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CAPÍTULO 7 - O desafio da Haruka e a carta de amor

Atualizado: 5 de set.

Era o sexto dia de preparativos para o festival cultural. Nos reunimos em frente à nossa cozinha improvisada, montada com mesas empurradas umas contra as outras, tinha se tornado nossa rotina depois da escola. Hoje, o plano era que a equipe de culinária demonstrasse como fazer takoyaki. Entender a preparação dos ingredientes, a criação da massa, o cozimento e o processo de servir era fundamental para o dia do festival. Tanto a equipe de culinária quanto a de decoração precisavam estar em sintonia.

— Hoje serei eu quem vai demonstrar! Por isso, por favor, prestem muita atenção!

Shijoin-san, chefe da equipe de culinária, ficou no centro. Ela usava um avental branco sobre o uniforme, o cabelo preso para trás, parecendo uma cozinheira doméstica, enquanto muitos dos meninos estavam visivelmente encantados, no entanto, por baixo de sua aparência recatada, ela estava incrivelmente nervosa.

Eu quase sinto pena de você, pois, claramente, ser o centro das atenções não é seu forte...

Normalmente, Shijoin-san era capaz de conversar facilmente com qualquer pessoa, fosse em um primeiro encontro ou mesmo com meninos. A sua gentileza genuína transparecia. Mas talvez temendo a reação negativa de algumas das meninas, ela evitava os holofotes desde a infância. Liderar ou gerenciar simplesmente não fazia parte de suas habilidades.

— Hmm... Shijoin-san, se estiver muito nervosa, quer que eu assuma?

Suando de tensão, ela havia perdido seu sorriso gentil de sempre. Sussurrei, não querendo constrangê-la diante do grupo inquieto.

— Não, obrigada pela oferta, mas quero enfrentar esse desafio. É assim que vou crescer — embora sua voz tremesse, Shijoin permaneceu firme em seu avental.

Por trás daquela aparência delicada, senti uma determinação recém-descoberta, tão diferente da Shijoin-san que eu conhecia. Por que ela havia embarcado nessa jornada de autoaperfeiçoamento, eu não sabia dizer, mas não queria extinguir seu espírito recém-descoberto.

Como conselheiro do comitê do festival cultural, fiquei ao lado de Shijoin-san, sentindo o tremor em sua voz e o leve estremecimento em seu corpo. Todo o seu corpo irradiava rigidez.

— Tudo bem, então dê o seu melhor! E se você falhar...

— Se eu falhar? — Shijoin perguntou timidamente.

— Sorria e diga “É assim que não se faz!”.

— Pfft!


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Talvez minha piada tenha surtido efeito.

Shijoin-san começou a rir, seu corpo finalmente relaxando. Honestamente, não era uma piada. Eu realmente acreditava que, com o charme de Shijoin-san, tudo poderia ser amenizado.

— Obrigada, Niihama-kun! Então, vou tentar!

A tensão havia desaparecido, substituída por uma energia renovada, cheia de confiança. Ela colocou o polvo cozido na tábua de cortar, com a faca na mão.

Pensando bem, eu não sei quão boas são as habilidades culinárias de Shijoin-san…

Ser uma garota popular de uma família rica não garantia habilidade na cozinha. Nossos colegas de classe reunidos ao redor pareciam compartilhar a mesma preocupação, com rostos tingidos de dúvida.

Eh?

Mas, como se para dissipar a tensão ao redor, a faca de Shijoin-san se movia com precisão. Os movimentos, reflexo de sua personalidade sincera, eram meticulosos, e o polvo foi cortado em pedaços notavelmente uniformes.

Enquanto a multidão passava da dúvida para a admiração, Shijoin-san misturou a massa e, em seguida, untou cuidadosamente a frigideira quente de takoyaki com um pedaço de papel toalha. Ela sabia que essa etapa era importante para evitar que a massa grudasse na frigideira. Em seguida, colocou o polvo e os flocos de tempura, que chiavam enquanto o takoyaki cozinhava. Seu timing foi perfeito, resultando em um acabamento lindamente dourado.

