INTERLÚDIO 2 - PONTO DE VIRADA DA NANAMI

— Boa noite, Nanami-san.

Com as palavras de Yoshin ecoando confortavelmente em meus ouvidos, fiquei sentada refletindo sobre elas. Não era a primeira vez que conversava com um garoto e, embora não gostasse muito disso, conversar com Yoshin fazia meu coração bater mais forte.

É como se ele estivesse falando diretamente no meu ouvido... 

O telefone era uma invenção incrível, eu não sabia quem o havia inventado, nem seu nome, nem sua aparência, mas eu devia minha gratidão a quem quer que fosse.

Pensando bem, essa é a primeira vez que eu converso com um garoto em particular… e ainda por cima tão tarde da noite no meu quarto?

— Meu Deus, sério?! Isso é demais!

Deitei de bruços na cama e comecei a chutar os pés descontroladamente. Não adiantou nada, mas eu estava muito agitada para relaxar.

Não, isso não é nada bom.

Eu simplesmente não conseguia controlar meus sentimentos. Estava inquieta, minha cabeça estava confusa e me sentia atordoada, como se estivesse com febre.

— Não consigo encarar a Hatsumi e Ayumi assim...

Desde o início, o dia tinha sido uma série de acontecimentos inacreditáveis. 

De manhã, quando cheguei muito cedo ao nosso ponto de encontro e comecei a pensar em como matar o tempo, Yoshin me encontrou imediatamente. Não só isso, mas ele percebeu meu novo penteado e disse que estava bonito, mesmo que tenha dito isso de forma um pouco envergonhada. Não pude deixar de pensar que ele era fofo por ficar tão nervoso com algo tão pequeno.

Lisonjeada com o comentário dele, me precipitei e, sem pensar, sugeri que ficássemos de mãos dadas. Por dentro, comecei a entrar em pânico imediatamente, me perguntando por que tinha dito algo assim, mas o toque da mão dele dissipou todas as minhas preocupações. Sua mão quente era tão confortável na minha e meu coração começou a bater forte de emoção. Eu nunca tinha dado as mãos a um rapaz antes.

Minhas mãos não estavam super suadas nem nada, certo?

Meu coração continuou batendo forte enquanto eu o convidava para almoçar. Fiquei preocupada quando Hatsumi sugeriu que ele poderia ter trazido o próprio almoço, então, ao saber que ele não tinha trazido, meu corpo se encheu de alívio. Ainda assim, eu estava me arrependendo um pouco de não ter perguntado isso a ele com antecedência. 

Tem algo que ele não gosta de comer? Ele se importaria de comer algo feito em casa? 

Claro, eu consegui convidá-lo para sair, mas ainda estava tão nervosa como sempre.

Ele também cutucou minha bochecha e, por algum motivo, acabei alimentando-o com meus próprios hashis! 

Por que eu o alimentei assim?

Mas, uma vez que comecei, não podia recuar.

Por favor, Yoshin!

Eu gritei internamente, desesperada para que ele desse uma mordida. 

Vai logo e coma! Todos estão olhando e eu sei que fui eu quem começou isso, mas estou realmente super envergonhada!

Quando ele finalmente comeu o frango que eu ofereci, pude continuar comendo meu almoço, mas...

Espere, isso foi um beijo indireto?! Eu demorei tanto para perceber!?

Quando finalmente percebi, fiquei ainda mais envergonhada. Pressionei as mãos contra as bochechas em brasa e me enrolei em uma bola na cama.

Você deveria ter me contado, Yoshin. Sério? Um beijo indireto...

Na verdade, se ele tivesse me contado isso, eu provavelmente teria morrido de vergonha. Não que Yoshin fosse dizer algo assim.

Ele sabia disso o tempo todo?

E, no final do dia, nós fomos fazer algumas compras depois da escola.

Se foi para fazer compras, isso significa que foi nosso primeiro encontro? Ou isso não conta?

Do começo ao fim, tudo foi uma novidade para mim. Bem, acho que ele foi meu primeiro namorado, então isso faz sentido. Yoshin era meu namorado apenas por causa de um desafio, mas estar com ele era tão divertido, ao ponto que eu mal podia esperar para passar mais tempo com ele. Mesmo assim, não conseguia me livrar do sentimento de culpa.

Dei uma olhada na nova lancheira de Yoshin que eu havia colocado secretamente no meu quarto. Era meu item mais precioso, a primeira coisa que ele havia comprado para mim.

Bem, dizer que ele a comprou para mim não era totalmente correto. Agora que pensava nisso, entendia por que ele se ofereceu para comprá-la, mas eu estava muito nervosa na hora para perceber. Ainda assim, a lancheira era o mais próximo que eu chegava de receber um presente de Yoshin, então a levei para o meu quarto em vez de guardá-la na cozinha.

A partir de agora, todos os dias eu iria enchê-la com um almoço caseiro e entregá-la a ele. Só de pensar nisso, eu já me sentia aquecida por dentro.

— Ah, um bento feito à mão pela esposa amorosa, não é?

