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CAPÍTULO 3 - SURGE UM DESAFIADOR

Eu achava que não tinha arrependimentos sobre minhas ações naquela noite, mas no momento em que acordei, me arrependi de tudo.

Puxa vida, é muito cedo para arrependimentos, mesmo para mim.

— Eu não deveria ficar tão agitado antes de dormir… — murmurei, sentando-me e segurando minha cabeça com as mãos.

Por que diabos eu escolhi aquele momento para convidá-la para sair? Eu devo ter parecido super insistente.

Eu não estava me arrependendo de ter convidado ela para sair. Eu estava me arrependendo do fato de que eu poderia ter assustado Nanami-san. Eu tive que pensar muito sobre ter me deixado levar por tanto entusiasmo. Pelo menos, ela parecia feliz, então decidi não considerar isso um erro, mas, mesmo assim, achei melhor pedir desculpas mais tarde naquele dia.

Eu me recompus e me preparei para ir para a escola, mas vi minha mãe na sala de estar. Ela normalmente já teria saído para o trabalho a essa hora, então essa era uma ocasião rara.

— Bom dia, mãe.

— Bom dia. Nossa, você acordou muito cedo, Yoshin. E pelo segundo dia consecutivo? Aconteceu alguma coisa?

Hum, ela é perspicaz. Talvez ela tenha esperado por mim em vez de sair para o trabalho porque queria me perguntar isso.

Eu ainda não conseguia me convencer a contar a ela que tinha uma namorada, então inventei outra história sobre ter que cuidar de algo na escola. Recebi meu dinheiro para o almoço dela pessoalmente pela primeira vez em muito tempo e então parti para a escola.

Quando estava saindo pela porta, minha mãe me chamou.

— No sábado, parece que seu pai e eu poderemos jantar com você. No domingo, porém, nós dois viajaremos a trabalho pela manhã, então receio que você terá que comer sozinho.

— Sim, tudo bem. Ok, estou indo.

— Cuide-se.

Depois de me despedir da minha mãe pela manhã pela primeira vez em muito tempo, fui para o local de encontro combinado. Nanami-san e eu tínhamos combinado de nos encontrar por volta das 7h30, mas eu estava tentando chegar lá com trinta minutos de antecedência.

Ontem, ela e eu conversamos sobre nosso horário e decidimos que deveríamos parar de chegar uma hora antes do combinado. Ficar doente por falta de sono iria contra o propósito do encontro.

Então, hoje, fui com a intenção de chegar trinta minutos mais cedo. Quando finalmente cheguei, parecia que eu era o primeiro a chegar.

— Ótimo. Não vou ter que deixá-la esperando.

— Que pena, já estou aqui.

Chocado ao ouvir a voz atrás de mim, virei-me e vi Nanami-san sorrindo. O penteado dela hoje era uma variação do penteado trançado do dia anterior, com a adição de um rabo de cavalo lateral. Eu tinha quase certeza de que esse também era um dos penteados que a personagem da minha foto de perfil usava. O fato de ela ter se dado ao trabalho de fazer essa mudança me deixou sinceramente lisonjeado.

— Bom dia, Yoshin. Você chegou cedo. Eu estava pronta para te surpreender chegando antes de você e reclamando que você estava atrasado.

Ela estava pensando em algo tão fofo? Não, não, mais importante, por que ela estava tentando me surpreender?

Quando perguntei, ela me disse que era em troca da surpresa que eu tinha feito para ela no dia anterior. Acho que eu realmente cutuquei a bochecha dela ontem, então isso fazia sentido. Mas, além disso, eu tinha coisas mais importantes para dizer a ela, o que percebi no momento em que encontrei os olhos um tanto expectantes de Nanami-san. Eu me preparei.

— Bom dia, Nanami-san. Que penteado bonito. Fica super... super... super bonito em você.

Eu consegui!

Finalmente consegui dizer. A palavra não saiu tão suavemente, mas, a julgar pela expressão satisfeita de Nanami-san, parecia que minha resposta estava correta.

— Obrigada. Nesse caso, apresento a você os privilégios de segurar minha mão no caminho para a escola e saborear outro bento que preparei para você.

— Sinto-me honrado e grato...

O sorriso encantador no rosto de Nanami-san me disse que ela estava satisfeita com minha resposta. Não podia ter certeza, mas seu comportamento hoje a fazia parecer mais à vontade.

Na verdade, talvez ela não estivesse à vontade. Talvez estivesse animada com alguma coisa. Será que algo bom tinha acontecido com ela? Bem, contanto que ela esteja se divertindo, tudo bem. Eu também estou feliz.

Depois de nos cumprimentarmos, demos as mãos e continuamos nosso caminho para a escola. Havia muito mais gente por perto do que ontem, mas menos pessoas nos olhavam de forma estranha. 

Será que todos já sabem?

Eu esperava que nada de estranho acontecesse.

— Ah, Nanami-san, eu queria ter dito antes, mas desculpe por ter sido tão brusco ontem.

Confusa, ela colocou um dedo na bochecha e inclinou a cabeça. Seu gesto fofo me deixou um muito nervoso.

— Por que você está se desculpando? — ela perguntou.

— Bem, sabe, você não está tão acostumada com garotos, certo? Eu te convidei para sair no calor do momento, então me senti mal por talvez ter te assustado.

Nanami-san moveu o dedo da bochecha para os lábios. Seu gesto, que tinha um toque de sensualidade, pareceu cativar alguns dos alunos que passavam por ali.

— Shhh, tudo bem. É verdade que não estou acostumada com os rapazes e eles são um pouco assustadores mesmo, mas fiquei feliz que você me convidou para sair. Sim, fiquei muito feliz — disse ela com um sorriso tímido.

Será que a razão pela qual ela parecia tão animada esta manhã era porque eu a convidei para sair? Eu posso me sentir um pouco orgulhoso disso, né? Se sim, só isso já me faria sentir redimido.

— Espere um minuto... Eu te disse isso?

Foi então que percebi meu erro.

Ela não tinha me dito que não estava acostumada com garotos. Eu descobri essa informação por acaso naquele dia fatídico. Era muito difícil para mim contar a ela que tinha ouvido elas falando sobre o desafio, ou seja, eu não podia contar a ela de jeito nenhum.

— Ah… é-é-é que você mencionou ontem que era sua primeira vez namorando alguém. Como você é tão bonita, achei que a única razão para isso era você não conviver muito com homens. Parece que acertei, não é?

Apesar das minhas tentativas de fingir compostura, eu estava falando muito mais rápido do que o normal. Só de pensar que ela era bonita já era vergonhoso o suficiente, sem falar em dizer isso novamente para salvar minha pele. De alguma forma, porém, parecia que eu tinha me safado.

— Bonita…

Nanami-san murmurou, ficando com o rosto vermelho.

Sim, definitivamente me safei. Mas por que Nanami-san não é boa com os homens? Sendo tão bonita e tudo mais, você pensaria que ela poderia lidar com os homens como quisesse. Será que ela teve algum tipo de experiência ruim no passado?

Se for isso, espero que ela consiga se sentir mais à vontade com eles praticando comigo. Não é como se todos os homens fossem estranhos…

Não que eu possa dizer com confiança que não sou um homem estranho.

— Ah, não se preocupe. Não é como se houvesse algum motivo sério para isso. É só eu. Eu fico um pouco assustado e coisa assim.

Ela olhou diretamente para mim e cutucou minha bochecha como se quisesse me tranquilizar.

Isso era vingança pelo dia anterior?

