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CAPÍTULO 2 - Começando com compras

Atualizado: 17 de set.

Depois de arrumar rapidamente minhas coisas, deixei aquela casa insuportavelmente desconfortável com Kohaku e embarcamos no primeiro trem do dia. Minha bagagem consistia em apenas uma única bolsa. Dada a natureza da fuga, priorizei a mobilidade. 

Arrastar uma mala seria muito chamativo.

— Realmente não tem muita gente nesta hora, não é?

Como era o primeiro trem, o vagão estava completamente vazio, exceto por Kohaku e eu. Nessa pequena caixa de aço, parecia que éramos as únicas duas pessoas no universo.

O ar fresco da manhã enchia o espaço. A luz do sol entrava pelas janelas, capturando partículas de poeira dançando na luz. Cada elemento desse pequeno universo privado parecia precioso e reconfortante.

— É… Você está certo.

— Por que você está se encolhendo assim?

— É que… você acha que isso é mesmo certo? Digo, sair de casa assim… A sua família e… tudo o mais.

— Deixei um bilhete dizendo que ia viajar com você, então deve ficar tudo bem por um tempo. Nem é mentira, só estou perdendo um prazo.

Causar uma cena e envolver a polícia teria sido um incômodo, então essa foi minha maneira de manter as coisas em segredo por enquanto. Desativei as notificações no meu celular e decidi ignorar qualquer mensagem. É claro que se esse plano de fuga se prolongasse por muito tempo, isso poderia chegar ao seu limite.

— Narumi… 

— Eu já não disse para você parar de se desculpar?

— O-O quê? Como você sabia que eu ia dizer isso?

— Eu te conheço muito bem, Kazemiya.

Ela olhou para mim com um ar de desculpas. Provavelmente se sentia culpada por me arrastar para o plano de fuga dela.

— Vamos aproveitar. Estou me divertindo passando tempo com você, Kazemiya.

— Eu também quero aproveitar o tempo com você, Narumi... mas não é estranho? Tipo, aproveitar uma fuga? Eu nem sei como devo me divertir com isso.

— Comece com a paisagem.

— A paisagem...

Incentivada pelas minhas palavras, Kohaku relutantemente começou a olhar pela janela.

— Acho que nunca estive nesta área antes.

A paisagem lá fora não tinha nada de especial, era apenas mais uma parte comum da cidade. Não era como se estivéssemos viajando em um trem-bala para algum destino distante, mas mesmo aquela vista simples e comum era a prova de que estávamos nos distanciando de casa.

— Tem um parque ali... Eu não sabia disso.

Era também a prova de que o mundo de Kohaku estava se expandindo, pouco a pouco. Isso me deixou feliz, quase como se estivesse acontecendo comigo.

— Está começando a se divertir agora, né?

— N-Não, não é nada disso.

— Não precisa negar. Tudo bem se estiver.

Continuamos viajando de trem por mais um tempo. À medida que as paisagens desconhecidas pela janela aumentavam, o número de passageiros também aumentava. Nesse ponto, descemos do trem.

— Então, para onde vamos agora?

— Para onde mais? Para o lugar de sempre.

Olhei para Kohaku, chamando sua atenção para uma placa familiar. Sua fonte amigável e acolhedora dizia “Restaurante Familiar Flowers”.

— Quero dizer, é uma rede, então é claro que as placas são iguais. Mas ver algo familiar em um lugar desconhecido é… estranhamente reconfortante.

— Eu sinto o mesmo. Vamos lá. Eles devem estar servindo café da manhã agora, então vamos começar o dia com alguma comida no estômago.

Embora fosse uma rede nacional com sinalização e marca idênticas, o layout de cada loja era ligeiramente diferente. Embora não fosse o mesmo “lugar de sempre” que íamos depois da escola, a atmosfera familiar proporcionava uma sensação de tranquilidade. Eu pude ver Kohaku relaxando um pouco e sua tensão anterior desaparecendo.

— Peça o que quiser. Vá com tudo. Já aproveita e peça todas as sobremesas do cardápio se quiser.

— Como se eu pudesse comer tanto.

