EPÍLOGO 1 - O “algum dia” que Kazemiya Kohaku esperava
- AKEMI FTL
- há 3 dias
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Uma multidão de pessoas passava por mim. Ocasionalmente, cores vibrantes piscavam na minha visão, provavelmente porque muitas pessoas estavam vestidas com yukatas.
Enquanto esperávamos perto da estação, que servia como nosso ponto de encontro, as conversas que chegavam aos meus ouvidos pareciam diferentes, mais animadas, em comparação com as conversas habituais no Flowers. Não era apenas o ambiente que causava essa diferença. O festival de verão nas proximidades certamente contribuía para isso.
— Narumi.
Mesmo em meio ao barulho, a voz de Kazemiya chegou claramente até mim.
No momento em que a vi, esqueci de respirar por um segundo. Um yukata branco adornado com padrões azuis claros. Seu cabelo estava preso de lado com um acessório floral. O barulho de antes desapareceu completamente dos meus ouvidos. Parecia que o mundo havia ficado em silêncio.
Pelo menos no meu coração, tudo o que existia agora era Kazemiya Kohaku, parada diante de mim.
— Narumi? Tá tudo bem?
Talvez ela tenha ficado inquieta porque eu não disse nada, pois Kazemiya olhou para seu yukata e brincou com o cabelo nervosamente.
— Eu estava hipnotizado.
— Hã?
Eu expressei meus pensamentos honestamente. Na verdade, eu me senti um pouco envergonhado por estar tão cativado, então admitir isso parecia a coisa certa a fazer.
— Você estava tão... tão bonita. Desculpe por demorar tanto para dizer isso.
— O-Obrigada... Isso me deixa feliz.
O sorriso tímido de Kazemiya é o mais bonito e radiante do que qualquer outra coisa no mundo.
— Bem, então, vamos? Para o festival de verão.
— Sim.
Instintivamente, demos as mãos, entrelaçando os dedos com a mesma naturalidade com que respiramos. Não era apenas para evitar esbarrar em outras pessoas. Mais do que tudo, era porque queríamos ficar juntos.
Começamos a andar, o silêncio entre nós se estendendo por um tempo.
Acho que era porque ambos queríamos saborear o calor de nossas mãos entrelaçadas e a presença de alguém tão querido caminhando ao nosso lado.
— Narumi, quer que eu te pague alguma coisa?
— Essa frase é minha.
— Eu te devo muito desde que fugi de casa.
— Aquilo nem era meu dinheiro... Além disso, Kazemiya, você ainda tem algum dinheiro sobrando? Você disse que gastou a maior parte do seu salário no presente da Kuon-san.
— Tenho o suficiente para o festival. Além disso, meu salário foi mais generoso do que o normal, então estou bem. Não se preocupe.
Embora ela tenha me dito para não me preocupar, não era especificamente sobre ela. Eu simplesmente não me sentia bem em ser convidado, mesmo que a pessoa fosse Natsuki.
— Que tal isso: Cada um de nós paga uma coisa para o outro?
— Isso não vai contra o objetivo?
— Eu também quero te dar algo, Kazemiya.
— Lá vem você me mimando de novo. Se eu não tivesse dito nada, você teria me pago sem pensar duas vezes.
— Não importa o quanto eu te mime, nunca será o suficiente.
Enquanto passeávamos pelas barracas, cada um comprou uma maçã caramelada para o outro.
— No final, acabamos comprando a mesma coisa.
— Todas as barracas têm filas. É mais eficiente comprar no mesmo lugar.
— Desde quando você se importa com eficiência, Narumi?
— Normalmente não me importo, mas isso é diferente. É o festival de verão que posso passar com você.
Cada segundo desse tempo era precioso para mim.
— Quero valorizar o tempo que passo com você, Kazemiya.
— Hmm... Entendo.
Para alguém de fora, a resposta dela poderia parecer indiferente, mas, quando ela desviou o rosto, notei que suas orelhas estavam levemente vermelhas.
Seu gesto sutil e adorável me pegou de surpresa. Com o cabelo preso hoje, sua nuca pálida, normalmente escondida, ficava totalmente visível desse ângulo.
Para dizer o mínimo, é perturbador.