Nanami-san continuou falando enquanto cutucava minha bochecha mais um pouco. Será que ela tinha gostado da sensação?

— Quando eu estava no ensino fundamental, os meninos costumavam me implicar muito. Não era como se eu tivesse medo ou fosse superconsciente perto deles ou algo assim, mas a partir da sexta série, isso mudou e eu comecei a sentir muito medo por algum motivo.

Esses devem ter sido casos clássicos de meninos implicando com meninas de quem gostavam. Aposto que Nanami-san também era uma criança bonita, mas o mais importante...

— Como você sabia o que eu estava pensando? — perguntei, um pouco confuso.

— Faz apenas três dias, mas sou sua namorada.

Radiante de orgulho, ela estufou o peito, e eu tive que tocar meu rosto para confirmar.

Eu realmente deixei transparecer tanto assim?

Se fosse esse o caso, eu teria que ter mais cuidado, ou ela descobriria que eu sabia sobre o desafio, mas, de alguma forma, quando ela estufou o peito daquele jeito, foi meio impressionante. Sua camisa fina de botões atraiu meus olhos, que foram recebidos com uma explosão de balanços. Aquela visão por si só foi suficiente para recarregar meus níveis de energia para o dia inteiro.

É claro que ela percebeu meu olhar imediatamente e se virou para o lado, usando uma mão para cobrir o decote. 

Droga, não tem como ela estar bem com isso. Tenho que me desculpar…

— Pervertido.

ree

A força destrutiva daquela única palavra, dita com os olhos semicerrados e as bochechas coradas, foi tremenda. Quase em agonia, pedi desculpas a ela com mais veemência e rapidez do que jamais havia feito na vida, mas nunca poderia ter previsto que isso me deixaria ainda mais angustiado.

— Não gosto que os homens me olhem assim, mas como é você, eu te perdoo.

Fiquei olhando para ela, perplexo.

Isso é totalmente contra as regras, Nanami-san! Como você pode me dizer que posso olhar quando outros caras não podem? Quanto você quer que eu sofra?

Contendo meu corpo, que tentava se mover de maneiras estranhas, consegui chegar à sala de aula. Hoje não fui bombardeado com perguntas, mas mais uma vez Nanami-san foi levada por Otofuke-san e Kamoenai-san.

Elas estão verificando como está indo o desafio? Eu gostaria de poder dizer a elas para não se preocuparem e que Nanami-san estava indo muito bem.

Logo depois, com a conversa aparentemente encerrada, Otofuke-san e Kamoenai-san voltaram para a sala de aula sorrindo de orelha a orelha. Nanami-san os acompanhava, com o rosto em um novo tom de vermelho. Otofuke-san e Kamoenai-san também estavam sorrindo para mim. Eu me pergunto sobre o que elas estavam conversando...

A aula prosseguiu sem problemas e, em pouco tempo, chegou a hora do almoço, a hora do almoço pela qual eu estava esperando.

Quem diria que eu ficaria ansioso pela hora do almoço…

Eu estava ficando emocionado quando, na verdade, não deveria baixar a guarda. Foi então que o incidente aconteceu. Nanami-san sorriu alegremente e me entregou minha lancheira azul. Era a mesma lancheira que havíamos comprado no dia anterior.

Devagar e com cuidado, abri a tampa e fiquei emocionado com o que havia dentro. Havia uma omelete amarela vibrante e salsichas perfumadas que estavam levemente chamuscadas. Elas estavam acompanhadas por um refogado de espinafre e cenoura, com dois grandes hambúrgueres como prato principal. Era uma marmita que personificava a felicidade. É claro que tirei várias fotos para comemorar a ocasião.

— É suficiente? — perguntou Nanami-san, preocupada.

— É mais do que suficiente. Obrigado, Nanami-san. Parece delicioso hoje também.

— Que bom. Mas, se for assim, não poderei alimentá-lo quando você ficar sem comida.

Meu rosto ficou vermelho ao lembrar do incidente do dia anterior, mas eu não devia ser o único, já que Nanami-san também estava corando. Ela deve ter tido a intenção de me provocar, mas essa provocação acabou saindo pela culatra.

— Desculpe, só esquece o que eu disse — ela murmurou.

Enquanto continuávamos conversando e comendo nosso almoço, uma grande sombra de repente pairou sobre nós.

— Com licença, Nanami-san. Posso falar com você?

— Estou almoçando com meu namorado, então não, Shibetsu-senpai.

A sombra era de um cara: um cara alto e bonito que estava parado diante de nós. Ele era realmente alto e parecia ainda mais alto, já que estávamos sentados.

Ele tem 1 metro e 90?

Mesmo sem fazer nada, apenas parado diante de nós, ele era bastante intimidador... e um pouco assustador. Nanami-san e eu tínhamos aproximadamente a mesma altura. Até eu, um cara, estava com medo desse cara, então ela devia estar ainda mais assustada.

Aproximei-me de Nanami-san, inclinando-me um pouco para ela. Então, fingindo não ver sua expressão surpresa, continuei olhando para frente e apontei para o assento ao meu lado, do outro lado.

— Não devo deixá-lo ficar aí em pé, senpai. Há espaço aqui ao meu lado, se você quiser se sentar. Estou quase terminando meu almoço, então você se importaria de esperar um minuto?

— Hmm... E você é?

— Yoshin Misumai, namorado de Nanami-san.

Com a minha resposta, o rosto de Shibetsu-senpai se contorceu. Ele hesitou por um momento, mas depois de um único olhar para Nanami-san, que se recusava até mesmo a olhar para ele, ele obedientemente sentou-se ao meu lado.

— Uau, Nanami-san, este hambúrguer está absolutamente perfeito. Uma vez, ajudei a preparar o jantar, mas quando o cortei, estava meio cru. Acabei por ter de o partir em dois e assá-lo de novo, por isso ficou todo seco por dentro.

— Não fiz nada de especial. É grande, mas não é assim tão grosso, vê? Além disso, desde que se controle a temperatura e se tente cozinhar um pouco no vapor, qualquer pessoa consegue fazê-lo.

— Esta omelete está igualmente perfeito. A doçura está na medida certa.

— Sério? Fico muito feliz. Meu pai gosta de omeletes feitas com caldo de sopa, mas todos os outros em casa gostam dos doces, então é sempre um saco ter que fazer dois tipos diferentes.

— Você faz uma omelete diferente só para o seu pai? Você é tão atenciosa, Nanami-san.

— Ah, pare com isso...

Eu só tinha dado minha opinião sincera, mas Nanami-san fez beicinho e desviou o olhar. Sério, ela era uma garota tão gentil. Encantado com sua reação, não pude deixar de sorrir.

— Desculpe interromper, mas... Misumai-kun, não é? Posso te perguntar uma coisa?

— Sim, senpai.

Shibetsu-senpai, que havia interrompido abruptamente a conversa, estava olhando para o meu bento. Não havia muito sobrando, apenas a omelete e uma pequena fatia de hambúrguer, mas talvez ele ainda não tivesse almoçado.

— Por acaso foi o Nanami-san que preparou isso para você?

— Hã? Ah, sim, foi ela.

Ao ouvir minha resposta, os olhos do Shibetsu-senpai se arregalaram ao máximo. Ele olhou alternadamente para o meu bento e para a Nanami-san, que parecia irritada com a interrupção abrupta. Tive um mau pressentimento sobre isso, então enfiei os pedaços restantes na boca, sem dar a mínima para Shibetsu-senpai.