— Você poderia se estivesse sendo você mesma.

— Eu mesma... Você está tentando dizer que sou uma criança comilona?

— Recentemente, percebi que gosto de ver você comer muito.

— Isso nem faz sentido.

— Sinceramente, também não entendo muito bem. Mas fazer o que? Eu gosto disso mesmo.

— B-Bem, pare de me observar enquanto estou comendo!

Envergonhada, Kazemiya desviou o rosto. Partilhar brincadeiras como esta num restaurante familiar fazia com que parecesse um passeio normal depois da escola.

— Independentemente de observar você comer ou não, temos muito que fazer hoje. Então coma e acumule um pouco de energia.

— Muita coisa pra fazer?

— Vou explicar depois que fizermos o pedido.

No final, nós dois pedimos o conjunto de café da manhã com ovos mexidos. Kazemiya escolheu torradas como acompanhamento, mas também adicionou panquecas.

— Eu não costumo vir para o café da manhã e estava curiosa sobre isso há algum tempo...

A maneira como ela tentou justificar sua escolha foi adoravelmente cativante, embora eu tenha guardado esse pensamento para mim mesmo. Se eu dissesse isso em voz alta, ela provavelmente ficaria brava comigo por “tratá-la como uma criança” novamente. Por outro lado, até mesmo seu rosto irritado era fofo, tornando-a praticamente imbatível.

— Tudo bem, sobre nosso plano aproximado daqui para frente.

Coloquei meu celular sobre a mesa para que Kohaku pudesse vê-lo. Na tela, estavam as palavras “Itinerário das férias de verão”.

— Como eu disse ontem, acho que devemos seguir o plano que fizemos antes das férias de verão.

— Mas esse plano é só para nos divertirmos e já começou tudo errado desde ontem.

— Não se preocupe com os detalhes. O objetivo principal é nos divertirmos, certo? Desde que estejamos nos divertindo, está tudo bem.

Além disso, o plano foi originalmente baseado em nossa “Lista de Recompensas de Verão”, uma forma de nos recompensarmos pelo nosso esforço nos estudos para as provas finais. Era uma recompensa por cumprirmos nosso papel como estudantes, então não há nada de errado nisso.

Mesmo que, tecnicamente, estejamos fugindo.

— De qualquer forma, já riscamos um item da lista.

Toquei na tela do meu celular para abrir o aplicativo oficial da Flowers. A tela exibia fontes brilhantes e alegres anunciando o “Rally de Carimbos de Verão da Rede de Restaurantes Flowers: Marco da Loja 300”. O evento era simples: colecione um carimbo de cada loja que você visitar e, após cinco carimbos, você poderá trocá-los por prêmios ou cupons.

O aplicativo tinha uma interface de cartão de carimbos e, ao apresentá-lo no caixa após gastar uma determinada quantia, você adicionava carimbos ao seu cartão digital.

— Ah... entendo. É por isso que viemos aqui.

— Já temos um carimbo desta loja, então faltam mais quatro. Isso já é um ótimo começo. Agora então... o plano de hoje envolve isto.

Toquei levemente num ponto específico da tela onde o plano era exibido.

— Compras?

— Exatamente. Compras. Olhando agora, é bem simples, não é?

— Bem, só diz “compras”. Sem detalhes nem nada.

— Isso é porque ainda não tínhamos decidido o que comprar.

Trocaram olhares e não conseguiram evitar dar uma risada.

— Que plano vago.

— Quem fez isso devia estar muito animado.

— Sério. Olhando agora, dá para perceber que estávamos totalmente empolgados com as férias de verão.

— Totalmente empolgados... Ah, pensando nisso de novo, ainda estou com tanta raiva da minha mãe. Ela arruinou as férias de verão que eu tanto esperava.

Kohaku parecia estar recuperando sua energia. Vir ao restaurante familiar logo de manhã tinha sido a decisão certa.

— Embora a parte das compras do plano não tivesse detalhes antes, as coisas mudaram agora. Sabemos exatamente o que precisamos comprar.

— Sabemos?

— Sim... Você ainda não percebeu?

