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CAPÍTULO 4 - Vômito à beira do rio

— Ei, Aruha... Você está mesmo bem?

— Não. Não, não estou. Estou morto. Como um peixe fora d'água.

Na manhã seguinte, sentei-me na minha sala de aula... ou melhor, deitei-me na minha mesa como um cadáver. Só o fato de levantar o corpo já era demais e, sinceramente, não estava nem aí para a aula. Tenho certeza de que qualquer informação que o professor me dê entrará por um ouvido e sairá pelo outro.

— Quer ir para a enfermaria?

— Não, não estou doente nem nada, então me sentiria mal por faltar assim.

— Você diz isso, mas definitivamente não parece saudável aos meus olhos…

Miu me lançou um olhar preocupado.

Ahhh, que pessoa boa ela é...

Dito isso, se eu realmente fosse para a enfermaria agora, Sai-san nem estaria lá. Se eu fechasse os olhos naquela cama confortável, provavelmente dormiria até o fim das aulas e isso soaria como se eu estivesse faltando às aulas.

— Além disso, o que aconteceu depois que Ioka-chan te levou com ela? Só se passou apenas alguns dias desde então e você acabou assim... você sabe, assim.

Miu fez uma observação válida enquanto levantava uma sobrancelha.

— Digamos apenas... muita coisa.

— Isso inclui sexo, drogas e ser vida louca?

— A sua imaginação deveria voltar para o prézinho.

— Mas algo aconteceu entre vocês dois, certo?

— Bem, pode-se dizer que sim...

Sinto-me mal pela Miu, pois ela está genuinamente preocupada comigo, mas não há como eu realmente contar a ela o que está acontecendo. Quero dizer, Ioka está possuída por um demônio e eu sou seu exorcista interino. Por outro lado, eu a deixei preocupada, então acho que poderia explicar qualquer coisa que não fosse completamente absurda. Tudo isso começou há cerca de três horas...

*

— Aruha-kun, você disse que iria exorcizar o demônio que me possui, certo?

— Sim, essa é minha intenção.

— E para isso, você disse que informações são necessárias.

— Isso também é verdade.

— Se é assim, então você provavelmente deveria ficar perto de mim durante minha vida cotidiana, tanto quanto possível.

— Eu concordo.

— E se houver qualquer sinal de que as chamas estão se espalhando, você pode me ajudar imediatamente.

— Faz sentido para mim.

— Então vamos lá! Aruha-kun, hoje vamos começar com 10 km!

— Isso não significa que eu deva correr uma maratona às 5 da manhã em um dia de semana!

Esfreguei os olhos ao chegar ao local combinado, apenas para ser recebido por Ioka vestindo roupa esportiva. Iluminados pela fraca luz da manhã, seus braços e pernas eram ofuscantes para meus olhos sonolentos. Ela usava uma blusa neon com calças curtas que brilhavam ainda mais cedo. Fazer alguns saltos ou alongamentos também era algo. Se você me dissesse que ela era uma maratonista, eu acreditaria.

— Tudo bem. Preparei soluções de reidratação suficientes para você também. Afinal, as bebidas esportivas vendidas no mercado são bastante calóricas.

— Não estou preocupado com minha ingestão de liquido...

— As chamas também devem ficar bem. Não estaremos perto de pessoas, nem haverá nada inflamável no caminho. E, se for preciso, posso simplesmente pular no rio.

— Seus métodos de prevenção são um pouco exagerados, não? Além disso, por que eu teria que correr com você, então?

— Porque estou dizendo para você correr comigo! Chega de reclamações, vamos lá!

Ela começou a correr sem esperar minha concordância, então fui forçado a segui-la, no entanto, fiquei sem fôlego pouco tempo depois. 

É compreensível, já que não faço exercícios fora das aulas da escola.

É isso que acontece quando me mandam correr de repente. Não importa o quanto eu respire, o ar nos meus pulmões sempre acaba. 