Eu queria colocar minha jaqueta sobre ela imediatamente para que ninguém mais pudesse vê-la assim.
— Narumi? Seu rosto está vermelho... Você está com febre?
— Não, estou bem. É só... temporário.
Eu queria que ela parasse de inclinar a cabeça assim com uma expressão tão inocente.
Isso me fez querer abraçá-la aqui mesmo, sem me importar com quem possa ver.
Enquanto tentava esfriar o calor no meu rosto, murmurei:
— O festival de verão... me deixa nostálgico.
— Você já esteve aqui antes?
— Com minha mãe e minha irmã. Nós três, como uma família.
Enquanto contemplava as fileiras de barracas, Kazemiya relembrou sobre o passado distante, os dias passados como uma família de três.
— Eu também usava um yukata naquela época. Era um que minha mãe ganhou de alguém do trabalho. O yukata de hoje foi ajustado pela minha irmã, mas quando eu era criança, minha mãe costumava me vestir.
— Você era amada, não era?
— Sim... Tenho certeza de que era amada.
Naquele dia em que sua mãe deixou a casa, Kazemiya chorou nos meus braços. Ela provavelmente estava com o coração partido porque sua mãe havia fugido dela. Ela estava devastada porque se sentia como uma parte indesejada da vida de sua mãe, rejeitada e, mais do que tudo, ela estava sofrendo com o pensamento de que tinha levado a mãe a ir embora.
— Naquela época... quando conversei com ela em casa... Ela ficava se culpando. Estava convencida de que eu guardava rancor dela. Mesmo quando eu disse que não guardava mais rancor, ela não acreditou em mim.
— Se ela realmente te odiasse, não se culparia assim.
O que a mãe de Kazemiya nutre é culpa.
A culpa surge de uma sensação de ter feito algo errado. Embora sua mãe possa ser perfeccionista ou ter uma veia obsessiva, ela não acredita realmente que Kazemiya seja uma mancha irremediável em sua vida.
Ela só está com medo. Medo de encarar a si mesma. Medo de encarar sua filha, sua família.
— Ela sabe que você é insubstituível e é por isso que tem medo de encarar isso.
— Eu também acho... ou, pelo menos, quero acreditar nisso.
Então ela fugiu. Ela desviou o olhar do que não queria ver. E a razão pela qual eu entendo isso é porque sou igual.
— Sua mãe ainda não voltou para casa?
— Não, ainda não. Ela ainda está trabalhando, então às vezes ouço notícias dela pela minha irmã.
Já fazia vários dias desde então, mas parecia que a mãe de Kazemiya ainda não tinha voltado para casa.
— Você não quer vê-la?
— Quero. Mas se eu fosse vê-la agora, acho que só iria magoá-la.
Havia um tom de solidão e tristeza em suas palavras, mas, mesmo assim, ela se agarrou à esperança e tentou seguir em frente. Essa força dela era deslumbrante e insuportavelmente cativante ao mesmo tempo.
— Assim como eu te conheci e mudei quando fugi, talvez minha mãe também mude depois de fugir. Então, até lá, vou continuar esperando.
— Então devemos voltar para casa rapidamente. Para que você possa esperar por ela.
— Sim. Além disso, o festival de fogos de artifício começará em breve. Com isso, podemos tirar “Passear por um festival de verão em um yukata” da minha lista.
Mesmo depois de todo o incidente de fugir de casa, a maioria dos itens da nossa lista de recompensas de verão havia sido concluída, mas, entre os que restavam, o desejo de visitar um festival de verão em yukatas era mútuo entre Kazemiya e eu, então decidimos sair juntos hoje.
Havia também um festival de fogos de artifício programado para a noite e, como os fogos podiam ser vistos claramente da varanda da casa de Kazemiya, fui convidado para apreciá-los por lá. Decidimos que era melhor do que lutar contra a multidão por um lugar apertado sem vista.
— Como Kuon-san ajudou você a vestir seu yukata, ela deve estar em casa, certo?
— Ela está de folga esta tarde. Ela tinha planos, mas eles foram cancelados por causa de mudanças na programação... ou pelo menos foi o que ela disse ao voltar para casa com cerca de vinte yukatas novos.
— Ah, posso imaginá-la toda animada. Estou surpreso que ela não tenha vindo junto.