— Ah, droga. Eu queria um pouco…

Como eu imaginava. Fiz bem em comer tudo antes que ele pudesse dizer alguma coisa, não que eu fosse dar nada para ele, mesmo que ele pedisse. Esse bento era meu. Eu não abriria mão de nenhum pedaço.

— Obrigado pela refeição. Hoje também estava delicioso.

— De nada.

Depois de terminar nossa refeição com a mesma conversa de ontem, entreguei minha lancheira para Nanami-san e me virei para Shibetsu-senpai. Eu me virei de forma a ficar na frente de Nanami-san, como se estivesse tentando protegê-la de sua figura imponente.

— Então, senpai, sobre o que você queria conversar com a gente?

— Na verdade, eu queria falar com Nanami-san, mas... Bem, acho que isso também é sobre você.

— Eu também?

Shibetsu-senpai levantou-se do banco e voltou para a nossa frente, seus olhos oscilando entre Nanami-san e eu. Então, cruzando os braços com uma expressão mal-humorada, ele começou a se dirigir a Nanami-san, enquanto me lançava olhares furtivos.

— Nanami-san, você está dizendo que prefere esse cara a mim?

Ela o encarou.

— Sim — disse ela com naturalidade — e senpai, por favor, me chame pelo meu sobrenome. A única pessoa que pode me chamar de “Nanami” é meu namorado, Yoshin.

Shibetsu-senpai, tremendo e com o rosto vermelho, apontou para mim com raiva.

— Eu te desafio para uma partida, Misumai-kun! — ele gritou com toda a força. 

Sua voz era tão estrondosa, como convém a um atleta, que todos se viraram para olhar.

— Se eu perder, reconhecerei seu relacionamento! Mas se eu ganhar, Nanami é minha!

— Não, eu passo.

Eu recusei tão rapidamente que Shibetsu-senpai congelou no lugar com o dedo ainda apontado para mim.

Por que diabos ele achou que eu aceitaria um desafio desse?

— Ah, Yoshin, tem um pouco de arroz na sua bochecha.

— Hã?

Com isso, Nanami-san tirou o grão de arroz e colocou-o na boca, como se quisesse mostrar o gesto para Shibetsu-senpai. O ato inesperado me deixou paralisado junto com Shibetsu-senpai. Vendo-me tão rígido, Nanami-san riu, um pouco envergonhada.

Shibetsu-senpai foi o primeiro a sair do seu estado de paralisia.

— Que vergonha você recusar um desafio! Como eu pensava, você é um covarde indigno de Nanami-san! Se você deseja provar o contrário, aceite o desafio!

Descongelado pelos gritos de Shibetsu-senpai, eu também consegui me mover novamente. Minha preocupação não era com meu colega mais velho, mas com Nanami-san.

O que você está fazendo de repente, Nanami-san?! Se você vai ficar toda vermelha e olhar para o outro lado, nem deveria ter feito isso! Sorte sua que você ainda é tão fofa!

Ok, Nanami-san está se recusando a olhar para cá, então eu provavelmente devo atender ao senpai para me acalmar.

— Senpai, isso não é algum tipo de novela mexicana em que você pode apostar sua namorada em uma batalha. Além disso, precisamos considerar os sentimentos de Nanami-san. Considerando que ela já te rejeitou uma vez, ignorá-la e escolher lutar comigo é totalmente sem sentido.

— Não ouse usar esses argumentos sensatos comigo! — Shibetsu-senpai gritou cobrindo os ouvidos dramaticamente — A lógica pode magoar as pessoas mais do que os insultos! Eu sei disso melhor do que ninguém!

Então ele sabia que eu estava certo, hein? Que cara egoísta.

Eu tinha certeza de que era Shoichi Shibetsu-senpai. Até eu o conhecia, já que o Sr. Tão Bonito, capitão do time de basquete, tinha sido apresentado em uma assembleia escolar anterior. Aparentemente, ele era famoso nacionalmente como jogador de basquete do ensino médio, embora também fosse um dos caras bonitos que Nanami-san havia rejeitado.

Ele provavelmente tinha ouvido dizer que eu tinha começado a namorar com ela e, agindo como o atleta que era, tinha vindo me desafiar para uma briga. Embora eu apreciasse seu esforço, não havia nada nisso para mim.

Ele querendo ou não, sou eu quem está namorando Nanami-san.

Além disso, eu não tinha a menor intenção de entregá-la a alguém que a tratava como um prêmio. Mesmo que nosso namoro fosse por um tempo limitado, naquele momento, Nanami-san ainda era minha namorada. Além disso, eu precisava fazer com que Nanami-san gostasse de mim, então não tinha tempo a perder com assuntos supérfluos. Só para reiterar, não havia absolutamente nenhuma razão para eu aceitar esse desafio. 

Quero dizer, eu tenho mais a perder, então qualquer pessoa normal também teria recusado. Por que diabos ele acha que eu diria sim? Esse cara...

— Yoshin, vamos logo.

— Tudo bem.

Quando Nanami-san, cujo rosto anteriormente corado finalmente voltou ao normal, e eu começamos a voltar para a nossa sala de aula, Shibetsu-senpai gritou para nós indignado.

— Ei! Calma ai! Nanami, o que você vê em um cara tão feio e magricelo?! No mínimo, eu sou mais bonito do que ele!

Eu não tinha nada a dizer sobre isso. Era verdade. Esse cara era muito bonito. Ele também era alto e poderia passar por modelo. Dizer que eu era simples e magricelo não era um insulto, mas sim uma expressão direta da realidade.

Se nós dois ficássemos lado a lado, onze em cada dez pessoas escolheriam ele em vez de mim. Era assim que a diferença entre nós era desesperadamente gritante. Considerando isso, eu nem conseguia ficar com raiva do que ele estava dizendo.

Mas Nanami-san estava absolutamente furiosa.

— Se você insultar Yoshin mais uma vez, vou cortar todos os laços com você, mesmo como amigo! Vou ignorá-lo mesmo que você fale comigo na escola! Yoshin é muito, muito mais atraente do que você! Odeio pessoas que dizem coisas assim!

Eu nunca tinha visto sua expressão tão cheia de raiva. Foi uma mudança tão repentina em relação ao seu sorriso de um momento atrás. 

Na verdade, alguém já a tinha visto ficar zangada antes? E tudo isso foi por minha causa. Seria superficial da minha parte sentir-me feliz por ela ter ficado zangada por mim?

Mas, então, Shibetsu-senpai caiu de joelhos. Como ele era alto, um som surdo ecoou à nossa volta, sugerindo que os joelhos dele tinham sofrido danos mais graves do que uma pessoa normal teria sofrido.

— O-Odeio? Ela me odeia?! Nanami-san disse que me odeia...

Espere, você não está sendo um pouco fraco mentalmente, senpai?! Ou o que Nanami-san disse realmente teve esse efeito em você?

— Mesmo quando você me convidou para sair, você ficou olhando para o meu peito o tempo todo! Não pense que eu não percebi! Yoshin nunca faria isso...

Com isso, Nanami-san foi parando no meio da frase. Ela provavelmente estava se lembrando do meu deslize anterior.

Desculpe, Nanami-san!

Enquanto eu pedia desculpas a ela em minha cabeça, porém...

Espera, ela acabou de mentir descaradamente?!

Nanami-san estava fingindo que o incidente daquela manhã nunca tinha acontecido enquanto o repreendia com uma mentira descarada. Então, quando Shibetsu-senpai bateu com as palmas das mãos no chão em desespero, ela olhou para mim e mostrou a língua como uma criança travessa.

Aquele olhar era por causa da mentira que ela havia contado ou um protesto adorável contra eu estar olhando para o peito dela?