— Cubra com algas secas, katsuobushi, molho... e pronto! — ela apresentou o takoyaki pronto em um prato de papel, recebendo os aplausos da multidão.

Ligeiramente corada pela atenção, Shijoin-san parecia genuinamente satisfeita. Enxugando um pouco do suor, ela exibia um sorriso triunfante, irradiando pura satisfação.

— Ótimo trabalho, Shijoin-san. Uma demonstração perfeita.

Como organizador, fiquei incrivelmente impressionado com a demonstração. A precisão e o cuidado de Shijoin-san seriam inestimáveis para os membros menos experientes da nossa equipe.

— Ah, consegui de alguma forma! Por falar nisso, Niihama-kun, já que você teve a ideia da barraca, você se importaria de ser nosso provador oficial?

— Uh, claro, eu posso fazer isso...

Os outros caras lançaram olhares invejosos em minha direção quando concordei em provar o takoyaki de Shijoin-san, mas a sugestão dela fazia sentido. Eu tive a ideia do estande e ninguém estava se opondo.

— Muito obrigada! Aqui, prove este!

Toda a turma suspirou em uníssono assim que Shijoin-san disse isso. Claro que isso aconteceria. Em vez de me dar em um prato, ela trouxe um takoyaki em um palito bem na minha boca.

Em outras palavras... É a chamada situação “Olha o aviãozinho”. Espere, não pode ser! Quer dizer, estou super feliz, mas fazer isso na frente de todo mundo é muito constrangedor!

Shijoin-san, com seu sorriso doce, provavelmente não teve nenhuma intenção com isso. Ela não entendeu por que tanto alvoroço. Provavelmente foi como compartilhar um doce com uma amiga.

É tão constrangedor!

Mas eu nunca recusaria a degustação e magoaria os sentimentos de Shijoin-san.

Além disso, a felicidade definitivamente supera meu constrangimento!

Foi preciso toda a minha força para aceitar aquele takoyaki da Shijoin-san sob o olhar de todos. Claro, estava gostoso, mas sinceramente, meu cérebro estava fervendo.

Uma garota me dando comida caseira diretamente na boca?

Não era algo para o qual minha vida me preparou, então basicamente tudo que eu conseguia sentir era puro pânico.

— Hmm, sim, a massa está bem cozida, está boa.

— Ufa, que bom saber! Ainda é um pouco estranho ter pessoas fora da minha família provando minha comida.

Consegui responder apesar do meu rosto estar em chamas e Shijoin-san sorriu de volta, mostrando estar feliz. Os outros caras estavam lançando olhares confusos em minha direção, alguns impressionados e outros parecendo prontos para me matar.

Todos sabiam que Shijoin-san era super amigável e isso era apenas ela sendo ela mesma, mas isso não impedia a inveja.

Mas, mais do que isso, minha atenção está voltando para ela.

Ela parecia tão aliviada após a demonstração e vê-la fazer uma pequena pose de vitória com seu avental era adorável. Vê-la feliz me deixou feliz também, apesar do meu constrangimento.

***

Deixei escapar um suspiro.

Finalmente, as coisas estão começando a se acalmar.

Antes do início da aula, recostei-me em meu corpo exausto e observei a sala fervilhar em atividades. Ultimamente, tem sido uma preparação ininterrupta para o festival cultural.

À medida que o período de preparação chegava ao fim, tanto a equipe de decoração quanto a de culinária estavam fazendo um grande progresso. Mesmo aqueles que começaram relutantes estavam agora aderindo à ideia e muitas pessoas estavam discutindo os detalhes finais.

No dia anterior, fiquei surpreso ao ver quatro meninos na sala de aula, trabalhando duro com o papel de parede. Os mesmos meninos que reclamaram “isso é muito trabalhoso” quando Fudehashi-san propôs as decorações, sem qualquer motivação.