Minha cabeça e minhas pernas doem... E eu tenho que continuar isso por mais uma hora? Vou desistir…

Foi o que pensei várias vezes, mas nunca desisti. Tudo porque o perfil de Ioka, enquanto corria ao meu lado, era lindo demais. O brilho do rio ao longo do qual corríamos reluzia tanto quanto as gotas de suor em sua pele. E se as pessoas podem ver algo tão bonito, podemos nos esforçar mais, mesmo que tenhamos ultrapassado nosso limite.

Por outro lado, esse pensamento inflexível só me levou até certo ponto. Por fim, fiquei sem fôlego, minhas pernas cederam, minha cabeça ficou tonta, meu corpo tombou, comecei a me sentir mal e então...

— Bleeeeegh!

Depois de completarmos a marca de 6,5 km, eu simplesmente vomitei ali mesmo.

— Aruha, você está indefeso. Acabou ficando um pouco mais curto do que o normal, mas acho que podemos parar por aqui hoje.

— S-Sim, desculpe...

Eu estava agachado sobre o matagal ao lado da estrada, acenando com a cabeça enquanto sentia uma dor latejante. Mas por que eu teria que me desculpar? A solução de reidratação era uma mistura de sal e açúcar, o que criava uma combinação horrível. Ou, em outras palavras, tinha um gosto horrível. Mas ajudou a limpar o vômito que estava preso na minha boca.

— Você claramente precisa se exercitar mais se fica assim depois de correr um pouco.

A razão pela qual meus olhos se encheram de lágrimas provavelmente não foi porque fiquei comovido com a gentileza de Ioka ao esfregar minhas costas, mas porque eu estava fisicamente no meu limite.

— Acho que você é a estranha por correr 10 km todas as manhãs — argumentei com os olhos marejados.

Ela pensou por um momento e então decidiu continuar.

— Aruha-kun... eu devo te contar meu segredo.

— Wueh?

Ela se aproximou de mim, sussurrando em meu ouvido para que ninguém mais pudesse ouvir.

— A questão é que… — Seu hálito quente fez cócegas em meu ouvido — na verdade... eu engordo com extrema facilidade.

Ela confessou como se fosse algo incrivelmente importante para ela. 

— Na escola primária, eu era bastante gordinha. É por isso que, se eu não correr pelo menos essa distância todos os dias, eu... engordo mais em todos os lugares...

A razão pela qual seu rosto ficou vermelho provavelmente não foi por causa dos poderes do diabo. Por um momento, tive que imaginar uma Ioka gordinha... Mas, para ser honesto, ela provavelmente ainda seria muito bonita.

— Você está pensando em algo estranho por acaso?

— N-Não, de jeito nenhum.

— Respeitar pessoas plus size ou promover a positividade corporal é uma coisa maravilhosa, mas... bem, eu realmente me odiava naquela época. Eu estudava o máximo que podia, como meus pais me diziam, sem fazer nada divertido para mim mesma, então todo o estresse me fazia comer, comer e comer... Bem, eu gosto de comer, mas se não tomar cuidado, posso acabar ficando como era naquela época. E então…

Ela brincava com seus longos cabelos e murmurava para si mesma, lembrando-me um pequeno animal.

— Acho que nem mesmo um tiranossauro é um tiranossauro desde o nascimento.

— Quem é um tiranossauro, hein? Vou te morder, começando pela cabeça.

— Eu não sou muito gostoso, sabia?

— Nossa! Eu fui te contar, já que... bem, você queria saber mais sobre mim. Porque é importante exorcizar o demônio!

— Desculpe, desculpe. Eu só fiquei surpreso, mas não queria te provocar com isso.

Eu pedi desculpas, pois deve ter sido preciso muita coragem para ela me contar. Além disso, comecei a pensar sobre o demônio.

— Quem sabe? Talvez não querer ser gorda seja parte do seu desejo?

— Mas esse é um desejo do qual estou ciente.

— Talvez as calorias estejam sendo queimadas na forma de fogo?

— Eu venderia minha alma para ter essa habilidade! Nesse caso, por favor, não exorcize o demônio!

— Eu realmente duvido que uma dieta do diabo seja boa para a saúde...