Mesmo que ela já tivesse me perdoado, eu me sentia mal por ter feito aquilo com ela. Mas não tinha jeito, os olhos das pessoas são atraídos por coisas que se movem.

Quando Nanami-san começou a se afastar, Shibetsu-senpai estava prestes a levantar os olhos como se quisesse se agarrar a ela com sua expressão de cachorrinho. Suspeitando de problemas, corri para me colocar entre os dois, ajoelhando-me para que ele e eu ficássemos no mesmo nível dos olhos.

— Nanami-san, provavelmente é um pouco exagerado cortar todos os laços com ele — eu disse — Quero dizer, vocês são amigos, certo? Sinto-me um pouco desconfortável por você ter um amigo tão bonito e, para ser sincero, estou com um pouco de ciúmes. Ele não é alguém com quem eu me sinta confortável em ver você se envolvendo, mas seria um pouco duro com Shibetsu-senpai cortar todos os laços com ele.”

— Misumai-kun...

Shibetsu-senpai desviou o olhar para mim, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Maravilha…. agora senpai está olhando para mim…

Se o cara tivesse levantado a cabeça antes da minha intervenção, ele estaria olhando diretamente para a saia da Nanami-san. Nem eu tinha visto lá em baixo antes... Não, espere.

Pelo menos, fico aliviado por Nanami-san não ter passado pela vergonha de alguém olhar para dentro da saia dela.

— Se você diz isso. Acho que não vou cortar todos os laços com ele, então. Ah, mas eu não dei meu número para ele nem nada, então não se preocupe muito, ok?

Nanami-san fez beicinho, como se estivesse um pouco emburrada. Será que ela não gostou que eu o defendi? Hmm... Em momentos como esse, o que seria melhor dizer? Eu não era muito bom com palavras. Por enquanto, decidi elogiá-la sinceramente.

— Certo. Obrigado, Nanami-san. Você é muito gentil. Fico aliviado em saber sobre o número também.

— Você se apaixonou por mim de novo?

Trocar seu mau humor por um sorriso radiante, ela inclinou a cabeça e mostrou seus dentes perfeitos, fazendo-me sentir como se tivesse levado um contra-ataque. O fato de não ter doído era um mistério para mim, mas como eu deveria responder dessa vez?

Acho que é melhor apenas falar honestamente.

— Sim, me apaixonei perdidamente.

Assim que tomei minha decisão, Shibetsu-senpai se levantou.

— Hmm… parece que você não é tão ruim assim — resmungou ele, tendo se recuperado o suficiente para falar — acho que posso reconhecer isso, pelo menos, mas ainda não reconheço esse relacionamento. Aceite meu desafio e prove para mim que você é um homem digno.

Levantei o olhar e dei um suspiro profundo. Parecia que Nanami-san sentia exatamente o mesmo, já que nossos suspiros estavam em perfeita harmonia. Droga, lá se vai minha chance de dizer algo legal para Nanami-san...

— E então? Quando você diz desafio, o que exatamente você tem em mente?

— Um desafio de três pontos. Eu sou o capitão do time de basquete. Partidas de dez arremessos são uma espécie de tradição do clube, sabe.

Uau, isso é jogar sujo, cara.

O capitão do time de basquete não deveria desafiar as pessoas para nada relacionado ao basquete. Eu só tinha jogado basquete durante as aulas, então meu único conhecimento sobre o esporte vinha dos mangás.

Nanami-san também estava olhando para ele, exasperada e chocada. Ela provavelmente também não imaginava que ele sugeriria algo tão idiota. Ainda assim, ele não estava recuando, então acho que não havia jeito. Eu não queria que ele voltasse para nos incomodar no dia seguinte também.

— Tudo bem, senpai, aceito o desafio, mas com três condições. Sou completamente inexperiente em basquete, então isso deve ser permitido, certo?

— Hã? Bem, acho que você tem razão. Diga o que quiser. Vou te dar quantas vantagens você quiser.

Nesse caso, gostaria que você não desafiasse pessoas na sua área de especialização.

Dizer isso em voz alta, porém, seria um desperdício com essa pessoa. Muito provavelmente esse cara era muito burro. Ele era meu senpai, então eu realmente não queria dizer isso, mas ele era burro como uma porta. Era por isso que ele aceitou minhas condições antes mesmo de ouvir quais eram. Dito isso, ele provavelmente estava confiante de que não perderia, já que fazia parte do time de basquete.

De qualquer forma, eu tinha a palavra dele.

— Primeiro, mostre de-não, vinte de seus arremessos como exemplos. E, por favor, deixa eu começar primeiro na competição real.

— Tudo bem, isso deve funcionar.

— Segundo, se eu marcar pelo menos uma vez, considere isso minha vitória. Afinal, eu nunca fiz uma cesta de três pontos antes. E para você... Que tal se você fizer oito, consideramos isso sua vitória?

— Feito. É uma vantagem bastante justa.

— Terceiro e último, independentemente dos resultados da nossa competição, Nanami-san deve escolher o vencedor por ela mesma.

— Mas é claro! Agora, vamos fazer com que eu acerte todas as dez jogadas esplêndidas e ela me escolha!

Shibetsu-senpai, agora completamente recuperado, sorriu alegremente e saiu do local com passos leves demais para seu físico enorme. Ele provavelmente estava indo para o ginásio.

Ainda havia tempo antes do fim do almoço, então provavelmente era melhor resolver isso agora. Meu tempo com Nanami-san seria encurtado hoje, mas não havia como evitar.

— Yoshin, você tem certeza? É o Shibetsu-senpai que você está enfrentando.

— Ah, sim. Vai dar tudo certo. Como posso dizer isso? Eu também estou meio irritado com ele por tratá-la como um prêmio. Aproveite esta oportunidade para relaxar enquanto assiste ao meu péssimo arremesso de três pontos.

Se os arremessos de três pontos de Shibetsu-senpai fossem esplêndidos, os meus seriam, no mínimo, infelizes, mas eu não tinha intenção de perder. Bem, dadas essas condições, eu não achava que iria perder.

— Mas se você perder, eu… — ela parou de falar, olhando ansiosamente para os pés, então coloquei minha mão em seu ombro para tranquilizá-la.Ela tremeu com meu toque, mas então ergueu o rosto.

Droga, eu a toquei sem pensar. Ela está bem?

Ah, mas algo em sua expressão a faz parecer mais tranquila…

Espere, Nanami-san, por que você está apoiando a bochecha na minha mão?

ree

Uau, a bochecha dela é muito macia. Ela está se esfregando em mim... Não, tenho que continuar falando.

— Eu pedi essa condição, certo? Que, aconteça o que acontecer, você decidirá o resultado final? Bem, acho que não tenho chance se você for totalmente conquistada pelos arremessos de três pontos deslumbrantes do Shibetsu-senpai, mas isso não aconteceria, certo?

Isso não… aconteceria… né?

Nanami-san pensou nas minhas palavras por um momento, depois bateu palmas ao perceber.

— Aaaah… então,  era isso que a última frase significava.

— Sim, embora pareça que o senpai só se lembra da primeira coisa que disse, que era que ele ficaria com você se ganhasse. Ele é... Eu não deveria dizer isso, mas ele parece meio burro.

— Ah, sim, mas quando se trata de basquete, ele é bastante impressionante.

— Entendo. Bem, vamos?

Estendi minha mão para ela. Embora ela estivesse surpresa, ela lentamente a segurou, e seguimos para a academia.