— Eu também fiquei preocupado com isso, mas minha irmã conseguiu se controlar, embora parecesse está chorando lágrimas de sangue.
Conhecendo-a, não me surpreenderia se não fosse apenas uma figura de linguagem.
— Mas ela disse que se juntaria a nós para assistir aos fogos de artifício mais tarde. Desculpe por isso.
— Não precisa se desculpar. É uma coisa boa. Significa que você e sua irmã se dão bem.
Isso é o oposto de como eu sou.
Enquanto conversávamos, logo chegamos ao prédio onde Kazemiya morava. Pegando o elevador até o último andar, entrei na casa que ela agora dividia com Kuon-san. A vista dos fogos de artifício daqui com certeza seria espetacular.
— Cheguei, mana.
— Desculpe pela intrusão.
Com as saudações contrastantes da moradora e do convidado, entramos na casa de Kazemiya.
— Kuon? Hã... ela não está aqui.
Mas não havia sinal de Kuon-san na casa.
— Talvez ela tenha saído para fazer compras?
— Se for isso, ela volta já já.
— Sim, talvez. Ela pode ter saído para comprar bebidas ou algo assim.
Enquanto inclinávamos a cabeça, confusos, para a sala vazia, eu suspirei.
— Ah...
Um som distante, como se algo estivesse sendo lançado. Um momento depois, o estrondo de uma explosão chegou aos nossos ouvidos. Quando Kazemiya e eu saímos para a varanda, o céu noturno estava iluminado por flores de luz.
— Os fogos de artifício começaram — murmurou Kazemiya baixinho, enquanto contemplava o céu deslumbrante.
No mesmo instante, seu celular vibrou com uma notificação.
— É da Kuon-san? — perguntei.
— Parece que sim. Vamos ver...
Kazemiya começou a ler a mensagem da Kuon-san.
— ...
— O que ela diz? Ela vai se atrasar?
— Houve um problema no local e a agenda atrasou. Ela diz que surgiu um trabalho urgente.
Sua voz soava um pouco rígida.
Talvez ela estivesse ansiosa para assistir aos fogos de artifício com Kuon-san.
— Uma emergência no trabalho, hein? Que pena.
Kazemiya silenciosamente desligou o celular.
— Narumi.
— Hm?
— Minha irmã... só vai voltar amanhã à noite.
— É mesmo?
O som dos fogos de artifício ficou mais alto, mais vívido, preenchendo o ar sem ser interrompido por palavras.
— O que significa que... hoje à noite... não haverá mais ninguém em casa.
O brilho distante dos fogos de artifício iluminou o rosto de Kazemiya Kohaku. Seus olhos, tingidos de inquietação, mas transbordando de uma espécie de determinação corajosa, vacilaram quando ela olhou para mim.
Aquele olhar, direcionado para cima, me prendeu no lugar. Eu não conseguia desviar o olhar.
— …
Estendi a mão, mas não consegui tocá-la. A presença de Kazemiya Kohaku me pareceu extremamente radiante naquele momento. A garota diante de mim, que havia parado de fugir de sua família e enfrentado seus medos de frente, brilhava mais do que qualquer outra pessoa.
Enquanto eu continuava fugindo das minhas próprias lutas, parecia que ela já tinha ido muito à frente. Tão longe que, mesmo que eu estendesse a mão, não seria capaz de tocá-la.
— Eu ainda estou fugindo.
Mesmo que eu pudesse alcançá-la, hesitei em tocá-la.
Eu tinha medo que alguém como eu, que só sabia fugir, pudesse ofuscar a luz dela apenas por estender a mão. Esse pensamento continuava girando na minha cabeça, sem parar.
— Você é diferente da Kazemiya que fugiu da família.
Até agora, éramos iguais. Corríamos juntas. Duas pessoas fugindo de algo.
Mas não mais…
Kazemiya e eu nos tornamos pessoas diferentes.
— E mesmo assim, está tudo bem?

A garota que uma vez fugiu comigo ao meu lado não estava mais lá. Ao contrário de mim, que continuava caindo na escuridão, Kazemiya havia se tornado uma luz deslumbrante.
Kazemiya e eu não somos mais iguais.