Eu apenas expressei isso porque me veio à mente, mas há muitas falhas nessa lógica. Quero dizer, ela está cuidando bem do seu peso sozinha, sem a ajuda do diabo. Vendo-me perdido em pensamentos, Ioka limpou a garganta uma vez e me deu um tapinha nas costas.

— Agora, fizemos uma pausa rápida, então você deve ter se recuperado, certo?

— Ahek! Não, de jeito nenhum.

— Mas eu disse isso, então fim da discussão. Vamos continuar com os alongamentos.

— Eu já esperava por isso, mas... Vai ser treinamento muscular, certo?

— Algo leve, já que não quero ficar muito musculosa.

— E correr 10 km não é leve?

— Você só correu 6,5 km.

— Você não está errada, mas odeio essa lógica distorcida!

Depois disso, juntei-me a ela para um treinamento muscular leve e alongamentos. Dito isso, rapidamente cheguei ao meu limite, pois todo o meu corpo gritava de terror, mas Ioka continuou sem nenhum problema. Flexões, agachamentos em prancha, flexões e alongamentos, e abrindo as pernas, todas as várias poses que ela fazia tornavam difícil para mim decidir para onde olhar. Ela está se esforçando ao máximo para treinar seu corpo, então eu não deveria ter nenhum sentimento malicioso... ou pelo menos foi o que eu disse a mim mesmo, enquanto tentava freneticamente sobreviver a essa situação.

— E com isso, o exercício matinal está concluído.

Quando terminamos, o sol já havia começado a nascer.

— Vou para casa agora, tomar um banho e voltar para casa. Vamos nos encontrar novamente na escola.

Ela não está nem um pouco sem fôlego... Bem, pelo menos um pouco, mas ela definitivamente não parecia muito cansada.

— Então, você sabe... Você realmente faz isso todos os dias?

— Claro. Infelizmente, tive que parar meu treinamento de judô.

— Estou chocado que você consiga continuar fazendo isso.

Ioka pressionou os lábios, formando um punho.

— Meu corpo existe para vencer. De um fio de cabelo a uma única célula. E tudo isso é necessário para que eu possa alcançar os resultados que desejo.

O sol nascente iluminava o rio. Diante disso, sua aparência brilhava com a mesma intensidade. Sinceramente, fiquei surpreso. Eu achava que todas as coisas bonitas deste mundo eram atraentes desde o momento em que surgiram. Que os fortes são fortes e os brilhantes nasceram com esse brilho. Mas Ioka é diferente. Ela não nasceu forte. Ela carregou esse desejo por anos, trabalhando mais do que qualquer outra pessoa, para que pudesse se transformar na pessoa que queria ser. Como genes que buscam o resultado ideal através da morte, ou como estrelas cadentes que se queimam sozinhas... A confiança e o orgulho que ela demonstra é o que a torna forte.

Ioka não nasceu com isso. Ela conquistou tudo sozinha. Perseguir seu sonho é mais fácil dizer do que fazer. Qualquer um pode fingir que fará isso. Querer se tornar popular, participar de um desfile de moda... Qualquer um poderia dizer isso. Mas ela está perseguindo seu sonho... e correndo até agora. Não sei se ela tem o talento ou a chance de ganhar aquele First Look... E embora eu não tenha, estou observando-a agora. Ela tem seu objetivo, se esforça e até luta contra aquele demônio enquanto faz isso... e ninguém pode negar isso.

No entanto, eu não tenho nada. Algo que eu amo fazer, um sonho ou esperança para perseguir... Nada. Mas é também por isso que, se Ioka quer seguir em frente... eu quero ser a força que a apoia. Comparado a um sonho, pode ser algo pequeno e benigno... mas mesmo assim. E enquanto ela corria para longe, eu tive que apertar os olhos diante de uma visão tão deslumbrante.

*

“E foi isso que aconteceu. Então, nada de sexo, drogas e rock and roll. Na verdade, não temos feito nada além de coisas saudáveis.”

