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EPÍLOGO 2 - Esperança

31 de agosto.

A última noite das férias de verão do meu segundo ano do ensino médio, um evento que só acontece uma vez na vida.

Abri um aplicativo de mensagens no meu celular, coloquei no modo viva-voz e fiz uma ligação. Naturalmente, a pessoa do outro lado da linha era ninguém menos que Kazemiya Kohaku.

Boa noite, Kohaku.

Você está trinta segundos atrasado, Kouta. — ela respondeu. 

— Isso é muito preciso.

— Bem, estou esperando há cinco minutos. Achei que você ligaria assim que o relógio batesse a hora.

— Vou tomar mais cuidado da próxima vez... Então, como estão as coisas aí? Como está a nova vida com Kuon-san?

— Eh, você sabe... mais ou menos. Minha irmã está ocupada como sempre. Na verdade, ela está ainda mais ocupada ultimamente, mas ela tem voltado para casa com mais frequência. Acho que ela costumava evitar voltar muito para me dar espaço.

— Isso não contradiz o fato de ela estar mais ocupada do que nunca e voltar para casa com mais frequência?

— Eu também achei, mas ela disse “Poder de irmã”.

— Isso é típico da Kuon-san.

Ela é realmente especial. Gasta uma energia extraordinária para evitar Kohaku, mas, se você tirar isso, ela é apenas uma irmã mais velha comum.

Bem, talvez não “comum”... 

— As férias de verão estão quase acabando. Gostaria que tivéssemos ido a mais lugares juntos, feito mais coisas típicas do verão.

— Concordo, mas não fizemos bastante?

— Fugimos juntos... fizemos muitas compras, fomos a um spa, assistimos a filmes, visitamos um parque temático, trabalhamos meio período em uma barraca na praia, fomos ao festival de verão... agora que penso nisso, realmente fizemos muitas coisas típicas do verão.

Refletindo sobre isso, nós dois rimos. Tivemos um verão tão cheio que não parecia suficiente, o que só ressaltava o quanto tinha sido gratificante. 

— Especialmente a noite do festival de verão. Nós até temos lembranças iguais... certo?

— Sim. Temos.

Kohaku provavelmente estava pensando no mesmo momento que eu. Desde aquela noite, começamos a nos chamar pelo primeiro nome. Era uma lembrança compartilhada e correspondente, nascida durante as férias de verão do nosso segundo ano. 

— Ah... isso é ruim. — ela disse de repente. 

— Hm? Alguma coisa errada?

— Não, não é isso... Só estou com muita, muita vontade de te ver agora.

— O que te faz pensar que você é a única a se sentir assim?

— Isso me deixa feliz…

Eu não podia ver o rosto de Kohaku através da ligação, mas eu podia imaginar seu sorriso suave e cativante com tanta clareza. Fiquei frustrado por não poder gravar aquela imagem em meus olhos. 

— Quando o segundo semestre começar, vamos nos ver na escola todos os dias.

— Escola, hein... Ah, certo, na escola, agimos como estranhos.

— Nem mesmo amigos, agora que você mencionou.

Passamos tanto tempo juntos neste verão que era fácil esquecer. 

— Na escola, vamos continuar sendo estranhos. — disse ela. 

— Por quê?

— Se as pessoas descobrirem que estamos namorando, isso pode causar problemas para você.

— Se você está preocupada com sua reputação, eu não me importo...

— Mesmo que você não se importe, eu me importo... Além disso, seria chato ser provocada por causa disso.

— É justo. Vamos manter isso em segredo na escola.

— Sim, vamos fazer isso.

— Não é como se fosse algo para se gabar publicamente, de qualquer maneira.

Já tínhamos informado as pessoas mais próximas a nós, Natsuki, no meu caso, e Kuon-san, no caso de Kohaku. Além disso, não tínhamos muitos conhecidos, então, a menos que alguém começasse a espalhar boatos, provavelmente não viria à tona.

— Ainda assim, se eu não me controlar, posso acabar me gabando disso. — ela admitiu.

— Achei que você não quisesse ser provocada.

— Não tem jeito. A culpa é sua por ser um namorado tão perfeito. Então, eu quero me gabar de você.

— A culpa é sua por eu querer me gabar de ter a namorada perfeita.

— Parece que somos duas crianças malvadas, então.

— Parece que sim.

Olhei para a lua pendurada do lado de fora da minha janela. Perguntei-me se Kohaku estaria olhando para a mesma lua. 

Espero que sim. 

— Precisamos tomar cuidado na escola. Com nomes e coisas assim.

— Ah, certo. Na escola, vou continuar chamando você de “Narumi”.

— Então vou continuar chamando você de “Kazemiya”... Mas chamar um ao outro pelos nossos nomes é só para nós dois?

— Gosto disso. Parece especial.

— É, meio que entendo isso… 

O fim das férias de verão sempre me deixava melancólico, mas este ano não foi tão ruim, pois eu ansiava pelos dias que passaria com Kohaku na escola. 

— Vamos encerrar a noite?

— Sim, vamos fazer isso.

Era difícil dizer adeus, mas os finais eram necessários para seguir em frente. 

— Boa noite, Kouta. Vejo você amanhã na escola.

— Boa noite, Kohaku. Vejo você amanhã.

 Ah. O que vou fazer? Minha namorada é a mais bonita do mundo.  Não é só bonita, ela é deslumbrante.

Kohaku parou de fugir e enfrentou sua família de frente.  Essa versão dela brilha tanto que parece inalcançável. 

Na noite do festival de verão, por aquele breve momento, pude tê-la só para mim, mas não tenho o direito de fazer esse momento durar para sempre.

Ainda não… 

Para me tornar alguém que possa estar em pé de igualdade com Kohaku, não posso continuar fugindo. 

— Eu também tenho que encarar isso.

As coisas que evitei encarar durante nossa fuga. As coisas que deliberadamente tirei da minha cabeça. As coisas que nunca me permiti enfrentar.  No fundo, eu sempre soube que não poderia continuar fugindo para sempre. Isso apenas acelerou o tempo e me deu uma razão mais positiva do que eu jamais esperava. 

Não importa o quanto doa, vou encarar essa conexão inquebrável chamada família.

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