Eu entendia isso. Mas ainda assim, eu queria alcançar aquela luz. Tocá-la. Eu não queria mais deixá-la ir. Não queria entregá-la a mais ninguém. Eu queria mantê-la só para mim.
— Narumi, você é quem eu quero.
Como se lesse meus pensamentos, Kazemiya disse essas palavras.
— Não consigo imaginar estar com mais ninguém além de você.
Depois disso, paramos de assistir aos fogos de artifício.
Kazemiya Kohaku só queria olhar para Narumi Kouta e Narumi Kouta só queria olhar para Kazemiya Kohaku. Então, eu a puxei para os meus braços. Nossos olhos se encontraram e nossos lábios se tocaram.
A partir daquele momento, só vimos um ao outro. Quase não vimos mais os fogos de artifício. Seu yukata cuidadosamente vestido acabou ficando desarrumado. Seu cabelo bem arrumado ficou despenteado. Eu não conseguia ver nada além de Kazemiya Kohaku.
Eu não quero ver nada além dela.
Mesmo depois que os fogos terminaram, depois que o festival acabou, depois que o barulho da multidão se dissipou, tudo continuou igual.
Sua pele pálida exibia inúmeras marcas vermelhas, como fogos de artifício pintados sobre ela. Nossas mãos permaneceram entrelaçadas, recusando-se a se soltar. Talvez ainda estivéssemos com medo. Medo de nos soltarmos, de nos separarmos.
— Kohaku.
Eu disse o nome dela, querendo, mesmo que apenas por agora, manter a luz que era Kazemiya Kohaku inteiramente para mim.
— Kouta… Tudo bem... estou aqui — ela disse com uma voz doce e melódica.
Suas palavras me tranquilizaram, mas o fato de eu precisar de tranquilidade me frustrava.
Eu me perdi nela — em seu toque, seu abraço, seu calor, seus lábios. À medida que a noite se acalmava e algum tempo se passava, nós nos deitamos próximos um do outro, envoltos no mesmo calor.
— Desculpe. Eu acabei te machucando.
— Tudo bem. Mais do que doer, isso me fez feliz, mais feliz do que qualquer outra coisa.
— Feliz?
— Sim. Sou sempre eu que conto com você, Kouta. Então, ter você contando comigo para variar me deixou feliz.
— Sinto que já conto muito com você, mostrando muito do meu lado nada legal também.
— Você ainda me mostra mais do seu lado legal, sempre parecendo tão composto... Isso me frustrava. Eu queria que você contasse mais comigo, que dependesse de mim. É por isso que... sim. Fiquei muito feliz. Sinceramente, senti meu coração parar. Ver o Kouta desprevenido e desesperado de antes, ver como você estava focado em mim.
— Você dizer isso assim é muito constrangedor.
— E depois de deixar tantas marcas em mim, você diz isso agora?
— Isso é mútuo, não é? Você também deixou muitas marcas e não estava exatamente calma.
— Isso não é verdade. Eu estava totalmente controlada.
— Você é quem se agarrou a mim tão desesperadamente e quem pediu por mais.
— Não sei nada sobre isso. Não, de jeito nenhum.
Enquanto dizia isso, Kohaku se aproximou ainda mais, enterrando o rosto em mim. Era insuportavelmente encantador.
— Ah. Você colocou a alça na capa do seu celular — eoolhar de Kohaku estava fixo no meu celular, que estava ao lado da cama.
A capa tinha uma alça vermelha, a prova da nossa fuga, trocada por selos que havíamos colecionado.
— Sim. Parecia o lugar perfeito. E você?
— Eu também. Coloquei a minha na capa do meu celular também. Parece o melhor lugar para ela.
Kohaku pegou seu celular na cabeceira da cama, mostrando a alça floral branca balançando em sua capa.
— Kouta. Vamos trocar as alças.
— Trocar? Claro, mas…
— Vamos carregar as cores um do outro. Assim, você vai se sentir um pouco menos ansioso, não é?
— Acho que finalmente entendi como você se sentia quando dizia que estava frustrada...
Durante essa escapada de verão, o mundo de Kohaku havia se tornado maior. Ela havia crescido tanto que agora estava muito à minha frente. Isso me frustrava profundamente. Tudo o que eu podia fazer agora era apoiar-me nela.