— Quê?

Parecia que ela realmente não tinha percebido. Kohaku inclinou a cabeça, confusa. Olhei diretamente para ela e disse apenas uma palavra:

— Roupas.

— Ah…

Ontem, eu havia emprestado minha camisa para ela, mas agora ela estava usando a roupa que vestia quando saiu de casa, um conjunto folgado e casual de roupa de usar em casa: uma camiseta e shorts. Não havia como ela continuar vagando por aí vestida assim.

— Ah, certo... Ainda estou usando essas roupas...

Felizmente, era de manhã cedo, então não havia muitas pessoas por perto. Mas, à medida que o dia avançava, as ruas ficariam mais movimentadas e as pessoas começariam a notar. Ficar com aquelas roupas casuais não era uma opção. Comprar roupas novas para ela era uma prioridade urgente, embora parecesse que a própria Kohaku não tivesse percebido isso.

— Kazemiya, você pode ser surpreendentemente distraída às vezes.

— Ca-cala a boca.

Agora que ela estava ciente disso, um leve rubor apareceu em suas bochechas. A visão era tão naturalmente cativante que não pude deixar de admirá-la.

— Vamos esperar as lojas abrirem e depois comprar roupas. Também precisaremos de algo para carregar suas coisas. Não seria prático misturar nossas bagagens. Então será isso pela manhã… comprar o que precisamos para sobreviver. O almoço será o que estiver disponível por perto. Depois disso, teremos que encontrar um lugar para passar a noite.

Mesmo com o plano básico definido, essa aventura de fuga foi espontânea, então ajustes eram inevitáveis. Teríamos que continuar criando planos improvisados ao longo do caminho.

— ...

— O que foi?

Enquanto organizava nossos planos, notei que Kohaku estava me encarando. Este não era apenas o meu plano de fuga. Eu deveria ter pedido a opinião dela também.

— Você parece tão acostumado com isso... Tem certeza que não é um profissional em fugir?

— Não sou! Esta é a minha primeira vez fugindo.

— Mas você já pensou nisso antes, não é?

— Claro. Quando você sente vontade de fugir de casa, fugir surge na sua cabeça como uma opção. Como seria, como você faria... todo tipo de coisa. Você também já pensou nisso, não é?

— Sim... Eu já imaginei. Mas nunca tive coragem ou um motivo bom o suficiente para realmente fazer isso. E não conseguia me livrar dos meus medos sobre o futuro... Então, sempre acabava escolhendo a opção intermediária.

— É assim que geralmente acontece. Comigo também. Sem coragem, sem motivo e cheio de dúvidas sobre o futuro. Então, me contentei com uma fuga pela metade.

Nós dois somos apenas fugitivos pela metade. Uma birra infantil no grande esquema das coisas. Para os adultos, deve parecer ridiculamente insignificante.

— Mas... foi por causa dessas fugas pela metade que nos conhecemos, certo?

— Sim. É verdade. É exatamente isso.

Foi porque fugimos que pudemos nos conhecer. Porque escolhemos a opção parcial, pudemos nos encontrar. Fugir não resolve nada, apenas adia o problema, mas fugir não é totalmente ruim.

Há coisas que você pode ganhar ao fazer isso e, para nós, é o nosso vínculo, a “Aliança do Restaurante Familiar”.

— Obrigado por esperarem. Aqui estão seus pedidos.

Nossos cafés da manhã foram trazidos à mesa.

A conversa havia naturalmente chegado a uma pausa e estávamos começando a sentir fome. Momento perfeito.

— Bem, vamos comer.

— Sim.

Kazemiya e eu trocamos um olhar, então juntamos as mãos.

— Obrigado pela comida. 

O olhar de Tsujikawa Kotomi estava fixo em uma única folha de papel. Era uma mensagem simples escrita em um bloco de notas em branco. O autor? Narumi Kouta.

— Uma viagem?

A mensagem continha apenas uma única frase: Viajando com Kazemiya Kohaku. Era tudo o que dizia. Para sua família, isso era tudo o que ele tinha a oferecer. Tanto seu pai quanto sua madrasta viram a breve nota e apenas deram sorrisos resignados.

