um planejamento e colaboração entusiasmados!

— Kazamihara-san, só aceite. Se você, como parte do comitê organizador, tivesse pressionado por uma votação antes, as coisas poderiam ter corrido mais suavemente.

Enquanto isso, as fotos dos yukatas provocaram murmúrios positivos entre as meninas.

— Esses yukatas são adoráveis! — comentou uma.

— Hmm, então é possível alugá-los — ponderou outra.

— Definitivamente, uma vibe festiva — foi o consenso geral.

Os meninos estavam igualmente entusiasmados com as fotos dos casacos happi.

— É preciso ter as capas happi para takoyaki, certo? — disse alguém — na verdade, parece uma barraca de verdade. Isso pode funcionar.

A maioria deles parecia concordar com a ideia.

É claro que todos estão desesperados para escapar dessa confusão.

Uma proposta clara certamente seria aprovada, uma vez que outras opções fossem descartadas, no entanto, Noroda, insistente em uma exposição simples, protestou teimosamente:

— É exatamente por isso que é tão chato! Quem disse que uma exposição não pode ser básica?

Sua reação não foi surpreendente. O que me pegou de surpresa foi que até mesmo Tsuchiyama, agressivo como sempre, também levantou objeções.

Ele não se opunha ao plano em si, mas sim ao fato de eu assumir a liderança. Ele tinha um complexo que o fazia desprezar qualquer pessoa que considerasse “inferior” a ele. Outros podiam me olhar com antipatia ou apenas querer uma saída fácil, mas eles seguiram o fluxo. 

— Tudo bem, se é assim que as coisas estão, acho que vamos seguir a liderança de Niihama…

Esse tipo de gente é fácil, mas esses dois… são uma verdadeira dor de cabeça...

A melhor maneira de lidar com a última resistência? Apenas continuar e deixar os resultados falarem por si mesmos.

— Ei, Niihama! Olhe para cá! Não ouse me ignorar! — gritou Tsuchiyama.

Meu objetivo não era convencer aqueles dois. Discutir com ele era inútil. Minha vitória dependia de criar o clima certo. Fazer com que todos aceitassem minha ideia e isso seria xeque-mate. Era hora de usar minha arma secreta!

— Muito bem, pessoal! Vamos fazer uma degustação do menu de takoyaki que eu tenho preparado! — anunciei.

— Hã? O quê?

Um baque ecoou quando coloquei uma chapa para takoyaki secretamente pré-aquecida e os ingredientes na mesa do professor. Kazamihara-san, que estava ao meu lado, soltou um grito de surpresa. Ela não foi a única surpresa. Todos arregalaram os olhos quando de repente comecei a cozinhar à vista de todos.

— Niihama, você realmente conseguiu permissão para ligar uma churrasqueira de takoyaki na aula?! — Ginji perguntou.

— Mas é claro que não. Isso daqui é completamente fora das regras — eu disse.

— O quê?! — Ginji praticamente gritou.

Ele parecia genuinamente chocado por eu ter feito algo assim, mesmo com o professor ausente.

Os takoyaki chiavam e dançavam na chapa enquanto começavam a ficar dourados e crocantes por fora e macios por dentro. Minha prática valeu a pena, pois um aroma de dar água na boca se espalhou pelo ar.

— Hmmm, que cheiro delicioso!

— Estou começando a ficar com fome...

— Há algo especial no cheiro da comida antes do almoço, não é?

De fato, todos ficaram surpresos com minhas ações, mas o som da massa cozinhando e o aroma do molho devem ter feito seus estômagos roncarem.

— Tudo bem, está pronto! Vamos, não sejam tímidos. Venham comer! Afinal, isso faz parte da minha apresentação para a proposta!

Os olhares de todos se fixaram no takoyaki recém-preparado. Eu quase podia ouvir os engolir em seco do outro lado da sala. No entanto, talvez hesitantes em serem os primeiros, ninguém parecia disposto a se levantar de seus lugares.

Alguns dos colegas de classe que só queriam uma exposição fácil ou que não gostavam de mim desde o início começaram a concordar, cedendo silenciosamente à medida que o clima mudava a meu favor. Mas aqueles dois ainda estavam sendo um verdadeiro tormento. Quanto a lidar com a última resistência, ignorá-los completamente era a única resposta.

Quando eu estava prestes a ceder ao desespero, Shijoin-san se levantou com um sorriso radiante.

— Eu vou comer! Quero experimentar o takoyaki do Niihama-kun!

Ah, timing perfeito! Muito bem, Shijoin-san!