— Finalmente entendeu, hein?
Tiramos as alças de nossas capas e as trocamos.
Parecia que ela já entendia completamente como eu me sentia. Na realidade, eu era quem estava ficando para trás e se eu quisesse ficar ao lado dela, como seu igual, precisaria seguir o caminho dela e alcançá-la.
— Kouta, você ainda pode conseguir.
Deitada ao meu lado na mesma cama, mais perto do que nunca, Kohaku disse essas palavras.
— Minha família já estava além de qualquer salvação. Todos estavam olhando em direções diferentes, fugindo... Era tarde demais para nos enfrentarmos. No final, tudo desmoronou.
A mãe de Kazemiya havia deixado a casa deles. Uma família de três havia se tornado uma de dois.
— Mas sua família, Kouta... ainda há tempo. Você sabe disso, não é?
— Sim, eu sei.
Segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos, aproximando-me dela, deixando nosso calor se tornar um só.
— Sabe, Kouta, se você quiser continuar fugindo, tudo bem para mim. Mas... também penso o seguinte: Se sua família se desintegrar... você vai acabar se culpando.
— Não posso negar isso.
Se algum dia minha família se separasse... Sem dúvida seria minha culpa. Minha fuga seria a causa.
— Não quero que você se culpe, Kouta. Não quero que você passe pelo que eu passei...
Kohaku estava se culpando, pensando que se tivesse enfrentado sua família mais cedo, talvez as coisas pudessem ter sido diferentes e, no entanto, lá estava ela, me encorajando a seguir em frente.
— Você é realmente incrível. Minha namorada é incrível.
— Não é fofa?
— Aquele momento foi definitivamente incrível.
— Bem, não me sinto mal por isso.
Ela sorriu, satisfeita, e quando acariciei sua cabeça, ela apertou os olhos como um gato contente.
— Tenho fugido de casa e da minha família todo esse tempo. Achava que estava tudo bem. Desde que te conheci, fugir parecia ainda mais confortável. Eu queria continuar fugindo com você para sempre, sem fim.
Fiz uma pausa, tirando palavras do fundo do meu coração, pouco a pouco.
— Mas... em algum momento, isso mudou. Estar com você se tornou muito mais importante do que fugir com você.
A fuga deste verão me mostrou isso. Ela deu forma às mudanças que se infiltraram no meu coração.
— Minha casa desconfortável, minha família, meu padrasto... Tudo isso dói quando enfrento. É doloroso. Se eu fugir, não preciso me machucar. Mas... mesmo que doa, quero estar com você, Kohaku.
Mesmo agora, parecia que Kohaku estava muito à frente. Ela estava bem ali, nos meus braços, mas a distância entre nós parecia imensa.
— Não poder ficar ao seu lado dói muito mais do que qualquer outra coisa.
Eu queria alcançá-la.
Queria alcançar a garota que havia me ultrapassado e ido tão à frente. Queria caminhar ao lado dela.
De agora em diante. Sempre. Para sempre.
— Vou tentar enfrentar as coisas das quais tenho fugido... porque quero ficar com você. Mesmo que pareça que vou ser repreendido.
— Por quê?
— Porque estou fazendo isso apenas para ficar com minha namorada bonita.
— Ah... entendo. Bem, então, assuma isso.
— Esse é o plano.
— Isso é muito típico de você, Kouta.
— Sim, é mesmo.
Era uma desculpa muito conveniente, mesmo para mim. Mas tudo bem. Se eu não tivesse uma razão como essa, nunca teria encontrado a força para enfrentar tudo.
— Bem, então... acho que a festa do pijama de hoje está cancelada.
— Sim... Vou para casa. É por aí que vou começar.
— Bom menino.
A verdade é que eu queria ficar com ela até de manhã.
— Você não pode ficar até de manhã... mas que tal tomarmos banho juntos?
Sua pergunta parecia quase inocente, mas seu olhar era suplicante.
— Eu vou com você. Mas... esteja preparada.
— Sim. Estou preparada.
E então, mais uma vez, nos beijamos, perdendo a conta de quantas vezes.
Nós suamos juntos e depois nos lavamos juntos.
Quando saí da casa de Kohaku, já era muito mais tarde do que eu havia planejado.
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