Era férias de verão. Fazer uma viagem com amigos, apenas uma viagem, era normal, eles pensavam. Eles até se lembravam de tê-lo ouvido falar sobre uma viagem com amigos antes.

— Isso é apenas uma desculpa — seu aperto no bilhete se intensificou.

Com um amassado, o papel cedeu, formando vincos distorcidos sob seus dedos. Uma viagem com amigos. Talvez isso fosse normal para a maioria das pessoas, mas quando se tratava de seu meio-irmão, era diferente.

Isso é uma fuga.

Ela sabia muito bem que seu meio-irmão estava evitando esta casa e evitando esta família.

Quando você pensa no tipo de pessoa que meu irmão é, não seria estranho se ele tivesse fugido com Kazemiya-san.

Exatamente como ela havia se preocupado na noite anterior.

Estou aliviada... Pelo menos meu irmão não fugiu em definitivo.

Por mais que seus medos a levassem a suspeitar.

Aquela pessoa…

Seu meio-irmão havia fugido mais uma vez de sua família.

— Por quê?

Seu pai já havia saído para o trabalho e sua madrasta estava em seu quarto trabalhando. Agora sozinha na sala vazia, Kotomi murmurou baixinho.

— Por que? Por que você não pode simplesmente fazer parte de uma família normal?

Depois de terminar o café da manhã, retomamos nossa discussão interrompida sobre os planos para hoje. Chamar isso de “discussão” faz parecer algo grandioso, mas tudo o que estávamos fazendo era listar o que precisávamos e fazer uma lista de compras.

— Aff... vai custar um dinheirão pra comprar tudo, não é?

— Não se preocupe com isso. Eu cuido disso.

— Posso perguntar de onde vem esse “dinheiro”?

— Ah, certo. Eu não mencionei isso antes, mencionei?

Eu tinha esquecido completamente, ou melhor, talvez eu tenha evitado mencionar isso porque, mesmo para mim, não era uma fonte ideal de recursos.

— São minhas economias do trabalho de meio período e a pensão alimentícia que meu pai biológico me envia regularmente.

Por alguma razão, minha garganta ficou seca. Tomei um gole do copo de refrigerante de melão à minha frente para umedecê-la.

— Ele é perfeccionista, sabe. Após o divórcio, ele não queria ser acusado de ser mesquinho ou ser cobrado por dinheiro, então ele envia uma quantia que ninguém pode reclamar. Para completar, ele até envia diretamente para uma conta bancária em meu nome, chamando isso de “mesada”.

Para alguém de fora, pode parecer um gesto gentil e atencioso, mas não é esse o caso.

Isso é apenas uma ilusão. Ele é um perfeccionista a um nível quase obsessivo. O dinheiro é apenas uma ferramenta para cortar laços. O que ele realmente está dizendo é “Vou te dar dinheiro suficiente para viver” e “Nunca mais venha me incomodar”.

Como alguém que não conseguiu corresponder à sua visão de perfeição e foi deixado de lado, eu entendo isso muito bem. Minha mãe provavelmente também entende.

— Nunca toquei no dinheiro que ele me mandou, então tenho uma boa quantia guardada. É mais do que suficiente por enquanto.

Sinceramente, odeio usá-lo, mas momentos desesperados exigem medidas desesperadas. Mais do que meu rancor pessoal, neste momento, quero ajudar Kazemiya de todas as formas que puder.

— Eu sinto muito.

— Você não precisa se sentir assim. Não é como se estivesse me causando problemas...

— Não é isso — Kazemiya me interrompeu, encontrando meu olhar — É frustrante, não é? Ser tratada como alguém que só quer o seu dinheiro, sem ter uma chance.

Suas palavras me perfuraram. Era como se ela as tivesse tirado diretamente do meu coração. O ressentimento e a amargura que estavam fervilhando dentro de mim voltaram com força.

— Eles fazem suposições, silenciam você com dinheiro... é frustrante. Você não quer usar esse dinheiro, quer? Então... me desculpe.

— Só de ouvir você dizer isso já vale a pena.