Será que Shijoin-san realmente os encantou para que mudassem de ideia?

— É como limpar — um deles admitiu timidamente quando perguntei — Você começa, entra no clima e, bem, seria estranho não participar quando todo mundo está fazendo.

Eles até confessaram que trabalhar juntos era divertido.

A atmosfera de cooperação e entusiasmo que se formava gradualmente era incrivelmente agradável para mim. Era como se eu finalmente estivesse experimentando o calor da juventude que antes só podia observar à distância.

Isso é bem legal... Hã? O que é isso?

Algo roçou meu braço enquanto eu estava perdido em pensamentos. Um cilindro estranho estava preso dentro da minha mesa. Ao puxá-lo, vi…

Hã?

O cilindro continha uma carta, sem assinatura. Apenas uma linha com uma caligrafia feminina: “Por favor, espere por mim no banco do pátio depois da aula”.

Isso é algum tipo de brincadeira?

Depois de ficar olhando para ela por um momento, amassei-a e joguei-a no lixo.

***

Depois da aula, senti uma leve vertigem ao caminhar pelos corredores. Eu estava prestes a sair para fazer compras para o festival cultural e, para minha surpresa, Shijoin-san iria comigo. Esse plano surgiu por iniciativa de Kazamihara-san.

— Pode ser que eu esteja generalizando, mas a ideia de deixar os meninos comprarem uma grande quantidade de comida me deixa um pouco preocupada. Para evitar erros estranhos nas compras, seria melhor se Shijoin-san, a chefe da equipe de culinária, também fosse junto.

A sugestão veio da garota de óculos. Com a alegre concordância de Shijoin-san, esse acordo foi fechado. Kazamihara-san, sem saber da minha rotina culinária, provavelmente tinha algumas dúvidas, me vendo apenas como o “cara do takoyaki”. Ainda assim, eu não me importei. A chance de ir às compras com Shijoin-san era uma alegria para mim.

Vejamos, ela disse que passaria uma mensagem para a equipe de culinária primeiro. O ponto de encontro é... certo, a entrada do prédio da escola.

A escola fervilhava com os preparativos para o festival, os corredores estavam lotados. Querendo um atalho, entrei no pátio.

— Estava esperando por você, Niihama.

— Hã?

Uma garota que eu não reconhecia estava ao lado do banco. Seu cabelo macio estava preso em um rabo de cavalo lateral e ela transmitia uma vibração calma.

Hã? Quem é ela? Ela definitivamente não é da minha turma.

— Sou Sakai, da turma do lado. Queria te dizer uma coisa, então pedi a uma amiga para colocar aquela carta na sua mesa.

Uma carta? Ah, certo.

Lembrei da que encontrei na minha mesa esta manhã. Sem remetente. Achei que fosse uma brincadeira e a joguei fora, mas ela mencionava este pátio, a esta hora.

— Ei, Niihama... Eu gosto de você. Então, vamos namorar?

O quê!?

Minha mente ficou em branco. Receber uma confissão assim, do nada era…

O que está acontecendo? Aquela carta... Era real?

Eu a ignorei e acabei vindo aqui por acaso, mas agora Sakai estava aqui, dizendo que estava esperando, dizendo que gostava de mim.

Espere, será que ela realmente gosta de mim? De verdade?

Não era possível. Uma centelha de esperança morreu tão rápido quanto surgiu. Nós mal tínhamos conversado e o rosto dela estava mais presunçoso do que tímido. Isso não podia ser real.

Mas então, o que é?

Eu nunca conversei com ela. Ela está fazendo uma cara sensual, mas sem qualquer sinal de nervosismo. Não acredito que ela realmente tenha sentimentos por mim, mas isso só tornou a situação ainda mais confusa.

Talvez... um desafio? Um jogo de punição? Alguém está intimidando-a para que ela se declare para alguém de quem nem gosta?

Isso me deixou com raiva. Se fosse isso, quem estivesse por trás disso precisava aprender uma lição.

— Ah... Sakai-san? Se eu puder, quero dizer...