Os rostos sorridentes de Hatsumi e Ayumi imediatamente vieram à minha cabeça.

— Eu ainda não sou uma esposa amorosa! — gritei, sentando-me na cama com muito ímpeto.

Nossa, tudo isso porque elas disseram coisas tão bobas.

É claro que vou colocar meu amor nisso, mas isso só significa cozinhar!  Ou até colocar todo o meu amor nisso, mas isso não é diferente de como uma mãe faz o almoço para os filhos.

Sim, isso mesmo! É exatamente o mesmo tipo de amor… eu acho…

Quanto mais eu pensava nisso, mais meu rosto ficava quente e mais eu me contorcia na cama.

— O que está acontecendo? — perguntou Hatsumi enquanto me interrogavam antes da aula naquela manhã — Você sempre teve medo dos meninos, mas aparece na escola de mãos dadas com um...

Sério, Hatsumi, é isso que eu quero saber.

— Estou com tanta inveja. Nossa, adoraria dar as mãos ao meu namorado no caminho para a escola. Não que eu não possa, mas...

Ayumi, por outro lado, estava com inveja. É verdade que tinha sido apenas uma caminhada até a escola, mas eu me diverti muito. Ir para a escola com as amigas também era divertido, é claro, mas esse era um tipo diferente de diversão. A inveja de Ayumi era compreensível, considerando que ela não podia desfrutar disso.

Independentemente das reações delas, contei tudo o que havia acontecido durante a confissão e quero dizer tudo, incluindo o fato de que Yoshin me salvou. As duas ouviram atentamente, sem interromper.

— Uau... Mandou bem, Misumai. Ele te salvou e você se apaixonou por ele, né? Saquei... Bem, se é assim, estávamos certas em nos preocupar com você. Que tipo de amigas seríamos se deixássemos nossa tão impressionável Nanami para trás e fôssemos para outra escola sem ela?

— É verdade, você realmente é muito fácil, mas estávamos certas em escolher Misumai, né? Ele parece ser o cara certo para se recorrer em uma situação difícil, então é o par perfeito para nossa Nanami.

Que grosseria. Eu não sou nem um pouco fácil!

Apesar dos insultos, eu me senti feliz por elas duas estarem elogiando Yoshin. Na verdade, fiquei tão feliz que continuei falando sem parar sobre ele, apesar deste ser apenas nosso segundo dia de namoro. Quando percebi o quanto eu tinha falado, as duas estavam sorrindo para mim, se divertindo, mas, misturado com essa diversão, havia um olhar de alívio. Minhas divagações pareciam menos um relato de como tinha sido a confissão e mais...

— Foi uma conversa normal, não foi? Nunca tínhamos feito isso antes, mas foi divertido.

Uma conversa de garotas entre nós três...

Nós três estávamos conversando antes mesmo da minha ligação com Yoshin. Embora parecesse que eu era a única falando, as duas estavam sentadas ouvindo. Elas até me deram o conselho irresponsável de que era normal ser mais proativa. 

Espera aí! Não tem como eu fazer isso!

Nossa conversa finalmente terminou com elas me expulsando da ligação.

— Pare de ficar falando sobre como você está apaixonada e ligue para ele logo!

Eu realmente pareço tão apaixonada? Que vergonha.

Mesmo assim, levei algum tempo para conseguir entrar em contato com ele. Fiquei sentada olhando para a tela inicial do meu celular, sem conseguir reunir coragem, enquanto me perguntava como diabos eu faria isso.

Será que eu estaria incomodando ele? Será que ele já está dormindo? Eu me perguntava, lutando contra os pensamentos na minha cabeça. Mas eu meio que quero ouvir a voz dele. O que devo fazer?

No final, decidi começar enviando uma mensagem de texto. Claro, eu admito, eu era covarde.

Então, o Yoshin ligou, o que me deixou muito feliz, e, enquanto continuávamos a conversar, ele convidou-me para sair.

Fiquei completamente surpreendida com a sua ousadia, considerando que ele era tão calado na escola. Mas não me desagradou. O meu único arrependimento era já ter planos para sábado.

Sua confusão com a minha resposta foi super fofa e, embora eu tivesse feito o possível para manter a calma, meu coração batia forte no peito. Além disso, era realmente uma pena que não pudéssemos sair juntos.

Mas ele não parou por aí. De repente, sua postura ficou mais rígida e ele me convidou para sair no domingo. Claro, a resposta era óbvia.

Na verdade, eu estava planejando convidá-lo para sair no domingo. Senti que ele tinha se antecipado. Fiquei um pouco chateada com isso, mas minha alegria superou esse sentimento. Yoshin me convidou para sair. Fiquei muito feliz com isso. Feliz demais. Por que eu estava tão feliz?

Um encontro... Se não contarmos nossa ida às compras hoje, será este nosso primeiro encontro? Domingo é nosso primeiro encontro... Não consigo conter minha alegria crescente.

— Tenho que preparar um bom almoço para amanhã. Ah, mas tenho que garantir que minha mãe não descubra ainda.”