Sério, por que será? Como Kazemiya sempre sabe exatamente o que dizer para acalmar meu coração? É quase injusto. Ela me faz querer fazer tudo o que puder para deixá-la feliz.

— Na verdade, acho que esta é a oportunidade perfeita. Quanto mais dinheiro se acumulava, pior eu me sentia. Então, talvez seja bom usar tudo de uma vez aqui. Estou falando sério.

Mesmo que seja dinheiro que eu desprezo, se isso pode trazer um sorriso ao rosto de Kazemiya, então vale a pena.

— Se você não se sente mal com isso, então, não deve hesitar em usá-lo. Deixe-me usá-lo por você. Tudo bem?

— Sim. Se está tudo bem para você, Narumi, então está tudo bem para mim.

Claro que sim. Na verdade, essa pode ser a maneira mais satisfatória de usá-lo.

— Então, com isso resolvido, não há necessidade de se preocupar com nossos fundos por enquanto. A próxima coisa a decidir são nossos planos para amanhã e... acomodações.

— Menores que se hospedam em hotéis precisam de um formulário de consentimento dos pais, né?

— Sim. E com certeza não vamos conseguir um desses itens ultra-raro.

Um formulário de consentimento dos pais. Era ridículo pensar que dois fugitivos como nós, membros da “Aliança dos Restaurantes Familiares”, pudéssemos conseguir algo assim.

— Bem... se realmente precisarmos, podemos encontrar hotéis que não exijam um formulário de consentimento. Alguns lugares não verificam e outros têm check-ins digitais. Se pedirmos ao Natsuki, tenho certeza de que ele poderia compilar uma lista desses para nós, mas isso é um último recurso.

Evitar problemas é nossa prioridade. Eu consigo lidar com problemas se for só eu, mas para Kazemiya, isso poderia ser devastador.

— Então, que tal ficarmos em um restaurante familiar hoje à noite?

— Hã? O-o que você quer dizer?

Diante de sua pergunta compreensível, abri o aplicativo oficial do Flowers, procurei por locais próximos e filtrei os resultados.

— Há uma filial 24 horas um pouco mais longe daqui. Podemos ficar lá até de manhã. Além disso, há um spa nas proximidades, então podemos usá-lo para tomar banho. Não há muitos lugares abertos 24 horas hoje em dia, então devemos aproveitar enquanto podemos.

Ao ouvir minha sugestão, Kazemiya arregalou os olhos, mas logo sorriu suavemente.

— Isso é... perfeito. É muito a nossa cara.

— Bem, afinal, somos a “Aliança dos Restaurantes Familiar” — sorri de volta para ela enquanto dizia isso.

Pode ser um pouco difícil, mas para nós, é um começo adequado para nossa jornada. Pode ser um inconveniente para os funcionários, mas vou pedir desculpas silenciosamente pedindo muita comida.

Depois de mais algumas discussões e planos, pagamos a conta e saímos do restaurante. Como ultrapassamos um certo valor, o aplicativo Flowers exibiu um selo em forma de flor, preenchendo um dos cinco espaços vazios. Coletar cinco selos não era o objetivo da nossa viagem fugitiva, nem significava qualquer progresso.

No entanto, de alguma forma, parece um pequeno passo à frente.

— Então, diz que você pode ganhar um prêmio por coletar esses selos, mas onde você o resgata?

— Diz que em qualquer loja.

— Hã? Há muitas opções... Narumi, você tem alguma coisa em mente?

— Ainda não.

— Eu também não.

— É como se colecionar os selos estivesse se tornando o objetivo.

— É. Não é tanto pelo prêmio, mas por colecioná-los com você... isso parece ser a verdadeira recompensa.

Alguns segundos se passaram depois que ela disse isso e então as bochechas de Kazemiya ficaram vermelhas quando ela percebeu o quão embaraçosas suas palavras eram.

— Esqueça o que eu disse.

— Impossível. Vou lembrar disso até o dia da minha morte.

— De jeito nenhum.

— Com toda certeza do mundo.

— Como?

— Palavras como essas... eu me lembraria delas mesmo depois de morto.