Eu estava prestes a oferecer ajuda, mas...

— pfft...

— Hm?

— Ahahahaha! Se eu puder? Ele está levando isso a sério!

Sakai começou a rir, me confundindo ainda mais.

— Ei, você viu isso? Hilário!

— Olha só para ele, ele não faz ideia!

Provocados pelas risadas de Sakai, vários meninos e meninas apareceram atrás do prédio da escola, e um coro de risadas cruéis ecoou. Era o tipo de risada de mau gosto que une um grupo ao zombar de outra pessoa.

— Eu com você? Como se fosse possível!

Ah, entendi. Uma “confissão falsa”. Como aquele mangá da gyaru e o introvertido...

Finalmente, percebi. Bati mentalmente na minha testa. A clássica pegadinha, uma garota finge se declarar para um garoto desavisado só para provocá-lo. Tudo para divertir aqueles que estão escondidos assistindo.

Honestamente, eu não achava que alguém realmente fizesse isso na vida real. Acho que subestimei o quanto os alunos do ensino médio podem ficar entediados.

— Cara, isso foi impagável! Você ficou todo nervoso, achando que a Sakai realmente gostava de você!

— Ei, Sakai, você se entregou muito cedo! — reclamou um dos rapazes — Eu queria ver como nosso amigo desinformado aqui reagiria à confissão!

— Ahahaha, desculpe, desculpe! Mas ver Niihama-kun ficando todo sério, tentando descobrir o que dizer... pfft — Sakai dobrou-se de tanto rir.

Sério?

Entre o choque e tentar descobrir se Sakai estava sendo intimidado, eu nem tinha pensado em uma resposta.

— Niihama! Você deve estar abalado com a confissão falsa!

Sério? Entre o choque e tentar descobrir se Sakai estava sendo intimidado, eu nem sequer pensei em uma resposta.

“Niihama! Você deve estar abalado com a confissão falsa!”

Por que eles estão tão empolgados? Eu mal disse uma palavra. Eles pensaram que eu estava emocionado com a confissão e agora estou arrasado, mas isso está muito longe da verdade.

— Espere... você é Tsuchiyama, certo?

Olhando mais de perto, era o cara da turma que estava sempre obcecado com a hierarquia da escola. Aquele que discutiu comigo sobre os planos para o festival.

Ah, então esse é o grupo dele.

Eu já os tinha visto juntos, do tipo que curte noites de karaokê e fliperama.

— Sim, sou eu. Ei, Niihama, você entende por que foi escolhido como alvo?

— Não. E por que estão faltando aos preparativos do festival por causa disso?

— Foi ideia minha. Achei que poderíamos mexer com você, já que você tem ficado muito confortável ultimamente — Tsuchiyama sorriu maliciosamente.

Ah, lá estava aquela frase útil de novo, “ficando muito confortável”.

— Você tem sido muito arrogante ultimamente. Sair com as pessoas em vez de ficar de mau humor, agir com confiança e assumir o comando no festival, isso está acima de você, certo?

— Eles me pediram para ser a namorada falsa. Não suporto pessoas arrogantes — Sakai acrescentou.

Ok, entendi. Eles não são o grupo principal, são o “time B”. Com medo de que alguém que normalmente fica em segundo plano roube um pouco dos holofotes.

Mesmo como parte de um grupo popular, os membros principais eram os que tinham influência real. O resto, como esses caras, eram os seguidores, sempre bajulando os líderes.

Isso lhes dava uma sensação de superioridade e permitia que eles desprezassem confortavelmente outras pessoas como eu. É por isso que Tsuchiyama se sentiu ameaçado. Alguém “abaixo” dele estava chamando atenção.

Ver alguém das “classes mais baixas” ganhar atenção minava seu senso de superioridade. Toda essa brincadeira era uma tentativa deles de afirmar seu domínio.

— Sério, você achou que uma garota super fofa como eu iria se apaixonar por alguém como você?

