INTERLÚDIO 5 - NÓS EM NOSSO ENCONTRO

Depois de assistirmos ao filme e conversarmos sobre ele em um café próximo, nos encontramos passeando de mãos dadas pelo shopping.

Pensando bem, já era hora do almoço. Eu me perguntava o que deveríamos comer. Nanami-san me disse ontem que tinha comido hambúrguer. Ela até me enviou uma foto da refeição.

— O que você gostaria de comer no almoço, Nanami-san?

Era uma pergunta que ela costumava me fazer. Perguntar sobre pedidos de almoço que não fossem bento parecia um pouco diferente, mas eu nunca imaginei que seria eu quem faria essa pergunta.

— Almoço? Almoço, hein...

— Você comeu hambúrguer ontem, certo? Você me enviou uma foto.

— Sim. Fazia tempo que eu não comia, mas estava tão bom! O que você comeu no almoço ontem?

Desviei o olhar.

— Miojo… — respondi timidamente.

Não era como se eu tivesse feito algo errado, mas ainda assim senti uma mistura misteriosa de culpa e inferioridade surgir dentro de mim. Para minha surpresa, porém, Nanami-san respondeu como se não fosse grande coisa.

— É por isso que você não me contou o que comeu ontem? Os homens gostam de macarrão instantâneo? Meu pai às vezes também come escondido e leva bronca da minha mãe.

De repente, senti uma sensação de camaradagem com o pai de Nanami-san, apesar de ainda não tê-lo conhecido. Sim, meu pai e eu gostávamos de macarrão instantâneo e comíamos com frequência, mas sempre levávamos bronca da minha mãe.

Ao descobrir que havia outras famílias semelhantes por aí, senti uma misteriosa sensação de alívio.

O pai de Nanami-san, hein…

Eu me perguntava que tipo de pessoa ele era, embora tivesse certeza de que levaria muito tempo até eu conhecê-lo. Quando finalmente o conhecesse, teria que tomar cuidado para não fazer ou dizer nada rude.

Mas espere aí! Agora não é hora de pensar no futuro. Primeiro, precisávamos decidir o almoço de hoje.

— Se você comeu hambúrguer ontem, que tal espaguete hoje? Ouvi dizer que há um restaurante de espaguete muito bom aqui perto — eu disse.

— Macarrão? Mas restaurantes de macarrão não são meio caros? Por que não vamos a um lugar um pouco mais acessível?

— Bem, você sabe, hoje é para ser um agradecimento por tudo o que você faz por mim todos os dias, então eu queria gastar um pouco mais e retribuir um pouco.

Sentindo-me envergonhado por ter dito “espaguete” em vez da palavra obviamente mais legal “macarrão”, eu estava tentando ao máximo persuadi-la quando Nanami-san segurou meu rosto com as mãos.

— Hm... Nanami-san?

Minhas bochechas arderam com sua ação repentina e tudo o que consegui fazer foi murmurar seu nome.

— Olha, Yoshin, eu realmente aprecio sua gratidão e tudo mais, mas você realmente não precisa se preocupar tanto em me agradecer.

Mesmo que ela não estivesse segurando meu rosto com força, eu não conseguia desviar o olhar. Suas sobrancelhas se inclinaram para baixo enquanto ela sorria como se estivesse falando com uma criança. De alguma forma, porém, aquele sorriso parecia um pouco triste. Ela provavelmente estava sentindo todo tipo de emoções conflitantes.

— Mas você quer que a gente namore em pé de igualdade, certo? Se for esse o caso, se eu não te agradecer por fazer o almoço para mim todos os dias, eu sentiria que não era justo.

— Então vamos escolher algo mais barato. Acho que sei do lugar que você está falando e vai custar mais de mil ienes cada. É muito caro para um convite.

— Hmm, algo mais barato... Então, o que você gostaria de comer?

