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CAPÍTULO 8 - Anéis de morango solitários

Atualizado: 14 de set.

— Bom dia, Senhor Namorado!

— Ei, ei, o que você está fazendo?

— Rosy está indo para a aula de educação física! Mas como o corpo da Rosy é tão bonito, assim que ela vestir a roupa de ginástica, será uma aula de arte! Hein? Quer ver? Ah, caramba, Senhor Namorado! Quando estivermos sozinhos, tudo bem! E então, você sabe!

Logo cedo pela manhã, Rosy estava sentada na minha mesa. Ela estava com as pernas cruzadas e um sorriso radiante, falando comigo como se não fosse da conta de ninguém. 

Como isso aconteceu? Honestamente, não posso lhe dar uma resposta. 

Mas há uma coisa da qual tenho certeza é o fato da Rosy ser, na verdade, uma aluna da nossa escola. Ela não apareceu do nada, ela sempre foi aluna, só frequentava a escola em um prédio diferente e eu simplesmente não sabia.

Apesar disso… isso definitivamente não explica por que ela teve que vir à minha sala de aula e sentar na minha mesa.

— Por que você está aqui?

— Porque eu não sabia o seu número. Então, tudo o que podia fazer era vir vê-lo na escola.

— Acho que não temos nenhuma conexão.

— Claro que temos. Você me protegeu da Ioka, certo?

— Isso... É que tipo… qualquer um teria feito isso.

— É porque você achou que Rosy era melhor do que Ioka, certo? Ela mesma disse isso.

— Não, de jeito nenhum...

— Estou errada? Então por que Ioka ficou com raiva?

— Vamos deixar isso pra lá. Não aqui...

— Então podemos conversar sobre isso mais tarde?

— Não foi isso que eu disse!

— Eu vou passar aqui depois da escola, então! Espera, as aulas dela vão acabar mais cedo, então... Ah, tudo bem. Até mais, Senhor Namorado!

Ela sumiu como uma tempestade e eu fiquei para trás como os restos de uma cidade destruída, junto com Miu me lançando um olhar de pena.

— Desculpe, Aruha... Mas vocês estavam falando tão alto que ouvimos tudo...

— Não, tudo bem... Você não tem culpa, Miu...

— Mas, sério, o que está acontecendo?

— Eu gostaria de saber…

— Vocês são como o Yudi e a Priscila. Embora, nesse caso, você tá mais para o Yudi quando ele toma os foras dela.

— Não me confunda ainda mais... Por favor...

— Além disso, o que aconteceu entre você e Ioka-chan?

— Bem... é uma longa história.

Desde aquele evento, Ioka e eu não nos vimos mais. Ela não me bloqueou, mas também não tentou entrar em contato comigo. Normalmente, eu deveria ser o único a tomar a iniciativa, mas não saberia o que dizer.

Afinal, eu traí Ioka.

E, no final, cumpri meu dever como exorcista. O demônio foi exorcizado, mas, em troca, perdi para sempre meu relacionamento com Ioka. Na verdade, essa explicação era conveniente demais para mim. Não foi o preço que paguei para exorcizar o demônio. Eu simplesmente tentei prolongar a situação, escondi a verdade…

Tudo para meu próprio bem.

E desde então, Rosy não me deixava em paz. Eu não queria dizer isso, mas é como se ela tivesse trocado de lugar com Ioka. Dito isso, não sei que tipo de existência eu devo ser para ela. Não sou seu exorcista e nem ninguém, na verdade.

Sou o exorcista de Ioka... ou melhor, eu era…

Nada mais, nada menos. Cumpri meu dever. Só tenho que passar o resto dos meus dias como a pessoa comum que eu era... É o que eu desejei, e ainda assim... Por alguma razão, eu mesmo não deixaria isso acontecer.

O que é isso?

Esse calor ardente que torcia meu coração, no entanto, do lado de fora da janela, a tempestade fazia parecer que poderia apagar qualquer chama, por mais intensa que fosse.

*

Depois que as aulas terminaram, Rosy apareceu, como havia prometido, e me arrastou até a Mr. Donuts. Peguei uma bandeja, mas minha cabeça estava tão pesada que eu só conseguia ficar parado, lutando para fazer uma escolha. Ao meu lado, Rosy cantarolava uma música que eu não conhecia e pegava uma montanha de donuts. A capa de chuva amarela que ela vestia contrastava fortemente com os donuts cor-de-rosa.

— Você gosta mesmo deles, não é?

Incapaz de pensar em qualquer outra coisa, eu simplesmente comentei sobre a cena à minha frente.

— Eles me lembram os donuts da Dam Dam.