De qualquer forma, Yoshin era muito educado. Ele não precisava se preocupar em me agradecer pelos almoços. Eu estava fazendo isso porque gostava dele.

Gostar dele? Gostar de quem? Não, eu gosto de cozinhar e estou praticando como ser uma boa namorada. Só isso... 

É claro que essa desculpa não ia colar. De qualquer forma, na tentativa de controlar o excesso de entusiasmo, comecei a pensar no almoço de amanhã.

Yoshin disse que queria um hambúrguer, então vou fazer um bem grande para ele. Será que vai caber na caixa que compramos? Será que ele gostaria de uma omelete também? Pensando bem, ele gosta de doces ou salgados? Eu deveria ter perguntado a ele antes. Devo fazer bolinhos de arroz ou usar flocos de peixe rosa para desenhar um coração gigante sobre uma cama de arroz branco? Hum, sim, tenho vergonha de fazer um coração e não sei o que as pessoas dirão se descobrirem, então vou apenas fazer bolinhos de arroz. Ele me disse que podia comer qualquer coisa, desde que não fosse muito temperada, mas eu não estava com disposição para perguntar mais detalhes. Eu queria conversar com ele sobre muito mais coisas amanhã. Queria saber mais sobre ele e queria que ele soubesse mais sobre mim. Mas, como era esse o caso...

— Um mês é tão curto… — murmurei inconscientemente — É só um desafio, então não precisa se forçar a continuar saindo com eles, mas é claro que tudo bem se você quiser!

Foi o que minha amigas me disseram quando tudo isso começou. E eu que achava que um mês seria muito tempo. Foi rude pensar isso, mas eu não tinha a menor ideia do que fazer durante esse tempo.

Agora as coisas estavam diferentes. Um mês parecia muito curto. Fiquei surpresa que meus sentimentos pudessem mudar tanto em um único dia.

Eu queria ir tomar boba com o Yoshin. Ele provavelmente nunca tinha provado, então eu gostaria de ser a primeira a lhe mostrar. Eu queria que ele provasse mais da minha comida. Não apenas o bento, mas também minhas refeições recém-preparadas. Eu queria que ele dissesse que estavam deliciosas.

Nesse caso, eu teria que ir à casa dele? Fico nervosa só de pensar nisso.

Se continuássemos namorando, muitos eventos surgiriam. Festivais juntos pareciam muito divertidos e, nas férias de verão, eu queria ir à praia. Depois, havia o Halloween, o Natal e até o Dia dos Namorados.

Coisas que eu queria fazer, coisas que queria fazer por ele, coisas que queria que ele fizesse por mim... Quando comecei a pensar em todas essas coisas, um mês realmente parecia muito curto.

— Você vai beijá-lo amanhã?”

— Ainda não! Não posso!

Eu gritei, enquanto Hatsumi e Ayumi voltavam à minha cabeça. Desta vez, porém, minha mãe apareceu na porta para me repreender pelo barulho.

Ai, droga... Eu preciso ficar calma.

Yoshin era tão calmo, ao contrário de mim. Na escola, ele parecia muito quieto, mas talvez fosse apenas muito maduro. Ele provavelmente nem sabia que eu estava nervosa o tempo todo em que conversamos ao telefone.

Pensando bem, por que ele falou tão educadamente quando me convidou para sair pela segunda vez?

A ideia de que talvez ele estivesse tão nervoso quanto eu me tranquilizou um pouco.

Daqui a um mês, o que eu faria?

Eu estava com tanto medo que Yoshin descobrisse sobre o desafio e me deixasse. Só de pensar nisso, eu queria chorar.

— Será que eu sou realmente fácil demais? — eu me perguntava.

Não, isso não pode ser verdade. Eu não sou fácil... Mas, mesmo pensando isso, percebo que não tinha argumentos para me defender. Não importa a desculpa que eu dê as minhas amigas, não conseguia tirar Yoshin da cabeça.

Foi por isso que tomei uma decisão: seguir o conselho das minhas amigas. Vou ser super proativa, podem ter certeza!

— Vou fazer com que o Yoshin goste de mim, e vou fazer isso com a minha culinária! Vamos fazer muitas coisas divertidas! Eu... ainda tenho vergonha de beijá-lo, mas mesmo assim, se eu fizer isso, não há como ele me deixar!

Eu realmente era péssima. Eu iria conquistar o coração dele de tal forma que, mesmo que ele descobrisse sobre o desafio, ele me perdoaria.

Vou fazer com que Yoshin se apaixone por mim.

Isso era o melhor que eu podia fazer, já que ainda não tinha coragem de contar toda a história para ele.

— Isso significa que amanhã é mais um dia de fazer bento! Vamos lá!

Quando me levantei da cama com determinação, minha mãe voltou para gritar comigo. Mas agora que eu finalmente tinha decidido um plano, não havia mais tempo para hesitar.

Com meu plano para as próximas semanas definido, entrei na cama e caí no sono rapidamente, rezando para ver Yoshin em meus sonhos. Não, espere. Por que eu pensaria isso? Nossa, talvez eu seja realmente muito ingênua...

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