Se ela estava sendo solidária ou simplesmente não conseguiu resistir mais, eu não me importei. Fiquei imensamente grata. Era exatamente o incentivo de que eu precisava!

— Aqui está. Cuidado, está quente!

— Sim! haha, você até colocou nori verde e flocos de bonito por cima!

Entreguei a Shijoin-san o takoyaki embrulhado em papel. E lá estava ela, Shijoin Haruka, saboreando descaradamente o takoyaki sob os olhares atentos de toda a turma, com seu entusiasmo contagiante.

— Mmm, que delícia! Isso é tão bom! O polvo normal é perfeito, mas o atum combina muito bem com a massa, e o de queijo e bacon? Tão rico e delicioso!

Shijoin-san devorou o takoyaki com um sorriso genuinamente encantado, entrando no modo de reportagem gastronômica. E então, vendo o quanto ela estava gostando, o resto dos alunos famintos do ensino médio não conseguiram se conter mais.

— Uau, isso parece delicioso...

— Eu também vou pegar um pouco.

— Ah, eu também...

— Ei, sem furar a fila! Eu também estou com fome!

— Espere, se todo mundo está comendo, eu também quero!

Vendo Shijoin-san se deliciar, nossos colegas de classe correram em direção ao pódio em busca de takoyaki. Isso desencadeou uma reação em cadeia, e a sala rapidamente se transformou em um animado festival de takoyaki.

— Uau, está tão crocante! Delicioso!

— Uau, está tão quente! Mas o queijo combina muito bem com ele! É salgado, então é delicioso mesmo sem molho!

— Oh, isso é... mentaiko? Uau, tem um sabor bom. Ótimo!

— Na verdade, prefiro ponzu com meu takoyaki...

— Eh, você trata isso como gyoza?

— Ei, calma aí! Lembrem-se, isso é apenas uma degustação. Vamos garantir que todos tenham a chance de experimentar.

Fiquei surpreso com a fome dos meus colegas, mas era exatamente isso que eu esperava. Enquanto conversas animadas sobre takoyaki enchiam a sala, nossa degustação discreta ganhou um ar festivo e amigável. De repente, a tensão se dissipou, substituída por uma atmosfera calorosa e acolhedora.

— Ei, espere aí! O que é isso?!

— Ginji, você acabou de ganhar na loteria! É a bola de wasabi extra picante sobre a qual eu te avisei.

— Espere, pare! Você não deveria colocar tanto wasabi em nada! — gritou Ginji, mas o picante o atingiu com tanta força que sua língua falhou.

Todos caíram na gargalhada ao ver a cena.

Tudo bem... isso deve bastar.

— Desculpem por surpreender vocês, mas aqui está minha proposta! Quero ouvir a opinião de vocês. Estão dentro ou fora?

Houve uma breve pausa antes que alguém respondesse:

— Sem problema!

— Estou dentro!

— Parece divertido!

— Vamos fazer isso!

— Por que não? Não estávamos chegando a lugar nenhum antes mesmo.

— Huff, huff… — alguém ainda estava se recuperando do wasabi.

— É bem sólido.

— Certo? Na verdade, é bom.

— Sim, concordo com você.

Como esperado, a maioria da turma estava a bordo. Vi Tsuchiyama e Noroda emburrados, mas a decisão já estava tomada. Tudo o que eles podiam fazer era ranger os dentes. A maré havia mudado.

Bem, eles não conseguiriam dizer nada nessa atmosfera.

Reuniões e apresentações tinham tudo a ver com manipular o fluxo. Você destaca as falhas dos outros planos, enfatiza os méritos do seu, talvez acrescente uma amostra saborosa. E pronto, aqueles poucos opositores se tornaram os estranhos no ninho.

— Então, Kazamihara-san. Desculpe pela proposta surpresa, mas parece que tenho o apoio da sala.

— Eh? Oh, hum... s-sim! O resultado da nossa discussão é que vamos seguir com a ideia do Niihama-kun, o “Café Takoyaki ao Estilo Japonês”! O tempo é curto, então vamos dar dez minutos e depois mergulhar nos detalhes!

Kazamihara-san declarou, finalmente terminando seu takoyaki, e a reunião sinuosa chegou ao fim.

Sinceramente, Kazamihara-san... você é a representante da turma, mas praticamente devorou todas as amostras sozinha.

***

Durante o intervalo de dez minutos, a única coisa em que conseguia pensar era na mancha fria e úmida na minha camisa. Culpei a janela do corredor, que deixava entrar correntes de ar.