— PanPan?

— Dam Dam. Uma loja de donuts em Londres. Uma das minhas favoritas, aliás. Meu pai às vezes comprava alguns lá, mas eu prefiro os donuts do Japão. Eles são baratos, mas muito saborosos — explicou ela, apenas para perceber que minha bandeja estava vazia — O quê? Você nunca vem aqui? Mas é tão bom. Experimente!

Ela então terminou de pagar pelos donuts e foi procurar um lugar para sentar. Eu não pensei muito e apenas coloquei alguns donuts no meu prato. Me sentei de frente para ela no início, mas depois que ela tirou a capa de chuva e se sentou no sofá, ela bateu com a mão no espaço ao lado dela. Era um pouco estranho, já que esse assento era para quatro pessoas, mas eu não tinha energia e apenas me sentei ao lado dela.

— Está chovendo bastante hoje, não é? Eu não gosto da chuva daqui. Parece tão pesada.

Ela olhou pela janela enquanto começava a comer seus donuts. Pequenos granulados rosa caíram em seu prato. Ao ouvir aquele comentário, lembrei-me de onde ela era originalmente.


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— Você é da Inglaterra, certo?

— Sim. Meu pai ainda está lá... Trabalhando em algum lugar chamado Merlin... ou Morgan... então eu estou morando aqui com minha mãe, mas minha mãe está ocupada com o trabalho, então é basicamente só a Rosy aqui.

— Ah, então você veio para o Japão com sua mãe?

— Não, é o contrário. Tenho dois irmãos mais velhos e quatro irmãs mais velhas, mas todos eles moram em Westminster. E então, você sabe que posso ser um pouco honesta demais, certo?

— Não vou negar isso, não.

— Eu deveria ter me dado melhor com as pessoas ao meu redor, mas isso simplesmente não funcionava, então o pai ficava sempre irritado. É por isso que minha mãe me trouxe para o Japão.

— Entendo...

Os nomes que ela usou foram todos pronunciados em inglês, então não consegui identificar os lugares de que ela estava falando... Mas acho que ela veio para o Japão com a mãe. O motivo de ela ser tão boa em japonês deve ser graças à mãe. De qualquer forma, Rosy claramente passou por muita coisa. Acho que minha preocupação deve ter transparecido na minha expressão, porque Rosy acrescentou outra resposta.

— Mas tudo bem. Mãe e pai nunca se deram bem, além de que ela tem um namorado aqui no Japão. Eu também queria conhecer o Japão... Embora não suporto todas as crianças mimadas da minha turma — ela explicou sem rodeios, mas sinto que é muito mais complicado do que isso.

Considerando sua aparência, ela definitivamente se destaca e com sua personalidade, posso imaginar que ela não se dê bem com seus colegas. Mesmo enquanto me contava tudo isso, ela continuava comendo seus donuts. Inconscientemente, lembrei-me de uma certa pessoa enquanto observava isso.

— Vou fazer uma pergunta bastante rude, mas você não está engordando por comer tudo isso?

— Hm? Por quê?

— Porque isso me parece uma bomba calórica.

— Ahh... Algumas pessoas engordam se comerem assim, né? Parece difícil.

— Haha… — eu só consegui responder com uma risada seca.

Talvez isso faça parte do talento necessário para ser modelo? Eu não saberia dizer. De qualquer forma, é definitivamente uma habilidade respeitável se você consegue comer o quanto quiser sem engordar.

— Você só pergunta sobre a Rosy, certo?

— Hã?

— Eu achava que você só estava acompanhando porque queria saber mais sobre Ioka — suas palavras honestas não mostraram remorso ao me atingir bem onde doía.

— Por que todo mundo acha que nós somos um casal?

Rosy me olhou chocada, enquanto parte de um donut caía de sua boca aberta.

— Senhor Namorado... você está falando sério agora? É tão óbvio olhando para vocês dois. Todo mundo sabia disso. 

— Sabiam o quê?

Ela suspirou diante da minha resposta e pegou o pedaço de donut para colocá-lo de volta na boca.

— Certo... Então é nesse nível que estamos? Mas se as coisas derem certo, isso significa que ainda tenho uma chance? 

— Não, não há nenhuma chance. É silêncio total.

— Silêncio total?

— Sim, esqueça. Enfim, o que a Ioka está fazendo? — Desisti e perguntei a ela.

— Hmm... Não sei. Ela provavelmente está se preparando para o desfile.

No final, Rosy aparentemente não tentou mudar os resultados da audição e até pediu desculpas ao estilista. Em outras palavras... Ioka será a participante do desfile. Era o que ela desejava.