No final, acabamos voltando à mesma pergunta. Nanami-san era realmente uma pessoa atenciosa. Ela parecia ser o oposto do tipo manipuladora. Se ao menos eu pudesse fazer com que Peach-san visse isso, ela provavelmente pararia de se preocupar tanto com Nanami-san.

Nanami-san soltou minhas bochechas enquanto refletia sobre minha pergunta. Fiquei triste por perder suas mãos quentes e macias em meu rosto, mas continuei observando-a enquanto ela pensava.

Quando eu estava prestes a dizer que ela não precisava pensar tanto, ela disse algo inesperado.

— Acho que descobri o motivo pelo qual alguns homens dizem que ficariam felizes em comer qualquer coisa.

— Espere aí… eu achava que “qualquer coisa” era a resposta mais complicada!

Surpreso, respondi ao comentário dela com uma piada e um sorriso alegre. Mais surpreendente, porém, foi minha resposta atrevida, que eu nunca teria conseguido fazer há pouco tempo.

Olhei para ela para ver se a havia incomodado, mas Nanami-san não parecia nada descontente; em vez disso, ela olhou para cima e disse, um pouco hesitante:

— Quero dizer, você sabe...

O que ela iria dizer? Talvez ela tivesse tantas coisas diferentes que queria experimentar que estava tomando cuidado para não me incomodar com todos os seus pedidos. No fim das contas, essa não era a questão.

— Se estou comendo com você, praticamente qualquer coisa vai estar deliciosa, certo? — disse ela, juntando as mãos com as bochechas visivelmente coradas.

Pego de surpresa, fiquei completamente pasmo. Não tinha ideia de que a palavra “qualquer coisa” poderia ter um significado tão bonito. Fui atingido em cheio pelo ataque mais doce e satisfatório que eu poderia ter pedido. Sério, parecia que eu tinha levado uma pancada forte na nuca.

Era uma ilusão, é claro, mas como mais eu poderia descrever isso? Como você pode dizer algo assim no nosso primeiro encontro, Nanami-san?

— Yoshin, o que há de errado?

Sem perceber, eu tinha me jogado no chão e escondido o rosto com as mãos. Meu rosto estava tão quente que eu não tinha certeza se seria capaz de encará-la.

— Nanami-san, lembra quando você me perguntou se eu já tinha namorado alguém antes?

— Hã? Ah, sim…

— Bem, esse é realmente o primeiro encontro que você já teve? Porque você dizer coisas assim me faz pensar que vou enlouquecer, como se estivesse tendo um ataque cardíaco.

Hoje, parecia que havíamos trocado de posição em termos de quem fazia as perguntas e quem respondia, mas ela apenas inclinou a cabeça, intrigada, e ficou me encarando.

— Este é definitivamente meu primeiro encontro. Embora, se você estiver contando encontros com garotas, então não é o meu primeiro? Mas com um garoto, é totalmente o meu primeiro.

— Você diz coisas totalmente destrutivas quando está perto de Hatsumi e Ayumi? Coisas como “tudo vai ficar delicioso”?

— Bem, sim, se você está com amigos, então é... Ah...

Parecia que Nanami-san finalmente percebeu o significado de suas próprias palavras e começou a corar, assim como eu. Depois de ficar em silêncio por um tempo, ela reuniu coragem e estufou o peito desafiadoramente.

— Bem, sim! É verdade! A comida sempre fica gostosa quando você está comendo com outra pessoa! — ela declarou com o rosto vermelho como uma beterraba.

Quanto a mim, eu costumava pensar que a comida tinha o mesmo gosto, quer eu comesse sozinho ou com outras pessoas, mas...

— Sim, você está absolutamente certa.

Desta vez, tive que concordar com ela.

Eu havia aprendido na semana anterior como uma refeição podia ser deliciosa quando se comia com outra pessoa. Mesmo que fosse apenas um desafio, Nanami-san me ensinou o que eu estava perdendo.

— Nossa, você está sorrindo maliciosamente para mim. Está tirando sarro de mim, não é?