Estou exausto. Pensando bem, nunca fui bom em apresentações quando trabalhava em uma empresa.

Mesmo naquela época, odiava ser o centro das atenções. Todos aqueles olhos fixos em mim pareciam alfinetadas, fazendo meu estômago revirar.

Mas mesmo assim... pensar que eu, entre todas as pessoas, ficaria na frente de toda a turma, defendendo apaixonadamente meu ponto de vista em meio às interrupções... Ha, algo assim teria sido impossível na minha vida anterior. No final, as coisas pareciam ter dado certo.

A conversa na sala de aula parecia muito mais produtiva agora que o takoyaki tinha feito seu trabalho. Mesmo durante o intervalo, todos estavam comentando sobre o festival.

— A propósito, e os aventais? Não serão caros para comprar?

— Não poderíamos usar os que fizemos na aula de economia doméstica?

— E o molho takoyaki? Vamos continuar com o Otafuku?

— Hã? Tem que ser o molho Bulldog, certo?

— Uau, você está tentando começar uma guerra deixando o Kagome de fora?

— Niihama-kun, os ingredientes que você trouxe são ótimos, mas você não acha que precisamos de mais variedade?

— Fudehashi-san, você não era a especialista em takoyaki de queijo picante na aula de economia doméstica?

A conversa estava animada agora, cheia de entusiasmo genuíno. A atmosfera havia mudado completamente. Essa era a energia que Shijoin-san esperava.

— Niihama-kun! Aí está você!

Virei-me e vi Shijoin-san ao meu lado. Sua voz estava alegre, suas preocupações anteriores completamente desaparecidas. Vê-la tão feliz e enérgica dissipou meu próprio cansaço. Isso também me deixou feliz, sabendo que ajudei a aliviar suas preocupações. Uma garota gentil como ela merecia sorrir. Meu coração ficou mais leve ao vê-la assim.

— A maneira como você assumiu o controle na reunião agora há pouco foi realmente incrível! Nunca pensei que você tivesse algo assim planejado. Graças a você, nossa turma pode finalmente seguir em frente!

— Não, você está me dando crédito demais. Todos estavam exaustos. Estavam prontos para aceitar qualquer coisa.

Tentei minimizar a importância para a animada Shijoin-san, mas a verdade era que foi preciso mais do que apenas uma sugestão para conquistar uma turma dividida. Havia rivais e pessoas procurando o caminho mais fácil. Todos eles eram meus “inimigos”. Foi preciso um pouco de espetáculo para influenciar a multidão, impressionando-os e pegando-os de surpresa com a degustação antes que tivessem a chance de se opor.

— Mas... Como você teve essa ideia e preparou tudo tão rápido? Há pouco tempo, você não parecia nem um pouco interessado no festival...

— Honestamente, só terminei de organizar tudo há dois dias, a proposta e tudo mais.

— Apenas dois dias? Você deve ter trabalhado muito! Sua proposta foi incrível. Mas o que o deixou tão determinado, especialmente quando você não estava tão animado antes?

— É porque… — a pergunta de Shijoin-san me deixou confuso.

Era a mesma razão que eu havia dado à minha irmã anteriormente. No entanto, confessar isso diretamente a Shijoin-san parecia impossivelmente embaraçoso. Meu rosto ardeu e meu coração batia forte.

Para onde foi toda a confiança daquela apresentação?

— Eu queria que nosso festival cultural fosse divertido para todos… — eu finalmente consegui dizer.

— Continue...

— Eu não suportava a ideia de você ficar desapontado, Shijoin-san.

Meu rosto estava em chamas enquanto as palavras saíam. Os olhos de Shijoin-san se arregalaram, com um lampejo de surpresa. Então, o silêncio tomou conta do espaço. O corredor ecoava apenas com o vento enquanto ficávamos parados, presos em uma troca de palavras não ditas.

Nesse momento, a voz de Kazamihara rompeu o silêncio.

— Quando você planeja voltar, Niihama-kun? Temos trabalho a fazer! Pare de brincar!

Por que você veio interromper logo agora?!

Um riso suave e surpreso escapou de Shijoin-san.

— O intervalo acabou. Vamos voltar. Estou determinada a fazer seu plano dar certo.

— S-Sim! Vamos!

Corri de volta para a sala de aula, tentando esconder minhas bochechas coradas, mas enquanto caminhava, ouvi uma voz gentil.

— Obrigada, Niihama-kun.

As palavras de Shijoin-san, cheias de sincera gratidão, ressoaram profundamente dentro de mim.




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