— E você está bem com isso, Rosy?

Ela tinha as bochechas cheias de donuts, sorrindo levemente.

— Tenho observado aqui e ali, mas... Ela não poderia vencer aquilo. É assustador. Talvez eles tenham visto isso em Ioka e a escolhido por isso. E, como pessoa escolhida, ela é realmente incrível.

Ao ouvir isso, fui tomada por sentimentos complicados. Uma parte de mim queria acreditar que fiz algo para ajudar Ioka, mas, no fim das contas, isso era apenas meu desejo egoísta. No fim das contas, meu trabalho estava encerrado e não havia mais nada para eu fazer.

— Ei, Eu tô contando todo tipo de coisa, então agora é sua vez — ela se aproximou de mim, tocando minha coxa — Por que Ioka se queimou naquele dia?

Ela se envolveu involuntariamente na confusão, acabando em perigo. Ela provavelmente tinha o direito de saber. Expliquei o mínimo de informações para Rosy. Quando terminei, ela assentiu várias vezes para si mesma.

— Ah, certo. Um demônio, hein?

— Você acredita em mim?

Foi bastante surpreendente que ela aceitasse minha história tão prontamente. Deve ter soado como um absurdo sem sentido. Até mesmo Ioka, o centro de tudo, não acreditou em tudo no início.

— Algo aconteceu com meu irmão há algum tempo, eles foram a hospitais e médicos, mas nada funcionou, então foram à igreja. Pai também não acreditou no início, mas depois disso, ele melhorou rapidamente. Deve ter sido algo semelhante.

— Espere um segundo... Então seu irmão foi possuído por um demônio e um exorcista cuidou disso?

— Provavelmente.

Agora que penso nisso, Sai-san deve estar na Inglaterra agora, então eles podem realmente estar conectados de alguma forma.

— Mas os demônios não são basicamente apenas uma questão dos sentimentos da pessoa? Pelo menos foi o que a pessoa da igreja disse.

— B-Bem... tipo isso…

No final das contas, foi um pouco simplista demais, mas ela também não estava exatamente errada.

— É por isso que não minto mais para mim mesma. Quando fico irritada com alguma coisa, fico com raiva. Se fico triste com alguma coisa, eu choro. Shiito frequentemente me repreende, dizendo que preciso ter boas maneiras, mas isso só faz com que você tenha desejos que atraem os demônios, certo? E demônios são assustadores!

Fiquei surpreso. Não sei se aquela pessoa da igreja ou Sai-san têm o mesmo argumento quando se trata de demônios, mas pelo menos parece lógico.

— É por isso que às vezes também acabo sendo a garota má... Mas eu já pedi desculpas à Ioka porque realmente me senti  mal — disse ela enquanto esfregava o pescoço, que estava um pouco vermelho.

Se Rosy não tivesse sido tão agressiva com seus métodos, Ioka provavelmente não teria quase queimado ela naquela vez. De certa forma, você colhe o que planta.

— Só espero que não deixe marcas ou queimaduras.

— Eu deveria ficar bem, mas...

— Mas?

De repente, ela me mostrou uma expressão séria.

— Se você não tivesse me salvado, provavelmente não teria conseguido continuar como modelo. Então, por isso, obrigada.

Eu nunca pedi gratidão, pois o que Rosy fez foi imperdoável. Se ela tivesse espalhado aquela foto, a carreira de Ioka como modelo poderia ter acabado. Dito isso, Rosy não merecia ser ferida. É isso.

— Então, o que você vai fazer agora, Senhor Namorado?

Antes que eu percebesse, Rosy já tinha acabado todos os seus donuts. Ela me fez essa pergunta enquanto limpava a boca com um guardanapo.

— Nada. O demônio foi exorcizado. Agora cabe a Ioka participar do desfile e continuar trabalhando como modelo. Além disso...

— E o que mais, Senhor Namorado?

— Você pode parar de me chamar assim? Não sou namorado dela. Só me tornei exorcista por coincidência.

— Hmmm… — Ela pressionou o dedo longo contra os lábios, pensando — Ei, você não é mesmo o namorado da Ioka, certo?

— Eu disse isso desde o início.

— Então por que você não se torna meu namorado?

— O quê?!

Não consegui conter um tom de voz perplexo.

— Por que não? Saia comigo — disse ela, puxando minha manga.

— Mas você está no ensino fundamental...

— E daí? Você não vai dizer à Rosy que não teria se apaixonado pela Ioka se ela estivesse no ensino fundamental, certo?

— A Ioka é a Ioka. A idade não tem nada a ver com... Espere, quem disse que eu gosto dela?