— Ei, não seja tão duro com ele. Ao contrário de nós, que estamos sempre cercados por garotas incríveis, esse pobre otaku provavelmente nunca falou com uma sequer.

— É, o clássico otaku sombrio. Sempre sozinho, sem chance de arranjar uma namorada. Não como nós, garotos legais.

— Ah, Niihama-kun! Aí está você!

Uma voz calorosa e alegre cortou o barulho, como um bálsamo para meu cérebro cansado. Era inconfundivelmente Shijoin-san, com seus cabelos balançando enquanto ela corria em minha direção.

— Finalmente, aí está você! Você não veio ao nosso ponto de encontro, então fui procurar por você!

— Ah, desculpe por isso.

— Eu estava tão animada para nossa ida às compras! Quero conversar mais com você sobre aquele novo romance leve, cada segundo com você é precioso, Niihama-kun!

Ela não conseguia conter seu entusiasmo, até mesmo fazendo um beicinho ligeiramente irritado, o que era adorável, como um cachorrinho tentando parecer severo.

— O quê... Shijoin-san? Por que você está com alguém como Niihama?

— Espere, vocês voltam para casa juntos?

A chegada repentina da garota mais bonita da escola deixou meus algozes paralisados de choque.

— Hã? Ah, Tsuchiyama-kun, certo? E os outros… — Shijoin-san inclinou a cabeça — O que os traz aqui?

— Ah... bem...

Diante de Shijoin-san, Tsuchiyama e os outros meninos ficaram gaguejando, sua confiança habitual destruída pela beleza dela.

— Se não for nada, vamos embora. Temos planos para aproveitar nosso tempo juntos!

— Passar tempo juntos depois da escola?

— Aproveitar... como?

As palavras inocentes de Shijoin-san alimentaram mais mal-entendidos. Claro, estávamos apenas fazendo compras e a “diversão” provavelmente era discutir sobre light novels no caminho, mas para Tsuchiyama e os outros, parecia um encontro. Eles ficaram ali boquiabertos, como se suas almas tivessem sido sugadas.

— Bem, é isso. Vamos embora.

Não havia sentido em prolongar isso, e Shijoin-san estava claramente animada.

— Isso não pode ser... por que... como… — A voz de Sakai ecoava atrás de nós.

— Você deveria estar nas fileiras inferiores, como ousa estar com alguém mais alto na hierarquia? — seu tom não era apenas irritado, era venenoso.

— Droga. Por quê? — Tsuchiyama se juntou a ela, vomitando amargura — Por que você está se destacando? Saiba o seu lugar! Otakus como você deveriam se encolher diante de pessoas legais como nós!

A explosão deles era quase cômica. Shijoin-san simplesmente virou o jogo. Não era difícil adivinhar o que os incomodava.

A obsessão pelas classificações escolares. Honestamente, que coisa infantil.

Hierarquias escolares não significam nada no grande esquema das coisas. Mas quando você está preso nisso, parece que é o seu mundo inteiro, como se nada mais importasse.

— Manter sua posição é tão estressante assim? Vocês precisam menosprezar os outros e se sentir superiores para sobreviver?

— Ugh!

Talvez eu tenha acertado em cheio, porque todo o grupo de Sakai e Tsuchiyama ficou em silêncio, parecendo que tinham engolido algo ruim.

— Classificações superiores e inferiores — comecei — ficar obcecado com isso não deixa vocês exaustos? Enquanto isso, aqueles que vocês chamam de ‘inferiores’ estão se divertindo, aproveitando o tempo com amigos de verdade.

Tsuchiyama e os outros permaneceram em silêncio, e eu não insisti. Com Shijoin-san ao meu lado, claramente perplexa com toda essa história de classificação, eu nos afastei rapidamente da cena.

***

— Hm... Niihama-kun, sobre o que Tsuchiyama-kun e os outros estavam conversando?

— Ah, na verdade, aquela garota, Sakai... ela me disse que gostava de mim.

— O quê? — Shijoin-san congelou, claramente chocada.