Expliquei o resumo para Miu, mas seus olhos se arregalaram.

— Aruha... Essa história não faz muito sentido.

— O que você quer dizer?

— Quero dizer... Por que você está correndo com a Ioka-chan logo pela manhã?

Ah. Isso faz sentido. Acho que ainda estou exausto. Do meu ponto de vista, fui envolvido nesse treinamento extremo contra a minha vontade, mas da perspectiva de alguém de fora, provavelmente não faz muito sentido eu estar disposta a acompanhá-la a ponto de vomitar.

— Vou direto ao ponto... Vocês dois estão namorando, certo?

— Claro que não.

— Mas Noel e Liam também saíram da classe trabalhadora e chegaram ao topo das paradas, certo?

— Você pode parar de usar palavras e vocabulário aleatórios presumindo que eu entendo tudo?

— Estou dizendo que você nunca pode adivinhar o que vai acontecer neste mundo!

— Você não deveria falar sobre coisas superficiais como essa o tempo todo.

— Mas não é isso que eu quero saber.

— Então o que é?

— Você está escondendo algo, não é?

— Ack.

Bem, admito que não sou bom em mentir. Não posso dar os detalhes, mas me sentiria mal se continuasse fazendo ela se preocupar comigo. Vou apenas ser sincero dentro dos limites do que posso contar a ela.

— Bem... Sai-san me pediu para cuidar de Ioka. Mas é algo particular, então não posso entrar em detalhes. Desculpe.

— Então Sai-sensei é o denominador comum? Sim, ela está de férias agora, então isso faz sentido.

Acho que ela fez uma conexão entre Sai-san e o fato de ela estar de licença. Ela sabe que ela é amiga da minha irmã mais velha, mas não tem como saber sobre a pesquisa sobre demônios que ela está fazendo. Dito isso, ouvir Sai-san ser chamada de “Sai-chan-sensei” por seus alunos parece um pouco estranho. Ninguém sabe que ela me impôs o exorcismo de Ioka, aproveitou para comer sushi no aeroporto e depois partiu para o exterior.

— De qualquer forma, o que quer que você esteja pensando, não é o caso.

— Bem, se você diz…

Eela murmurou, sem parecer totalmente convencida, mas eu não tinha energia para continuar discutindo com ela.

Eu apenas me inclinei um pouco mais contra minha mesa, quando a porta se abriu com um barulho alto. Relutantemente, levantei a cabeça e me deparei com Ioka parado na minha frente, confiante como um rei.

— Você não respondia às minhas mensagens, então vim até aqui para ver você.

— Hã? Oh, desculpe...

Eu não tinha tempo nem energia para verificar meu smartphone, então acho que devo ter perdido a mensagem dela. Mas será que era algo tão urgente a ponto de ela ter que vir correndo até aqui?

— Depois da aula, vou dar uma olhada em algumas roupas, ir a uma livraria e passar na biblioteca.

— Hã? O que você acabou de dizer?

— Eu sempre tenho que estar por dentro do que está acontecendo por lá e só olhar o histórico e as avaliações na internet não é suficiente para me dar todas as informações.

— Não, eu entendo isso, mas...

— Estou dizendo que vamos juntos.

— De jeito nenhum, você pode ir sozinha…

Eu acidentalmente deixei escapar, só para perceber meu erro. Nos olhos de Ioka havia uma expressão que não era nem raiva nem tristeza. Percebi que ela não poderia ir sozinha.

— T-Tudo bem, eu vou com você.

— Você deveria ter dito isso desde o início. Vou te dizer onde nos encontraremos — ela exclamou em um tom frio e se afastou com elegância.

— Ei, Aruha... Ioka-chan é sempre assim?

Assim que ela desapareceu completamente, Miu soltou esse comentário.

— Bem, mais ou menos isso...

— E você está bem com isso?

Sua expressão séria me deixou perplexo enquanto eu respondia.

— Sim. Isso é algo que eu preciso fazer agora.

Ela cruzou os braços, pensou sobre isso e então murmurou.

— Bem, se você está bem com isso. Se algo acontecer, você pode vir falar comigo.