— Mas por que você iria tão longe por uma garota de quem nem gosta? Isso não seria estranho?

— Deixando isso de lado. Eu não sei nada sobre você e você também não me conhece.

— Então você sabe tudo sobre Ioka?

— Eu...

Claro que não. Eu nem sei o que ela está fazendo agora. Rosy deve está percebendo minha indecisão, pois continuou se aproximando de mim.

— Então, o que mais importa? Você foi rejeitado, então saia com a Rosy. Para ser sincera, eu gosto um pouco de você. Você me ouve, não zomba. Além de ser maduro e me salvou.

Eu queria dizer que apenas fiz o que qualquer um teria feito, mas não consegui. Para ela é o contrário. Ela nunca recebeu esse tipo de tratamento em todos os seus relacionamentos com outras pessoas.

Ela disse que houve uma briga que a levou a vir para o Japão, mas como ela se sente, passando seus dias aqui no Japão?

— Você não ficaria feliz? Eu sou muito bonita.

— Não posso ser tão irresponsável.

— Eu vou te ensinar todo tipo de coisa. E se você não gostar, pode sempre desistir. Vocês, japoneses, pensam demais. Seja um pouco irresponsável — ela se aproximou ainda mais de mim.

Como ela é mais alta do que eu, ela esfregou a bochecha na minha cabeça.

— Eu... vou pensar nisso.

— Eba!

— Espere, não! Eu quis dizer isso... como uma forma eufemística de rejeitar você...

— O que significa eufemístico?

— T-Tipo... uma maneira indireta?

— Hããã? Não faz sentido.

Eu não consegui argumentar, mas Rosy continuou.

— Mas não vou ficar desapontada. Os sentimentos das pessoas não podem ser simplesmente categorizados.

Ela é uma pessoa estranha. Quando você pensa que ela é infantil, ela mostra um ponto de vista tão maduro.

— Eu... não consigo adotar uma visão tão filosófica.

— Visão filosófica?

— Só estou dizendo que você é incrível, apesar de estar no ensino fundamental.

— Mas você acabou de dizer que a idade não importa, certo? Que Ioka é apenas Ioka. Então Rosy é apenas Rosy, não é?

— Hmm... Bem, acho que sim...

Ela me pegou nessa. Me fazendo sentir como se eu fosse a criança que não está ouvindo. Eu estava lutando para encontrar as palavras certas quando Rosy de repente se levantou.

— Mas você está certo. Eu sou incrível e vou me tornar ainda mais incrível a partir de agora. Posso ter perdido para Ioka desta vez, mas há muitas chances à frente, então não ficarei parada agora.

Olhando para ela assim, fiquei impressionado. Não por causa de sua altura. Ela estava simplesmente certa. Certa de que poderia vacilar agora porque alcançaria algo ainda maior no futuro. Eu nunca conseguiria fazer isso. E... provavelmente o mesmo vale para Ioka.

— Ah, certo. Quase esqueci. Aqui.

Ela me entregou um único pedaço de papel, mas só percebi sua importância depois de aceitá-lo.

— Você também vai, certo? É o seu ingresso para entrar.

— Espere, eu não pretendo...

— Não é só da Rosy. Shiito também disse para você ir.

No momento em que ouvi esse nome, uma lembrança surgiu em minha mente.

— Provavelmente ajudaria ela a relaxar um pouco mais se visse seu rosto.

Mas, no momento, não tenho como ajudar Ioka. Não posso corresponder às expectativas dele.

— De qualquer forma, preciso ir. Você vem também, Senhor Namorado?

— Não, eu...

— Que pena. Rosy queria experimentar aquela coisa de “guarda-chuva dos namorados”.

— Mas você tem sua capa de chuva...

— Você realmente não entende! É importante que fiquemos sob o mesmo guarda-chuva. Bem, tanto faz. Vou pedir algo melhor da próxima vez. Até mais! Bye Bye!

Ela colocou o bilhete nas minhas mãos, vestiu sua capa de chuva e saiu correndo para a chuva. Cada passo fazia a água ao seu redor voar pelo ar, como se ela pertencesse àquele lugar. Enquanto a observava se afastar, pensei comigo mesmo.

Se eu fosse com ela agora... se eu me tornasse seu namorado... talvez eu não precisasse mais me preocupar? Talvez eu fosse capaz de esquecer Ioka? Não, eu sei. Não é tão simples assim.

Na mesa à minha frente estava minha bandeja com os donuts que eu não tinha tocado... e aquele único bilhete.



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UMA TRADUÇÃO DE FÃ PARA FÃ

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