— Não era verdade, apenas uma brincadeira idiota. Para rir de mim por acreditar em uma confissão falsa.

— O quê? Isso é... cruel! Isso não é uma piada, isso é ser uma pessoa terrível! — sua calma habitual desapareceu e sua voz expressava uma raiva justificada.

— Ah, tudo bem. Especialmente porque você apareceu, Shijoin-san.

— Por que minha presença importaria?

— Bem... eles acham que você é, tipo, de primeira linha, inalcançável para o resto de nós.

— Hã?

Como era de se esperar, Shijoin-san parecia perplexa com toda essa coisa de hierarquia social.

— Então, você está bem, Niihama-kun? Se alguém fizesse isso comigo... eu ficaria com medo e chateada o dia todo.

— Ah, estou bem. Sinceramente.

Se fosse o meu eu do ensino médio de uma vida passada, eu provavelmente estaria chorando descontroladamente. Agora, eu só sentia pena deles. Eu esperava que algum dia eles olhassem para trás e se concentrassem em aproveitar a juventude, em vez de se preocuparem com esses jogos mesquinhos de popularidade.

— Tudo bem, vamos às compras, Shijoin-san! Ou pode não ter mais ninguém na sala de aula quando voltarmos.

Meu comentário meio brincalhão fez Shijoin-san acelerar o passo, sua preocupação era genuína. Não pude deixar de sorrir para sua sinceridade enquanto nos dirigíamos para a saída da escola.

***

— Ok, deve estar tudo certo. Até ficamos dentro do orçamento!

Caminhando ao lado de Shijoin-san, verifiquei mentalmente se não tínhamos esquecido nada. Nossas sacolas de papel estavam cheias de pratos, amido de milho, flocos de bonito e tudo o mais que poderíamos precisar para o festival.

— Sim, conseguimos comprar tudo muito barato. Foi a primeira vez que fui a um supermercado atacadista e fiquei impressionada com a quantidade de produtos que eles tinham. Foi muito divertido!

— Com certeza! Parece um pouco rebelde, não é? Fazer compras com nossos uniformes e depois voltar para a escola.

— É mesmo? É como quebrar um pouco as regras.

— Exatamente!

No caminho para o supermercado atacadista, estávamos envolvidos em uma discussão sobre romances leves a pedido de Shijoin-san. Mas, uma vez lá dentro, o foco mudou naturalmente para o festival.

— Parece que as decorações também estão indo bem. Fudehashi-san ficou emocionada. Ela disse: “Trabalhei tanto nisso, é de partir o coração ter que desmontar tudo depois de um dia” e ficou pedindo para Noroda tirar fotos.

— Ahaha, ela realmente disse isso! Por falar nisso, é surpreendente o quanto Noroda-kun está envolvido agora. Ele odiava o festival no começo, mas ultimamente está realmente interessado nessas fotos. 

— É, e isso é graças à reação de todos — expliquei para Shijoin-san.

Noroda costumava ser preguiçoso, então deixá-lo responsável pela fotografia era um risco. No começo, ele fazia o mínimo possível. Então, escolhi algumas de suas melhores fotos e fiz um pequeno álbum para todos.

Isso deixou todos animados, ver seu trabalho árduo capturado em fotos. Então vieram os pedidos: “Você pode tirar uma foto disso?”. Esse feedback mudou completamente a atitude de Noroda. Ele encontrou um propósito.

— Isso é incrível. Você lidou com problemas, gerenciou pessoas e agora está até ajudando a motivar os outros, Niihama-kun.

— Não é grande coisa. Se Noroda realmente odiasse isso, nada teria funcionado. Eu dei um empurrãozinho, mas foi a motivação dele que fez o trabalho.

Eu não estava fazendo nada de especial. Anos sendo usado por outras pessoas me ensinaram o que eu precisava para funcionar. Um lugar para me sentir valorizado e algum feedback positivo foi tudo o que precisei.