Quando chegamos, não pude deixar de me deleitar com o olhar invejoso de Shibetsu-senpai. Eu sabia que meu prazer era ruim da minha parte, mas provavelmente não era tão ruim assim deixá-lo psicologicamente marcado antes de começarmos.

Depois de causar alguns danos a ele, participei da competição de três pontos contra meu colega mais velho com as condições que eu havia estabelecido, é claro. Ele aceitou meus termos para o desafio sem qualquer brincadeira e, como resultado… Shibetsu-senpai caiu de joelhos e bateu com as palmas das mãos no chão aos meus pés, assim como havia feito poucos minutos antes.

— Isso... Isso não pode ser! Como eu pude perder?

— Eu venci, senpai. Nanami-san é minha namorada. Você reconhece isso agora, certo?

Embora parecesse irritado, ele não era do tipo que voltava atrás em sua palavra. Com uma expressão vazia, ele olhou para Nanami-san e para mim, antes de sorrir de forma um tanto niilista.

— Ah, sim, Misumai-kun e... Barato-san... Vocês dois formam um belo casal. Droga, estou decepcionado comigo mesmo.

No final, Shibetsu-senpai nos deu um sorriso brilhante, como convém a um atleta, e estendeu os membros no chão em sinal de parabéns.

Ao ver seu sorriso, senti-me um pouco envergonhado por ter usado alguns truques sujos, mas, considerando que foi ele quem me desafiou com o desafio da bola de basquete, achei que podíamos considerar-nos quites.

Shibetsu-senpai e eu apertamos as mãos com firmeza enquanto nossa plateia improvisada explodia em aplausos.

♢♢♢

CANYON: Então é isso, Baron-san.

A competição de três pontos terminou da melhor maneira possível e agora eu estava de volta em casa relatando os acontecimentos do dia para Baron-san.

BARON: Bem, Canyon-kun, parece que alguém teve outro dia cheio de eventos. Não me diga que você é realmente um deliquente.

Bem, isso foi desnecessário... Você sabe que sou apenas um estudante típico do ensino médio.

Mas ele estava certo sobre uma coisa: desde que comecei a namorar Nanami-san, cada dia tinha sido cheio de surpresas. Se alguém tivesse me dito isso há pouco tempo, eu nunca teria acreditado.

Eu estava namorando uma das garotas mais bonitas da escola, tudo por causa de um desafio. Talvez o fato de ter sido um desafio fosse a única coisa crível em tudo isso. Ainda assim, os últimos dias me encheram de tanta felicidade que eu teria razão em não acreditar.

BARON: O calor do momento pode ter tido algo a ver com isso, mas você ainda assim conseguiu se superar. Mesmo que ele tenha errado algumas jogadas, você basicamente venceu um cara por 23 a 1. Ou, como eram arremessos de três pontos, eu deveria dizer 69 a 3. haha, que goleada.

CANYON: Bem, acho que fomos levados pelo momento, além disso, ele estava disposto a reconhecer que havia perdido.

Certo... Tecnicamente, eu venci a competição contra Shibetsu-senpai, mas se a partida tivesse sido julgada apenas pelos pontos, teria sido uma derrota completa e total para mim. Afinal, eu literalmente só fiz uma cesta.

Antes da partida, eu pedi a ele que me mostrasse 23 arremessos de três pontos seguidos, com o objetivo de me dar uma lição. Na verdade, ficar parado ao lado e deixá-lo demonstrar foi uma espécie de fingimento. Meu verdadeiro objetivo era fazer com que ele gastasse o máximo de energia possível antes de começarmos nosso desafio. Eu até pedi a ele que me treinasse um pouco, na esperança de que isso o fizesse perder o ritmo.

Como era de se esperar do capitão do time, ele foi muito bom em me ensinar o básico. Isso me fez sentir um pouco mal, mas pelo menos eu aprendi a arremessar a bola.

Depois disso, coloquei toda a minha energia em mirar meu primeiro arremesso. Concentrei-me mais do que nunca e, de alguma forma, consegui.

Foi um arremesso totalmente por acaso, mas pude ver a agitação nos olhos de Shibetsu-senpai. Para piorar a situação, Nanami-san comemorou com entusiasmo, o que deve ter sido como esfregar sal na ferida, mas isso não fez diferença para mim. O arremesso não passou disso, um acaso, o que significava que eu havia falhado nos nove arremessos restantes. O último nem chegou a atingir a cesta.

Tipo… me dêem um tempo. Eu tinha feito apenas um arremesso e Nanami-san estava gritando: “Meu Deus! Que legal! Estou apaixonada!” Como eu poderia manter a calma? Espere, agora que penso nisso, ela realmente disse que estava apaixonada? Eu ouvi direito?

De qualquer forma, no momento em que fiz a primeira cesta, eu cumpri a condição para a vitória. As condições diziam que, se eu fizesse pelo menos uma cesta, seria declarado vencedor.

Naquele momento, as chances estavam a meu favor. Normalmente, teria sido um empate, no máximo. Meu único erro de cálculo foi que, apesar de seu estado de agitação, Shibetsu-senpai acertou basicamente todos os seus arremessos de três pontos. Sua condição para vencer era acertar pelo menos oito, o que ele fez sem nenhum problema.

O fato de ele ter conseguido cumprir essa condição, fazendo um total de trinta arremessos de três pontos, apesar da tempestade perfeita que eu criei, foi nada menos que surpreendente. Eu não tinha experiência com basquete, então não era quem para falar, mas talvez aqueles primeiros vinte arremessos tivessem sido apenas um aquecimento para ele, com trinta sendo moleza. Ainda assim, tudo o que eu podia dizer era que havia subestimado o capitão do time de basquete.

Assim, ficamos com o placar de oito a um. Normalmente, mesmo levando em conta a desvantagem, isso teria sido um empate, na melhor das hipóteses. Na verdade, eu senti uma sensação de derrota. Mas esse sentimento foi dissipado por uma única observação de Nanami-san.

— Yoshin vence!

Apesar de ambos termos cumprido nossas respectivas condições de vitória, meu terceiro e último pedido foi que Nanami-san escolhesse o vencedor. Claro, você poderia dizer que a partida foi combinada, mas Shibetsu-senpai aceitou respeitosamente o resultado.

BARON: Sério, é tão injusto. Se você deixa sua namorada decidir no final, mesmo que você não tenha acertado nenhum desses arremessos, você sairia vencedor, desde que ela dissesse isso.

CANYON: Bem, é verdade. Foi completamente injusto.

Se ela tivesse sido completamente conquistada pelos movimentos magnéticos de Shibetsu-senpai, o resultado teria sido o oposto, independentemente dos resultados. Não que eu achasse que Nanami-san se apaixonaria repentinamente por alguém que ela já havia rejeitado, mas nunca se pode dizer com certeza.

Ei, eu sou um cara e mesmo eu não pude deixar de pensar que as cestas de três pontos de Shibetsu-senpai foram realmente incríveis.

Como meu relacionamento com Nanami-san era uma aposta e tudo mais, eu não tinha certeza do que poderia acontecer a seguir. Eu estava, admito, um pouco ansioso. Felizmente, porém, minha preocupação acabou sendo em vão.

Pensando bem, o abraço violento de Nanami-san após o término da partida foi realmente algo especial. Foi suave e caloroso e cheirava muito bem, e como o uniforme dela era sempre um pouco revelador, houve muito contato pele com pele.

Depois disso, ela ficou com o rosto corado, envergonhada com seu próprio gesto. Sinceramente, acho que nunca vou conseguir esquecer como foi aquele abraço. Afinal, foi meu primeiro e único abraço com uma garota.