Que pessoa boa ela é. Eu me senti péssimo por não poder contar a verdade sobre o que realmente estava acontecendo. Além disso, eu nem tinha energia para responder e apenas levantei uma mão. O mais importante agora é trabalhar com Ioka e realizar o desejo dela — ou impedi-lo. Para Ioka e para mim, isso era o que mais precisávamos no momento.

*

Mas, é claro, a sorte não estava do nosso lado. Todos os dias depois disso foram horríveis. Eu me encontrava com Ioka no rio às 5 da manhã. Corríamos 10 km e depois íamos para a escola. Depois da escola, visitávamos lojas de roupas aqui e ali, líamos revistas de moda em livrarias, íamos à biblioteca, e assim por diante. Indo de butiques caras e luxuosas a lojas de roupas comuns que até eu frequentava, o conhecimento e o interesse de Ioka não tinham limites, pois íamos a todos os tipos de lugares. Ela pedia aos funcionários que lhe contassem tudo sobre as roupas e, mesmo quando encontrava um casaco de 300 mil ienes, ela o experimentava. No entanto, nenhum funcionário parecia incomodado com isso. Pelo contrário, eles ficavam mais do que felizes em ajudar.

Na livraria, ela lia literalmente todas as revistas de moda lançadas naquele dia. Ela também parecia estar comprando uma boa quantidade de revistas, mas disse que havia um motivo para olhar diretamente as prateleiras. Ela não se importava com a faixa etária, fosse para meninos ou meninas, pois lia tudo o que encontrava e depois me contava suas descobertas com uma conversa tão rápida que eu mal conseguia acompanhar. Honestamente, pouca coisa do que ela dizia fazia sentido, mas era basicamente ela falando sozinha comigo comentando aqui e ali. E ela parecia feliz e realizada, então não vou reclamar.

Na biblioteca, ela lia livros especializados grossos que eu nunca conseguiria entender, fazendo anotações e estudando como se sua vida dependesse disso. Eu nem sabia que existiam livros tão rigorosos e de alto nível sobre roupas. E apesar de todos esses dias caóticos, Ioka continuava sem nem mesmo suar.

— É importante para mim mostrar resultados.

Ela sempre gostava de dizer isso. Mas, observando-a assim, percebi que isso é o que significa trabalhar duro. Era exatamente o oposto da minha própria vida. Ela tinha um objetivo e trabalhava para alcançá-lo. Tudo era para aproximá-la um passo mais perto de seu sonho. Era como se ela brilhasse intensamente todos os dias, e depois de observá-la de perto nos últimos dias, temi que meus olhos acabassem se esmagando. É por isso que tentei descobrir o máximo que pude sobre o demônio.

Eu tinha Ioka ao meu lado, folheando um livro como sempre, enquanto eu usava a internet para descobrir qualquer coisa sobre os demônios. Os livros eram muito difíceis e me davam dor de cabeça, e só porque você pesquisa “demônio”, você obtém resultados completamente irrelevantes. Pensando bem, eu deveria ter previsto que não encontraria nenhuma informação que valesse a pena. No fundo do meu coração, eu não tinha motivação.

Havia uma montanha de coisas que eu queria perguntar a Sai-san, mas ela nunca respondeu às minhas tentativas de contato. Eu até fui à Universidade Jouhoku, mas não tinha ideia de onde encontrar esse seminário sobre demônios, então tive que voltar para casa de mãos vazias. Além disso, anotei todos os tipos de desejos possíveis de Ioka. De algo nobre a algo que qualquer pessoa teria, fiz uma lista de todos os desejos dela. Isso ocupou várias páginas e logo terminei um caderno. Eu continuava trabalhando até tarde da noite, às vezes até dormindo na mesa. Pensava em Ioka e no demônio dela praticamente 24 horas por dia, 7 dias por semana. Nunca tinha levado nada tão a sério. Nunca tive um sonho, um objetivo ou algo que quisesse fazer.