— Os membros da equipe de culinária são os verdadeiros incríveis aqui. De repente, todos se tornaram chefs de cozinha. E eles até conseguiram criar essas novas ideias de cardápio, mesmo com um orçamento limitado.

— Com certeza! O progresso deles é incrível! Aquele novo sabor de feijão vermelho exigiu muitas tentativas e erros! — Shijoin-san sorriu radiantemente, claramente orgulhosa de sua equipe.

Desde o início, ficou claro que ela estava nervosa com a liderança. Mas, após a demonstração bem-sucedida, algo mudou. Vendo-a orientar todos com tanta concentração, percebi que era mais do que apenas ganhar confiança. Todos aqueles pedidos por novas receitas? Foi Shijoin-san quem organizou a degustação para decidir qual ideia adotar.

— Mas por quê? Você sempre evitou estar no comando.

— Veja bem, eu mencionei isso antes. Há garotas que simplesmente não parecem se importar comigo. Liderar um grupo me coloca no centro das atenções e, bem, isso pode levar a problemas.

Era mais ou menos o que eu imaginava. Ser líder, mesmo que de uma equipe pequena, significava coordenar e interagir com outras pessoas, o que inevitavelmente chamava a atenção. Os meninos bajulavam Shijoin-san, e então começavam as fofocas. As meninas que a acusavam de “se empolgar” estavam vendo o mesmo padrão se repetir.

— Então eu evitava me destacar, mas você me mostrou que isso não é certo, Niihama-kun.

— Hã? Eu?

— É só ver como você mudou — um sorriso gentil se formou em seus lábios quando nossos olhos se encontraram— Você mudou drasticamente, isso é certo. Mas foram suas palavras e ações que mudaram. No fundo, mesmo que você pareça uma pessoa diferente, seu caráter fundamental não mudou.

O cabelo longo de Shijoin-san balançava a cada passo enquanto ela falava ao meu lado.

— Permanecer fiel a si mesmo enquanto muda sua mentalidade e suas ações pode abrir portas para coisas que você achava impossíveis. Observá-lo me fez perceber como esse tipo de transformação pode ser maravilhoso — Shijoin-san continuou — É claro que não posso mudar várias coisas sobre mim mesma de repente, como você fez, mas achei que deveria começar tomando a iniciativa e foi o que fiz.

— Então você pensou: por que não deixar liderar a equipe de cozinha ser seu primeiro passo?

— Sim. Eu queria dar o meu melhor, ser a mais útil possível. Eu tinha medo dos problemas habituais e muito mais, mas queria me esforçar!

Seu sorriso corajoso a tornava mais bonita do que nunca. No futuro, uma tragédia a aguardava, mas ela não era fraca. Dada a chance, ela continuaria crescendo, até se tornar uma mulher capaz de qualquer coisa.

— Ah, mas lembre-se! Mais do que tudo isso, minha maior razão era simples. Eu queria apoiar você, Niihama-kun! Você trabalhou tanto para este festival!

— ...

Seu olhar fixou-se no meu, sincero e intenso. Meu coração batia forte e eu podia sentir meu rosto esquentando. Eu nem conseguia respirar direito.

— Shijoin-san.

— Sim!

A resposta alegre de Shijoin-san cortou o turbilhão em minha cabeça. Aquela inocência dela sempre me pegava desprevenido.

— Quero dizer...

Minha boca se moveu, tentando formar as palavras, mas meus sentimentos estavam confusos. Tudo o que consegui dizer foi a verdade do meu coração.

— Só... estou muito feliz que você tenha dito que quer estar ao lado de alguém como eu. Vamos tornar este festival incrível, juntos, até o fim!

— Claro! Também estou contando com você, Niihama-kun!

Tentei esconder minha confusão interior, enquanto Shijoin-san, banhada pelo pôr do sol, apenas exibia aquele sorriso lindo e, assim, nossa última ida às compras terminou com sucesso, riscando mais uma tarefa da lista. O festival estava se aproximando a cada minuto.



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