BARON: Ei, Canyon-kun, você se lembra do que eu disse no início de tudo isso?

CANYON: O que você disse no início?

Perplexo com a pergunta repentina de Baron-san, eu me esforcei para lembrar.

Qual foi a primeira coisa que ele me disse?

Tínhamos muitas conversas diárias para eu conseguir lembrar. Mas, como ele mencionou isso neste momento específico...

CANYON: A coisa que você disse sobre eu fazer com que ela gostasse de mim?

BARON: Exatamente. Nossa, você é muito bom em perceber essas coisas.

CANYON: Foi uma das primeiras coisas que você disse, então é claro que eu me lembraria.

Eu decidi sair com Nanami-san depois de ouvir o conselho de Baron-san e, à minha maneira, tenho me esforçado para fazer com que ela goste de mim, eu acho. Mas... como posso dizer? Ao contrário de antes, eu achava que estava sendo mais cuidadoso com o que dizia e fazia. Havia algo nisso que preocupava o Baron-san?

BARON: Por acaso você está totalmente apaixonado por ela?

Ao ver a mensagem exibida na tela, senti meu coração bater forte por um instante. Suas palavras foram certeiras, como se ele tivesse lido meus pensamentos.

BARON: Oh, não me entenda mal. Não estou dizendo que isso seja uma coisa ruim. Se você está começando a gostar dela, isso é realmente uma coisa ótima.

CANYON: Você realmente acha isso?

Eu tinha certeza de que ele iria me repreender por me apaixonar por ela tão rapidamente. Não era que eu esperasse que ele me repreendesse, mas achei que ele diria algo nesse sentido. Pelo contrário, o que ele disse a seguir foi um choque total.

BARON: Com certeza. tipo, não importa como você olhe para isso, sua namorada está perdidamente apaixonada por você, então, se você também gosta dela, isso significa que é uma coisa mútua. Adeus obstáculos e adeus problemas.

CANYON: Você realmente acha isso? Você realmente acha que ela gosta de mim?

BARON: Sim. Na verdade, se ela não gosta de você, acho que nunca mais vou conseguir confiar em outra mulher.

Hã? Começamos a namorar na terça-feira, o que significa que estamos juntos há apenas três dias, no máximo. 

Será mesmo possível alcançar esse objetivo tão rapidamente? Mas se isso fosse verdade, eu ficaria um pouco... não, ficaria muito animado.

PEACH: Não acho que seja esse o caso. Na verdade, tenho certeza absoluta de que ela está brincando com você.

Enquanto eu continuava minha conversa com Baron-san, Peach-san de repente se intrometeu na conversa. Quer dizer, era apenas uma conversa em grupo, então “intrometer-se” não faz muito sentido, mas a opinião dela fez minha cabeça recuperar um pouco da sobriedade.

PEACH: As gyaru não fazem nada além de brincar com os rapazes e rir deles pelas costas. Vamos lá, você não disse que as amigas dela estavam rindo para você? Elas devem ter rido porque achavam que você não sabia de nada.

Não sei dizer o que havia nas palavras dela, mas só de ouvi-las minha cabeça ficou mais fria. Claro, eu sabia que eram negativas e cheias de estereótipos, mas Otofuke-san e Kamoenai-san realmente estavam rindo para mim. Dito isso...

CANYON: Peach-san, agradeço por você estar cuidando de mim, de verdade, mas não acho que ela seja uma pessoa má. Agradeceria se você não falasse dela dessa maneira.

Eu realmente não senti nenhuma malícia naqueles sorrisos. Além disso, elas já haviam prometido a Nanami-san que nunca revelariam a mim que tudo isso era um desafio, então aqueles sorrisos deviam ser por outro motivo.

PEACH: Desculpe. É que estou preocupada com você, então eu...

CANYON: Não, obrigado. Sério. Graças a você, consegui me controlar. Vou me esforçar ainda mais a partir de agora para que ela goste de mim.

Ela estava certa, na verdade. Era apenas nosso terceiro dia saindo juntos, então era muito cedo para eu ficar tão convencido. A menos que Nanami-san fosse super fácil, e tão fácil a ponto de ser considerada a “heroína fácil”, provavelmente fazia mais sentido interpretar o comportamento dela como uma performance de “namorada ideal”.

PEACH: Desculpe. Vou sair do chat por hoje.

Com isso, Peach-san saiu do chat. Suas palavras foram um pouco duras, mas ela provavelmente estava apenas preocupada comigo. Talvez ela tivesse tido algum tipo de experiência ruim no passado com gyaru.

BARON: Fiquei preocupado por um momento que você pudesse ficar desanimado, mas fico feliz que você tenha interpretado isso de forma positiva. Desculpe, cara. Acho que ela não teve a intenção de ofender.

Com a Peach-san fora, o Baron-san assumiu a responsabilidade de verificar se estava tudo bem. Para falar a verdade, ele provavelmente estava tão preocupado comigo quanto ela, e foi por isso que não a repreendeu. Sem dúvida, ele também iria conversar com ela mais tarde. Ele realmente foi uma grande ajuda.

CANYON: Eu sei. Não estou muito incomodado com isso. Além disso, graças a ela, estou pensando com um pouco mais de clareza. Tenho que me esforçar ainda mais para que Nanami-san goste de mim.

BARON: Eu realmente acho que você não precisa mais se preocupar com isso, mas não é ruim ser proativo em relação a coisas assim. Um esforço sincero nunca é ruim.

CANYON: Falando nisso, o que devo fazer exatamente?

BARON: Nossa, você seria muito mais legal se não dependesse de mim para tudo. Quer dizer, tudo o que eu digo vem da internet mesmo, então você não deveria procurar isso sozinho?

O Baron sempre dizia que seus conselhos para mim eram tirados da internet, mas eu não conseguia deixar de me perguntar se isso era verdade. Para falar a verdade, eu mesmo tinha pesquisado muitas coisas, mas nada tinha me tocado da mesma forma que as palavras dele. Tudo o que o Baron dizia fazia sentido e era por isso que eu sempre acabava dependendo dele para tudo.

BARON: Bem, quem se importa? Amanhã, por que você não verifica se ela está bem depois de tudo o que aconteceu hoje? Ela pode estar se sentindo inquieta com as coisas, então você deve confortá-la.

CANYON: Inquieta? Mas eu acabei vencendo, então achei que estava tudo bem.

BARON: Hmm... Se alguma coisa, ela provavelmente está preocupada que possa haver ainda mais caras no futuro que vão querer desafiá-lo de maneiras semelhantes. 

Ah, acho que isso é uma possibilidade. Pensando nisso, será que fui imprudente ao aceitar o desafio da Shibetsu-senpai?

BARON: Isso é apenas um palpite meu com base no que você me contou, mas ela pode estar preocupada que você vá se envolver em situações mais perigosas por causa dela. Então, quer você minta ou apenas finja coragem, você terá que tranquilizá-la de que ficará bem.

CANYON: Entendo. Você está absolutamente certo, obrigado.

Depois do desafio de basquete, Nanami-san e eu demos as mãos no caminho de volta da escola, mas se ela realmente estava se sentindo ansiosa por dentro, eu me senti absolutamente patético por não ter percebido isso.

BARON: Dito isso, a notícia de que você enfrentou o capitão do time de basquete vai se espalhar como fogo, então você provavelmente ficará bem amanhã. Você pode ser tão amoroso com ela quanto quiser e falar sobre seu encontro e coisas assim.

CANYON: Isso também é verdade. Teremos que decidir qual filme vamos assistir.