— De jeito nenhum! Você me entendeu mal. Se estou comendo com você, Nanami-san, tenho certeza de que qualquer coisa ficaria deliciosa.

Nanami-san fez beicinho infantilmente. Me senti mal por tê-la feito entender errado, mas ela ficava bonita mesmo com aquela cara. Em apenas um dia, senti como se tivesse visto tantos lados diferentes dela.

— Ah, isso! Quero comer aquilo! — ela exclamou do nada.

— “Aquilo”? O que é “aquilo”? — perguntei.

Como se tivesse tomado uma decisão, Nanami-san levantou o dedo indicador no ar. Ela havia se decidido? Eu tinha toda a intenção de conceder qualquer desejo que saísse da boca dela, mas o que ela disse a seguir foi, mais uma vez, inesperado.

— Gyudon! Quero ir a um restaurante de gyudon! Nunca fui em um!

— Gyudon?!

Não é o último lugar onde você deveria levar uma garota em um encontro? Para comer carne e arroz? Tenho certeza de que já vi alguém dizer isso em algum lugar antes!

Pelo que me lembro, a história era sobre uma garota dizendo que seu namorado a levou a um restaurante de gyudon no primeiro encontro, e ela ficou chocada demais para acreditar. Mas espere um pouco... e se fosse a namorada que dissesse que queria comer isso?

— Gyudon, hein? Podemos comer algo um pouco melhor, mas tem certeza de que é isso que você quer?

— Nunca fui com as meninas, então sempre quis experimentar. Espere, não me diga que você também nunca foi.

— Ah, não, não é isso. Esses lugares são bons para ir sozinho, então já experimentei alguns diferentes.

— Isso significa que sou a primeira pessoa a ir com você?

Tive que pensar sobre isso por um momento. Admito que era a primeira vez que ia a um restaurante de gyudon com outra pessoa. Na verdade, provavelmente era a primeira vez que saía para comer com alguém.

— Sim, acho que você é a primeira. Tipo, eu nunca tive um encontro antes, então acho que tudo hoje é uma primeira vez.

— Ir a um lugar como este é uma primeira vez para mim. Estou muito animada por poder compartilhar essa primeira vez com você.

— Também estou feliz com isso, mas tem certeza de que é isso que você quer comer?

— Sim! Já fui ao restaurante de massas com Hatsumi e o pessoal, então hoje vamos experimentar algo novo juntos!

Com isso, Nanami-san pegou minha mão e começou a andar. Fiquei um pouco perplexo com sua expressão feliz.

Sabe… gyudon era realmente algo para ficar tão animada? Bem, contanto que ela esteja feliz, isso é tudo o que importa.

— Ok, vamos nos divertir com isso — eu disse.

— Exatamente. Ah, da próxima vez, quero experimentar um restaurante de ramen! Também nunca fui a um desses, então você tem que nos ajudar a encontrar um bom.

O que me surpreendeu dessa vez não foi a refeição dela, mas o fato de ela já estar planejando nosso segundo encontro.

Em vez de ser nosso primeiro e último encontro, Nanami-san estava disposta a sair comigo novamente?

Eu não conseguia dizer apenas observando sua expressão alegre, mas se realmente houvesse uma próxima vez, eu não poderia estar mais feliz. E durante essa próxima vez, eu queria que ela se divertisse ainda mais.  Então eu disse a ela:

— Então sim, com certeza vou dar uma olhada em alguns lugares. Você vai sair comigo de novo?

— Claro. Você é meu namorado. Adoraria sair com você de novo.

Estava pensando demais ao dizer que ela parecia estar tentando se convencer? Era certo acreditar no que ela tinha dito?

Enquanto pensava nisso, decidi ir ao restaurante de gyudon mais próximo, com o calor da mão dela na minha. Naquele momento, tomei uma decisão em meu coração: dar o meu melhor para que ela aproveitasse ainda mais nosso próximo encontro. E foi isso que aconteceu no almoço do nosso primeiro encontro.

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