Mas agora as coisas são diferentes. Exorcizar esse demônio era o que eu deveria fazer e um desejo que eu queria realizar para mim mesmo. Se Ioka estava mudando a cada dia para algo melhor, então provavelmente eu também teria que passar por um nível de mudança. E então, uma noite... quando eu havia chegado a um beco sem saída, saí para dar uma caminhada. O ar fresco da noite de verão me ajudou a me refrescar e clarear os pensamentos. Então, percebi algo. Eu estava pensando no desejo de Ioka... Mas talvez eu devesse ter pensado nas condições que estavam presentes quando as chamas apareceram. Peguei meu smartphone e fiz algumas anotações.

Primeiro, aconteceu no telhado. Depois, na sala de aula vazia, quando ela me jogou no chão. E durante a discussão dela com Rosy. Não sei de nenhum caso anterior a isso... Mas qual poderia ser o denominador comum? E por que as chamas não apareceram em todas as outras vezes? Talvez ela esteja se aproximando de seu desejo e o poder do demônio esteja enfraquecendo? Será que ela poderia realizar seu desejo naturalmente e o demônio desapareceria sem que soubéssemos? Mas então, a tela do meu celular mudou e o nome de Ioka apareceu.

— Wah!

Eu soltei um grito estranho, o que me rendeu olhares estranhos das pessoas que passavam por mim. Controlei minha respiração e atendi a ligação.

— O que foi, Ioka?

— Eu passei na terceira seleção.

— Então isso significa...

Engoli em seco.

— Sim. A próxima etapa é a audição final.

Então finalmente chegamos a este ponto. Até agora, mesmo que as chamas aparecessem, eu conseguia arrastá-la para um lugar isolado e lidar com isso. No entanto, isso não funcionaria durante as audições. Ela estaria trancada em um espaço público, então, se as chamas surgissem, não haveria nada que eu pudesse fazer.

— Você vai, certo?

Só para ter certeza, perguntei. Mas a resposta que recebi foi exatamente a que eu esperava.

— Claro.

— E qual é o seu plano?

— Você está falando sério agora?

— Estou preocupado. O demônio ainda está adormecido dentro de você.

— E é por isso que...

— É por isso que... o quê?

— Você vai vir comigo, Aruha-kun.

— Hã?

— O que você esperava? Você se lembra quem você é para mim?

Parei no meu caminho. Acidentalmente esbarrei na pessoa atrás de mim, que me mostrou uma expressão descontente e se afastou. Apenas me curvei e pedi desculpas com um gesto, colocando o telefone no ouvido novamente.

— De jeito nenhum! Eu nem tenho nada a ver com o seu negócio de modelo!

— Então vamos simplesmente te levar escondido.

— Eu sou um exorcista, não um ninja.

— Se eu tiver um espião por dentro, não é uma missão impossível.

— Não tente copiar o roteiro de um filme B.

Então eu discuti, mas no fundo, eu sentia a responsabilidade. Eu sabia que, se ela fosse aprovada na seleção, teria que participar da audição final. Assim como ela mostrou resultados como modelo, eu deveria ter encontrado algo para ajudá-la como exorcista. Realizar o desejo dela, exorcizar o demônio e trazer resultados. No entanto, é por causa da minha incompetência que estamos lidando com essa situação agora.

— Tudo bem. Eu estarei lá. E se as chamas aparecerem... eu tenho que lidar com elas, certo?

— Muito certo, sim.

— Eu adoraria uma dica melhor do que essa...

— Tenho uma ideia de como fazer você entrar, então vou te contar os detalhes em outra hora — disse ela e desligou de repente.

Ela sempre faz as coisas do seu jeito, né? Mas o que eu devo fazer agora? Ainda não consigo estimar quando as chamas aparecerão e, mesmo que apareçam, como eu poderia apagá-las novamente? No entanto, tenho que protegê-la em um lugar onde estranhos não são permitidos e ninguém pode ver. Mas, mesmo assim, eu, como exorcista, tenho que fazer isso.



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AKEMI FTL

UMA TRADUÇÃO DE FÃ PARA FÃ

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