BARON: Sim, parece um bom plano.

Eu ainda ficava nervoso só de ver a palavra “encontro”, mas até isso estava começando a parecer reconfortante.

E se ela realmente estivesse se sentindo desconfortável... sim, eu deveria pensar em algo atencioso para dizer a ela.

Eu não podia contar com o Baron-san para isso. Então, em vez de me concentrar no meu jogo habitual, comecei a pensar no que diria a ela amanhã.

Como nota lateral, acabei recebendo um monte de mensagens da Nanami-san, todas me elogiando. Eu ainda me sentia um pouco culpado por receber elogios, sabendo que tinha vencido usando táticas desonestas e tudo mais, mas tudo isso foi por água abaixo quando vi a próxima mensagem dela.

NANAMI: Diga-me, você acha que quando eu te abracei hoje, eu deveria ter te beijado na bochecha como recompensa?

Bem… sim, isso teria me deixado muito feliz, mas se você tivesse feito isso naquele momento, acho que meu coração não teria aguentado, Nanami-san.

♢♢♢

No dia seguinte, rapidamente percebi que estava errado ao pensar que Shibetsu-senpai não voltaria se eu o derrotasse, porque na hora do almoço ele apareceu.

— Olá, Misumai-kun e Barato-kun. Vocês formam um belo casal. Tenho inveja de vocês dois. Posso me juntar a vocês para almoçar?

— Não. Gostaria que você deixasse meu namorado e eu em paz.

— Hum, você pode se sentar ao meu lado, senpai.

Com a rejeição descarada de Nanami-san, o sorriso radiante de Shibetsu-senpai se transformou no olhar de um cachorro desanimado. Eu me senti tão mal ao vê-lo assim que cedi e lhe ofereci um lugar. Voltando ao seu sorriso despreocupado, ele sentou-se ao meu lado.

— Yoshin… — Nanami-san disse para mim.

— Bem, você sabe, se quiser, podemos fingir que estamos aqui só nós dois.

— Que humilhação, Misumai-kun, especialmente considerando o quanto fiquei emocionado com sua gentileza — disse Shibetsu-senpai. 

Apesar de seu suposto choque, ele abriu sua caixa de bento, que parecia grande o suficiente para caber o dobro da minha.

Quando espreitei dentro, vi frango frito, hambúrguer, carne grelhada, costeletas de porco fritas. Era basicamente um bufê de carnes acompanhadas de repolho finamente fatiado. Até a quantidade de arroz era impressionante.

Para constar, o prato principal do meu bento hoje era camarão frito. Eram camarões impressionantemente grandes, que pareciam bons o suficiente para serem servidos em um restaurante.

Nanami-san não me perguntou ontem o que eu queria para o almoço, então eu estava ansioso para ver o que ela tinha preparado, mas isso superou até mesmo minhas expectativas. A emoção que senti cada vez que abri a caixa de bento me fez sentir como uma criança novamente.

— Em casa, fazemos camarão frito sempre que há algo para comemorar, então isso é pela vitória de ontem.

Ah, era por isso que ela não me perguntou o que eu queria. O cara que havia perdido estava sentado bem ao meu lado, mas não importa isso por enquanto.

— Na verdade, Misumai-kun, eu queria falar com você hoje — disse ele.

— Hã? Hum, então tudo bem se conversarmos depois que eu terminar de comer?

— Não há problema. Mas... eu também estava pensando se você estaria disposto a trocar uma das suas omeletes por uma fatia da minha costeleta de porco.

— Desculpe, mas receio ter que recusar.

Essa foi uma resposta imediata da minha parte. Como se eu fosse fazer algo assim. Eu nem conseguia imaginar trocar o almoço que Nanami-san tinha feito para mim pelo de outra pessoa. Talvez Shibetsu-senpai já tivesse uma ideia antes mesmo de perguntar, mas isso não o impediu de parecer um pouco triste.

— O que exatamente você veio fazer aqui, senpai? — perguntou Nanami-san, frustrada com a intrusão dele, mas um pouco animada com a minha recusa à troca.

Ele olhou para ela e sorriu ironicamente.

— Ah, Barato-san, desculpem-me por incomodar vocês dois. Como eu disse antes, há algo que eu gostaria de conversar com Misumai-kun.

Desde nossa partida ontem, Shibetsu-senpai passou a chamar Nanami-san de “Barato-san” em vez de “Nanami-san”. Supus que fosse sua maneira de encerrar nosso desafio, bem como demonstrar que havia desistido dela. Eu só queria que ele tivesse demonstrado essa disposição mais cedo.

— Sobre o que você queria falar comigo? A partida de ontem acabou, então não temos mais nada a discutir.

— Vamos lá, não seja tão estranho. Para ser franco, eu estava me perguntando se você gostaria de ser meu amigo. Eu vim aqui para pedir para trocarmos informações de contato.

O quê? Como chegamos a esse ponto?

— Eu só tenho respeito por você por ter me derrotado, o capitão do time de basquete, independentemente de todas as desvantagens. Você é, de fato, um homem digno de Nanami-san, então eu quero ser seu amigo.

Eu tinha acabado de usar os truques mais sujos do mundo, mas Shibetsu-senpai parecia ter aceitado tudo como o resultado legítimo da nossa partida. Hmm... Para o bem ou para o mal, esse cara era realmente puro de coração. Minha consciência doeu um pouco.

— Além disso — ele disse — se eu me tornar seu amigo, talvez um dia eu consiga fazer amizade com Barato-san também.

Retiro o que disse sobre minha consciência doer. Na verdade, esse cara era muito obtuso por dizer algo assim tão abertamente para mim. Eu não queria dizer isso na cara dele, mas apesar de ser um capitão alto e bonito do time de basquete, ele estava se revelando um ajudante bastante burro.

Nesse momento, ouvi um sussurro no meu ouvido. A respiração suave que acariciava meu ouvido a cada palavra me causou um arrepio, diferente do medo ou da surpresa.

— Shibetsu-senpai só é realmente bom no basquete. Todo o resto nele é um pouco infeliz, mas isso desperta o lado maternal de algumas garotas.

O que é isso? O que é essa sensação de formigamento?!

Quase deixei cair meu almoço, mas consegui segurá-lo. Nossa, isso estava ficando perigoso. Pensar que ouvir a voz dela diretamente no meu ouvido teria uma força destrutiva ainda maior do que ouvi-la ao telefone...

A sensação de formigamento que senti quando a respiração dela roçou minha orelha era viciante, para dizer o mínimo. A sensação permaneceu ao longo da minha espinha. Que nova descoberta.

Lá estava eu, atordoado de espanto, enquanto Nanami-san continuava como se não tivesse percebido nada. Sem coragem de aproximar meus lábios da orelha dela, respondi em um sussurro.

“Por falar nisso, seu instinto maternal não despertou? —  perguntei.

Mas Nanami-san era muito mais corajosa do que eu.

— De jeito nenhum — disse ela baixinho, com os lábios a milímetros do meu ouvido — Ele ficou olhando para o meu peito o tempo todo enquanto se declarava e de uma forma bem indecente. Não havia como eu sentir qualquer coisa maternal depois disso.

Foram palavras duras. Ela riu e me perdoou daquela vez em que me pegou olhando, então por que estava sendo tão severa agora?

Deixando isso de lado, a estupidez de Shibetsu-senpai foi parte do que me permitiu sair com Nanami-san agora, então eu devia algo a ele. Olhei para Nanami-san mais uma vez e senti minha gratidão por Shibetsu-senpai se aprofundar.