Por mais que eu tentasse, não conseguiria expressar em palavras o quanto elas me deixavam feliz. Isso era bem frustrante, apesar disso.

— Mais importante, não é hora de se preocupar com palavras, não é, Kazemiya?

— Ugh...

Kazemiya olhou para a camisa que estava vestindo, como se quisesse evitar meu olhar.

— Além das roupas que você trouxe de casa, tudo o que posso fazer é emprestar algumas das minhas. Mas você não pode ficar usando minhas camisas para sempre, pode?

— Talvez... não seja tão ruim assim.

— De jeito nenhum. Claro, não me importo em emprestar camisas para você quando quiser, mas... é só que... é inconveniente. De várias maneiras.

Se me perguntassem o que exatamente era inconveniente, eu teria dificuldade em colocar em palavras.

Sim, é inconveniente. Definitivamente inconveniente.

— Sim, você está certo. Agora que você mencionou, é inconveniente para mim também... Acho.

— Por que você está desviando o olhar?

— Não se preocupe com isso.

Agora eu não podia deixar de me preocupar, mas não adiantava insistir mais. Acreditando em suas palavras, fomos a um grande shopping center perto da estação.

Depois de verificar o mapa do andar exibido na parede, fomos direto para a seção de moda e entramos em uma das lojas de roupas. O interior era limpo e elegante, com predominância de branco. As prateleiras estavam cheias de roupas coloridas. As vitrines estavam dispostas com bom gosto e não foi surpresa ver um número razoável de clientes dentro da loja, mesmo tendo acabado de abrir.

— Que tipo de roupa você deve comprar quando está fugindo?

— Compre as roupas que você gosta.

— Bem, sim, mas... somos fugitivos, certo? Não seria melhor escolher algo discreto?

— Como o quê?

— Algo para esconder o rosto, como um chapéu, óculos falsos, uma máscara... e talvez um moletom preto com capuz para se misturar às sombras à noite... vestindo preto da cabeça aos pés...

— Imagine por um momento. Uma pessoa com chapéu, óculos falsos, máscara e moletom preto com capuz, totalmente vestida de preto, andando no meio do verão. Como você acha que as pessoas reagiriam?

— Elas achariam que eu sou suspeita.

— Que bom que você percebeu isso antes que fosse tarde demais.

Kohaku tende a ficar excessivamente obcecado por ideias às vezes e parece que este foi um desses casos. É meio adorável à sua maneira, mas vou fazer uma anotação mental para ficar de olho nisso.

— Ser cautelosa é bom, mas se você pensar demais nas coisas, vai apenas se desgastar, especialmente alguém como você, Kazemiya.

— Aff... talvez você tenha razão...

— Se vai ser assim, não seria melhor usar roupas que você gosta? Provavelmente seria mais fácil para você também.

— ...

— O que foi?

— Narumi, sinto que você me entende melhor do que eu mesma.

— Talvez eu entenda.

— Por que essa cara de satisfação?

— Estou feliz, por isso estou sorrindo.

O fato de estar conhecendo Kazemiya melhor me deixa incrivelmente feliz.

Que sensação é essa? Por que me sinto assim? Não é um sentimento de superioridade. É apenas... felicidade, mas não só isso... algo mais.

— E você também está sorrindo, Kazemiya.

— Hã? De jeito nenhum!

— Você está mesmo. Quer que eu tire uma foto e mostre para você?

— Não! Não! Isso seria vergonhoso!

Eu diria que é adorável.

A palavra surgiu em minha mente enquanto eu a observava rir.

Ela se encaixava perfeitamente, como se estivesse esperando ali o tempo todo, apenas esperando o momento certo para se estabelecer.

Adorável. Sim. Isso parece certo, mas… esse é realmente o tipo de palavra que você usa para uma amiga?

Eu não tinha certeza, mas uma coisa estava clara: Eu sentia algo por Kazemiya que ia além da mera amizade.

Eu queria mimá-la. Eu queria que ela fosse feliz. Esse desejo avassalador… Não… Eu já sei o nome do que estou sentindo por ela…




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