— Então, Misumai-kun, o que você me diz? Você quer ser meu amigo?

— Hum, claro. Ficarei feliz em ser. Mas não vou te dar Nanami-san.

— Isso eu já sei. Sei que meu desafio ontem foi realmente indelicado, mas vou seguir em frente para encontrar meu próximo amor.

Encontrar seu próximo amor? Isso significava que ele ainda tinha sentimentos por Nanami-san? Ainda assim, talvez esse cara estivesse tentando superar esses sentimentos e estivesse tentando estabelecer uma amizade comigo como forma de fazer isso. Era muito esportivo, ou talvez até mesmo viril da parte dele. Era certamente uma qualidade louvável que eu mesmo não possuía.

Depois disso, Shibetsu-senpai e eu trocamos informações de contato. Meu ícone de perfil ainda era aquele personagem de jogo, mas Nanami-san não se importou, então decidi deixá-lo assim. O ícone de perfil de Shibetsu-senpai era uma bola de basquete.

— Bem, então, cumpri minha tarefa, então vou dar o fora. Ah, e Misumai-kun, você teria interesse em entrar para o time de basquete?

— Claro que não. Se eu entrasse, teria menos tempo para passar com Nanami-san.

Essa foi uma frase que ouvi em algum programa de TV. Eu realmente quis dizer isso, mas também não me dava bem com atletas. Não havia como eu entrar para um time esportivo. Me senti mal por usar Nanami-san como desculpa, mas uma rápida olhada para ela com seu sorriso encantado me disse que ela realmente não se importava.

— É mesmo? Bem, eu te invejo. Se precisar de alguma coisa, fique à vontade para me procurar. Estou sempre por perto se precisar de mim. Não posso atender o tempo todo por causa do basquete, mas isso não significa que não podemos sair juntos.

— Obrigado. Eu te aviso.

Com isso, Shibetsu-senpai se afastou, com um sorriso despreocupado no rosto.

 Como posso dizer? Minha primeira impressão dele não tinha sido das melhores, mas talvez ele não fosse tão ruim assim. Ou eu estava me deixando enganar facilmente?

Algumas alunas deixaram o telhado como se fossem seguir Shibetsu-senpai. Talvez sua busca pelo amor não fosse tão longa assim.

Depois de nos despedirmos dele, Nanami-san e eu voltamos ao nosso almoço.

— Nossa, finalmente podemos ficar sozinhos! Mas talvez você devesse começar a almoçar com Shibetsu-senpai, né?

Sozinhos…

Acho que estávamos, embora ainda houvesse pessoas ao nosso redor no telhado. Mesmo assim, Nanami-san parecia um pouco chateada.

Provavelmente não era muito bom ver seu namorado se tornando amigo de um cara que você havia rejeitado. Nesse sentido, minhas ações foram totalmente imprudentes. Ao mesmo tempo, porém, era de alguma forma difícil não gostar de Shibetsu-senpai. Talvez ele desempenhasse bem seu papel de veterano, ou talvez a competição semelhante à dos mangás shonen tivesse cultivado uma espécie de camaradagem dentro de mim.

— Desculpe, Nanami-san. Eu a deixei ansiosa?

— Não é que eu seja insegura ou algo assim, mas acho que não é tão divertido quando você só está prestando atenção no Shibetsu-senpai.

Ela fez beicinho e desviou o olhar.

Como ela podia dizer uma coisa tão fofa? Mas, de alguma forma, vi um toque de preocupação em seus olhos quando ela olhou para mim. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas talvez fosse o momento perfeito para dizer a frase que eu havia pensado ontem.

Espere, eu realmente ia dizer isso?

Mesmo tendo sido eu quem pensou nisso, honestamente, era um pouco, não, muito embaraçoso. Mas, não, se eu fosse dizer, tinha que ser agora ou nunca.

— Não se preocupe, Nanami-san. Mesmo que alguém apareça e tente tirar você de mim como se fosse algum tipo de prêmio, eu... eu não vou deixar você ir, não importa o que aconteça.

Gaaah... Isso foi muito sem graça! Oh, droga, estou sentindo arrepios na espinha. Não, fique calmo! Pelo menos mantenha a calma até ouvir a reação dela. Fique forte!

Nesse momento, ouvi a voz de Nanami-san.

— Yoshin...

ela sussurrou. E então...

— Pfft… — ela começou a rir — Aha ha ha ha! Nossa! O que foi isso? Isso soou muito legal! Sério, você é muito mais legal do que Shibetsu-senpai. Mas, vamos lá, você não está se esforçando demais?! Olhe para o seu rosto! Está todo vermelho!

Levei a mão à bochecha e, com certeza, meu rosto estava quente ao toque. Ter isso apontado só me fez ficar ainda mais vermelho.

Quando finalmente olhei para ela, percebi que suas orelhas também estavam vermelhas.

— Não sou a única, Nanami-san. Você ficou tão feliz com o que eu disse?

— Claro! Existe alguma garota que não ficaria feliz ao ouvir algo tão legal do namorado?

Ah, outro contra-ataque. Eu não tinha chance alguma de vencer nesse ritmo. Enquanto estávamos sentados lado a lado comendo nosso almoço, meu rosto continuava vermelho, assim como as orelhas dela. Eu ainda estava ocupado me perguntando se tinha calculado mal o momento certo quando Nanami-san me cutucou de lado.

— Acho que fiz comida demais para mim. Você quer um pouco?

Ela falou de maneira forçada, como se estivesse lendo um roteiro, enquanto trazia um dos pedaços de omelete de seu bento em direção ao meu rosto. Era a omelete que eu mais gostava. Ela a segurou com os pauzinhos deliberadamente e a aproximou da minha boca.

— Achei que você não fosse mais me alimentar porque compramos uma caixa de bento maior.

— Hã? Bem, não tem jeito. Já estou cheia, e é uma pena desperdiçar comida, certo?

É verdade, se ela estava cheia, não tinha jeito.

Eu me inclinei para frente e aceitei o pedaço de omelete. O sabor da felicidade se espalhou suavemente pela minha boca. Eu tinha certeza de que essa era a maneira dela de me agradecer pelo que eu tinha dito. Só por isso, valeu a pena todo o constrangimento. Eu nunca tinha sido tão feliz.

Depois disso, terminei meu almoço e passei a lancheira para Nanami-san... para encontrá-la aconchegada debaixo do meu braço e apoiando seu peso em mim. Aquele peso era extremamente confortável, mas os olhares dos nossos colegas eram um pouco constrangedores.

— Nanami-san, o que você está fazendo?

— Acho que é uma recompensa por ter dito algo tão legal. Hoje, por que não ficamos sentados assim e conversamos até o almoço acabar?

— E suas amigas?

— As duas estavam falando sobre dar bentos feitos por elas mesmas para os namorados, então provavelmente estão fora do campus novamente.

— Os namorados delas também são um mistério. Bem, então, nesse caso, vamos ficar assim por um tempo, certo?

— Uhum!

Vendo seu sorriso enquanto ela se pressionava contra mim, fiquei feliz por ter dito o que disse.

— Yoshin, você é quente. Sinto toda aquecida quando estou perto de você assim.

— Você também é quente, Nanami-san. Hoje está um dia agradável, então é bom estar aqui fora, não é?

E assim, nossa hora de almoço passou tranquilamente.

Mais tarde, a escola ficou agitada com o cara no telhado que disse algo tão embaraçoso com uma cara séria. Eu viria a me arrepender um pouco das minhas palavras, mas isso é uma história para outro dia.





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UMA TRADUÇÃO DE FÃ PARA FÃ

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